Pronunciamento de Mão Santa em 17/10/2003
Discurso durante a 144ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem a Simplício Dias da Silva, que declarou a independência do Piauí no século passado, no dia 19 de outubro, data transformada no Dia do Piauí.
- Autor
- Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem a Simplício Dias da Silva, que declarou a independência do Piauí no século passado, no dia 19 de outubro, data transformada no Dia do Piauí.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/10/2003 - Página 32861
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, DATA, PARTICIPAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), HISTORIA, INDEPENDENCIA, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, SIMPLICIO DIAS DA SILVA, EMPRESARIO, LUTA, OPOSIÇÃO, DOMINIO, PAIS ESTRANGEIRO, PORTUGAL.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Eurípedes Camargo, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros presentes e que nos assistem por meio do sistema de comunicação do Senado, 19 de outubro talvez seja uma data das mais importantes do calendário brasileiro.
Senador Aelton Freitas, orgulhoso de ser piauiense, quero dizer que a história foi diferente no Piauí. Dezenove de outubro é o dia do Piauí. Por quê? Porque houve a independência, aquela de pai para filho. D. João VI veio, com medo do Napoleão verdadeiro, francês, instalou-se, trouxe a Corte, funcionário público, progresso para este País. Aí ele disse: “Filho, fica com o sul e eu vou ficar com o norte”. Fez o decreto. O país seria o Maranhão.
Mas na minha cidade, Parnaíba, existiu e nasceu, talvez, o mais importante brasileiro, Simplício Dias da Silva. Filho de português, muito rico, tinha cinco navios e estudou na Europa. Seu pai, português, apaixonou-se por uma mulher brasileira do nordeste do Piauí, teve dois filhos brasileiros, e não voltou. Grande pecuarista, exportava carne, charque, indústria para o sul do País e para a Europa, para Portugal. Seu filho, Simplício Dias da Silva, estudou em Portugal, em Lisboa, na Espanha, e foi colega de Simon Bolívar. Muito rico, tinha idéias libertárias.
Por que 19 de outubro? Foi em 7 de setembro aquele pitoresco independência ou morte no Ipiranga, mas os portugueses queriam ficar com o norte. D. João VI mandou buscar seu filho, afilhado, Fidié, major, para garantir isso. E ficou tomando conta do Piauí.
Mas em nossa cidade, que era pujante e tinha riquezas, o primeiro ato de Fidié, o português, foi transferir um delegado de Parnaíba, que era o maior entreposto comercial no litoral. Simplício Dias da Silva não permitiu. E o português foi então sufocar, saindo de Oeiras - não existia Teresina - com Parnaíba.
Em 19 de outubro, Simplício Dias da Silva, empresário, filho do português, homem rico, que estudou na Europa, reuniu a Câmara - ele tinha liderança - e com ela fez um ato: Independência do Piauí! Independente do que acontecesse, porque não havia comunicação, não havia TV.
E o major vinha sufocar a rebelião. Quando ele saiu de Oeiras, já havia a tendência libertária, o povo de lá tomou o palácio em 24 de janeiro. Ele foi a Parnaíba. Esse Simplício Dias da Silva, que era um homem instruído, abandonou a cidade e foi para o Ceará - e está aqui o Senador Reginaldo Duarte para me ouvir. Ali, na cidade de Granja, pegou uns 500 cearenses e os levou. O Maranhão aderiu a Portugal. Foram três navios maranhenses invadir Parnaíba. Ele, inteligentemente, com dinheiro - só faz guerra quem tem dinheiro, é claro -, pegou uns cearenses corajosos. Em Campo Maior, em 13 de março, deu-se uma batalha sangrenta. É lógico que perdemos, desarmados, empiricamente, com um comandante cearense que foi contratado.
Perdemos, mas João José da Cunha Fidié se apavorou. Soube que tinham tomado o Palácio. Então foi para Caxias, no Maranhão, e depois voltou a Portugal. Na sua aposentadoria, ele cobrou essa batalha, porque venceu.
Ele não continuou, e nós perdemos a Batalha do Jenipapo. Quer dizer, não estávamos preparados militarmente e tivemos o apoio e a adesão de centenas de cearenses trazidos por Simplício Dias da Silva. O fato foi tão forte que, em julho, os baianos tiveram de fazer uma batalha lá, depois da nossa. Essa participação é o Dia do Piauí.
Toda vez que um brasileiro e uma brasileira olharem aquele grande mapa, que se lembrem da grandeza do Piauí, de dezenas e centenas que, junto com o irmão cearense, morreram na Batalha do Jenipapo.
O Senador Alberto Silva governou o Estado do Piauí. Sua mente inspirada é orgulho de todo este Senado. S. Exª é o mais velho, o mais experiente, o mais capaz. Ele ergueu um grande monumento no local da batalha, onde dezenas de piauienses e cearenses foram mortos pelo bem armado exército português.
