Pronunciamento de Eduardo Siqueira Campos em 29/10/2003
Discurso durante a 151ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem aos 25 anos do pontificado do Papa João Paulo II.
- Autor
- Eduardo Siqueira Campos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
- Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem aos 25 anos do pontificado do Papa João Paulo II.
- Publicação
- Publicação no DSF de 30/10/2003 - Página 34213
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, ANIVERSARIO, SAGRAÇÃO, JOÃO PAULO II, PAPA.
O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Congresso Nacional, de forma mais do que justa, marcou para amanhã, dia 30, Sessão Solene destinada a reverenciar e comemorar os 25 anos de Pontificado do Papa João Paulo II, completados no último dia 16. Sem a menor dúvida, o polonês Karol Wojtyla faz jus à máxima que lhe corresponde nas profecias de São Malaquias.
Esse santo da Igreja Católica, que morreu no século XII, produziu uma série de curtas frases em latim, normalmente interpretadas como máximas heráldicas, que corresponderiam a uma seqüência de 112 papas. A frase que corresponde ao pontificado de João Paulo II é de labore solis, que pode ser traduzido como “do trabalho do Sol”.
De fato, João Paulo II, que surpreendeu na sua eleição por não ser italiano, nem diplomata, nem membro da alta hierarquia do Vaticano, como vinha sendo tradição até aquele momento, demonstrou uma fantástica disposição para o trabalho pastoral. Muitos atribuíam isso à sua relativa juventude - tinha 58 anos quando foi escolhido para suceder João Paulo I, de breve pontificado. Mas, ainda agora, com o peso imposto pela idade, a saúde frágil e o aparecimento de seqüelas do atentado sofrido em maio de 1981, a disposição para a missão evangelizadora não diminuiu.
Seus primeiros anos de vida, na Polônia do período entre guerras, foram particularmente duros. Viu morrer sua mãe aos 8 anos, perdeu seu único irmão aos 12 e ficou definitivamente órfão aos 20 anos. A vocação religiosa lhe surgiu em 1942. Já estudante universitário de filosofia, aos 21 anos passou a freqüentar um seminário clandestino em Cracóvia, numa Polônia invadida pelos exércitos nazistas desde 1939 e impedida de expressar sua tradição católica.
Ordenou-se em 1946, vendo seu país trocar de comando, agora sob ocupação dos exércitos soviéticos. Um breve período de estudos em Roma ampliou sua formação acadêmica, permitindo-lhe doutorar-se em Teologia, em 1948, com uma tese sobre o místico São João da Cruz. A volta a sua terra natal não cortou sua ligação com o ambiente universitário. Além de vigário em diversas pequenas paróquias, foi capelão dos universitários, acabando por retomar seus estudos de Teologia e Filosofia, habilitando-se, na Universidade Católica de Lublin, para o exercício da docência de Teologia Moral e Ética Social.
O exercício das atividades religiosas e docentes sob o rigoroso regime stalinista certamente não era fácil. Desenvolveu uma linha de ação próxima à juventude, usando muitas vezes o teatro, o esporte e a vida em contato com a natureza para aproximar os jovens da mensagem de Deus.
Esse íntimo contato com os dois principais regimes ditatoriais do século XX ajudou a fundamentar no jovem Padre Karol profundo respeito pelos direitos humanos, principalmente o direito à vida, e pela dignidade de cada indivíduo. Seu pontificado traz claramente esta marca: defesa da vida e da dignidade humana, sem medo de combater o autoritarismo e as injustiças.
Sua capacidade de trabalho e sua inteligência a serviço da Igreja foram premiadas pelo reconhecimento relativamente precoce. Foi elevado a bispo em 1958 e arcebispo de Cracóvia em 1963, tornando-se cardeal logo no ano seguinte.
Como arcebispo, viajou quase 50 vezes, participando de congressos, peregrinações, concílios e outras atividades, pregando sempre a tolerância e advogando a reaproximação entre as Igrejas da Polônia e da Alemanha, afastadas desde a II Guerra Mundial.
Em 1978, o mundo foi finalmente apresentado a esse grande líder religioso. Impressionou pela atividade incessante, pelas viagens, pela firmeza na condução das questões da fé, pelo engajamento político e pela visão estratégica, tendo participado intensamente da libertação de sua terra natal do jugo soviético, apoiando o movimento Solidariedade. O atentado covarde que sofreu apenas mostrou o quanto sua atividade incomodava determinados setores, e deu o episódio como encerrado, perdoando sincera e completamente seu agressor.
As viagens internacionais já passaram da centena, as beatificações aproximam-se da metade do segundo milhar, as canonizações são contadas em quase quinhentas. A produção religiosa e normativa passou das oitenta peças, entre encíclicas e exortações, constituições e cartas apostólicas.
É, sem sombra de dúvida, a maior personalidade do último quarto do século XX.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agora, o Papa tem revelado a seus fiéis que sente que sua hora se aproxima. Não são palavras de revolta, dor ou inconformismo. Sabe que sua fecunda missão na terra está perto de encerrar-se e que ele lançou bases firmes para a Igreja Católica do novo milênio. Talvez o preocupe, com o ritmo de vida que sempre levou e com o bom humor que nunca lhe faltou, a possibilidade do “descanso eterno”.
A todos nós, independentemente da religião que professamos, iluminados por sua luz forte, solar, como vaticinou São Malaquias, resta pedir, como quando crianças pedíamos aos nossos pais e avós: dai-nos sua bênção, João Paulo II.
Muito obrigado.