Discurso durante a 144ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à Medicina pela passagem do Dia do Médico.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE.:
  • Homenagem à Medicina pela passagem do Dia do Médico.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2003 - Página 32826
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MEDICO, ELOGIO, ATUAÇÃO, ETICA, BENEFICIO, SAUDE, POPULAÇÃO, DENUNCIA, DIFICULDADE, EXERCICIO PROFISSIONAL, PRECARIEDADE, CONDIÇÕES DE TRABALHO, SALARIO, RISCOS, PERDA, DIREITOS, APOSENTADORIA.
  • PROTESTO, RETIRADA, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, MINISTERIO DA SAUDE (MS), PROGRAMA, COMBATE, FOME.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão, Senador Augusto Botelho, que é médico; Srªs e Srs. Senadores aqui presentes; brasileiras e brasileiros que assistem à sessão pelo sistema de comunicação do Senado; caros colegas médicos e médicas; lideranças das entidades médicas; caro Senador Mozarildo Cavalcanti, um Senador, Cícero, que foi um grande orador, disse: “Nunca fale depois de um grande orador”. Mas teremos que fazê-lo. Realmente, eu não ia falar sobre a história, sobre a qual V. Exª discorreu tão bem. Eu ia falar - permitam-me o Senador Papaléo Paes e o nosso médico do Piauí, Luiz Roberto, que são cardiologistas - do coração mesmo, da nossa vida.

Estamos aqui num ambiente político. Isso nos faz lembrar um médico, cirurgião, como eu, de Santa Casa, que lutou pela política e aqui foi Senador: Juscelino Kubitscheck. Ele disse uma frase que traduz o sentimento de todos nós, médicos, nessa crise que vamos vencer: “é melhor ser otimista, porque o otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errando”. Então, somos otimistas.

Saúde, no meu entendimento, começou com a dor, com o sofrimento. Como São Francisco dizia: “onde houver tristeza, vou falar da alegria”. Então, quero dizer que a Medicina surgiu para sanar a dor.

Já que somos hoje um animal híbrido, político e médico - ou médico e político; boto a Medicina em primeiro -, lembro-me do político que mais admiro, Simon Bolívar. Andei na praça, lá em Bogotá, em sua casinha e no museu. Dizia Simon Bolívar que tinha sido muita coisa, soldado, cabo, tenente, capitão, major, coronel, general, marechal, ditador, presidente, El Libertador, mas havia um título de que ele não abdicava - isso está no busto à frente de sua casa -, ser um bom cidadão.

Recentemente, fiz aniversário. No entanto, só considero os meus anos de casado. Vou fazer 35 anos de casado. O resto não era vida. Eu era uma pedra. Percorremos essa longa e sinuosa estrada com muita luta, muito ideal e muito sonho, inspirados em Cristo, que foi o grande Médico. Ele disse: “não vim ao mundo para ser servido, mas para servir”. E começou logo, com poderes humanos e de Deus, a fazer Medicina. Quando fez um cego enxergar, Ele foi um oftalmologista; quando limpou os corpos dos leprosos, foi um dermatologista; foi ortopedista quando colocou o aleijado para andar; otorrinolaringologista, quando fez o surdo ouvir e o mudo falar; psiquiatra, quando tirou o demônio dos endemoninhados. Então, Ele foi o grande Médico, e nós somos assim, com o nosso poder humano, por sermos irmãos de Cristo.

Continuamos na luta e vamos avançando. Deus, nosso Pai, fez o mundo, mas nós o estamos melhorando. Cuidamos daquilo que é mais importante. O filósofo Sófocles disse que muitas são as maravilhas da natureza, mas que a mais maravilhosa é o ser humano. E somos nós que cuidamos dele, nós é que prolongamos a sua vida. Esse é o nosso grande patrimônio. Não há maior riqueza do que essa. Essa é a grandeza. No Livro de Deus, está lá: é abençoado pelo Altíssimo o nosso patrono, São Lucas. Então, é uma profissão abençoada, de Deus.

É muito oportuno este dia. Atualmente, estamos quase crucificados, sofrendo, desprezados. De repente, os povos se organizam, e felizes de nós.

