Discurso durante a 140ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 26 anos de criação do Estado de Mato Grosso do Sul.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Comemoração dos 26 anos de criação do Estado de Mato Grosso do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2003 - Página 31202
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), REGISTRO, HISTORIA, REIVINDICAÇÃO, POPULAÇÃO, AUTONOMIA, AMBITO ESTADUAL, EFEITO, DIVISÃO, REGIÃO, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, AGROINDUSTRIA, TURISMO, ECOLOGIA, INTERIOR.
  • REGISTRO, PRESENÇA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INAUGURAÇÃO, PONTE, LIGAÇÃO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CONCLUSÃO, ASFALTAMENTO, RODOVIA, LIGAÇÃO, MUNICIPIO, TRES LAGOAS (MS), SELVIRIA (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), RETOMADA, PROJETO, PANTANAL MATO-GROSSENSE, CONSTRUÇÃO, USINA HIDROELETRICA, MELHORIA, HIDROVIA.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, toda vez que venho à tribuna deste plenário, carrego comigo o orgulho de estar representando o Estado de Mato Grosso do Sul. Algumas vezes, entretanto, essa sensação se faz maior.

Hoje é dia 10 de outubro. Amanhã é 11 de outubro, quando se comemoram os 26 anos da criação do Estado de Mato Grosso do Sul. Sinto como se cada um dos meus co-estaduanos estivesse aqui ao meu lado, emprestando-me sua força e sua fé no futuro de nossa terra, e compartilhando comigo da alegria de poder declarar essa fé a todo o Brasil.

É que existem também, Srs. Senadores, na vida de cada um de nós, é claro, dias especiais, dias que parecem transcender a normalidade dos demais dias, dias dotados de um significado mais profundo, que, muitas vezes, não logramos compreender, mas que podemos sentir. O 11 de outubro, para mim, é um desses dias.

Aliás, olhando para a galeria deste plenário, vejo que hoje ela está engalanada pelas crianças. O plenário está repleto de crianças, e o dia 12 é o dia das crianças. Interrompo, portanto, o meu pronunciamento sobre o aniversário de Mato Grosso do Sul para dizer que, se vou falar no futuro, não posso deixar de vislumbrar o semblante dessas crianças que aqui se encontram engalanando hoje o plenário do Senado da República, e de desejar a todas elas um mundo de felicidades, dizendo-lhes que podem acreditar no Brasil, que podem acreditar nesta Pátria que, se hoje é desigual, amanhã, com toda sorte, será melhor do que hoje. É o que auguro.

Mas, Sr. Presidente, volto ao meu pronunciamento.

Em 11 de outubro de 1977, portanto, 26 anos atrás, tive o privilégio, na qualidade de Prefeito de minha cidade natal, Três Lagoas, de participar da cerimônia de assinatura do ato de criação do Estado de Mato Grosso do Sul. Desde então, em cada 11 de outubro, me vejo retornar àquele momento, e a emoção que sinto é praticamente a mesma que senti há 26 anos, naquela hora. Revivo o entusiasmo que tomou conta dos sul-mato-grossenses, que viam enfim atendida uma reivindicação secular de autonomia. Sinto mais uma vez em meu peito a clara certeza, que então todos sentíamos, de que o novo Estado seria capaz de enfrentar todos os desafios que o esperavam e de cumprir plenamente as melhores esperanças de seu povo.

Vinte e seis anos se passaram. Se não conseguimos realizar todos os sonhos que então acalentávamos, se tivemos de adaptar nossos anseios mais generosos às vicissitudes que a história nos apresentou, uma realidade se construiu e se firmou, e não pode mais ser negada: Mato Grosso do Sul é uma realidade, uma realidade pulsante no coração do Brasil, a demonstrar para todos que saibam ver que a vontade de um povo é capaz de superar todas as dificuldades que se interponham entre ele e seus objetivos quando estes são assumidos com serenidade e coragem.

Muitos, na época da divisão do Mato Grosso original, temiam que essa decisão fosse ocasionar prejuízos para ambos os novos Estados. A história, desde então, provou o contrário. Divididos, crescemos mais do que se tivéssemos permanecido unidos. A divisão provou ser, na verdade, uma soma. Soma de recursos, soma de investimentos, soma dos esforços de dois povos irmãos que resultou na melhoria da qualidade de vida de ambos. Soma que, hoje, está pronta para transformar-se em multiplicação. Estamos prontos para multiplicar a riqueza já acumulada, e também para fazer com que possamos chegar, mais uma vez, à divisão - desta vez, à divisão dessa riqueza por todos os cidadãos, para que possam se beneficiar dos frutos do esforço comum.

