Discurso durante a 126ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à participação do publicitário Duda Mendonça nas campanhas publicitárias do governo federal, paralelamente às propagandas do Partido dos Trabalhadores. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à participação do publicitário Duda Mendonça nas campanhas publicitárias do governo federal, paralelamente às propagandas do Partido dos Trabalhadores. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 23/09/2003 - Página 28530
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DIVERSIDADE, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SUSPEIÇÃO, IRREGULARIDADE, AUSENCIA, ETICA, RELACIONAMENTO, GOVERNO FEDERAL, PUBLICITARIO, RESPONSABILIDADE, CAMPANHA, PUBLICIDADE, DIVULGAÇÃO, ATUAÇÃO, EXECUTIVO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EMPRESA ESTATAL.

           O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Para uma comunicação inadiável. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a impressão que me assalta é que estamos diante de um escândalo.

           Tenho advertido, desde o início deste mandato de Senador, para o caráter promíscuo das relações entre o publicitário Duda Mendonça, o Partido dos Trabalhadores e, agora, o Governo Lula.

           A Folha de S.Paulo de domingo, ontem, publica matéria, muito extensa, do jornalista Fernando Rodrigues, que diz, em resumo, que o Governo passa a considerar Duda Mendonça como o seu ministro informal da propaganda. Ao mesmo tempo, o publicitário é quem cuida das contas do PT, é quem prepara o Presidente - não sei se a ponto de retocar o cabelo - para falar, pela televisão, nas suas aparições públicas e é quem ganha a maior parte das licitações envolvendo verbas federais.

           Agora mesmo, o esposo da Prefeita de São Paulo, Sr. Luis Favre*, foi contratado por Duda Mendonça, por R$ 20 mil ao mês, para trabalhar na sua agência, supostamente prestando serviços ao PT.

           Falo em promiscuidade, pois não sabemos onde termina o dinheiro do PT e onde começa o dinheiro do Governo. Até que ponto, para vencer as licitações, não é importante, hoje em dia, para o Sr. Duda Mendonça ser o publicitário do PT? Não seria ético não aceitar as contas do Governo ou renunciar ao trabalho com o Partido dos Trabalhadores? São perguntas que a Nação vai começar a fazer, de maneira mais insistente, daqui para frente.

           Venho denunciando isso há algum tempo. A reportagem procurou o Sr. Duda Mendonça, que não deu resposta alguma. Talvez seja um bom marketing não responder, ainda quando a acusação prevaleça a desconfiança sobre a ética.

           Ainda na Folha de S.Paulo há outra matéria, do jornalista Plínio Fraga, com o título “Em três anos, PT deu a Duda o mesmo que Maluf”. Em três anos de serviço para Maluf, nas gestões de Paulo Maluf e Celso Pitta, na Prefeitura de São Paulo, Duda estava entre os responsáveis pela publicidade oficial e auferiu, em contratos, algo em torno de R$ 23 milhões. Ou seja, há muito tempo que ele mantém essa prática. Há muito, temo que ele mistura as coisas, que presta serviços a Maluf, a Pitta e faz contratos com a Prefeitura de São Paulo. Não se sabe se, por mero talento ou se por prestar serviços ao poder. E aí é que está o caráter promíscuo, o caráter pouco ético, é aí que começa a suspeita sobre se é ou não decente essa relação entre o publicitário e os seus patrões, o oficial ou o partidário.

           Da mesma maneira, hoje Duda Mendonça é dono de uma das três agências de publicidade que detêm a conta de publicidade institucional do Governo Luiz Inácio Lula da Silva. E ele recebe porque é o titular da conta, recebe honorários de 15% sobre o valor do contrato. Por outro lado, ele agora estaria encarregado também de cuidar de todo o marketing do Governo Lula, cuidar da imagem do PT, coordenar os programas gratuitos na TV dos candidatos do Partido, sugerir temas a abordar pelo 450 candidatos e coordenadores de campanha petistas, escolher projetos de administrações municipais e encomendar e analisar pesquisas sobre atos do Governo.

           Percebam a promiscuidade: em seis itens - quem diz isso não sou eu, é a Folha de S.Paulo - misturam-se o marketing de Lula e o do PT, estando as duas coisas misturadas. E, para mim, as duas coisas juntas não são éticas. Estamos diante de algo que beira o escândalo. É preciso que esta Casa acorde para isso e chame a atenção da Nação para o fato de que não temos mais a imaturidade de antes para aturarmos coisas desse tipo.