A Medicina nasceu empiricamente, e a Grécia, que deu organização a tudo - política, governos, democracia -, estabeleceu as bases da Medicina, com Hipócrates. Que bela figura!

O mundo tem que se inspirar, Senador Mozarildo Cavalcanti. V. Exª foi muito feliz, e as coisas começam assim. O mundo tem que se inspirar no nosso patrono. Olhai o juramento, o segredo, o comportamento, o ensinamento de ética. Foi a primeira profissão que nasceu com o pai ensinando deontologia médica, ética médica, comportamento. Essa é a nossa diferença. Somos bons desde a origem, e o mundo gira em torno de nós, embora sejamos muito abnegados - sacerdotes mesmo.

É muito oportuno, Senador Augusto Botelho. Não aprendemos aquilo que o Presidente Lula ensinou: a “grevar”. Não há greve, não. É o médico contra todas as condições - hospitais sucateados, carrinho velho, prestações atrasadas, salários ínfimos, ameaças de perda de direitos e aposentadorias, de se roubar a viuvinha...

Eu disse ao Presidente José Sarney, para invocar sua responsabilidade e sensibilizá-lo ao nosso compromisso, que o Maranhão tem muitos escritores, como Gonçalves Dias - “Não chores, meu filho; Não chores, que a vida é luta renhida. Viver é lutar. A vida é combate, que os fracos abate...” -, Josué Montello, e muita gente importante, atores. Para simbolizar o que é o médico, citei o maior de todos: Dr. Cândido Almeida Ataíde, que nasceu em Tutóia, no Maranhão - essa história de “mão santa” tem a ver muito com isso.

Quando eu era Governador do Piauí, entreguei ao Dr. Cândido, que tinha 94 anos, a maior comenda do Piauí: a Grã-Cruz Renascença - a propósito, Senador Mozarildo Cavalcanti, eu tenho a do grande Estado de Roraima, de Boa Vista, da qual tenho orgulho. Concedi aquela e mandei outras, que ele agradeceu. Ele morreu, mas antes recebeu muitas medalhas. Ele era do Maranhão e foi diretor da minha Santa Casa de Misericórdia.

A nossa estrada, Senadora Serys Slhessarenko, foi longa e sinuosa. Eu enfrentei a baioneta, a ditadura, e posso falar pelo PMDB: sou fiel a Ulysses. Senador Papaléo Paes, eu ouço a voz rouca das ruas e não faço negociatas.

Dr. Cândido morreu com 95 anos, trabalhando na direção da Santa Casa. Ele era do PTB, foi Presidente da Federação das Indústrias, criou a Faculdade de Administração e o Campus Avançado da Universidade Federal do Piauí existente na minha cidade. E a ditadura tomou desse herói maranhense... Fui chamado para lhe tomar a Santa Casa de Misericórdia e ser o diretor. Vim do Rio de Janeiro, novo, e não aceitei. Ele morreu como diretor da Santa Casa.

Ele fez o parto de João Paulo dos Reis Velloso, que foi o melhor Ministro de Planejamento deste País, responsável pelo primeiro e pelo segundo PND. Foi a luz do governo revolucionário, no que teve de progresso. Foram 20 anos de mando, nenhuma imoralidade e nenhuma indignidade.

Dr. Cândido trabalhou até os 95 anos, Senadora Serys Slhessarenko; na véspera de seu falecimento, havia realizado um parto na Santa Casa. Ele se consolidou naquela instituição, porque nós, médicos, rechaçamos a idéia de tirá-lo da direção da Santa Casa. Mas ele morreu por quê? É o quadro do médico de hoje. Outro dia, fui ver um netinho que nasceu na minha cidade, e havia médico de quase 80 anos dando plantão. Isso porque eles têm vergonha, têm necessidade, e só sabem fazer isso, não sabem roubar. Poucos têm sorte, como eu mesmo, que estou aqui, como Senador, para dizer isso. Então, é essa a situação da classe médica.

E o progresso está aí. Nos levamos este Brasil com o nosso exemplo.

Mas a situação tem melhorado, Senador Eurípedes Camargo. Eu digo sempre que a ignorância é audaciosa. Senador Mozarildo Cavalcanti, V. Exª disse que eu sou o mais velho daqui. Eu sei é que sou o mais orgulhoso de ser médico e de ser um homem do Piauí.

