Discurso durante a 140ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Necessidade de políticas públicas voltadas aos menos favorecidos. Importância da concepção de um programa de salvação nacional.

Autor
Amir Lando (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Amir Francisco Lando
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Necessidade de políticas públicas voltadas aos menos favorecidos. Importância da concepção de um programa de salvação nacional.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2003 - Página 31403
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, UNIÃO, PARTIDO POLITICO, ABDICAÇÃO, DIFERENÇA, COMBATE, CONFLITO, AMBITO, POLITICA, BUSCA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, SOCIEDADE, FAVORECIMENTO, CONCEPÇÃO, PROGRAMA NACIONAL, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 14/10/2003


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DISCURSO PRONUNCIADO PELO SR. SENADOR AMIR LANDO, NA SESSÃO NÃO DELIBERATIVA DE 10-10-2003, QUE, RETIRADO PELO ORADOR PARA REVISÃO, PUBLICA-SE NA PRESENTE EDIÇÃO.

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O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Gorgeas, pensador grego, de Leôncio, cidade situada ao norte de Siracusa, no século V antes de Cristo, sistematizou a retórica. Dividiu ele em três tipos os discursos: o discurso judiciário, que investiga o passado; o discurso deliberativo, que incita a ação futura; e o discurso epidítico, que teatraliza o presente.

O presente, muitas vezes teatralizado, por ser da essência do teatro uma representação; envolve personagens fictícios, cenários de aparência, porém mágicos, onde portas não são portas, janelas não são janelas, céus não são céus, nem mares ou pradarias são idênticos ao real. Teatralizar verdades, para emprestar-lhes autenticidade mais chocante e comovente, também é função da arte. Sem imaginar qualquer confronto com a teatralização do presente, nossa proposta é edificar o devir evolutivo da sociedade, cuja inspiração é a justiça, a igualdade e o amor.

Necessariamente, o ponto de partida tem que ser o real, do momento, com todas as suas adversidades, contrariedades, exclusão, sofrimento e fome. O discurso político é o confronto e a tentativa de superação das dificuldades, das carências e das desigualdades do cardápio cotidiano.

O Poder, para suplantar o hoje e configurar o depois, deve, com a submissão da reflexão rigorosa, dar atenção aos fatos que lhes são postos pelas circunstâncias. Não se opina, somente, com a fantasia somada ao desejo, ou com a ficção. Opina-se com fundamento na convicção fundida nas condições objetivas apropriadas enquanto compreendidas. Ampliar a cumplicidade e a parceria deve ser uma obsessão para enfrentar tarefas superiores à energia de grupos ou partidos, somar é a operação fundamental a ser exercitada, sendo vedado cultivar divergências que separam, senão que convergências que fortalecem. Assim é que, tem-se que tomar por base o real com todas as suas vicissitudes que o conformam. Poder que desdenha do concreto, encastela-se num delírio inebriante que flutua entre a ineficácia e o vértice do nada, do hoje, incapacitando-o para plasmar o amanhã nos moldes do projeto nacional proposto. Poder que não une, pulveriza-se. 

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Todavia, Sr. Presidente, a mim, neste momento, sem fugir da realidade presente, mas tendo ela como ponto de partida, sou muito mais ligado ao discurso deliberativo, porque entendo que a política tem um compromisso com a construção futura, por esse caminhar da humanidade em busca do melhor e da felicidade geral.

Estamos em sociedade não para realizar a mera vida, mas a boa vida no sentido aristotélico, a vida plena, que possibilita a realização de toda a potencialidade humana e de todos os homens, e mulheres, é evidente. É exatamente nesta linha, partindo daquilo que nos é dado, desta realidade atroz, difícil, de uma realidade que se herda, que se prolonga, que é necessário mudar o rumo dessa história. Aí, a ação política, o discurso deliberativo, que encanta, que transforma, que persuade, deve ser um instrumento da construção do porvir. E o porvir engendra o novo, necessariamente, mas o novo passa por um processo de maturação, eclosão, doloroso muitas vezes, porque todo nascimento passa pela dor.

Por isso, nesta hora, temos que fazer um grande esforço de compreensão do presente, sim, de não opinar apenas com a nossa fantasia, nem com o simples desejo, senão com o fundamento na realidade objetivamente apropriada, compreendida, e jamais querer construir sob diferenças que nos desunem, mas sob pontos de identidade que possam nos unir.

A Nação não dispensa ninguém. A Nação clama por todos. A pátria é o berço de todos nós e ela será do tamanho do nosso esforço, do nosso trabalho, da nossa dedicação e, sobretudo, do nosso despojamento.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, é necessário esquecer o ódio que inibe e que paralisa, em nome da verdade, em nome do bem comum. Será que não podemos abdicar das nossas diferenças, das nossas idiossincrasias, para a construção do bem geral? Chegou um momento de crise, Sr. Presidente. A crise desarticula, é verdade, a crise desequilibra, instaura o movimento, muitas vezes forçado. Mas, o movimento e a ruptura são um momento triste e solene, são um movimento que se instaura para quebrar o passado e possibilitar o futuro. Mãos firmes, idéias sobretudo como as plantas têm que ter raízes profundas para frutificar, idéias que possam, mediante a construção, realizar um país para todos.

