Discurso durante a 153ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Explicações do Chefe da Casa Civil, Ministro José Dirceu, a respeito de declarações envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Autor
Eduardo Siqueira Campos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Explicações do Chefe da Casa Civil, Ministro José Dirceu, a respeito de declarações envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2003 - Página 34666
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ELOGIO, JOSE DIRCEU, MINISTRO, CHEFE, CASA CIVIL, DECLARAÇÃO, DESMENTIDO, CRITICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PUBLICAÇÃO, IMPRENSA.
  • DEFESA, ETICA, POLITICA, ANALISE, CRITICA, VIDA PUBLICA, AUSENCIA, DESRESPEITO, CARATER PESSOAL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), EXERCICIO, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ESPECIFICAÇÃO, COLABORAÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - V. Exª, já colaborando com este orador, anuncia o autor de frase tão importante.

Quero, Sr. Presidente, avançar um pouco neste raciocínio: governar é um exercício permanente do diálogo, da construção de entendimentos e de avanço.

Esse diálogo, Sr. Presidente, se faz com os segmentos da nossa sociedade civil, com os Partidos e, principalmente, buscando a superação, quando se chega ao poder, daqueles que talvez sejam os maiores empecilhos: teses e conteúdos programáticos do próprio Partido que chega à Presidência da República.

Digo tudo isso, Sr. Presidente, principalmente me atendo ao início do meu pronunciamento. Se as palavras, muitas vezes, são a grande fonte do desentendimento, ao contrário, a sua reunião, ou o diálogo, é o caminho permanente para o entendimento e a construção.

Está destacada em toda a imprensa, hoje, a parte construtiva que o diálogo pode promover. O Chefe da Casa Civil, Ministro José Dirceu, telefonou para o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso a fim de lhe explicar o tom das declarações que havia dado a seu respeito. Dirceu disse que não quis ser agressivo e reconheceu que, nas suas palavras, havia um certo exagero.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assim como V. Exª, todos ficamos surpresos quando o Ministro José Graziano disse uma frase infeliz, que dividia o Brasil em duas nações, a dos nordestinos, nós, e a deles. No entanto, o que fez o Ministro quando veio a esta Casa? Por três vezes consecutivas, dirigiu-se às Srªs e aos Srs. Senadores e pediu desculpas. Disse que não era sua intenção, que havia errado.

A partir daquele momento, Sr. Presidente, como cristão, como cidadão, como Senador, eu, que represento a Região Norte, portanto nortista, filho de nordestino, como V. Exª Senador Mão Santa, entendi que o Ministro José Graziano teve um gesto de grandeza ao reconhecer um erro e pedir desculpas.

É com humildade que conseguimos avançar. Podemos, caro Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, discutir e debater todos os aspectos do Governo de Fernando Henrique Cardoso, ao qual eu servi como vice-Líder, como integrante do mesmo Partido e como Senador representante do Tocantins, que tanto deve a S. Exª. O seu governo pode ser discutido, tenho certeza, mas nunca se discutiu um gesto menor do cidadão, do professor, do sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

O Presidente será lembrado não apenas pelos oito anos em que presidiu este País, mas também por ter promovido a transição democrática, destacada em jornais das mais importantes nações. S. Exª agiu como magistrado e comportou-se com grandeza.

Fiquei extremamente feliz e satisfeito quando li, nos jornais de hoje, as palavras de desagravo do Ministro José Dirceu, que disse ter respeito pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso e que reconheceu, nas suas palavras, um certo exagero, pois não era sua intenção ofender S. Exª.

Esse é o caminho, Sr. Presidente.

Logo após deixar o Governo, o Presidente Fernando Henrique Cardoso convidou-me para, em companhia de Arthur Virgílio, encontrá-lo na cidade de Paris, onde S. Exª se preparava para receber uma importante homenagem. Pediu-nos S. Exª: “Siqueira e Arthur, tenham uma posição construtiva dentro do Congresso Nacional e do Senado da República. Isso será importante para o País. Construímos alguma coisa mais do que números no nosso período de Governo. A população tomou uma determinada decisão. Tenham respeito pela figura do Presidente eleito, o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. E tudo que posso pedir a vocês, membros do meu Partido, é que ajam com grandeza, de forma construtiva. É assim que quero ver posicionado o meu PSDB.” Essas foram as palavras do Presidente Fernando Henrique Cardoso, e penso, Sr. Presidente, meus nobre Pares, que não podem ser outras as do Ministro José Dirceu, que, no meu entendimento, dá uma demonstração de humildade e de grandeza. Quero, desta tribuna, elogiar S. Exª por ter pego o telefone, por ter buscado o diálogo e, mais do que isso, por ter anunciado à Nação e à imprensa que não era o seu desejo atacar a figura do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Tenho certeza, Sr. Presidente, de que os membros do PSDB, nesta Casa, discutirão profundamente e da forma mais ampla o Governo Luiz Inácio Lula da Silva e, certamente, não procurarão discutir a figura do brasileiro ilustre, do brasileiro respeitado, do nordestino sofrido que chegou à Presidência da República. Isso não vai impedir a qualquer Senador, a qualquer membro de qualquer partido discutir com profundidade as ações do seu governo, de ser duro, como Oposição, mas sempre respeitar a figura do Presidente da República e do cidadão, a sua biografia.