Quando o Senado foi instalado no Brasil - antes havia os portugueses, mas não vamos contar -, começou tudo junto, de pai para filho, eram 42 brasileiros. Dr. Luiz Roberto Magalhães, olhai aí e atentai: Dos 42, 20 eram magistrados, 2 eram advogados. Desde aí, vem-se fazendo leis boas para eles. Olhai a diferença desses homens. Merecem, sabem, são direitos. Mas, eu pergunto: e os que ensinaram os magistrados? Os professores universitários, que estão aí ameaçados, não estão dormindo, humilhados, porque vão lhes roubar as aposentadorias conquistadas, um direito adquirido, um ordenamento? E as viuvinhas? Quer dizer, eu voto, morro, e eu mesmo vou roubar o direito da Adalgisinha, que me agüentou 35 anos e me deu filhos? O Senado não pode fazer isso. É um ato impensado, de indignidade, mas estamos na luta.

Dos 42 a que me referi, havia ainda dez militares - os Deodoro, os Floriano -, sete eclesiásticos - a Igreja, Padre Feijó -, um engenheiro, dois médicos e dois ruralistas, fazendeiros. Então, de lá para cá é isto: leis boas para eles, que as fizeram, e nós estamos aqui. Nós crescemos, nós avançamos. Hoje, somos seis, e conscientes disso.

E aqui começou, Senador Mozarildo Cavalcanti. V. Exª deu um passo avançado ao dizer que não podemos tolerar isso. Deus nos deu esta bênção, uma aposentadoria boa, do bom e do melhor. E como somos bem servidos! Mas, e os nossos colegas? Não podemos negar as nossa origens. O que nos fez grandes, o que fez o povo acreditar e confiar em nós foi a oportunidade de exercermos a divina profissão de médico, de que nos orgulhamos. É muito atual relembrar que, de dois, hoje somos seis. Não estamos reclamando, somos assim mesmo. Tiraram Juscelino daqui uma vez, cassado, mas nós aqui permanecemos. O Senador Antonio Carlos Magalhães é o mais velho, com serviços relevantes prestados. Sou o segundo, com muita honra, depois dele. Temos ainda o Senador Mozarildo Cavalcanti, que nos lidera. O Senador Augusto Botelho traduz o respeito. Pulou logo para Senador, o que traduz a força da nossa classe. Não foi o partido, não; foi a nossa classe, os paramédicos, os doentes; foi aquele amor a que V. Exª se referiu. O Senador Papaléo Paes, que foi prefeito, com perspectivas invejáveis, preside a Comissão de Saúde; e, finalmente, o Senador Tião Viana, do PT, o mais iluminado de todos eles. Deveriam colocá-lo até como Ministro logo, entre os peladeiros. É um rapaz jovem, bom, tem ainda muito que conviver conosco. Lamentamos que esteja ausente.

Conversava há pouco com a encantadora Senadora Serys Slhessarenko. Ela tem muitas vitórias; é professora, foi deputada, ganhou a confiança de um político que governou na mesma época que eu governei - e a quem também dei uma comenda, em respeito a ele e a seu Estado -, Dante de Oliveira, o homem das Diretas Já. Mas a sua maior vitória não foi essa. Vamos comemorar. A sua maior vitória é ter uma filha médica, brilhante, uma das mais extraordinárias médicas brasileiras, de um dos mais modernos laboratórios. Daí a sua felicidade neste dia que nós aqui comemoramos. É como diz o livro de Deus: “a árvore boa dá bons frutos”.

