Discurso durante a 126ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários à editorial do jornal O Estado de S.Paulo sobre a CPI do Campo.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA.:
  • Comentários à editorial do jornal O Estado de S.Paulo sobre a CPI do Campo.
Publicação
Publicação no DSF de 23/09/2003 - Página 28563
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, EDITORIAL, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), APROVAÇÃO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CONGRESSO NACIONAL, INICIATIVA, ORADOR, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), OBJETIVO, INVESTIGAÇÃO, INVASÃO, TERRAS, ZONA RURAL, PREDIO URBANO, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, GRUPO, CARENCIA, HABITAÇÃO, APURAÇÃO, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO PARAMILITAR, UTILIZAÇÃO, ARMA DE FOGO, PROTEÇÃO, FAZENDEIRO, CONDUTA, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), PROCESSO, REFORMA AGRARIA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Comissão Parlamentar de Inquérito, que propus ao Senado, inicialmente restrita a esta Casa e, em seguida, dada a compreensível receptividade da idéia, transformada em CPI mista, está prestes a se instalar. E, mesmo antes disso, já conta com o aplauso também da imprensa.

Em editorial de sua edição de hoje, o jornal O Estado de S. Paulo, considera a CPI do campo, como a está chamando, necessária, diante do “desrespeito à ordem pública, ao patrimônio coletivo, à propriedade privada e à integridade física das pessoas - manifestado pelos contínuos esbulhos de terras produtivas”.

Leio, a seguir, o mencionado editorial para que, como parte integrante deste pronunciamento, passe a constar dos Anais do Senado da República.

Esta CPI é uma unanimidade

No Brasil tem havido Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) úteis, que se tornaram um real impulso dado aos poderes públicos para a solução de crônicos problemas nacionais, assim como aquelas geradas pelo interesse político-partidário de montar palanques eleitorais oposicionistas - sendo que algumas destas cumpriram seus objetivos e outras só tiveram desmascarados seus propósitos demagógicos. A CPI do Campo, prestes a ser instalada no Congresso, por iniciativa dos líderes do PSDB e do PFL - por meio de requerimento com as assinaturas de 190 deputados e 36 senadores -, com o objetivo de investigar as invasões de terras e prédios, por parte de militantes dos movimentos sociais, como o MST, bem como a atuação de milícias armadas em proteção de fazendeiros, vai encontrando uma rápida e extensa receptividade - inclusive por parte de altos escalões do próprio governo - porque se mostra de grande oportunidade.

O desrespeito à ordem pública, ao patrimônio coletivo, à propriedade privada e à integridade física das pessoas - manifestado pelos contínuos esbulhos de terras produtivas, pelas invasões de repartições públicas como as sedes regionais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), pelas depredações tanto de sedes de fazendas como de cabinas de pedágio, pelas tomadas das rodovias e impedimento do direito de ir-e-vir das pessoas, pelos saques de cargas de caminhões e de estabelecimentos comerciais, pelo puro e simples vandalismo, tanto quanto pela organização de milícias armadas capazes de multiplicar a violência e dar curso a uma verdadeira guerra no campo - chegou a um ponto tal que somente governo e oposição, juntos, o empenho dos Poderes de Estado e das três esferas de Administração (federal, estaduais e municipais) terão condições de preservar o cumprimento das leis, no meio rural brasileiro.

Disse o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto - cujo apoio ao MST já marcou sua gestão desde a posse, em que pese seus freqüentes recuos motivados por pitos presidenciais -, que "a presença do Congresso, por meio de uma comissão mista, com o objetivo de reduzir a violência, é muito positiva". E, também considerando a iniciativa da CPI do Campo bem-vinda, afirmou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos: "Acredito que a investigação abrangerá todos os aspectos relacionados à tensão no campo. Só consideramos absolutamente legítima a luta pela reforma agrária quando dentro da lei e das balizas da Constituição, mas isso vale tanto para sem-terra quanto para fazendeiros".

O ministro Bastos tem toda razão quanto à necessidade de amplitude dos trabalhos dessa CPI - no que deve se incluir a atuação dos superintendentes do Incra no relacionamento com os movimentos sociais, as formas de cadastramento para efeito da reforma agrária e, decerto, o próprio sistema de reforma agrária, como um todo, considerando-se os seus resultados até agora obtidos, no que diz respeito à evolução dos assentamentos, seus níveis de produção, os ganhos efetivos - econômicos e/ou sociais - que tem propiciado e os principais entraves que tem enfrentado.

Embora tivesse resistido, inicialmente, à insistência do PSDB em investigar as invasões do MST, o governo cedeu e fez bem em ampliar os objetivos da CPI, assim o traduzindo: "Realizar amplo diagnóstico sobre a estrutura fundiária brasileira, os processos de reforma agrária e urbana, os movimentos sociais de trabalhadores, que têm promovido ocupações de terras, áreas e edifícios privados e públicos." Dentro do grande consenso para a instalação da CPI, o PT destoou um pouco, pois só os senadores Eduardo Suplicy (SP) e Ana Julia (PA) a apoiaram. Resta esperar que frutifique e leve a algum efeito prático a idéia que teve o presidente do partido, José Genoino - depois de reunião com integrantes do MST -, de lançamento de uma campanha nacional pela paz no campo - o que, na verdade, significaria uma campanha nacional pelo cumprimento da lei e pelo respeito à ordem pública.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/09/2003 - Página 28563