Pronunciamento de Arthur Virgílio em 20/10/2003
Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Comentários a editorial do jornal O Globo, intitulado "MEC: Juiz ganha 18 vezes mais que professor".
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
EDUCAÇÃO.
PREVIDENCIA SOCIAL.:
- Comentários a editorial do jornal O Globo, intitulado "MEC: Juiz ganha 18 vezes mais que professor".
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/10/2003 - Página 32941
- Assunto
- Outros > EDUCAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL.
- Indexação
-
- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), GRAVIDADE, DIFERENÇA, REMUNERAÇÃO, PROFESSOR, JUIZ, EXCESSO, CARGA HORARIA, FALTA, INFRAESTRUTURA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, CRITICA, PROPOSTA, GOVERNO FEDERAL, DESVINCULAÇÃO, RECEITA, UNIÃO FEDERAL, REDUÇÃO, RECURSOS, DESTINAÇÃO, EDUCAÇÃO.
- ANALISE, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, CULTURA, CIDADANIA, CRITICA, CONDUTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FALTA, ATENÇÃO, PROFESSOR, CERIMONIA, HOMENAGEM, CORPO DOCENTE.
- DEFESA, CRIAÇÃO, NORMAS, TRANSITORIEDADE, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, CONTENÇÃO, PREJUIZO, APOSENTADORIA, FUNCIONARIO PUBLICO.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no Dia do Professor - pela leitura dos jornais - as notícias não foram boas para a categoria. Em O Globo, a manchete de página: “MEC: juiz ganha 18 vezes mais que professor”.
Na página interna, o complemento, nada alentador: “Os salários são baixos, as escolas não têm estrutura, a carga horária é excessiva”. A comparação salarial, indicada pelo MEC, aponta o salário médio de R$461 para o professor de 1ª a 4ª série, e de R$8.320 para o juiz.
De região para região, as diferenças são imensas. O salário para o mesmo professor primário é de R$293 ou 27 vezes menos que o salário do juiz.
Estou certo de que se tivesse mostrado essas notícias a minha filha Nicole, ela faria duas observações.
Primeira: “Pai, juiz ganha o normal e Professor é que recebe pouco?”.
Segunda: “Se isso é sabido, então por que não pagar melhor aos professores?”
Respostas difíceis. E tanto mais agora, com o Governo petista do Presidente Lula disposto - com unhas e dentes e mais o seu rolo compressor - a promover a desvinculação de receitas da União, a partir de 2007.
A proposta do Governo Lula até inventou uma sigla para reduzir o dinheiro da Educação: DRU, que significa Desvinculação de Receitas da União e cujo sentido encerra, como é natural, menos dinheiro para os salários dos Professores.
Nesse Governo é assim mesmo.
De um lado, muita encenação, trazendo a Professora do Presidente para festa no Planalto. Diz maravilhas, fala em redenção educacional.
Do outro lado, esse novo, tremendo e mortal atocho contra a educação. Está no bojo da Reforma Tributária. Em vez de dizer, pratica horrores. E põe um fim melancólico aos sonhos dos Professores.
O Professor, como todo ser que trabalha, estuda, obtém o grau profissional, presta concurso público para ensinar, obtém vitórias, tem instantes de tristeza, sente alegrias, vive e sofre a um só tempo. Dá-se ao ensino, na simplicidade dos sábios.
Sobre ser igual a todos quantos se dedicam ao trabalho, no dia-a-dia das exigências de vida, o Professor a todos se sobrepõe pela exclusiva faculdade de recitar palavras simples, em momentos singeleza, mas também de, no entanto, de dimensionamento impossível. É quando diz: Ele foi meu aluno!
Ser ou ter sido meu aluno talvez represente para o Professor a paga mais grata de sua trajetória: o reconhecimento, que não se apaga vida afora.
No reverso, a récita toca ainda mais profundamente a alma do Mestre, como sentimento que quase sempre acolhe no silêncio da humildade.
