Discurso durante a 134ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem aos cinquenta anos de criação da Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRÁS.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem aos cinquenta anos de criação da Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRÁS.
Publicação
Publicação no DSF de 03/10/2003 - Página 29862
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, MARCA, EMPRESA, SIMBOLO, NACIONALISMO, SOBERANIA NACIONAL, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • REGISTRO, LUTA, MONTEIRO LOBATO (SP), ESCRITOR, NACIONALIZAÇÃO, PETROLEO, PERIODO, ESTADO NOVO.
  • REGISTRO, DECISÃO, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), POSTERIORIDADE, CAMPANHA, INICIATIVA, AÇÃO POPULAR, NACIONALIZAÇÃO, PETROLEO, OPOSIÇÃO, TENTATIVA, CAPITAL ESTRANGEIRO, CONTROLE, EXPLORAÇÃO, POÇO PETROLIFERO, EMPRESA DE PETROLEO.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, gostaria de saudá-lo e às Srªs e Srs. Senadores, mas, de forma muito especial, gostaria de saudar a nossa Ministra Dilma Rousseff, o Presidente da homenageada do dia, a Petrobras, Sr. José Eduardo Dutra, e também a toda a direção e os demais componentes que nos honram com suas presenças.

Não vou me deter em estatísticas, gráficos, dados, todos esses números que são muito contundentes, elucidativos e que demonstram a pujança e a força da Petrobras, porque ninguém melhor que o Senador José Eduardo Dutra, que preside a empresa, e que terá a oportunidade de falar nesta sessão, por uma deferência do nosso Presidente do Senado, para abordar esses aspectos.

Vou falar um pouco do subjetivo, do implícito, do simbólico, destes cinqüenta e outros mais anos que temos a comemorar. Quando passamos em qualquer lugar e vemos a logomarca verde e amarela, BR, bem grande, Petróleo do Brasil S.A, temos consciência de que, indiscutivelmente, não há no Brasil nenhuma outra instituição que traga esta força do nacional, do nosso, do Brasil brasileiro. Não há nada que traga mais essa simbologia, este implícito do nacionalismo do que a Petrobras. Aquela logomarca bonita do BR verde e amarelo arrepia pelo significado.

Mas junto com essa força do nacional, do brasileiro vem outra questão embutida, implícita, que é a da energia. Isso porque aquela marca simboliza o que move este País, o que impulsiona, o que coloca a perspectiva do futuro, do estar à frente. Então, essas duas imagens, forças que estão absolutamente associadas à Petrobras, energia do Brasil, são indiscutivelmente o que quero registrar nesta sessão de homenagem à Petrobras.

E esse entendimento da energia do Brasil, que está indissoluvelmente associada à Petrobras, nosso precioso Monteiro Lobato já tinha há muitos anos.

Lobato começou a queimar o seu óleo sagrado, de entusiasmo e de vibração nacionalista, com o petróleo. Escrevia artigos, dirigia-se às autoridades, denunciava omissões e retardamentos nos órgãos oficiais, era um Saci em brasa, pura e fecunda, como lembra seu maior biógrafo, Edgard Cavalheiro. O petróleo é explosivo sempre. Queima sempre. É matéria que está ligada ao mais fundo interesse do homem. Decide das guerras e posiciona as nações ricas e pobres.

E Monteiro Lobato, que não se continha, escreveu ao Presidente Getúlio Vargas uma das mais contundentes cartas da História do Brasil, no dia 24 de maio de 1940.

Vou ler apenas um trecho. A carta é linda, longa e inicia-se assim:

Dr. Getúlio:

O Petróleo! Nunca o problema teve tanta importância, e se o senhor não toma a si, com a maior energia e urgência, a solução do caso, arrepender-se-á amargamente um dia, e deixará de assinalar a sua passagem pelo governo com a realização da Grande Coisa. Vivi demais o assunto. No livro O ESCÂNDALO DO PETRÓLEO denunciei à nação o crime que se cometia contra ela - e com a maior dor de coração vejo que o oficialismo persiste nesse crime, e agora armado duma arma que não existia antes: o monstruoso tank chamado CONSELHO NACIONAL DO PETRÓLEO.