Digo isso, Sr. Presidente, na condição de um Senador integrante do PSDB, que tem tido aqui dentro desta Casa, entendo eu, uma posição construtiva quando na tribuna, porque, quando assumo a Presidência, Senadores Mão Santa, Pedro Simon, Antero Paes de Barros e Heráclito Fortes, ainda que interinamente na condição de Vice-Presidente, não sou 2º Vice-Presidente do PSDB, passo a ser Vice-Presidente desta Casa. Tenho, em primeiro lugar, a Constituição e o Regimento norteando as minhas ações na Presidência. Mas não posso, Sr. Presidente, meus nobres Pares, deixar de dizer aqui que este Brasil deve muito ao Professor Fernando Henrique Cardoso, que o Brasil muito o admira, muito o respeita e tenho certeza que, dentre aqueles que respeitam e reconhecem o seu papel para este País, está o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, hoje Presidente da República.

Sr. Presidente, trouxe este assunto para tratar nesta comunicação inadiável por ter compreendido a importância do gesto do Ministro José Dirceu ao anunciar à imprensa que falou com o Presidente Fernando Henrique Cardoso e que efetivamente encerrou o que poderia ser um desentendimento entre duas figuras tão importantes: um hoje Ministro de Estado, o outro ex-Presidente da República.

Quero também destacar as palavras do Presidente Fernando Henrique Cardoso com relação às declarações de ontem do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disse S. Exª: “O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva também será um ex-Presidente”. Não sabemos se Sua Excelência o será daqui a três anos e alguns meses, se o será daqui a sete anos e alguns meses. Não podemos fazer uma previsão.

O PSDB não deseja que o Presidente vá mal para que o Partido volte ao poder. Isso ficará provado na nossa ação. Basta ver a proposta apresentada pelo Senador Tasso Jereissati à reforma tributária. Trata-se de uma proposta inteira, completa, uma alternativa apresentada de forma respeitosa e democrática. Basta ver o comportamento do PSDB na reforma da Previdência. Se elas avançaram até onde avançaram e se forem aprovadas, sê-lo-ão pelo papel importante e pelo comportamento da Bancada do PSDB, duro, combativo, mas, acima de tudo, democrático.

Sr. Presidente, sem o entendimento, sem o respeito à minoria, nenhuma reforma ficará pronta nesta Casa. Talvez apenas a reforma da cúpula do Senado. Sou Membro da Mesa, como V. Exª, Senador Heráclito Fortes, mas certamente o Senador Romeu Tuma e o Presidente José Sarney, responsáveis pela administração da Casa, poderiam dar até mais informações sobre a reforma que está sofrendo a cúpula simbólica, importante, que representa o Senado da República, a Casa que representa os Estados brasileiros. Estando em reforma essa cúpula, somente ela poderá ficar pronta antes do final do ano sem um entendimento. As reformas que estão na Casa - essas, sim, as mais importantes para o País - necessitam obrigatoriamente da construção do diálogo, do respeito entre as partes e do mais amplo entendimento.

Creio, Sr. Presidente, que fez bem o Ministro José Dirceu. Que o exemplo de S. Exª sirva para todo o Governo, para não dizer para o próprio Presidente da República.

Uma vez que não tem voz nesta tribuna, tenho certeza absoluta de que não precisará dizer o Presidente Fernando Henrique Cardoso que a carapuça também não lhe serve, porque também ele não foi e não seria covarde em nenhum momento. Não o foi na história, na sua biografia, na sua vida pública, durante o combate da ditadura e principalmente durante a Presidência da República. Podemos, sim, discutir o Governo Fernando Henrique Cardoso em todas as suas ações. Delas discordar, questionar quaisquer que sejam os seus atos e de seus Ministros, mas tenho certeza, Sr. Presidente, de que a biografia do Presidente Fernando Henrique Cardoso é reconhecida internacionalmente, respeitada em todos os continentes e, certamente, por demais respeitada pelos próprios integrantes do Governo e do Partido dos Trabalhadores. Não tendo S. Exª voz nesta tribuna, tem ele a seu favor a história e os seus oito anos de Governo. Tenho certeza de que o Presidente Lula não quis se referir também ao Presidente Fernando Henrique Cardoso e, certamente, como bem disse o sábio poeta que preside esta Casa, também não terá sido ao Presidente José Sarney, e eu incluiria também o ex-Presidente Itamar Franco.

Ouvi do Senador Pedro Simon ontem um depoimento com o qual concordei plenamente. Talvez queira, a partir deste momento, a imprensa procurar novamente o Presidente da República para saber especificamente a quem Sua Excelência se dirigiu. No meu entendimento, não foi ao Fernando Henrique Cardoso, não terá sido a José Sarney e, tampouco, a Itamar Franco, por Sua Excelência nomeado Embaixador brasileiro na Itália.

Dizendo isso, Sr. Presidente, fico aqui com as palavras do Ministro José Dirceu, com o respeito que S. Exª tem por Fernando Henrique Cardoso, no gesto que teve de procurar S. Exª e dizer-lhe que não foi sua intenção ser agressivo, reconhecendo até um certo exagero nas suas declarações. Tenho tido, nesta Casa, serenidade e um comportamento equilibrado e profundamente construtivo para o que precisam o Governo e a Nação. O Governo precisa aprovar as reformas; o País delas precisa. Isso tem provocado em mim um comportamento que, modéstia à parte, gostaria de defini-lo como construtivo.

Portanto, aguardarei as palavras do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na certeza de que, tal qual o Ministro José Dirceu, Sua Excelência saberá encontrar nas palavras não a fonte do desentendimento, mas, sim, do diálogo para a construção dos avanços que este País precisa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2003 - Página 34666