Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração, hoje, do Dia Mundial da Alimentação.

Autor
Maria do Carmo Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Maria do Carmo do Nascimento Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Comemoração, hoje, do Dia Mundial da Alimentação.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2003 - Página 32802
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • REGISTRO, DIA INTERNACIONAL, ALIMENTAÇÃO, GRAVIDADE, PROBLEMA, FOME, DESNUTRIÇÃO, BRASIL.
  • FRUSTRAÇÃO, PROGRAMA, COMBATE, FOME, GOVERNO FEDERAL, INSUFICIENCIA, RESULTADO, NECESSIDADE, INCENTIVO, AGRICULTURA, DESENVOLVIMENTO RURAL, EMPREGO, ASSISTENCIA SOCIAL, POPULAÇÃO, SITUAÇÃO, MISERIA.

A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje é o Dia Mundial da Alimentação.

Em um mundo globalizado, com tecnologias eficientes e modernas, onde as fronteiras físicas são facilmente transpostas e as informações são abundantes, pensar no Dia Mundial da Alimentação deveria ser uma oportunidade de discutir o equilíbrio nutricional das dietas nacionais, a possibilidade da produção de transgênicos ou a importância do combate à obesidade. No entanto, apesar da relevância de todas essas questões, temos ainda um 16 de outubro voltado para o tema da fome. Parece antigo, parece inadequado falar em fome, em desnutrição, em morte por inanição, mas, enquanto aqui discutimos, 840 milhões de pessoas passam fome no mundo!

Podem pensar, meus caros colegas, que esse problema é exclusivo do continente africano, de países como a Somália, o Burundi ou Moçambique. No entanto, em nosso País temos 23 milhões de cidadãos que passam fome; seria como se dentro do Brasil tivéssemos uma Venezuela que não come. São cidadãos que não exercem a cidadania, simplesmente porque não são livres. Estão presos à fome, à dependência e à esmola. A fome é a mais grave afronta à dignidade humana.

O governo Lula diz ter abraçado a causa da fome como sua prioridade número um. Eu, confesso, tive esperanças que desta vez o Brasil poderia livrar-se da vergonha de não dar condições mínimas de sobrevivência a 10% de sua população que vive abaixo da linha de pobreza. Todavia, assim como grande parte da população, começo a perder as esperanças. Passaram-se mais de 10 meses do início da administração petista, e o que deveria ser a grande bandeira, ainda não passa de um tímido plano de poucos resultados.

Não quero, entretanto, fazer desta reflexão apenas uma crítica. Creio ser o momento de parar e analisar o modelo de mundo que estamos construindo. Notem que, apesar do extraordinário avanço agrícola e tecnológico da era moderna, a aflição mais básica e antiga da fome continua conosco.

Os governos inserem-se no capitalismo competitivo da aldeia global apenas com preocupações econômicas e estatísticas e se olvidam de proporcionar o bem-estar original, que seria satisfazer as necessidades básicas de seu povo.

Para combater a fome em nosso País é necessário fomentar a agricultura sustentável e o desenvolvimento rural, visando o aumento da produção de alimentos e a segurança alimentar. Isso, é claro, respeitando a conservação do ambiente e a saúde humana.

Combater a fome não é uma ação isolada; é um objetivo geral e maior, que demanda ações de trabalho, educação e assistência às populações marginalizadas, com ações integradas envolvendo todas as esferas da administração pública.

A fome é a ponta extrema do processo de exclusão social que se manifesta por deficiências no processo de desenvolvimento nacional. Por fim, parafraseando o diplomata Flávio Miragaia Perri, quero lembrar que a pessoa que tem fome não é parte do tecido econômico social de uma nação. Quem tem fome não tem vontade, filosofia ou religião. Não tem perspectiva de mundo. Seu problema é imediato, e sua visão é circunscrita. A fome anula a personalidade e produz a carência absoluta, acelerando a entropia.

A fome é a perda da vida.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2003 - Página 32802