Discurso durante a 130ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 27/09/2003 - Página 29471
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DOAÇÃO, VERBA, COMBATE, FOME, MUNDO, AUMENTO, DESEMPREGO, VIOLENCIA, PRECARIEDADE, RODOVIA, AUSENCIA, EMPENHO, CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES (CUT), DEFESA, INTERESSE, TRABALHADOR, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL.
  • COMENTARIO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), REGISTRO, DIFICULDADE, GOVERNO FEDERAL, IMPLEMENTAÇÃO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, COMBATE, FOME, AUMENTO, DESEMPREGO, BRASIL, PROVIDENCIA, CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES (CUT).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Lula e seu governo petista estão muito parecidos com o velho estilo que prevalecia no Brasil nos tempos do ex-Governador Adhemar de Barros, de São Paulo. Não me refiro à questão da integridade pessoal, pois tenho Lula como alguém que haverá de saber manter a sua própria integridade pessoal, apesar do exercício do poder. Mas Adhemar fazia um governo que deixava a impressão de riqueza e fausto.

Em Nova Iorque, o Presidente acaba de dar uma de Adhemar, ao doar U$55 mil dólares para o Fundo Mundial de Combate à Fome. País rico é assim mesmo. Afinal, no Brasil, não há ninguém passando fome e, por isso, podemos ir distribuindo dinheiro também à miséria global.

Na área de propaganda e marketing, a Radiobrás veiculou ontem notícia informando que “Lula disse a Bush que o Brasil não quer tratamento de segunda classe: o Presidente afirma que o Brasil quer ser tratado de igual para igual ao negociar com os Estados Unidos na área comercial”.

Seria recomendável que o Presidente petista não se deixasse empolgar nesses seus périplos e nessas suas práticas de globe-trotter. Devagar com o andor que o santo é de barro.

Essa propaganda de nada vale lá fora. Aqui dentro, no máximo, vai tapeando uma parte da opinião pública brasileira.

Procurei no noticiário de três grandes jornais dos Estados Unidos, - The New York Times, Washington Post e o USA Today - e não vi ao menos o nome do Presidente brasileiro. O noticiário era tomado pela fala de Bush na ONU, pelos acontecimentos no Iraque e outros que tais. Ou seja, quero preservar o meu Presidente de fazer papel de Odorico Paraguassu lá fora, ao mesmo tempo em que aqui dentro procura transformar a nossa opinião pública em súditos de Sucupira, lembrando Dias Gomes.

O desemprego no Brasil corre solto e já agora o Governo petista marcou novo recorde: o do desemprego. Onde foi parar a promessa dos 10 milhões de novos empregos? O Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, em entrevista divulgada ontem, disse temer que o quadro se agrave com o aumento da violência urbana. E as nossas intransitáveis estradas? Até quando a culpa vai ser dos governos anteriores? Quando começará efetivamente a ação de um Governo que se tem vestido de todas as fantasias nos eventos festivos do Palácio, menos a do governante, menos a de quem quer conscientemente governar este País de maneira sóbria, de maneira eficaz e eficiente?

Seria preferível que o Presidente Lula voltasse a pisar chão firme, mas na terra brasileira de preferência.

Peço a V. Exª que conste nos Anais da Casa matéria publicada ontem no jornal Correio Braziliense com o título “Dificuldades dentro do próprio País”, assinada pela jornalista Lílian Tahan.

Entre outros dados, há aqui, por exemplo, a pergunta de Ricardo Caldas, cientista político da Universidade de Brasília: “Que fim levou o Fome Zero”? Eu também queria saber.

Aí diz Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas: “Vontade política o Presidente tem, mas o problema da fome precisa mais do que boas intenções e, no aspecto prático, as políticas sociais ainda não deslancharam”. Pesquisador isento, da Fundação Getúlio Vargas, órgão respeitável do ponto de vista técnico e que tem toda uma tradição que foi fincada na abnegação do grande e imortal economista Mário Henrique Simonsen.

Peço ainda que outra matéria do Correio Braziliense de ontem também, 26 de setembro, seja agregada a este meu pronunciamento, cujo título é: “Desemprego sobe e CUT pede frentes de trabalho”.

A CUT fez um papelão outro dia na discussão da reforma da Previdência. Mandou para cá um sindicalista junto com um da CGT, que fizeram uma intervenção pífia e, na hora de os Senadores fazerem perguntas a eles, deram as costas e foram embora. Chamei aquilo de neopeleguismo. Então, não coloco toda essa fé na fidelidade aos trabalhadores de pessoas que estão começando a se acomodar às poltronas, aos tapetes e às almofadas palacianas.

Mas, de qualquer maneira, chamo a atenção para o fato de que até a CUT, que rosnava como um tigre no Governo Fernando Henrique e hoje ronrona como um gatinho doméstico nos braços de Lula, para livrar a sua face, já começa a dizer coisas contra o Governo. E diz fala: “Luiz Marinho, da CUT, vem aqui para cobrar mais ação do Governo Federal”. Veja como ele é bonzinho com o Governo Lula. Não tem que cobrar mais ação, tem que cobrar ação. Mais é quando há alguma. Ação é quando não tem nenhuma. Então, tem que cobrar ação no sentido absoluto.

Ele vem apresentar uma proposta de realização de obras públicas, de infra-estrutura por meio de mutirões de frente de trabalho. Ele reconhece o drama do desemprego. E, mais ainda, tudo isso é em torno desse triste recorde de 13% de desemprego em relação à população economicamente ativa, que significa o desmentido prático de todo esse noticiário que o Governo produz - com a sua capacidade quase que fascista de procurar impor uma verdade única -, que fala em melhoria econômica. Estamos vendo, ao contrário, uma interrogação contra a capacidade efetiva de a economia se recuperar. Estamos vendo uma resposta clara à política recessiva do Governo, que é o aumento das taxas de desemprego. Isso, sim.

Finalmente, insisto que o Brasil tem tudo para crescer, no ano que vem, talvez 3%. Mas 3% em cima dessa miséria de hoje, e não em cima de um patamar elevado. A Argentina cresce 5% em cima de menos 10% do ano anterior. Ou seja, no outro ano, se crescer mais cinco, zera em relação a dois anos atrás. Portanto, a Argentina precisaria de muito tempo para seguir em uma progressão razoável, se porventura tiver sido razoável o comportamento da sua economia ao longo do tempo.

Então, aqui no Brasil, não nos deixemos engodar com o fracasso deste ano, substituído, no ano que vem, por algo como 3% do crescimento econômico, e dizendo que começou o espetáculo do crescimento. É bom pararmos com o espetáculo da mentira. É bom pararmos com o espetáculo da fantasia e começarmos com o espetáculo da realidade, porque o povo brasileiro não se alimenta de fantasia, o povo brasileiro não se alimenta de realidade. Ele fica deprimido, sobretudo aquele que está passando fome, quando vê o Presidente do seu País, para fazer uma média que não sai nem nos jornais internacionais, uma média típica de Odorico, dando US$55 mil para a fome mundial. E aqui dentro, praticamente, desativa o seu programa Fome Zero.

Ainda volto à tribuna como orador, daqui a pouco, e também como Líder do PSDB, Sr. Presidente. Faço toda a questão de exercer, em cada minuto de que disponha, o meu papel de liderança oposicionista crítica em relação ao Governo, que tem que ser muito criticado para melhorar. Se eu não critico, os áulicos vão convencer o Presidente de que está tudo muito bem. Temos que criticar para contrapormos a nossa palavra à palavra dos áulicos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/09/2003 - Página 29471