Discurso durante a 138ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro das produções artísticas do Teatro Giramundo de bonecos.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.:
  • Registro das produções artísticas do Teatro Giramundo de bonecos.
Publicação
Publicação no DSF de 09/10/2003 - Página 30903
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ALVARO APOCALIPSE, DESENHISTA, RESPONSAVEL, GRUPO, TEATRO, PROFESSOR, UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG), ELOGIO, ATUAÇÃO, ARTES CENICAS.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, CRIAÇÃO, GRUPO, TEATRO, DESENVOLVIMENTO, ATIVIDADE ARTISTICA, INCENTIVO, CRIATIVIDADE, ACESSO, POPULAÇÃO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), CULTURA.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. Srs. e Senadores: não há quem não tenha tido momentos de encantamento ao assistir qualquer das produções artísticas do Teatro Giramundo. Com a minha lembrança, voltada, hoje, àqueles espetáculos de tanta beleza cênica, de tantos enredos vibrantes, de tantas críticas finas, que retratavam a realidade da vida dos homens é que ocupo esta tribuna do Senado Federal para prestar a mais justa homenagem “in memorian” ao casal Álvaro Apocalipse e Terezinha Veloso, recentemente falecidos.

Dois grandes mineiros que, unidos vida inteira, legaram à cultura nacional um dos maiores, senão o maior dos acervos do teatro de bonecos, em especial, e outras obras, hoje incorporadas ao cinema, à televisão e ao teatro nacionais.

Em 33 anos de atividades, Álvaro Apocalipse, sua esposa Terezinha Veloso e a artista plástica Maria do Carmo Vivacqua Martins, a conhecida Malu, produziram com o Teatro Giramundo 27 espetáculos com mais de 700 bonecos, moldados com os mais diferentes materiais, como cerâmica, madeira, gesso, acrílico, pano e papel, em diversos formatos, tamanhos e cores.

Quem for assistir com algum rigor crítico a um espetáculo do Giramundo encontrará destacado apuro técnico e qualidade de dramaturgia, tudo isso em meio a um forte impacto visual. Jamais as peças do Giramundo se repetiam no que respeita a técnica. Álvaro Apocalipse sempre inovava ao misturar diferentes estilos de manipulação e cadência cênica. Marionetes, mamulengos, bonecos de vara e outros, sustentados de formas as mais variadas, provocavam uma dinâmica própria e revelavam um estilo único de criatividade, graça e beleza, um estilo tão característico de seu criador.

Agrada-nos, no entanto, saber que o Giramundo não morreu com Álvaro Apocalipse. Sua obra continuará . Continuará porque os espetáculos da Escola criada por ele serão encenados por um núcleo de 15 marionetistas que seguirão alegrando o imaginário das crianças e conquistando os corações dos adultos e, ao mesmo tempo aquinhoando prêmios e mais prêmios em nosso País e no exterior, como os já conquistados Prêmio Moliére, de 1980 e Prêmio Multicultural, do Estadão, em 1998. Sem contar mais de uma centena de outros prêmios, troféus e medalhas auferidos nos 33 anos de existência do Giramundo.

Lembro-me, bem, do grupo Giramundo ao tempo em que governava meu Estado. Por ter conferido grande ênfase às ações voltadas à cultura, expressão que, entendo, melhor interpreta o pensamento e retrata o sentimento de nosso povo, pude sentir, ver e aplaudir o projeto GIRAMUNDO. É importante também lembrar que o GIRAMUNDO apoiou e utilizou a Lei Estadual de Incentivo à Cultura, hoje ameaçada pela Reforma Tributária.

Mas quem foi Álvaro Apocalipse? - Desenhista, desde a infância, este artista mineiro estendeu seu panorama de atuação cultural, imprimindo seu nome e marca na pintura, na gravura, na animação, no movimento, vetores artísticos que acabaram por desembocar na Escola do Giramundo. Esse típico espetáculo cênico sintetiza e agrupa várias linguagens artísticas, visuais, gestuais, auditivas e literárias, numa resultante marcada pela singeleza, simplicidade e originalidade, naturalmente traços marcantes da personalidade do seu criador, que dizia: “aceitar o erro como parte do trabalho, dá um sentido de liberdade e, principalmente, a noção de que, em arte, não se erra”.

Este é o grande artista mineiro que, nascido no Município de Ouro Fino, Sul de Minas Gerais, foi encontrar nas artes o seu campo para semear a liberdade de criar, o que acabou por deixar às gerações futuras uma obra tão afinada e refinada de bom gosto, sensibilidade e beleza, justamente por que ela toca no coração e se perpetua na alma das pessoas.

E aqui, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores permitam-me divagar, recolhendo para polir este despretensioso discurso de homenagem e louvor, uma estrofe da composição de Lamartine Babo, alusiva às mesmas Serras que foram a terra e o berço do nosso saudoso artista, Álvaro Apocalipse. Lamartine, escolhe para sua poesia:

 “Serra da Boa Esperança,

 Esperança que se encerra

 No coração do Brasil, um punhado de terra

 No coração de quem vai

 No coração de quem vem

 Serra da Boa Esperança, meu último bem!

 Parto, levando saudades,

 Saudades deixando,

 Murcham as caídas da Serra

 Lá, perto de Deus...

 Oh! Minha terra, eis a hora,

 Do adeus, vou-me embora...

 Deixo a luz do olhar, do teu olhar,

 ADEUS...

Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, este foi Álvaro Apocalipse. Um intelectual de verdade: desenhista, pintor, escritor, gravurista, produtor cênico, indumentarista, figurinista, professor do Curso de Belas Artes da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi um sonhador, um criador de bonecos que honrou nosso Estado. Este foi Álvaro Apocalipse: - um otimista das artes. Um advogado que rendeu-se a sua verdadeira vocação. Que foi fiel às suas habilidades e aptidões. Que foi escravo da liberdade de criar, de expressar-se no idioma de arte. Que foi sensível em conhecer e não esconder dos homens os movimentos da vida, utilizando, para isso cores, luzes e sombras. Que foi, finalmente, um grande mineiro que elevou, mais alto do que as montanhas do seu Sul de Minas, as artes da Terra do Aleijadinho.

Por tudo isto, Senhor Presidente, solicito ao Senado Federal seja encaminhado, a família de Álvaro Apocalipse, aos representantes dos Poderes Constituídos dos Municípios de Ouro Fino, sua Cidade Natal e Belo Horizonte, cidade onde, por tanto anos, atuou como artista plástico, votos de pesar desta Casa Legislativa pelo seu falecimento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/10/2003 - Página 30903