           Diz a Folha de S.Paulo: “Publicitário é sondado por empresa privada”.

           O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª pode me conceder os trinta segundos que lhe restam?

           O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não posso conceder aparte...

           O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Pode.

           O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos) - Dentro do tempo do orador, é permitido conceder aparte quando o Líder faz uso da palavra.

           O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Mão Santa, V. Exª deve ser breve.

           O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, quero apenas dizer que eu nasci durante a Guerra, em 1942, e V. Exª é muito jovem. Naquela época, existia Joseph Goebbels, que dizia: “Lá vai Hitler com 10 mil soldados”, mas havia apenas mil. Até Hitler impressionou-se e passou a se considerar Deus. Por isso, preocupamo-nos o fato de que talvez esteja surgindo um “Duda Mendonça Goebbels”.

           O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

           Sr. Presidente, concluo o meu pronunciamento, citando um subtítulo do texto: “Publicitário é sondado por empresa privada”. Diz a matéria que Duda Mendonça tem sido procurado por várias empresas privadas para comandar suas campanhas de mídia.

           Senador Osmar Dias, pergunto: ele é procurado meramente por ser talentoso - reconheço o seu talento - ou por supostamente ter prestígio no Palácio do Planalto? A promiscuidade nos deixa com dúvidas, não em relação ao seu talento, mas, sim, à lisura do seu comportamento para com a coisa pública, e dos gestores da coisa pública para com ele.

           Da mesma maneira, a matéria diz que o Sr. Benjamin Steinbruch sondou o publicitário há seis meses. E diz mais o texto da Folha de S.Paulo:

Na prática, o que ocorre é o seguinte: como Mendonça cuidará das campanhas do Palácio do Planalto, ele pode abrir mão de trabalhos ligados à mídia de empresas privadas. Essa é uma prática comum no mercado. Agências que prestam serviços ao Estado, por razões éticas, nem sempre se envolvem com trabalhos no setor privado.

           Portanto, a situação envolve questões éticas. Não estou tão equivocado assim. Se não é ético o Sr. Duda Mendonça aceitar trabalhos privados, por ser detentor da maior parte das contas públicas deste País, pergunto se é ético ele continuar prestando serviços ao Partido dos Trabalhadores. Seria ético ele continuar misturando, no mesmo leque de trabalho - em seis opções, três a três, exatamente um empate -, o interesse do Governo e o interesse do PT? Não deveria deixar o PT ou o Governo e proteger sua imagem de profissional correto? Não deveria o Governo proteger sua imagem de Governo probo?

           Diz ainda a matéria:

Neste ano, Mendonça entrou na disputa das contas de mídia de empresas estatais. Apresentou proposta técnica para a Petrobras e os Correios. A Folha apurou que as propostas já foram aceitas.

           Há outras duas contas a caminho da - parece-me - já polpuda conta do publicitário Duda Mendonça. Outras duas agências também foram escolhidas - parece-me que é sempre assim -, ou seja, são três: o Duda e duas outras que, quem sabe, se alternarão ao longo do tempo. O resultado oficial sairá este mês. Aguardarei ansioso o resultado oficial das contas de publicidade do Correio e da Petrobras.

           De qualquer maneira, fica o alerta. Tenho falado, e muito, a esse respeito. É a quarta ou quinta vez que falo sobre o assunto, a reportagem me ouve, procura ouvir o Sr. Duda Mendonça, mas ele nunca responde. Talvez seja a última palavra em marketing, talvez seja moderno não responder, mesmo quando estão em jogo a honradez e a ética. De qualquer maneira, insistirei. Esse é o primeiro passo.

           Se posteriormente a questão evoluir para um pedido de CPI, dirão que queremos obstaculizar os passos do Governo ou criar um quadro de ingovernabilidade, quando o que queremos é apenas uma de duas coisas: que esclarecimentos sejam prestados e que, se o publicitário e o Governo caírem em si e virem que estão laborando em equívoco, simplesmente reformem, consertem uma relação que está nascendo torta, ficando viciada e começa a cheirar mal.

           Era o que tinha a dizer.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/09/2003 - Página 28530