Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao Ministro da Justiça para que intensifique o desarmamento na região paraense conhecida como "Terra do Meio".

Autor
Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA FUNDIARIA. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Apelo ao Ministro da Justiça para que intensifique o desarmamento na região paraense conhecida como "Terra do Meio".
Publicação
Publicação no DSF de 18/09/2003 - Página 27489
Assunto
Outros > POLITICA FUNDIARIA. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, MARCIO THOMAS BASTOS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), AGILIZAÇÃO, DESARMAMENTO, REGIÃO, ESTADO DO PARA (PA), CONTENÇÃO, GRILAGEM, VIOLENCIA, EXPULSÃO, POPULAÇÃO, NECESSIDADE, APURAÇÃO, DENUNCIA, AUTORIA, FAZENDEIRO, PUBLICAÇÃO, IMPRENSA, INVASÃO, PROPRIEDADE RURAL.
  • EXPECTATIVA, PROVIDENCIA, PODER PUBLICO, INVESTIGAÇÃO, SITUAÇÃO, POSSE, TERRAS, GRAVIDADE, HOMICIDIO, TRABALHADOR RURAL, ESTADO DO PARA (PA).

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta comunicação, de caráter inadiável, é mais um apelo ao Ministro da Justiça, Dr. Márcio Thomaz Bastos, que ontem se comprometeu a intensificar o desarmamento na região paraense conhecida como “Terra do Meio”, onde há cinco anos pistoleiros, a mando de grileiros, espalham terror e expulsam as populações locais para apossarem-se de suas terras, para começar sua ação mandando apurar as denúncias feitas pelo fazendeiro paulista Eduardo Champanhat, através de entrevista ao jornal paraense O Liberal (17/09), contra o advogado Gervásio Camilo, a quem acusa de comandar a pistolagem e a grilagem de terras em São Felix do Xingu.

A situação é mais delicada porque o acusado foi Secretário de Agricultura do antecessor do governador Simão Jatene, Almir Gabriel, portanto, um ex-representante do pode público é, hoje, acusado de ser o maior responsável pela bandidagem que grassa naquela região.

O denunciante alega ser proprietário de uma fazenda, naquele município, denominada Três Poderes, mas está impedido de freqüentá-la pelo acintoso aparato bélico dos pistoleiros de Gervásio. E nem de avião pode ingressar na fazenda, pois os pistoleiros espalharam tambores na pista de pouso. A certa altura da entrevista, Eduardo declara, perguntado se as autoridades sabem disso, “Sabem, e tanto é verdade, que o Dr. José Alcântara (delegado de Conflitos Agrários) foi o delegado quem lá esteve na fazendo nessa missão especial, prendeu pessoas, pegou os depoimentos e nesses depoimentos eles disseram que estavam trabalhando para do Dr. Gervásio Camilo. Não sou eu, Eduardo Champanhat, quem está falando que é o Gervásio Camilo, mas as próprias pessoas que foram detidas lá dentro. Elas contaram que o Gervásio pagava por mês. O certo é que minha fazenda está até agora invadida e eu não piso em Redenção faz uns sete meses.”

Em sua defesa, na mesma matéria jornalística citada, Gervásio desafia seu denunciante a mostrar os quatro marcos da fazenda que diz possuir. Porém, acaba dando declarações curiosas e contraditórias, ao alegar que, por força de preceito constitucional, desde 1982, não existe uma fazenda no Pará cujo limite seja superior a 600 alqueires, mas, diz ser proprietário de uma fazenda de 900 alqueires e, com uma propriedade dessa envergadura, diz ter apenas dois empregados com carteira assinada.

Outro dado curioso nessa troca de acusações é que surgem fazendas com nome de Três Poderes em três municípios diferentes: Marabá, Cumaru do Norte e São Félix do Xingu, o que pode ser mais uma manobra desses grileiros.

Portanto, penso que se está diante de uma pista muito forte para desbaratar algumas dessas quadrilhas, que sujam de sangue o solo paraense. O Secretário Especial de Defesa Social, Manoel Santino, declarou ontem que a polícia paraense tem mais de 200 homens cumprindo reintegração de posse, o que não foi suficiente para evitar mais uma chacina no estado do Pará e, que na área será instalada uma companhia da Polícia Militar em São Félix do Xingu. Mas, a bem da verdade, o secretário sabe que a polícia paraense sozinha não terá meios de enfrentar aquela situação.

Até em atenção ao que disse ontem o senador Duciomar Costa, que “a União tem obrigação de estar presente nessas áreas”, entendo ser necessária a pronta intervenção do Ministério da Justiça, afinal, segundo a Comissão Pastoral da Terra, com a chacina de 12 de setembro último, ocorrida em São Félix do Xingu, já são 31 trabalhadores assassinados no Estado do Pará, dos 53 assassinados em todo o Brasil. Esses números são vergonhosos e nós temos que envidar todos os esforços para reduzi-los ao máximo.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/09/2003 - Página 27489