Discurso durante a 156ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a respeito da viagem do presidente Lula à África. (como Líder)

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Comentários a respeito da viagem do presidente Lula à África. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2003 - Página 35475
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • ELOGIO, IMPORTANCIA, VIAGEM, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTINENTE, AFRICA, REITERAÇÃO, SOLIDARIEDADE, COMPROMISSO, AUXILIO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, EXERCICIO, BRASIL, LIDERANÇA, TERCEIRO MUNDO.
  • GRAVIDADE, PROBLEMA, MISERIA, FOME, DOENÇA, SUBDESENVOLVIMENTO, CONTINENTE, AFRICA, APOIO, ORADOR, POLITICA EXTERNA, BRASIL.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei muito breve. Reporto-me ao debate travado nos dias de ontem e hoje por alguns Senadores sobre a viagem do Presidente Lula ao continente africano, onde Sua Excelência, de modo inusitado e afirmativo, faz uma verdadeira peregrinação solidária aos irmãos africanos.

É uma viagem simbólica em todos os sentidos, que afirma a personalidade solidária do povo e do Governo brasileiro. Reafirma compromissos históricos de uma nova aliança internacional, em que o nosso País tem a capacidade de não estar subjugado apenas ao poderio que vem de cima, olhando também para os irmãos africanos, para a Ásia, para a Índia, para a China e para os países com que pode ter uma nova relação, baseada no multilateralismo.

Penso que é uma viagem coberta de êxito e de sucesso, confirmando a personalidade do Presidente Lula no cenário internacional. Vale lembrar as palavras do Presidente de Angola quando disse que o Presidente Lula se afirma nessa viagem como o porta-voz dos necessitados. Creio que isso seja motivo de orgulho para o povo brasileiro, para a sociedade brasileira.

Contesto, portanto, as afirmações que julgo precipitadas e restritas de alguns Senadores, quando disseram que seria um equívoco grave, um alheamento do Presidente aos problemas nacionais quando, numa viagem dessa, oferece ajuda aos irmãos africanos.

Vale lembrar primeiramente de onde viemos, Sr. Presidente. Temos uma origem de 12 milhões imigrantes africanos, que vieram para a América afro-caribenha - a América do Sul, a América Central, toda a região do Caribe -, formando o Brasil, que recebeu maior fluxo de imigrantes africanos. O nosso sangue é parte viva da herança do povo africano, razão pela qual temos o sentimento de solidariedade. São 500 anos de ocupação do nosso País, com essa face tão rica, tão diversa e tão interessante a ser tratada como manifestação de esperança, manifestação cultural, sobretudo de solidariedade aos africanos, devido ao drama social em que vivem. Há, no Planeta, trinta e cinco mil crianças morrendo todos os dias pela fome ou por doenças evitáveis, e a grande concentração de vidas que se perdem dessa maneira está na África.

Noventa e cinco por cento das pesquisas que se fazem anualmente na área médica e de medicamentos destinam-se a países de Primeiro Mundo. Os do Terceiro Mundo estão completamente abandonados. Temos um completo alheamento da realidade global em relação à qual deveríamos ter solidariedade.

Se os paises de Primeiro Mundo tivessem a capacidade de aumentar em quatro vezes as relações comerciais atuais com a África, não teríamos mais fome na África. Se tivéssemos nova maneira de nos relacionarmos com os países subdesenvolvidos, com os países pobres, não absteríamos ao drama que vive hoje o povo africano, por exemplo, com a Aids. Em quatro dos países da África, temos até 40% da população vitima de contaminação pela Aids, vítima de um calvário futuro, que pode marcar definitivamente as gerações que estão surgindo, crescendo e vivendo naqueles países.

Portanto, Sr. Presidente, eu gostaria de confirmar o mais absoluto respeito e o mais forte elogio ao Presidente da República pela atividade que exerce. Quero dizer, meu caro Senador Mão Santa, que considero egoísta a afirmação de alguns Senadores do PFL no sentido de que seria um erro grave ajudar a África.

Quando olhamos a balança comercial Brasil/Angola, observamos que o nosso País vende todos os anos US$179 milhões para Angola e compra US$4 milhões. Portanto, não estamos fazendo mais do que uma obrigação em prestar solidariedade aos nossos irmãos angolanos. Se falarmos em Moçambique, veremos que o Brasil vende US$9 milhões/ano e importa menos de US$2 milhões. Só este ano, que ainda não acabou, o nosso País cresceu em 24% as suas exportações para a África. Portanto, nada mais justo e mais digno do que uma personalidade correta, inteligente e com visão de futuro como o Presidente Lula estender a mão aos irmãos africanos nas suas necessidades na área de saúde, de segurança, na área alimentar, de tecnologia e de infra-estrutura.

Sr. Presidente, registro aqui a minha admiração integral, a minha consideração positiva de que é desse modo que teremos um Brasil inserido no cenário internacional, confirmando a tese de que um outro mundo é possível se tivermos a capacidade da convivência irmanada em sentimento de respeito, de esperança e de fraternidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/11/2003 - Página 35475