Discurso durante a 121ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre declarações de integrantes do Governo de Israel a respeito de Yasser Arafat.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários sobre declarações de integrantes do Governo de Israel a respeito de Yasser Arafat.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 16/09/2003 - Página 27153
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • LEITURA, APOIO, NOTA, ITAMARATI (MRE), MANIFESTAÇÃO, OPOSIÇÃO, DECLARAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ISRAEL, INTERESSE, MORTE, YASSER ARAFAT, LIDER, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, quero estranhar e observar o contra-senso da declaração do vice-Primeiro Ministro de Israel, Ehud Olmert, de que o assassinato do Presidente Palestino Yasser Arafat seria uma opção para a sua remoção do poder. Disse Ehud Olmert, que é um personagem importante da equipe do Primeiro-Ministro, Ariel Sharon, que a morte de Arafat é definitivamente uma das opções para a sua deposição do poder. Disse ainda: “Estamos tentando eliminar todas as cabeças do terror, e Arafat é uma delas”. E isso foi baseado na decisão do gabinete de segurança Israelense de quinta-feira passada em que foi definido que Arafat seria um obstáculo à paz e que precisaria ser removido.

Ora, Sr. Presidente Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, em agosto último eu estive três dias em Israel a convite do governo daquele país. O embaixador israelense convidou a mim e ao Senador Ney Suassuna para ali, com trinta Parlamentares, observarmos os esforços de paz. No diálogo entre os trinta Parlamentares, surgindo a questão sobre o Presidente Yasser Arafat, um deputado colombiano perguntou a um dos oradores que a nós transmitia sua opinião, uma pessoa especializada em terrorismo, se e por que Israel não considerava a hipótese até de eliminar Yasser Arafat. Este respondeu que essa atitude poderia causar uma tal repercussão, porque Yasser Arafat constitui um símbolo tão forte para o povo palestino, que os israelenses poderiam até perder o apoio de alguns de seus principais aliados, inclusive do próprio Governo dos Estados Unidos. E me pareceu importante que o Governo dos Estados Unidos tivesse de pronto rechaçado essa consideração de se eliminar o Presidente Yasser Arafat.

Considero também muito importante que o Governo brasileiro do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministro Celso Amorim tenham hoje de manhã reagido de pronto. Senador Pedro Simon, leio a nota do Itamaraty a respeito deste assunto e com a qual estou de pleno acordo:

O Governo brasileiro tomou conhecimento, com profunda apreensão, da decisão do gabinete de segurança de Israel de remover dos territórios palestinos o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat.

O Brasil reconhece no presidente da Autoridade Nacional Palestina, Arafat, uma autoridade legítima e democraticamente eleita pelo povo palestino. Neste momento em que assistimos com perplexidade a uma nova escalada de ações retaliatórias e contrárias à paz, a decisão do gabinete de segurança israelense poderá comprometer irremediavelmente o processo de paz.

O Governo brasileiro exorta Israel a reverter a decisão do seu gabinete de segurança e conclama, mais uma vez, israelenses e palestinos a agir com moderação e retomar a mesa de negociações, único espaço de onde poderá surgir uma solução justa e duradoura para o conflito na região.

Sr. Presidente, é da maior importância que aqui venhamos a reforçar o apelo do Governo Lula. Dentro em duas horas, o Presidente Lula estará hoje na Hebraica, onde participará das comemorações dos cinqüenta anos desse importante clube da comunidade judaica em São Paulo. Quero também expressar as minhas congratulações aos cinqüenta anos da Hebraica e, mais uma vez, agradecer a oportunidade de estar presente a convite da Comunidade Israelense de São Paulo, a CIP, pelas pessoas do Sr. Presidente da Hebraica e do Rabino Henry Sobel. Estive há três semanas expondo o que vi em Israel e fiz um relato do episódio ao qual me referia, a reação dos membros de governo de Israel que diziam que Yasser Arafat, afinal de contas, é um presidente eleito diretamente pelo povo. Acho um pouco engraçado Israel, às vezes, afirmar que tem a convicção de que Yasser Arafat seria conivente e até estimulador e planejador de ações terroristas, mas não chegou a colocar a evidência para a opinião pública mundial de que isso efetivamente estaria ocorrendo.

Por outro lado, o que sabemos é que, se for para realizar um esforço de paz efetivo, os israelenses deveriam estar agindo como os dois líderes israelenses do movimento pela paz que foram, diante desse anúncio, imediatamente ao quartel general do Presidente Yasser Arafat dizer que não estão de acordo com essa ação, assim como tantos outros que estão a alertar o Governo de Israel de que uma ação desse tipo - assassinar Yasser Arafat - poderá desencadear um movimento de maior violência.

Aonde vamos parar? É preciso que a humanidade e o Oriente Médio - os dois lados - aprendam com a experiência do Brasil, onde descendentes de judeus, árabes e palestinos convivem em paz. Senador Pedro Simon, V. Ex.ª, que possui ascendentes de origem árabe e aqui convive, respeitosa e pacificamente, com pessoas de origem judaica, é um exemplo vivo do que deveria estar ocorrendo em Israel.

