Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a respeito de nota publicada na coluna do jornalista Ricardo Boechat, do Jornal do Brasil, sobre a relação do publicitário Duda Mendonça com o Banco Opportunity e sobre editorial do jornal O Estado de S.Paulo, publicado na edição de hoje, intitulado "Da promiscuidade entre marketing e Poder". (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a respeito de nota publicada na coluna do jornalista Ricardo Boechat, do Jornal do Brasil, sobre a relação do publicitário Duda Mendonça com o Banco Opportunity e sobre editorial do jornal O Estado de S.Paulo, publicado na edição de hoje, intitulado "Da promiscuidade entre marketing e Poder". (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 24/09/2003 - Página 28642
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMPARAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ATUALIDADE, ESTADO NOVO.
  • LEITURA, TRECHO, DENUNCIA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ATUAÇÃO, PUBLICITARIO, INFLUENCIA, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FAVORECIMENTO, BANQUEIRO, INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE, BANCO PARTICULAR.
  • LEITURA, EDITORIAL, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, PUBLICAÇÃO, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, PUBLICITARIO, PROPAGANDA, GOVERNO FEDERAL.
  • ADVERTENCIA, NECESSIDADE, ETICA, GOVERNO FEDERAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, falei ontem, desta tribuna, da promiscuidade entre marketing e poder, que o Governo petista do Presidente Lula segue implantando no País, à imagem e semelhança de Goebbels ou do Estado Novo e seu famigerado Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, de tão triste memória.

Agora, leio, na coluna do jornalista Ricardo Boechat, no Jornal do Brasil, séria denúncia, mostrando as extensões dessa inacreditável promiscuidade.

Diz o colunista do Jornal do Brasil:

O publicitário Duda Mendonça é o mais novo trunfo de Daniel Dantas junto aos cardeais do PT. Marqueteiro da campanha de Lula e baiano como dono do Opportunity, ele tem levado aos gabinetes de Brasília os argumentos em defesa do banqueiro, cujas operações estão sob fogo serrado.

Todo cuidado é pouco, pois “marqueteiro” que faz um cesto pode fazer um cento.

Como estamos vendo - e isto é estarrecedor -, os costumes mudaram muito no Brasil. Mudaram para pior. E, como diz Manuel Bandeira, “Em ronco que aterra/berra o sapo-boi”. O ronco que aterroriza é o das práticas petistas atuais.

Mas berram também as pessoas de bem, inconformadas diante dessas práticas que pensávamos fossem do imaginário e que tocam as raias do de um terreno que não é o nosso nem era o do Governo Fernando Henrique Cardoso.

Ao contrário dos reparos que opuseram alguns ex-companheiros, após minha fala de ontem, Nizan Guanaes não era marqueteiro, título cuja exclusividade pode ficar para o novo “Ministro da Propaganda”, assim chamado Duda Mendonça pelo Secretário de Comunicação do Governo, o ex-Deputado e figura respeitável Luiz Gushiken.

Guanaes, que, a propósito, na campanha eleitoral de 2002, era o profissional de publicidade da Senadora Roseane Sarney, e não de Fernando Henrique - nem sequer de José Serra -, não pode ser confundido com marqueteiro, que é “aquele que, oportunisticamente, se utiliza do marketing para projetos e interesses pessoais”, como está no Aurélio. Depois, com a desistência de Roseane é que ele aceitou a incumbência de trabalhar para José Serra. Não havia, portanto, esse vínculo tão forte.

Como honrado profissional da publicidade, ele não se prestava a expedientes nem era suspeito de lobbies estranhos ou do exercício do tráfico de influência, agora prática cotidiana, como revela, como teme o colunista Boechat.

Cedo a palavra também ao jornal O Estado de S. Paulo. Em editorial publicado na edição de hoje, o importante veículo noticioso brasileiro também estranha essa mistura tão promíscua e diz: “Até agora, tínhamos no Governo Lula, digamos, dois “primeiros-ministros”, a saber: Palocci e Dirceu. Ao que tudo indica, haverá mais um: Duda”.

Pela oportunidade do tema e para que o historiador do futuro tenha, nos Anais do Senado da República, elementos para explicar o que acontece no Brasil petista de 2003, solicito que o Editorial do jornal O Estado de S. Paulo seja incorporado a este pronunciamento.

Passarei a lê-lo:

Da Promiscuidade entre marketing e Poder” - e quem o diz é O Estado de S. Paulo.

Já se discute, há um bom tempo, e não apenas no Brasil, o fato de, nas campanhas eleitorais contemporâneas, o discurso político dos candidatos e respectivos partidos, expondo suas visões socioeconômicas, seu entendimento ideológico ou, simplesmente, as soluções administrativas para os principais problemas que atingem a coletividade, vir sendo substituído pelo trabalho dos chamados marqueteiros eleitorais. Pois estes passaram a assumir responsabilidades cada vez mais abrangentes em relação aos múltiplos setores das campanhas e ao comportamento geral dos candidatos. Se antes o marketing cuidava mais das mensagens de propaganda, dos slogans, da forma (gestual ou visual) de apresentação dos candidatos nos palanques e na televisão, aos poucos os marqueteiros passaram a tomar conta da estratégia eleitoral global de candidatos e partidos: das falas dos candidatos - não apenas quanto à forma, mas também muito de seu conteúdo -, dos sistemas mais propícios de alianças, dos temas eleitoralmente mais atraentes para os programas de TV, etc. Pode-se dizer que, com a força avassaladora da comunicação eletrônica de massa - especialmente a televisão -, a discussão sobre a legitimidade ou não dessa substituição do discurso político tradicional pelos efeitos eleitorais do marketing funciona e traz resultados concretos, , em termos de números de votos, na luta pelo Poder, em um sistema de eleições livres, próprio das democracias representativas contemporâneas.

