Discurso durante a 148ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Médico. O resgate da medicina e da dignidade do médico. Necessidade de utilização da rede ferroviária federal como forma de fomentar o setor de transporte no País.

Autor
Flávio Arns (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Comemoração do Dia do Médico. O resgate da medicina e da dignidade do médico. Necessidade de utilização da rede ferroviária federal como forma de fomentar o setor de transporte no País.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2003 - Página 33342
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MEDICO, IMPORTANCIA, MEDICINA, PROTEÇÃO, VIDA HUMANA, UNIÃO, CIENCIAS, TECNOLOGIA, ATENÇÃO, DOENTE, TENTATIVA, AMPLIAÇÃO, ACESSO, POPULAÇÃO CARENTE.
  • DEFESA, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, REMUNERAÇÃO, APERFEIÇOAMENTO, MEDICO.
  • ANALISE, ABANDONO, TRANSPORTE FERROVIARIO, BRASIL, AVALIAÇÃO, PERDA, CAPACIDADE, TRANSPORTE DE CARGA, POSTERIORIDADE, PRIVATIZAÇÃO, REDE FERROVIARIA FEDERAL S/A (RFFSA), DEFESA, INVESTIMENTO, GOVERNO, INFRAESTRUTURA, MANUTENÇÃO, EXPANSÃO, FERROVIA, UTILIZAÇÃO, EXPERIENCIA, REDE FERROVIARIA, BENEFICIO, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO.

O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a passagem do Dia do Médico não pode representar mais uma simples data do calendário, um registro simbólico que passa quase desapercebido. Entendo que ela mereça um registro especial acompanhado de uma reflexão.

Quem já viveu um momento crucial de sua vida quando se descobriu invadido pela doença, sabe o significado da presença do médico. Talvez esse sentimento seja até mais intenso e significativo quando a doença atinge um de nossos filhos. A doença fragiliza a pessoa, porque construímos o projeto de vida, contando com o nosso potencial de saúde. Imaginamos a perfeita condição de nossos órgãos, pois contamos com eles para a concretização de nosso projeto. Em especial, contamos com o perfeito e harmônico funcionamento de nossa mente para que os ossos e músculos e todos os demais órgãos trabalhem em sintonia numa perfeita integração e desempenho. Ninguém faz um projeto contando com a possibilidade da sua não concretização ou retardamento porque aconteceu o imponderável de uma doença.

No entanto, todos sabemos que esta possibilidade é real. O doente, portanto, é uma pessoa fragilizada, tomada de alguma insegurança, ansiosa e muitas vezes tomada até de algum desespero diante da possibilidade do seu projeto de vida ser atingido. Neste momento, surge a presença do Médico que é um profissional diferenciado que tem a difícil, porém sagrada, missão de socorrer o ser humano, estender-lhe a mão segura, dar-lhe o alento da busca da cura ou da amenização da dor, ajudá-lo a retomar o projeto de vida.

Esta dimensão colocou sempre o médico numa posição de destaque nas sociedades humanas desde as mais primitivas até as mais sofisticadas de agora. Para assumir esta missão se faz necessário algo muitas vezes imponderável e inexplicável que resumimos no conceito de vocação. Poderíamos entendê-la como a qualidade ou virtude de compreender o ser humano e de ser movido pelo desejo de servi-lo. Deveria ser sempre o médico o modelo de humanidade, de sensibilidade humana cativante e forte de modo que a sua simples presença já assinalasse a possibilidade de que a situação pode ser enfrentada com a esperança de ser vencida. É aqui que se concentra o profundo significado da relação médico-paciente.

Tendo presente estas verdades simples mas profundas, devemos considerar alguns aspectos da realidade da medicina de hoje, partindo da própria formação dos novos médicos, passando pelas condições para o desempenho de seu trabalho, diante do espetacular progresso científico e tecnológico que aparelha a medicina com um fantástico instrumental, introduzindo, agora, o desafio de harmonizar a humanidade do atendimento com a competência científico/tecnológica.

De nada, muitas vezes, podem valer todos os sofisticados métodos de diagnóstico e de tratamento se o coração da pessoa, o seu interior de pessoa, não for tocado pelo médico que alia a sua competência científica com a necessária e insubstituível competência humana. Muitos médicos e estudiosos da medicina têm alertado para o perigo de o médico, já na sua formação básica e de pós-graduação, se entusiasmar pelas máquinas esquecendo-se da atenção à pessoa doente. Outro aspecto crucial da medicina moderna é a possibilidade de sua elitização, impossibilitando o acesso de todos aos métodos que se indiquem os melhores para determinada situação.

