O SR. REGINALDO DUARTE (PSDB - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) -

ÍCONE DECEPCIONA

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna, na tarde de hoje, para comentar matéria do jornal O Globo intitulada “Libération sobre Lula: o ícone decepciona”, publicada na sua edição de 29 de outubro do corrente.

A matéria, que solicito seja inserida nos Anais do Senado, mostra que o conceituado jornal francês Libération dedicou três páginas de sua edição de 28 de outubro último para artigos que faziam referência ao primeiro ano da eleição do governo petista.

Para o jornal francês, de esquerda, o presidente Lula teria sido “geneticamente modificado pelo exercício do poder”.

O texto que passo a ler para que fique integrando este pronunciamento, é o seguinte:

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR REGINALDO DUARTE EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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‘LIBÉRATION’ SOBRE LULA: ‘O ÍCONE’ DECEPCIONA

29/10/2003

Para o jornal francês de esquerda, presidente teria sido ‘geneticamente modificado pelo exercício do poder’

PARIS. “O ícone não é mais o que era”, disse ontem o jornal “Libération”, acrescentando que a esquerda francesa está tomando distância em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de celebrá-lo como ídolo, há um ano. Sob o título “Lula, muito comportado para não decepcionar”, o jornal dedicou três páginas de sua edição a uma série de artigos sobre o primeiro ano da eleição do governo petista. Segundo o “Libération”, Lula se transformou num transgênico, “geneticamente modificado pelo exercício do poder”.

Ouvidos pelo GLOBO, alguns integrantes da esquerda francesa confirmam que a euforia logo após a eleição petista deu lugar a um sentimento de preocupação com o caminho tomado por Lula, sobretudo na área econômica. Mas as críticas ainda são cautelosas. Bernard Cassen, presidente de honra da Attac -- organização antiglobalização, que traduz o pensamento de boa parte da esquerda francesa -- diz que não é hora de atacar Lula:

-- Lula foi eleito por quatro anos e não se deve tirar conclusões ao final de dez meses de mandato. Temos que nos abster de reações excessivas.

Cassen minimiza um documento assinado em 3 de junho pelo atual presidente da Attac, Jacques Nikonoff, exortando os integrantes da organização a “tomarem distância” do governo Lula . Nikonoff disse que a eleição de Lula foi percebida como a primeira vitória política do movimento contra a globalização, e que o sucesso ou fracasso do brasileiro teria repercussões na Attac.

Cassen, porém, concluiu que, ao seguir as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o presidente “passa o sentimento de que não existe nenhuma alternativa à globalização liberal”. Feita a ressalva e após destacar os pontos positivos -- a resistência à Alca e às pressões na Organização Mundial de Comércio (OMC), em Cancún -- ele também não poupa Lula:

-- É preciso reconhecer que ele não desafiou os limites estabelecidos pelo FMI porque entrou em acordo.

Decepção no Partido Verde

O deputado Yves Cochet, do Parido Verde, não esconde sua decepção. Ele disse compreender a enorme dificuldade do governo diante de um contexto internacional difícil, mas afirma que a melhor maneira de enfrentar isso é se apoiar sobre o movimento popular que elegeu o petista. Para Cochet, a política de Lula em matéria de transgênicos ou de energia é a grande decepção:

-- Gabeira tem razão -- disse o deputado, numa referência às críticas à política ambiental feita pelo deputado Fernando Gabeira, que, recentemente, deixou o PT.

Gabeira, em entrevista ao “Libération”, acusa Lula de não ter um projeto de longo prazo para o país. Ele diz que Lula “pensa à esquerda, mas faz governo de centro-direita: é a esquerda imaginária”.

Mas, além de críticas, o “Libération” sai em defesa de Lula num editorial cheio de ironia, intitulado "Transgênico". O editorial menciona os que acham que o presidente visto antes como um alternativo teria virado um transgênico: “geneticamente modificado pelo exercício do poder”. E concluiu que num país que enfrentou 20 anos de ditadura e tem 50 milhões de pobres, “quem imagina que em dez meses tudo possa se inverter?”, pergunta o jornal, que termina dizendo que os brasileiros devem manter sua confiança em Lula, já que ele pediu quatro anos para ser julgado.