Eu conversava com a Serys e dizia que quem me inspirou assim na política foi Petrônio Portella, que me recrutava, Senador Mozarildo, para enfrentar este gigante, este herói da política piauiense, o engenheiro Alberto Silva. Eu relutava em aceitar, porque a Medicina só me deu felicidade. Mas, de repente, Senador Papaléo - V. Exª, que também foi prefeito -, fui eleito prefeito da minha cidade. Era um médico feliz, realizado, vim de uma família que podia ter as coisas. Então, tive todos os livros que desejei, estudei, era bem-dotado como médico. Mas, de repente, Serys, ganhei a eleição para prefeito. Aí tive medo. Enquanto Adalgisa dormia, eu comecei a estudar. Era tão feliz numa sala de cirurgia, o meu templo de trabalho, fazendo o bem sem olhar a quem, Deus guiando as minhas mãos, salvando um aqui e outro acolá, na Santa Casa de Misericórdia da minha cidade, que eu dizia, como Sêneca, que “não é uma pequena cidade, é a minha cidade”. Então, estava feliz e, de repente, elegi-me prefeito. “E agora, meu santo, vou me lascar!”, pensei. Sou cirurgião, como é que vai ser agora?

Comecei, então, a estudar. Tenho aqui uma anotação de Albert Einstein, no seu livro Maturidade, Religião e Ciência: “a ciência sem religião é manca; a religião sem ciência é cega”. Disse também que a nossa educação é aquilo que fica depois que esquecemos tudo que aprendemos nas escolas: é a disciplina, o pensar, o saber estudar. Então, nós somos educados. Nós, Senador Arthur Virgílio, sabemos estudar. Então, enquanto Adalgisa dormia, eu comecei a estudar e estudar. Li Henry Fayol, Taylor, Peter Clark, tudo sobre administração. Lá de madrugada, Senador Arthur Virgílio, ainda me lembro como hoje de um livro de capa amarela, que lembrava os seus cabelos loiros, chamado Taylor - o Mago da Administração. Eu estava com medo mesmo de assumir. Era um cirurgião de êxito, mas pensava: “E agora, como vou administrar isso? Estudei teoria, porque nós aprendemos a estudar, essa é a verdade. Lá na madrugada, no livro da cor de seus cabelos amarelos, Senador Arthur Virgílio, estava escrito: “Administrar é fácil. Atentai bem: tome por exemplo o cirurgião”. Aí eu respirei, é comigo mesmo. Ele disse: “O cirurgião tem que ter coragem” - isso o cirurgião tem -, “tem que ter decisão, tem que trabalhar em equipe” - e trabalha mesmo, tem enfermeira, anestesista. Ninguém planeja. Está aí Juscelino para provar que pode dar certo. Assim, comecei a acreditar em mim. Adalgisa dormindo, e eu dizia: é comigo mesmo, um cirurgião!

            Ninguém planeja mais do que um cirurgião. Eu estava era com medo de assumir essa prefeitura, mas lembrei-me da citação de Henri Fayol: o pré-operatório é o planejamento, é imaginar o trajeto de onde estamos para onde queremos ir; o transoperatório é obra em si; e o pós-operatório é o controle. O que disse Henri Fayol, o pai da Administração: planejar, ensinar, orientar, coordenar e fazer o controle.

Assim, tomei coragem, levando em conta que há unidade de comando e unidade de direção, e aceitei. Pensando em Juscelino, administrador que deu certo, entrei, fui e estou aqui. O povo gostou, e, desde então, nunca mais perdi eleição.

Quando disputei o Governo, saí da minha Prefeitura, passei dois anos na Santa Casa. Tínhamos três prefeitos contra cento e quarenta e cinco. Com a ajuda de Deus, tornei-me o Governador do Estado do Piauí. E esse mesmo povo me manda para cá.

Nasci em 1942 - embora vá fazer apenas 35 anos, pois só considero os anos de casado - e vi muitos médicos assumirem o Governo do Estado, figuras respeitáveis: Eurípedes Aguiar, Leônidas Melo, da Ditadura Vargas. E é por isso que o Piauí é ícone em saúde, é por isso que os jovens médicos daquele Estado fazem transplantes cardíacos com êxito. Na ditadura militar, Vargas impôs tenentes como interventores, governadores dos Estados. Mas o piauiense é diferente, não aceitaram tenentes, preferindo o médico Leônidas Melo. E digo isso porque um médico como eu fez um hospital que, para a época, deslanchou os outros.

