Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio às declarações da Prefeita Marta Suplicy, que culpa os senadores nordestinos pelas dificuldades de empréstimos da prefeitura de São Paulo. (como Líder)

Autor
Demóstenes Torres (PFL - Partido da Frente Liberal/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO MUNICIPAL.:
  • Repúdio às declarações da Prefeita Marta Suplicy, que culpa os senadores nordestinos pelas dificuldades de empréstimos da prefeitura de São Paulo. (como Líder)
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2003 - Página 32729
Assunto
Outros > ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO MUNICIPAL.
Indexação
  • PROTESTO, DISCRIMINAÇÃO, DECLARAÇÃO, PREFEITO DE CAPITAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, BANCADA, SENADOR, REGIÃO NORDESTE, OBSTACULO, VOTAÇÃO, EMPRESTIMO, PREFEITURA.
  • ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, SENADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), NECESSIDADE, DEFINIÇÃO, CAPACIDADE, DIVIDA, PREFEITURA, MUNICIPIO, SÃO PAULO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANTERIORIDADE, VOTAÇÃO, EMPRESTIMO.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Governo Lula tem-se especializado em produzir más notícias e em detratar especialmente os habitantes do Nordeste brasileiro.

Lembro-me de que, logo no início do ano, o Ministro Graziano, com ignorância preconceituosa, disse que o grande responsável pelo aumento da violência em nosso País era o imigrante nordestino. Segundo ele, o nordestino migrava para as grandes cidades, provocando inchaço e tornando-se responsável pela violência, pela delinqüência e pela criminalidade.

Trata-se de tremenda tolice, porque existem mais de duzentas teorias sobre as causas da criminalidade. A mais atual, inclusive, é a da escolha consciente, aquela em que o criminoso avalia se é melhor ficar do lado do bem ou do lado do mal. Então, é algo extremamente pernicioso.

Ontem, a Prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, cometeu mais uma indelicadeza histórica para com o Nordeste brasileiro. Segundo a Prefeita, o fato de os Senadores aqui presentes terem pedido o adiamento da votação de um empréstimo que S. Exª fez seria uma manobra do Nordeste brasileiro contra o Estado e a cidade de São Paulo.

Não sou nordestino, não tenho parentes nordestinos, mas me irrita profundamente esse ataque gratuito a uma região historicamente sofrida do Brasil.

Para se obter empréstimo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são necessários requisitos. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, os pefelistas e tucanos nada mais fizeram do que solicitar ao Ministério competente que se pronunciasse sobre se a Prefeitura de São Paulo tinha ou não potencial de endividamento, porque, como bem ressalta o nosso querido Senador Ney Suassuna, já está extrapolado o limite de endividamento fixado.

Então, não adianta a Prefeita ficar com bravatas. Não adianta atacar gratuitamente o Nordeste brasileiro. O imigrante já não pode vir para as grandes cidades, nem podem ser eleitos mais Senadores pelo Nordeste brasileiro.

Concedo o aparte ao ilustre Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Hoje li, estarrecido, declaração da Prefeita Marta Suplicy a respeito da nossa posição nesta Casa, em relação ao empréstimo absurdo que a Prefeitura de São Paulo deseja fazer. E mais: seguindo esse, já vem outro. Previno a Comissão de Assuntos Econômicos de que isso é um absurdo e que não se pode rasgar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Já houve - não relembro o nome, porque se trata de amigo nosso - quem rasgasse a Constituição na outra Casa. Mas não se pode rasgar a Lei de Responsabilidade Fiscal, tão importante para o País, por causa dos caprichos da D. Marta Suplicy. Creio que, se o PT é tolerante nesses casos - e não o é com outras pessoas que talvez merecessem mais -, não temos nada com isso. No entanto, ela ofendeu o nosso Partido, que não está prejudicando coisa alguma a São Paulo - até porque não administramos a cidade; quem administra a cidade é que a está prejudicando. Portanto, faço este depoimento no discurso de V. Exª, porque é uma injustiça com o nosso Partido, com o Parlamento, com o Senado. O que ela quer é intimidar, e vai intimidar a Comissão a aprovar, mesmo contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, os empréstimos absurdos da Prefeitura de São Paulo.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Agradeço a V. Exª pela intervenção e concedo o aparte ao Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Nobre Senador, até pensei em abordar em discurso o mesmo tema que V. Exª traz hoje, mas não o fiz porque sei que a Prefeita falou porque não tomou conhecimento do que aconteceu. É um direito e uma responsabilidade dos Senadores procurar saber o nível de endividamento dos Estados, e o caso específico da prefeitura de São Paulo merece todo o cuidado. Essa prefeitura já emitiu R$9 bilhões em títulos, comprados, misteriosamente, pelo Banco do Brasil, que tinha todos em seu estoque. O capital do Banco do Brasil era de R$7 bilhões, e tinha, em estoque, R$9 bilhões em títulos da Prefeitura. Se não tivéssemos feito a rolagem dessa dívida, o Banco do Brasil teria quebrado. Portanto, não havia outra solução, fomos obrigados a fazê-lo, e o fizemos, na legislatura passada. Os Senadores novos - e são quase a totalidade da Comissão - não tinham obrigação de saber que, no acordo da rolagem, havia sido incluído esse empréstimo de R$500 milhões do BNDES. Mas o direito dos Senadores é líquido e certo de procurar saber, até para zelar pelo interesse nacional. Senti-me um pouco chateado, mas entendi que a Prefeita não teve as informações corretas e fez uma acusação gratuita aos Senadores nordestinos. Os Senadores estão no direito de fazê-lo, e não foi um caso específico do Nordeste. A Comissão existe para analisar os casos que lá aparecem, e é óbvio que irão continuar fazendo, sem se preocupar com esses arroubos ou essas colocações.

O SR. PRESIDENTE (Maguito Vilela) - Senador, lamento informar que o tempo de V. Exª está esgotado. Há outros Líderes inscritos para falar. Peço a compreensão de V. Exª.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Sr. Presidente, agradeço pela oportunidade. Deixo aqui lavrado o mais sincero gesto de solidariedade à Bancada nordestina e faço o meu mais veemente repúdio ao que o Senador Ney Suassuna chama de ignorância e ao que chamo de má-fé e preconceito contra os nordestinos de um modo geral, inclusive os Senadores da República.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Demóstenes Torres, se o Presidente Maguito Vilela, numa circunstância tão especial...

O SR. PRESIDENTE (Maguito Vilela) - Senador Eduardo Suplicy, infelizmente, o Senador Mão Santa estava pedindo o aparte e não o permiti, de modo que não poderei fazê-lo agora a V. Exª. Conto com a colaboração de V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2003 - Página 32729