É quando, do aluno, brota a frase que, se vem do coração, em outro coração é aceita: “Ele foi meu professor!”
“Ele foi meu professor”, é, em comovente unicidade, a expressão de do ex-aluno e a demonstração do reconhecimento, que mais valia encerram porque ambas vêm da espontaneidade.
Se hoje aqui estamos, Senadores da República, é, inclusive, porque, da professorinha do Primário aos mestres do terceiro grau, tivemos o privilégio de um dia adquirir ensinamentos definitivos para nossa formação cultural e ética.
As lições, nós as tivemos de nossos professores, no dia-a-dia de um zelo para que com elas, as lições, e com eles, os professores, convivêssemos.
Nesse caminhar, foi-nos dada a sorte de irmos além do saber. Pela voz dos que se situam adiante do conhecimento e, assim, nos ajudaram a complementarmos a formação com que sonhamos e com que sonham muitos brasileiros para os quais a Escola ainda permanece como aspiração inatingível.
Inatingível, neste Governo, é também o sonho dos Professores, para quais o salário mais digno e mais decente já se vai confundindo com quimera ou utopia.
Quem de nós não guarda na lembrança e no sentimento a imagem da professorinha do grupo escolar, ela que nos abriu a mente para as primeiras letras e as primeiras contas da tabuada?
Já não vive mais D. Romília a professora primária que me apontou a direção e esteve a me acompanhar em um período em que mais decisiva era a mão do Saber.
Minha vontade é que ela permaneça importante como sempre a senti, na continuidade de um magistério, já hoje fora da Escola, porém na escola da vida que não termina nunca, na mesma Amazônia de minha infância.
Se evoco seu nome, Profª Romília, faço-o com o mesmo sentimento da frase que não precisa de sinônimos, restringindo-se à simplicidade de três palavras: “Foi minha professora!”
Foi mais ou menos isso que ouvi, semana passada, do jornalista Paulo José, aqui mesmo em Brasília, referindo-se a um amigo, cujo nome veio à baila na conversa informal: “Ele foi meu professor!”
Uma frase assim poderia ter sido o prêmio com que a professora Justa Valentim sonhava talvez ouvir, no Palácio do Planalto. Não ouviu. E voltou para São Paulo, de onde foi trazida pelo esquema de propaganda do Governo Petista para mais uma encenação. Ela seria o ponto alto da festa em homenagem ao Dia do Professor.
Dona Justa mostrou-se no mínimo frustrada, pelo que informam os jornais. Abro aspas para O Estado de S.Paulo: “O Presidente Lula deu apenas um abraço rápido em Dona Justa e, em seguida se afastou.”
E mais: “Na saída do palácio, a ex-professora contou que Lula não fez nenhum comentário. Nenhum comentário. Não dava tempo, é assim mesmo...” Fecho aspas.
Apesar do pouco caso, Dona Justa foi generosa para com o antigo aluno da Escola de Vila Carioca, na zona sul de São Paulo e hoje morador do Palácio da Alvorada. Ela deu nota 8,5 para o Presidente. O que faltou para completar nota10 talvez se deva a alguma falha de Lula.
Qual das falhas? Seria por conta do descompromissado e rápido abraço no Planalto ou seria porque os milhares de colegas de Dona Justa lhe tenham dito que vão pedir aposentadoria antecipada para escapar da obsessão de Lula e do Governo petista que insistem em não acatar a proposta do PSDB.
Nossa proposta sugere regras de transição mais humanas, mais justas e mais dignas para os servidores públicos que estão prestes a completar o tempo de serviço.
Esses servidores serão penalizados pelo esquema Lula de fingir que governa. Penalizados serão, inclusive os que, na data da promulgação da emenda da reforma previdenciária, estiverem a poucos meses, semanas ou até a dias da merecida aposentadoria.
É justo? Que tal perguntar à Dona Justa?