Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo da colunista Dora Kramer, do Jornal do Brasil, que questiona a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Cuba.

Autor
Demóstenes Torres (PFL - Partido da Frente Liberal/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários ao artigo da colunista Dora Kramer, do Jornal do Brasil, que questiona a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Cuba.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/2003 - Página 29642
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), QUESTIONAMENTO, OBJETIVO, VIAGEM, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, CONCESSÃO, TRATAMENTO ESPECIAL, PRIVILEGIO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, LIBERAÇÃO, RECURSOS, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), CREDITO EXTERNO, FACILITAÇÃO, PAGAMENTO, AMORTIZAÇÃO, DIVIDA.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, DESEMPREGO, BRASIL, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, AMBITO NACIONAL, DESAPROVAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, APROXIMAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, DESRESPEITO, DIREITOS HUMANOS, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, VIOLENCIA, DITADURA.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, “Cuba perdeu minha confiança, arrasou minhas esperanças e frustrou minhas ilusões” - José Saramago.

No romance O Outono do Patriarca, Gabriel Garcia Márquez narra a solidão de um déspota perfeito, sem nome, obcecado pelo poder absoluto e cujos limites transcendiam o seu próprio corpo em putrefação. Com idade indefinida entre 107 e 232 anos, ele incorporava a autoridade total, continuada, e cria que a “mentira é mais cômoda do que a dúvida, mais útil do que o amor, mais perdurável do que a verdade”. A obra foi o primeiro livro publicado por Garcia Márquez depois de Cem Anos de Solidão, em uma época em que a democracia foi varrida do continente latino-americano e era natural caracterizar, nos ditadores de então, a triste figura do personagem do escritor colombiano. Mas nem a prodigiosa imaginação de Garcia Márquez foi capaz de supor que, justamente o lendário líder cubano, Comandante e Presidente Fidel Castro, que fascinou uma geração em todo o mundo, fosse se converter em o último patriarca.

Sr. Presidente, a jornalista Dora Kramer, em sua coluna da última sexta-feira, tentou encontrar razões políticas, econômicas, diplomáticas e até pessoais para a esticada a Cuba do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, mas se deu por informada dos “não-significados” da viagem. A dúvida da colunista pautou o Palácio do Planalto a encontrar uma saída honrosa à inopinada escala oficial da “lulatur” em território cubano.

Em um protocolo improvisado, o Governo do Partido dos Tributos quis convencer os nacionais de que a comitiva foi a Cuba praticar a liberalidade: as dívidas com o Brasil serão amortizadas em condições paternais porque o Presidente Lula acredita que “o País, por ter a maior economia da região, por ser o mais industrializado, tem que ter gestos de generosidade com os seus parceiros”.

O segundo maior acontecimento da escala em Havana foi o lançamento, pelo Presidente Lula, da Multinacional da Esperança. O primeiro mandatário está convicto de que fará bem ao Brasil a liberação de recursos do BNDES para construir hotel de luxo e usina de álcool em Cuba. Provavelmente, acredita que são poucos os miseráveis e ofendidos daqui e que chegou a hora de Liderar os desempregados de Cuba. O Presidente Fidel Castro, inclusive, em seu pronunciamento, reconheceu qualidades patriarcais no Presidente Lula ao chamá-lo de “meu irmão”.

Srªs e Srs. Senadores, apesar de ninguém levar a sério os gestos de demagogia internacional do Presidente, é no mínimo uma provocação desnecessária participar de convescotes com um ditador carcomido pela infatigável perseguição ao poder, cujo regime provecto cambaleia moribundo. Trata-se de um governo autoritário, há 44 anos no poder, onde foi revogado o princípio do processo legal e são realizadas execuções sumárias. Neste ano foram eletrocutados três cidadãos cubanos, e há 49 na fila da morte por discordarem do longo mandonismo do Presidente Castro. Em Cuba, sistemática stalinista de perseguição a dissidentes é implacável, sendo lugar comum prisões arbitrárias, condenações por convicções políticas e nenhuma hipótese de liberdade de expressão.

Em um relatório sobre os direitos humanos em Cuba, a Anistia Internacional revelou que o exercício da liberdade de imprensa é tipificado como crimes absurdos de “propaganda inimiga”, “desrespeito”, “desordem pública”, entre outros, e são inúmeros os profissionais da comunicação encarcerados por revelar a falência do sistema.

A Cúpula Simulada de Havana foi o nada que se esperava de um encontro sem propósito de dois Chefes de Estado do terceiro mundo, mas confirmou que, em missões internacionais, este Governo tem uma agenda emocional fantástica. Observem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que, justamente o Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, o homem encarregado de distribuir indulgências e praticar maldades, chorou ao abraçar o Presidente Fidel. Foram sinceras as lágrimas daquele ex-guerrilheiro, treinado por Cuba, para promover a luta armada no Brasil, mas elas certamente teriam sido contidas não fosse constar das provisões presidenciais esse pernicioso e malsinado “picolé de caipirinha”.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/2003 - Página 29642