Discurso durante a 155ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento da professora, jornalista, romancista, cronista, teatróloga e acadêmica Rachel de Queiroz.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento da professora, jornalista, romancista, cronista, teatróloga e acadêmica Rachel de Queiroz.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/2003 - Página 34868
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RACHEL DE QUEIROZ, ESCRITOR, MUNICIPIO, QUIXADA (CE), ESTADO DO CEARA (CE), PERSONAGEM ILUSTRE, LITERATURA BRASILEIRA, REPRESENTAÇÃO, MULHER, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), IMPORTANCIA, OBRA LITERARIA, DESCRIÇÃO, SITUAÇÃO, VIDA HUMANA, REGIÃO NORDESTE.

            O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Para encaminhar a votação. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria, em rápidas palavras, de juntar a minha voz à do ilustre Senador Tasso Jereissati, que acaba de expressar o seu sentimento de pesar pelo passamento de sua conterrânea, a escritora Rachel de Queiroz.

            Sr. Presidente, desejo, sem muitas considerações, chamar a atenção para o papel que cumpriu Rachel de Queiroz ao longo da sua densa e intensa vida. Dentre muitos fatos que eu poderia destacar, que de alguma forma ornam a sua personalidade, saliento o lado político da ação de Rachel de Queiroz.

            Como lembrou o Senador Tasso Jereissati, ela fez uma literatura preocupada com a questão regional nordestina: o drama da seca e as vicissitudes do Nordeste. Foi também uma pessoa preocupada com as questões brasileiras sem contudo haver disputado cargos eletivos ou sequer aceito funções executivas. É bom lembrar que, ao tempo em que governava o País o Marechal Castelo Branco, seu conterrâneo, ele a convidou para exercer as funções de Ministra da Educação e Cultura - como, à época, se chamava o Ministério. Rachel de Queiroz declinou do convite, preferiu adotar uma postura, talvez até mais ágil, e uniu forças a Josué Montello, no sentido da criação do Conselho Federal de Cultura. O órgão foi instituído em 1966 e Rachel de Queiroz passou a integrar a Câmara de Letras do referido colegiado. Era ouvida e apreciada por Guimarães Rosa, Adonias Filho, Gilberto Freyre, Otávio de Farias, Cassiano Ricardo, Rodrigo Melo Franco, Afonso Arinos, nosso colega no Senado, Arthur Reis, Diegues Júnior, para citar alguns, praticamente todos já falecidos e conseguiu formular uma política nacional de cultura para o País num momento de muitas dificuldades, visto vivermos tempos de recessão.

            Por sugestão de Rachel de Queiroz, integraram o Conselho o recém-falecido jurista Raymundo Faoro e o teatrólogo Ariano Suassuna.

            Como assinalou o Senador Tasso Jereissati, ela teve destaque muito grande com relação à maior participação da mulher na sociedade brasileira e, de modo mais particular, no campo da política. Ela foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, quebrando quase um tabu. Lá ficou durante 26 anos, o que, não podemos deixar de reconhecer, pôde dar uma notável contribuição à literatura brasileira.

            A par da legião de amigos e admiradores que seu temperamento sempre afável e seu indiscutível talento souberam granjear, encontrou Rachel de Queiroz o apoio inexcedível de seu falecido marido, o médico Oyama de Macedo, e de sua dedicada irmã, que a acompanhou até os últimos momentos, a escritora e roteirista Maria Luiza de Queiroz Salek.

            Com a morte de Rachel de Queiroz perde o Brasil, perde a cultura brasileira, mas ela deixa um exemplo a enriquecer a nossa história, quer no campo da literatura, quer no campo da atividade pública, quer no campo especialmente da participação da mulher na vida social, econômica, política e cultural do nosso País.

            A morte não divorcia, aproxima as pessoas, dizia Rui Barbosa. Ele tem razão. Agora nos sentimos mais próximos de Rachel de Queiroz, sobretudo do seu exemplo, que servirá para inspirar os passos de todos aqueles que desejam contribuir para uma sociedade menos desigual, mais justa e mais atenta aos valores culturais, às necessidades que o homem tem de pão, espírito, justiça e liberdade.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2003 - Página 34868