Mas tudo isso que aqui analisamos ainda diz respeito a processos eleitorais, isto é, à luta partidária (sempre legítima) pela conquista do Poder, por meio da obtenção da maior quantidade de votos. Assim como o objetivo essencial do marketing comercial é conquistar mais consumidores (para aumentar a venda dos produtos), o do marketing político é arregimentar mais eleitores (para conquistar postos no poder ou alongar a permanência de políticos no Poder). Ainda não tratáramos de um novo tipo de relação, que é o da participação direta no próprio Governo, exercido por um partido, candidato ou grupo político para cuja vitória eleitoral contribuiu, do marqueteiro, com seus serviços profissionais devidamente remunerados.

A maneira como o Ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (Secom), se referiu, em entrevista publicada na Folha de S. Paulo de domingo, às funções que deverá ter o principal marqueteiro político do País, Duda Mendonça, indubitavelmente um dos principais artífices da grande vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e seu partido, o PT, na mais recente eleição presidencial, indica um novo grau de ligação. Há que se reconhecer que o marketing político deu um salto da campanha eleitoral para ocupar a própria máquina pública do Estado, a própria entranha governamental.

A certa altura da entrevista, disse o Ministro Gushiken:“Eu vou dizer para os Ministérios que a Secom, por intermédio da agência do Duda Mendonça, eventualmente pode se relacionar, se reunir para discutir e saber como é que cada área deve atuar. Para que tudo fique em consonância com a linha de governo.” Até agora (diz novamente o Estado de São Paulo) tínhamos no Governo Lula, digamos, dois “primeiros-ministros”, a saber, Palocci e Dirceu. Ao que tudo indica haverá mais um, Duda.

Apesar de três agências terem vencido a licitação para cuidar da publicidade da Presidência da República (e não é estranho que um Presidente da República precise de publicidade específica, já que não é mais - e ainda não é - candidato?), parece que uma delas, a de Duda Mendonça, será a única a, efetivamente, dar as cartas no campo da Comunicação, mas com interferência “comunicológica” em todos os Ministérios, “para que tudo fique em consonância com a linha de governo” (diz o próprio Governo).

O marketing comercial quer mais consumidores, o marketing político quer mais eleitores. E o marketing governamental quer o que - já que não pode confundir-se com político, pois quem o remunera não é um Partido nem seus doadores, mas todos os contribuintes?

Esse tipo de promiscuidade entre o marketing e o Poder já houve, mesmo que antes só se usasse o termo “propaganda”, e diz a experiência histórica que não deu muito certo - embora para alguns, durante certo tempo, até tenha dado.

Aqui, o Estado de S.Paulo é cordato, cortês, Senador Papaléo Paes, mas se refere a Goebbels e ao nazismo de Hitler.

Encerro com uma advertência. Tenho para mim que a irregularidade e a ameaça ética devem ser denunciadas e o autoritarismo deve ser podado no nascedouro, até porque a única forma de se lidar com o autoritarismo é impedir que ele viceje, vingue, cresça e se estabeleça.

Portanto, fica aqui o aviso, o mais sincero possível, de um oposicionista em relação a um governo eleito democraticamente pelo voto popular: se não mudarem esses métodos, este Governo chorará lágrimas de sangue, porque, permitindo a licenciosidade no terreno da Comunicação, aviltará a consciência nacional e esta reagirá. Em segundo lugar, se esse é o padrão de ética, imagino que novas licenciosidades acontecerão no âmbito administrativo, o que reverterá em danos para a imagem do Governo, para a imagem do Presidente, para a governabilidade e para a qualidade de política que se faz neste País.

Portanto, é hora de o Sr. Duda Mendonça e o Governo optarem: Duda trabalha para o PT ou trabalha para o Governo? Se trabalha para o PT, então que não entre em licitações do Governo; se trabalha para o Governo, não trabalhe para o PT. A mistura e, mais ainda, o aconselhamento a Daniel Dantas, a empresários ou a quem quer que seja, procurando-se por alguém que, supostamente, abriria as portas do Palácio, não é o que quero para o futuro do Presidente Lula, que tem um passado irretocável. Isso não é o que imagino que seja consentâneo com um País absolutamente democrático e ávido por melhores padrões de ética para todos nós, que nele vivermos e que dele não nos afastarmos.

Ficam o aviso e, nessa advertência, o desejo fraterno de que o Governo reflua, em vez de dar desculpa como a que me disseram, há algum tempo: “Ah, era assim com o Fernando Henrique.”

Em primeiro lugar, não era assim. Em segundo, se fosse assim, não era para ser assim agora, porque não se deve copiar o erro.

Sempre digo que as pessoas, lá fora, estão dizendo que o primeiro Governo do Fernando Henrique foi bom, o segundo, mais ou menos e o terceiro está muito ruim. Ou seja, é hora de mostrar a marca e se se quer fazê-lo, não se deve pensar no que havia de errado ou de certo no passado. Procure fazer o certo à sua moda.

Isso não está certo, isso agride a minha consciência e, sem dúvida alguma, não corresponde ao que este Brasil quer como padrão de moral e de ética para passarmos para nossos filhos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/09/2003 - Página 28642