Tenho ouvido muitos médicos se queixarem de que trabalham para pagar máquinas cada vez mais sofisticadas e caras. Este aspecto introduz à discussão sobre os altos custos da medicina moderna e o abandono da abordagem mais básica e simples que se apresenta resolutiva em grande parte das situações sem a necessidade de custosos procedimentos. A racionalização da instalação e uso dos modernos e sofisticados equipamentos parece-nos como uma necessidade a ser conduzida pelo poder público com a participação das representações médicas.

Um exemplo da dificuldade, neste sentido, é a questão da grave situação do câncer de mama. Promovem-se campanhas de esclarecimentos, campanhas necessárias e justas, mas quando a mulher necessita realizar uma mamografia para o diagnóstico precoce da doença, não encontra, na maioria das cidades brasileiras, a possibilidade de realizar o exame.

Quando se fala nas condições de trabalho dos médicos é preciso reconhecer que o desempenho profissional com a qualidade que colocamos e que é a qualidade que a população espera, implica em remuneração condigna. Toda exploração do trabalho médico está contribuindo para a distorção do verdadeiro sentido da atuação do médico. Frustra o médico e a população. Registre-se a importância que tem a permanente reciclagem dos profissionais o que, evidentemente, implica em ganho condizente para que possa fazê-lo.

Terminando, gostaríamos que este pronunciamento, além de ser o reconhecimento nosso e desta Casa da importância do trabalho que os médicos exercem por este imenso País, nas grandes cidades e nos mais longínquos e difíceis lugares, fosse também um compromisso nosso para que a Medicina e as condições de Saúde mereçam toda nossa atenção, no contexto das grandes e importantes questões sociais.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo ainda abordar outro tema nesta tarde.

Em pronunciamento anterior nesta casa, abordei a crise enfrentada pelo transporte ferroviário em conseqüência da privatização da Rede Ferroviária Federal. Na ocasião, lamentei a forma desastrosa com que foram feitas as concessões e a falta de investimentos em infra-estrutura por parte do governo como forma de veritalização da Rede e conseqüente retomada do crescimento do setor ferroviário do país, garantindo a melhoria da capacidade do transporte de nossa produção agrícola, por exemplo.

Após nova análise deste quadro preocupante, constata-se que a situação ainda reflete o abandono e desatenção de anos com a estrutura ferroviária brasileira. Ao fazermos um retrospecto da história da privatização da Rede Ferroviária, percebemos que a capacidade de carga das ferrovias decresceu e que 7 mil quilômetros da linha total encontram-se em estado de abandono, simbolizando que um patrimônio de 5,6 bilhões de dólares está abandonado - considerando-se que cada quilômetro de linha férrea custa em torno de 800 mil dólares.

Quando se pensou em privatização da Rede Ferroviária, esperava-se, por parte de toda a sociedade, a desoneração do Estado e a melhoria da qualidade dos serviços prestados, além do aumento da eficiência operacional e o desenvolvimento do setor. Após sete anos de privatização, notamos que os objetivos não foram atingidos, ocorrendo exatamente o oposto do que se esperava. No Paraná, o transporte ferroviário representa hoje 27% do transporte para exportação. Uma porcentagem pequena se comparada aos 51% atingidos na época da Rede.

Com as concessionárias sem patrimônio para garantir investimentos necessários para a retomada do crescimento, cabe ao governo interferir neste processo e se concentrar no aumento da capacidade de carga das ferrovias, priorizando os investimentos na infra-estrutura e manutenção do modal ferroviário e na expansão da malha a fim de proporcionar o escoamento de nossa produção agrícola, que duplicou nos últimos dez anos.

Utilizemos então a Rede Ferroviária Federal, proprietária do patrimônio, como fomentadora do setor, promovendo a modernização da frota e a ampliação das malhas. Com um patrimônio estimado em 26 bilhões de reais, a Rede pode, sem dúvida alguma, conseguir empréstimos e utilizar sua experiência neste processo de revitalização, contribuindo também com a fiscalização das concessões e operando as concessionárias que não obtiverem êxito econômico.

Investir na retomada do setor, contando com o know-how de uma empresa com um histórico de bons resultados, é uma solução inteligente para que o País obtenha uma redução no custo do transporte de sua produção, utilizando a malha ferroviária como um modal complementar ao rodoviário e marítimo.

Ou o Brasil promove uma revisão imediata no sistema ferroviário, ou continuará enfrentando grandes dificuldades para transportar sua produção e caminhar para o desenvolvimento econômico.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2003 - Página 33342