Como diz Padre Antônio Vieira, um bem nunca vem só, e Rocha Furtado foi um grande cirurgião daquele hospital. Ganhou o pessoal da ditadura: Tibério Nunes, Dirceu Mendes Arcoverde. Foi quando entrei na política. Era ele, Dirceu, contra o Alberto Silva. Nessa época, fui Deputado Estadual, mesmo sem querer sê-lo, já que eu gostava mesmo era da minha sala de cirurgia e da minha cidade, Parnaíba. No entanto, para ajudar o Dirceu Arcoverde, aceitei. E quis o destino que eu entrasse aqui, pela primeira vez, com Dirceu Arcoverde. Petrônio Portella me colocou delegado, e eu decidi a eleição do Presidente Figueiredo. Votei. Ele me nomeou somente para enfezar o Alberto Silva.

Na época, havia somente duas lideranças. Alberto Silva era uma delas. Hoje estou com ele, que é gente boa. Querem até tirar o nome da mãe dele da maternidade, mas o estou defendendo - ontem, inclusive fiz a defesa aqui.

Repetindo, na época, eu não queria ser Deputado Estadual. Mas como se tratava de arranjar votos para o Dirceu, aceitei. E estávamos aqui, nesta Casa, em um coquetel: Figueiredo com um copo e eu, doido, com outro. Tomar uísque é bom. Ontem mesmo, tomamos com um vinho com o Washington. Inclusive, já estou até ensinando o Senador Papaléo Paes a tomar vinho. Prosseguindo, eu estava com um copo de uísque, e o Governador Dirceu saiu andando. Como eu era amigo dele, e não ia deixar o Governador só, acompanhei-o. Ele entrou aqui e subiu nesta tribuna. Eu, com o copo de uísque na mão, pensei: “Esse homem devia estar lá embaixo, no coquetel”. Ele estava imaginando ser Senador. E ganhou de Alberto Silva. Ele, médico como nós, ganhou. Que orgulho! Fiz um hospital no Piauí, na minha cidade, em que coloquei o nome de Dirceu Arcoverde, o mais honrado e digno Senador. Ele ganhou de Alberto Silva, mas havia a lei - inclusive essa lei beneficiou Fernando Henrique - segundo a qual o segundo votado, mesmo de outro partido, era suplente. E ele, defendendo a saúde, sofreu um acidente vascular nesta tribuna, tombou e morreu. Ele está no céu. Entrei na política e fiquei órfão. O homem foi para o céu, e eu fiquei como Deputado Estadual em Teresina. Mas órfão é danado para andar com suas pernas. E andamos do Piauí até esta tribuna.

Depois dele, veio Lucídio Portella, honrado Senador e irmão de Petrônio. Depois, Deus me permitiu governar o Estado do Piauí. Ganhei duas eleições e fui Governador por seis anos, dez meses e seis dias. Depois, Kléber Dantas Eulálio, que também é médico. Está demonstrada, então, a grandeza. É isso o que trago.

Neste instante, reafirmo o nosso compromisso com a classe. Está aqui, sim, a Carta do PMDB, partido que represento. E vejo que me aproximo de Ulysses Guimarães, que teve a coragem de enfrentar a ditadura. Os militares soltaram os cachorros nele, mas ele, reagiu, dizendo: “Respeitem o Presidente da Oposição!” E os militares se calaram. E ele, disse: “Ouçam a voz rouca das ruas!” Quem está ouvindo o PMDB sou eu, que também vejo o sentimento do povo. Aqui está a Carta que ele beijou, Senadora Serys Slhessarenko, a Constituição Cidadã, que diz o seguinte sobre a Saúde - e isso o Dr. Carreiro sabe como ninguém e só lhe perguntar. Carreiro vai ser o nosso primeiro Senador vitalício, já tem 35 anos:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

E não podemos diminuir o dinheiro da saúde, porque está na Constituição: um ano tem que ser maior do que outro. Os legisladores, sábia porém tardiamente, fizeram a Emenda nº 29. Essa emenda, Senador Reginaldo Duarte, fixa que cada Município e cada Estado têm que destinar uma determinada quantia para a saúde: 12% para o Estado e 14% para o Município. Não podemos abrir mão disso. Portanto, o Governo está errado quando tira recursos da saúde e destina ao combate da pobreza.