Volta e meia relembro aqui o belo pronunciamento de Martin Luther King Jr., quando observava a importância de não se tomar do cálice do veneno do ódio, da guerra e da violência. E naquele dia, 28 de agosto de 1963, estavam ao lado dos negros, participando da marcha pela integração racial, judeus - como o Rabino Henry Sobel sempre lembra quando cito o episódio -, quando ele falava da necessidade de sempre confrontarmos a força física com a força da alma.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Ex.ª permite-me um aparte, nobre Senador Eduardo Suplicy?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Ouço, V. Exª com muito prazer.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª chama a atenção para um incidente tão triste, tão impressionante, que não conseguimos entender. Como se chega a essa conclusão? Há dois anos, quando aconteceu aquele atentado em 11 de setembro, parecia que o mundo inteiro seria chamado a uma mobilização total contra o terrorismo, sim, mas basicamente a favor da paz. E sentiu-se uma ansiedade, uma expectativa de que medidas a favor da paz eram importantes. Infelizmente, de lá para cá não houve praticamente nada de positivo. Ora, uma decisão como essa... A figura do Sr. Arafat dá-nos a impressão de que ele é um homem vencido, um homem que está ali carregando a sua cruz. Quando ele aparece, vende a imagem de um homem que se sente abatido e que, na verdade, está muito longe de mostrar sua capacidade integral. Entre os esquemas de luta contra o terrorismo uma das teses é no sentido de assassinar o presidente, o que constituiria grave precedente. Na disputa entre dois povos, um deles poderá determinar que a morte do presidente adversário é uma das maneiras de ganhar tal disputa. De onde veio a idéia de que a morte do chefe palestino resolve o problema? Eu, com toda a sinceridade, sinto que o americano, pela influência do mundo israelita, não exerce a ação, como deveria, dos dois lados. Ele não coloca a mão na mesa. O Clinton fez: chamou os dois. Se o Clinton tivesse um terceiro mandato, ou se o Partido Democrata tivesse ganho a eleição, tudo estaria bem, pois a paz estava praticamente consolidada. O que o Presidente Bush fez foi destruir o que o Clinton tinha feito. Ele que não reconhecia o tratado assinado pelos representantes de Israel, pelo representante palestino e pelo Presidente Bill Clinton. Ele disse que não reconhecia e não aceitava aquilo. Então, ele boicotou o que estava sendo feito e não fez nada no sentido positivo. Então, estamos vendo o que está aí. Imaginamos que a queda do muro de Berlim significaria o nascimento de uma nova humanidade, mas estamos vendo, nesse terceiro milênio, o aparecimento de novo muro, o muro de uma nação que tem toda a força, enquanto do outro lado há uma nação em que nada existe. E esse muro está sendo erguido e nem a humanidade, nem a ONU tomam providência no sentido de demonstrar que é um absurdo que neste século, no início de uma nova realidade, essas coisas estejam ocorrendo. Não tenho dúvida de que, lamentavelmente, as grandes nações estão despreocupadas com essas questões. No fundo, a Alemanha, a França e a China estavam preocupadas era com a força que o americano teria lá no Iraque, porque, de resto, tudo continuam do mesmo jeito. O Iraque e os americanos, com a maior cara-de-pau, querem forças dos países do mundo inteiro, querem que os países enviem gente, para bucha de canhão, e dinheiro, porque eles estão cansados de gastar. Entretanto, não admitem entregar à ONU o controle, para que ela possa, no comando, chamar uma força de paz, buscar a paz. Minha solidariedade profunda a V. Ex.ª pelo triste, mas sério, pronunciamento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

Quero ressaltar que, nesse caso, o próprio Governo George Walker Bush, por meio do Secretário de Estado, Collin Powell, fez uma declaração de advertência, que registro com as palavras dele: “Acho que é possível antecipar o ódio que essa ação causaria por todo o mundo árabe: o eventual assassinato do Presidente Yasser Arafat. Os Estados Unidos não apóiam a morte de Arafat ou seu exílio da Palestina. O Governo israelense sabe disso”. Nesse caso, o Secretário de Estado Collin Powell mencionou isso com muita clareza. E acho isso importante, aliás, é uma posição coincidente com a nota do Itamaraty.

Estive, aproximadamente 50 minutos, com o Presidente Yasser Arafat, em 14 de agosto último. Entreguei a ele a carta do Presidente Lula, cujo conteúdo era semelhante à carta para o Primeiro-Ministro Ariel Sharon. Por meio dessas cartas, o Presidente Lula conclamava os dois lados para realizar todo o esforço possível para a paz. Pareceu-me, Senador Pedro Simon, que o Presidente Yasser Arafat estava muito lúcido. Fez-me, inclusive, inúmeras perguntas a respeito do Presidente Lula e do Governo brasileiro, o que mostrou sua lucidez. Quando lhe perguntei o que considerava esforços de paz, respondeu-me de pronto que dependerão muito do esforço e do controle que o quarteto realizará. O quarteto é formado pelo Governo dos Estados Unidos, pela União Européia, pelo Governo da Rússia e pela ONU.

É importante que, neste momento, a ONU acompanhe de perto o que está acontecendo em Israel, afirmando com muita clareza que será um absurdo o assassinato ou mesmo a remoção de Yasser Arafat de Ramallah, considerando inclusive que Israel tem poder para realizar isso. Fomos visitar as fábricas de mísseis, extremamente precisos, e também o quartel general onde está Yasser Arafat. Ali, sobra apenas a parte onde ele realmente permanece; a outra, foi destruída pelos mísseis precisos de Israel.

Espero, portanto, que essa decisão não venha a se tornar uma realidade, o que poderia significar uma verdadeira tragédia. Simplesmente espero que o bom senso prevaleça.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. Fazendo soar a campainha.) - Senador Eduardo Suplicy, prorrogo a sessão por três minutos, para V. Exª concluir o seu discurso.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Com respeito ao muro que Israel está construindo na Cisjordânia, ainda hoje no jornal O Globo, no artigo intitulado “Um homem, um muro, um voto”, o jornalista Thomas Friedman, do The New York Times, fala do absurdo que está sendo essa construção, o que também constitui outro contra-senso. É necessário que o governo de Israel reverta a decisão da construir esse muro na Cisjordânia.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/09/2003 - Página 27153