Mato Grosso do Sul é hoje a prova viva de que o futuro do Brasil reside na interiorização do nosso desenvolvimento. Com vinte e seis anos, somos o terceiro maior produtor de trigo do Brasil, o quarto maior produtor de soja e algodão, o sétimo na produção de milho, arroz, mandioca e uma diversidade de outros produtos agrícolas. Possuímos ainda o maior rebanho de gado de corte do País, com mais de 23 milhões de cabeças.

Sr. Presidente, muito se tem louvado a pujança do agronegócio brasileiro, que tem assumido uma importância cada vez maior no quadro mais geral de nossa produção, sendo ainda o responsável por seguidos superávits alcançados em nossa balança de pagamentos. É no desenvolvimento desse segmento de nossa economia - todos o sabem - que reside a possibilidade de que o País acumule os recursos necessários para ingressar num novo ciclo de crescimento, que queremos sadio e sustentável.

É em Mato Grosso do Sul, é no Estado de Mato Grosso, nosso irmão, é no Centro-Oeste brasileiro, a nossa região, que o agronegócio tem demonstrado sua maior força e revelado suas múltiplas potencialidades. Essa é a nossa vocação, esse é o nosso caminho - se ainda não completamente trilhado, já plenamente sinalizado pelo menos em seus marcos mais importantes.

Mato Grosso do Sul e suas lideranças têm perfeita clareza quanto a isto: nosso desenvolvimento não se pode desligar da defesa do patrimônio maior que devemos legar a nossos descendentes e que reside na imensa riqueza natural com que fomos abençoados. Sabemos que a industrialização agrícola, por exemplo, com amplas possibilidades de aplicação em outras regiões do Estado, não deve ser incentivada nas regiões fronteiriças ao Pantanal. Aí o elemento econômico principal foi, é e continuará sendo a pecuária. O boi habita o Pantanal e movimenta a economia pantaneira há trezentos anos, sem qualquer comprometimento para o meio ambiente. Muito pelo contrário, o boi e o homem pantaneiro que dele cuida são essenciais para a preservação cultural e ambiental da nossa região.

Mato Grosso do Sul não dispõe de recursos territoriais tão vastos como seus vizinhos Mato Grosso e Goiás. O desenvolvimento de nossa economia, portanto, não se poderá processar por muito tempo de maneira extensiva - e sabemos disso. É intensivamente que precisamos trabalhar para desenvolver nosso Estado, investindo em atividades que incorporem maior valor agregado aos nossos produtos, valorizando-os e valorizando o trabalho da nossa gente.

Já disse que possuímos o maior rebanho bovino do País. Somos, portanto, os maiores produtores de couro do Brasil. Entretanto, vendemos praticamente o couro bruto ou apenas processado, pois não dispomos de indústrias com capacidade para beneficiar o couro e para transformá-lo em sapatos, em bolsas, em cintos, enfim, em empregos para o povo sul-mato-grossense. Continuamos a exportar uma matéria-prima que, se fosse transformada em nosso próprio Estado - e desejamos que o seja brevemente -, multiplicaria seu valor e, conseqüentemente, nossa capacidade de alavancar o progresso para o nosso povo.

Por outro lado, temos de ressaltar a indústria do ecoturismo, outro exemplo de atividade criadora de empregos e propiciadora do desenvolvimento sem nenhuma ofensa ao meio ambiente, que nos cumpre preservar e defender. Muito se fez, eu bem sei, nessa área nos últimos tempos. Mais uma vez podemos dizer: a sinalização está dada, o caminho correto já foi demarcado; precisamos ampliar nossos esforços e nossos investimentos.

Encontramo-nos muitas vezes perante obstáculos que não dependem unicamente da nossa vontade. Quantas promessas, Sr. Presidente, foram feitas nos últimos anos a Mato Grosso do Sul e que esperamos sejam cumpridas? Quantos empreendimentos de crucial importância para os projetos do Estado viram-se subitamente postergados ou cancelados sem que soubéssemos os motivos? Onde estão os recursos do Projeto Pantanal, cujo empréstimo de 400 milhões está ainda para ser entregue a Mato Grosso e a Mato Grosso do Sul? Onde está a termelétrica de Corumbá, ainda incipiente, Sr. Presidente? Amanhã, inclusive, essa cidade, juntamente com Paranaíba, vai receber a visita do Presidente da República. A hidrovia Paraná-Paraguai é uma revolução no escoamento dos nossos produtos e precisa ser dinamizada. A saída para o Pacífico, tão sonhada pelos nossos antepassados e pelos homens públicos de responsabilidade, hoje é apenas ainda um sonho, mas é um sonho do Brasil, um sonho de integração.