Senadora Serys Slhessarenko, não sou contra, sou de Deus, somos de Deus, e está escrito: “Dá de comer a quem tem fome e beber a quem tem sede”. Ninguém é contra. Quando fui Governador do Piauí, fiz cem restaurantes populares “Sopa na Mão”. Tirei a polícia do lado do Palácio de Karnak e instalei o primeiro restaurante popular na capital. Não sou contra o combate à fome, mas sou contra tirar o dinheiro da saúde. Que se tire do serviço social, que se tirem esses recursos que a Benedita está gastando na Argentina, que se tire o dinheiro que foi emprestado para o tonto do Cháves, da Venezuela, que se tire o dinheiro do índio que não reconhece o filho, enfim, que se tire o dinheiro de outro lugar, mas não da saúde.

Vamos chamar as instituições para o debate. Mas eles não vêm para um debate qualificado. Entendo, e muito bem, de medicina. Na área de saúde, trabalho há uma vida. Dizer que o dinheiro é mal administrado, malversado? Mentira! Fui Prefeitinho e fui Governador e tive muitas dessas acusações.

Fui uma vez - e eu me lembro - ao hospital de uma cidade chamada Floriano, Senador Augusto Botelho, uma importante cidade do Piauí. Meu amigo, lá somei todos os ganhos e vi. O hospital foi feito por para Alberto Silva, e eu fiz o Pronto Socorro. Que venha o Maranhão todo, Dr. Mozarildo, diante da denúncia! Fui Governador do Estado e por vinte e cinco anos fui médico mesmo na Santa Casa. Pois peguei o dinheiro e somei tudo; não mandei ninguém fazê-lo, não.

Olha, Senador Mozarildo, quando vi o número de atendimentos, o número de partos e o número de cirurgias, conclui que não havia má administração, não. Havia era um milagre. E vi isso em vários Estrados.

Então, os médicos - e Deus deu esse poder a eles - estão fazendo milagre. Por exemplo, as hemodiálises - um quadro vale por dez mil palavras - são as mais baratas do mundo, apesar de o material ser todo importado e de os preços estarem subindo: a energia, a água e outros itens do Governo.

            Temos que obedecer à Constituição. Temos que reduzir a quantidade de ministérios, que não servem para nada e que não vieram para nada e que não podem existir. Nos Estados Unidos, além do Secretário-Geral, são mais seis outros ministros. Aqui a ditadura governou com quinze ministérios; o Presidente Collor baixou para 12; o Presidente Sarney alterou para 16; Fernando Henrique ficou com 15 e 16 e 17; e agora 40? Vamos cortar. Não é para PMDB pedir nada, não! É para o PMDB pedir apenas a verdade e pedir para diminuir um bocado. Estuda-se tudo! Eu aprendi a estudar e estudei para administrar. Há um livro, cara Serys Slhessarenko, que V. Exª deve comprar. Chama-se “Reinventando o Governo”, de Ted Gaebler e David Osborne. Compre e presenteie ao nosso amigo Lula. O livro foi encomendado por Bill Clinton, e o grande administrador Jack Wells foi consultado. E eles dizem que um governo não pode ser grande como um transatlântico, porque pode, a exemplo do que aconteceu com o Titanic, afundar. Um governo tem que ser pequeno, versátil, tal como um barco, para poder ir ao Amapá, a Roraima, ao meu Piauí. “Não, nós vamos fechar a maternidade”. Por quê? A maternidade tem trinta anos. Sabe-se que, como o vinho, bom é o que é velho. Além disso, Balzac já falava na mulher de trinta. A maternidade, repito, tem trinta anos, tem história, tem tradição, tem rotina ar para funcionar o novo.

            Essas são as minhas palavras e a minha gratidão. Ó, Deus Cristo que estais aí, Deus que me permitiu fazer na medicina como reza Ambroise Parè, um grande cirurgião que dizia: ‘Eu os trato, Deus os cura’. E foi o que houve na minha passagem como médico da qual sou orgulhoso.

Mas, meu Deus, que já me destes tanto, eu vos agradeço a profissão que me encaminhastes, a profissão de médico, a mesma de São Lucas.

Nossas últimas palavras são aos céus, a Deus, a Cristo que praticou a Medicina com poder de cura, a São Lucas: abençoem os médicos e as médicas do nosso Brasil e que eles tenham amor ao próximo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2003 - Página 32826