É neste ponto que somos chamados, e é preciso entoar, agora, o hino à unidade, o hino que o povo brasileiro não pode se esquivar, que nenhum partido tem o direito de ficar fora, porque chegou a hora da construção nacional. A crise desarticula, é verdade, mas coloca, sobremodo, a realidade em ponto de fusão e podemos, neste momento, fundir uma nação nova, à imagem e semelhança do povo brasileiro.

Esta é a hora que exige engenho e devoção, eficiência e imaginação, e, sobretudo, espírito público. Renúncia, despojamento, virtude pública. É, Sr. Presidente, um momento solene e importante para construção nacional.

Este País amadureceu por meio de muitas dificuldades, do desemprego, da pobreza, da miséria. Programas são lançados não apenas para inovar e para construir coisas inviáveis, projetos inviáveis. Não, Sr. Presidente, sugiram porque são imperativos de uma realidade atroz, brutal, à qual não permite nenhuma fuga, nenhum engenho para ficar distante do apelo social.

Sr. Presidente, venho aqui lembrando exatamente a força do discurso, a força das idéias. E as idéias, uma vez concebidas, podem sim transformar a realidade, idéias abstratas e imateriais, mas que encontrem no todo a adesão, a multiplicação que as engrandecem. Porque as idéias não são como os bens materiais, que diminuem com a divisão; ao contrário, as idéias se multiplicam exatamente quando são divididas. Este é o milagre da força da concepção, do projeto, de um modelo e, sobretudo, de um grande plano de salvação nacional. As dificuldades nos assombram, os recursos são insuficientes para atender às demandas nas áreas mais essenciais das políticas públicas, como saúde, educação, moradia, saneamento básico, infra-estrutura em geral, sobretudo as estradas, mas isso não quer dizer nada diante da capacidade criativa do povo brasileiro.

Somos mais de 170 milhões. Cada um fazendo a sua parte, cada um somando-se a seu próximo e a todos, poderemos, sim, construir esse grande projeto de que o Brasil necessita. A pátria, em certos momentos, exige de todos nós um esforço comum. Quando seu destino corre perigo, todos devem agir para preservar e, sobretudo, edificar o interesse de seu povo.

Sr. Presidente, venho a esta tribuna, neste momento, com a idéia da unidade nacional, que se impõe agora, porque vejo que chegou a hora das transformações. Caminhar é uma forma de chegar. Mudar é uma forma de avançar. Quando se imanta no povo o desejo de transformação, tudo será transformado, porque ninguém resiste ao trabalho, à vontade, ao empenho, à dedicação de uma nação soberana e livre como a nação brasileira, que deseja esculpir seu destino de paz e bem estar coletivo.

Sr. Presidente, vejo que o Brasil mudou sim, porque o projeto do Presidente Lula olha, em primeiro lugar, os limites da fronteira nacional; olha o povo brasileiro; olha, sobretudo, os excluídos. Programas sociais, como o Fome Zero, estão sendo lançados por imperativo, não da misericórdia, mas do respeito, da dignidade e da cidadania plena.

É nessa linha, Sr. Presidente, que a Pátria requer o esforço árduo, um esforço supremo - não sei -, mas um esforço de todos para todos. Requer mais: o entusiasmo sensato de seus filhos, o amor grato de servi-la. É nesta hora que os tempos são graves e solenes. Este é o tempo da edificação, é o tempo da eclosão do amanhã justo, satisfatório e que supra as necessidades e demandas essenciais da nossa gente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa) - Lamentamos informar a V. Exª que o tempo da sessão está esgotado.

Quero dizer a V. Ex.ª que já ouvi aquele discurso de Antonio Carlos Magalhães sobre os melhores pronunciamentos. Sem dúvida alguma, o melhor foi o do Padre Gondim, pelo falecimento de John Fitzgerald Kennedy. Agora quero avisar ao Carreiro que o pronunciamento de V. Ex.ª iguala-se ao do Padre Gondim.

V. Ex.ª tem três minutos para uma breve conclusão. Tenho certeza de que assim o fará, graças à sua privilegiada inteligência.

O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO) - V. Ex.ª é sempre generoso, sempre complacente, sempre amigo. Aos olhos da amizade, os defeitos não aparecem; as virtudes, que não existem, muitas vezes são exaltadas. Não há dúvida de que V. Ex.ª repercute apenas aquilo que é o carinho, que é a amizade que é o respeito, que é a admiração recíproca. V. Ex.ª é um orador que sempre vem a esta tribuna trazer idéias, propostas, conhecimento e sabedoria. É esta a função fundamental do orador: fazer um discurso convincente, um discurso que traz em si a magia e que engendre o germe da transformação.

É disso que precisamos, Sr. Presidente, quando a Nação se ressente de idéias e, sobretudo, da semeadura dos interesses pessoais no canteiro da virtude para edificar o bem comum.

Chegou a hora de a Nação agir. Chegou a hora em que a Pátria exige de nós esse esforço. Ninguém poderá negá-lo, porque todos nós somos menores do que o País. Todos nós só poderemos ser maiores se conseguirmos dar ao povo brasileiro o caminho da redenção e da construção de uma Nação livre, independente e soberana, que, diante da riqueza nacional, distribua um pouco a cada um para que todos tenham o suficiente.

A justiça social deve ser o escopo de toda ação de governo. É essa a proposta do Governo Lula, que quer um Brasil para todos, um País que possa dar ao seu povo o respeito, a dignidade, a esperança e o orgulho de ser brasileiro.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2003 - Página 31403