E o gás boliviano, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, atravessa o nosso território em cerca de 722 quilômetros, busca novos destinos e pode chegar ao Piauí do Senador Mão Santa, que está presidindo hoje os nossos trabalhos, pode chegar ao Piauí de Heráclito Fortes, que esteve antes de mim nesta tribuna e que também quer essa energia alternativa para promover não só o Piauí, mas a Região Nordeste. O Brasil precisa ter uma fonte de energia alternativa, como o gás. Precisa saber explorar melhor essa grande fonte energética. Tomara que encontremos rapidamente o caminho para o melhor aproveitamento do gás boliviano!

Tive a honra, Sr. Presidente, de ver esse intercâmbio, esse convênio, esse contrato firmado entre o Brasil e a Bolívia, que foi um sonho secular também. Certa ocasião, quando presidia a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste, acompanhei o Presidente José Sarney numa visita à Bolívia, em busca desse gás boliviano. Tive a satisfação de acompanhar o Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, quando, junto com o Presidente daquele País irmão, finalmente se firmou o contrato que permite que esse gás boliviano passe por 722 quilômetros do território sul-mato-grossense. Nós, com o espírito de brasilidade, queremos que esse gás ajude o desenvolvimento do nosso Estado e do Brasil, chegando a todas as regiões da nossa Pátria, como já afirmei.

O próximo dia 11 de outubro será um dia especial para os sul-mato-grossenses, mas não só porque estamos comemorando o 26o aniversário de nosso Estado. Parece-me, Sr. Presidente, que, no dia do aniversário, pela vez primeira, Mato Grosso do Sul recebe a visita de um Presidente da República. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá, primeiramente, à cidade de Paranaíba, no bolsão sul-mato-grossense, região a que pertenço, onde estarão presentes o Prefeito Diogo Robalinho de Queiroz e o Governador.

O povo de Paranaíba estará esperando o Presidente da República para inaugurar a obra saudada com efusão pelo Senador Eduardo Azeredo ainda nesta sessão: a construção da ponte do Alencastro, unindo Mato Grosso do Sul a Minas Gerais, dando, portanto, um passo avançado para a integração maior desses dois Estados e para a integração maior do nosso País. Levaram dez anos para construir essa obra, que será amanhã inaugurada pelo Presidente da República.

Gostaria mesmo que o Presidente da República, que cumpriu a sua palavra de terminar essa obra da ponte do Alencastro, falasse ao povo daquela região a respeito do trecho de apenas 60 quilômetros da BR-158, dos quais 20 quilômetros já estão construídos e estão se deteriorando por falta de investimentos. Os recursos paralisaram-se, as chuvas e as intempéries da natureza estão estragando a obra, fazendo com que o dinheiro ali aplicado seja jogado fora.

Espero que o Presidente da República e o Ministro dos Transportes possam brevemente voltar a Paranaíba para inaugurar a BR-158, no trecho que liga a minha cidade de Três Lagoas ao Município de Selvíria. Vamos poder dizer que somos gratos a quem tem ajudado a alcançar o progresso de Mato Grosso do Sul.

Sr. Presidente, o grande desafio de Mato Grosso do Sul é o mesmo do Brasil: precisamos garantir que a infra-estrutura do nosso Estado deixe de ser um entrave para o desenvolvimento e se transforme em sua grande alavanca. Por isso, insistimos na necessidade da hidrovia a que me referi, da saída para o Pacífico; insistimos na recuperação das nossas estradas e na construção da terceira via da BR-262, que, partindo de Corumbá, nos leva ao porto de Vitória e a outros portos do Brasil. A estrada está pavimentada, mas precisa de recuperação e conservação. É necessário, no mínimo, que se construa a terceira via, tão grande é o seu tráfego. São obras essenciais, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para o desenvolvimento da nossa região e para o crescimento de Mato Grosso do Sul, que não tem condições de realizar essas obras sozinho.

Sr. Presidente, Mato Grosso do Sul já marcou o seu caminho: é o caminho do desenvolvimento com justiça social e respeito aos recursos naturais. Não nos desviaremos desse caminho e temos a certeza de que, com a colaboração dos demais Estados-irmãos, com a colaboração da Federação brasileira, no instante em que estamos realizando reformas importantes - reforma previdenciária e reforma tributária -, nossas regiões serão bem aquinhoadas. Saberemos levar tudo a bom termo, para o progresso do meu Estado e do Brasil.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na véspera dos 26 anos da criação do Estado do Mato Grosso do Sul.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2003 - Página 31202