Dr. Getúlio, pelo amor de Deus, ponha de lado a sua displicência e ouça a voz de Jeremias. Medite por si mesmo no que está se passando. Tenho a certeza de que se assim fizer, tudo mudará, o pobre Brasil não será crucificado mais uma vez.

E Lobato sofria as conseqüências e arcava com as mesmas. Esteve preso três meses na Casa de Detenção e, quando questionado, respondeu:

Se alguém lamentar a minha sorte, diga-lhe que não seja besta. Estou como queria, colhendo o que plantei. A causa do petróleo ganha muito mais com a minha detenção do que com o comodismo palrador aí do escritório”.

É isso que o Monteiro Lobato, este símbolo da luta pela causa do petróleo no nosso País, tem a nos ensinar neste dia.

A soberania sempre esteve vinculada ao petróleo e à Petrobras. O famigerado Relatório Link, do tal graduado técnico do Governo norte-americano, que vaticinava que, no Brasil, não há petróleo é prova inequívoca do jogo dos interesses internacionais no petróleo brasileiro.

Enquanto Lobato esgrimava em nome dos interesses nacionais, a Standard Oil enviava documento secreto ao Governo Vargas, em 1940, propondo a participação estrangeira em todas as fases de produção e beneficiamento do petróleo.

A Constituição de 1946 previa a participação das multinacionais na exploração do petróleo. Foi para regulamentar essa participação que o Presidente Dutra enviou ao Congresso o Estatuto do Petróleo, permitindo a participação de 60% de ações de estrangeiros nas empresas petrolíferas.

E foi aí, em 1948, que a campanha “O Petróleo É Nosso” deslanchou, tomou conta de corações e mentes, tendo à frente a nossa juventude, que fez com que Vargas, depois de três anos de campanha, em 1951, retirasse o Estatuto do Petróleo do Congresso e enviasse um substitutivo que acabou gerando a Lei nº 2004, de 3 de outubro de 1953, que criou a Petrobras. Amanhã, estaremos comemorando os seus cinqüenta anos de criação.

Ao longo destes 50 anos de vida, a história da Petrobras continuou emparelhada, confundindo-se e entrelaçando-se à história dos grandes embates entre os projetos e as visões de submissão ou soberania para o nosso País. Tivemos os contratos de risco durante a Ditadura Militar e o monopólio no Governo Fernando Henrique Cardoso.

E é porque nós sentimos a Petrobras como a energia do Brasil que nós vibramos, comemoramos, soltamos foguetes a cada poço, a cada superação de desafio, a cada novo campo descoberto, a cada novo contrato assinado. E esse sentimento é muito parecido com o de um gol de Copa, o da bandeirada de chegada, aquele sentimento mesmo que mexe com esse tema da brasilidade.

E quando vemos a Petrobras envolvida com os projetos de resgate e recuperação do patrimônio artístico, cultural, arquitetônico brasileiro, preocupada com a Memória Nacional, ficamos mais orgulhosos ainda, pois é a energia do Brasil cuidando do nosso País.

E aí, Sr. Presidente José Eduardo Dutra, os senhores resolveram fazer uma campanha publicitária dos 50 anos da Petrobras, para terminar de esculhambar com as nossas emoções. Uma campanha belíssima, com imagens maravilhosas, que mostram a pujança da nossa empresa, as plataformas, a tecnologia, o avanço, a preocupação com os resgates, todo o envolvimento com a questão cultural e artística. E colocam o slogan “o Desafio como a nossa Energia” e uma música, que estou cantando há 15 dias, porque, toda vez que consigo ligar a televisão, vejo a campanha publicitária maravilhosa da Petrobras.

Então, como estou cantando, vou cantar, mas farei uma pequena adaptação, como os senhores também fizeram:

Brasil,

Esquentai vossos pandeiros

iluminai os terreiros

que nós queremos sonhar.

Brasil,

Abençoai os petroleiros,

plataformas, usinas, canteiros

Que nós ousamos sonhar.

Parabéns Petrobras! Parabéns Brasil!

Porque somos bons em petróleo e em País.

Muito obrigada. (Palmas!)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/10/2003 - Página 29862