E o Presidente cearense Humberto Castello Branco, o primeiro Presidente revolucionário, reconheceu isso, tornando aquela, Senadores Aelton Freitas e Eurípedes Camargo, uma das batalhas mais importantes da nossa História.
Se analisarmos hoje a Guerra do Paraguai, por exemplo, veremos que ela foi vergonhosa, foi uma página vergonhosa da nossa história. Recebemos dinheiro dos ingleses, porque, Senador Reginaldo Duarte, iam instalar no Paraguai um pólo de confecção, a indústria têxtil. Os capitalistas, selvagens, bárbaros! Os ingleses, que são a mãe e o pai dos norte-americanos, deram recursos para o Brasil, para o Uruguai e para a Argentina massacrarem o Paraguai. Houve a guerra, o Exército ganhou muito dinheiro e se fortaleceu.
A Batalho do Jenipapo nós perdemos, mas expulsamos os portugueses do território. Acabou-se o país Maranhão que ia ser criado.
É isso. E o Presidente Castello Branco transformou esse dia numa data nacional, comemorada pelo Exército brasileiro.
Quando era Governador do Piauí, convidei o Governador da Bahia, César Fortes... Aliás, refiro-me ao Senador César Borges - forte está no subconsciente, porque S. Exª é mais forte do que os césares de Roma. Convidei S. Exª para receber, com outras autoridades, a comenda maior do Piauí, a Grã-Cruz, em que o Exército brasileiro revive, com a Secretaria de Cultura do Estado, aquela epopéia, aquela guerra e aquela história.
São estas as palavras com que queremos homenagear esse Estado que garantiu a grandeza. Senador Reginaldo Duarte, os nossos agradecimentos aos cearenses, que lutaram e morreram conosco.
Depois da nossa história, o Estado do Ceará tem a sua grandeza. Senador Eurípedes Camargo, o Estado do Ceará foi o primeiro a libertar os escravos no Brasil.
E o Piauí continuava na vanguarda quando quis nascer a República. Em Teresina, já havia o jornal A Ordem, fundado por um baiano, Conselheiro Saraiva. Mas, um jornalista rebelde do Piauí, Davi Caldas, nascido em Barras, mudou o nome do jornal para Oitenta e Nove. Que coisa esquisita, não? Mas não era não. Eram a inteligência e a coragem do homem do Piauí, que foi à guerra. Escolheu-se o nome Oitenta e Nove para que o povo do Brasil se inspirasse naquele momento em que o povo francês foi às ruas e gritou por “liberdade, igualdade e fraternidade”, em 1789, derrubando todos os reis do mundo. Ele colocou o nome Oitenta e Nove no jornal de Teresina, e a nossa Proclamação da República deu-se em 15 de novembro de 1889. Portanto, ele foi o profeta da democracia e da República.
O Piauí tem essas grandezas. O meu Estado não deixou Getúlio Vargas indicar um interventor militar. Nós o tiramos e fomos governados por um médico.
O Piauí tem outra grande glória. Senador Eurípedes Camargo, nós poderíamos ser, hoje, comunistas. O mais brilhante militar do Exército, Dr. Carreiro, o nosso Norberto Bobbio - que é Senador vitalício na Itália - foi Luís Carlos Prestes - podem verificar as notas, ele só tirou dez. O segundo foi João Baptista Figueiredo. Prestes, com as suas idéias comunistas, formou a Coluna Prestes. Veio lá do Paraná com a intenção de tomar Teresina para ter uma capital comunista. E o povo, ao contrário, fugiu para o Maranhão, e nós prendemos Juarez Távora, que, na época, o acompanhava. Essa é a grandeza do Piauí.
E V. Exªs podem verificar, no mapa, o resto da América espanhola, toda dividida. O Brasil é grande graças ao Piauí, Estado que representamos.
Comemoramos, no dia 19 de outubro, o Dia do Piauí, data criada por um deputado estadual e depois federal, jornalista José Auto de Abreu, tão amante que era do Estado do Piauí.
Caro Líder Paulo Paim, quando fazia parte do Rotary Club, presenciei um discurso do jornalista Auto de Abreu que dizia: “Ouvi dizer que um escritor disse que a vida e a morte são como um naufrágio. Aceito a morte como um naufrágio, mas queria que ela se desse no litoral do Piauí, pois assim eu faria um esforço de voltar à tona para poder ver as luzes do Porto de Luís Correia. Trata-se do porto inacabado do Piauí.
Essas são as nossas palavras, e quero dizer ao Brasil o significado da força do povo do Piauí na sua grandeza histórica.
As nossas últimas palavras são aos céus e a Deus: Ó meu Deus, eu vos agradeço ter nascido no Piauí. Abençoe nossa terra e nossa gente!