Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Realidade enfrentada pelos alunos brasileiros de escolas e faculdades particulares. (como Líder)

Autor
Eduardo Siqueira Campos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR.:
  • Realidade enfrentada pelos alunos brasileiros de escolas e faculdades particulares. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2003 - Página 38156
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, ALUNO, ENSINO SUPERIOR, ESCOLA PUBLICA, ESCOLA PARTICULAR, DIFERENÇA, CLASSE SOCIAL, INJUSTIÇA, FALTA, ACESSO, POPULAÇÃO CARENTE, GRATUIDADE, UNIVERSIDADE FEDERAL, AUSENCIA, FINANCIAMENTO, MENSALIDADE, FACULDADE, UNIVERSIDADE PARTICULAR.
  • DEFESA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), FINANCIAMENTO, ENSINO SUPERIOR.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, em primeiro lugar, agradecer às palavras gentis do nosso irmão de Estado, porque, afinal de contas, é este o sentimento que predomina entre os dois Estados - Tocantins e Goiás -, um sentimento de irmandade e que tem em V. Exª um competente e brilhante Senador que representa Goiás e, portanto, representa o nosso Tocantins.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, além de cumprimentar novamente os formandos e professores do curso de Pedagogia da importante Universidade Luterana do Brasil em Palmas, a nossa Ulbra, quero saudar os telespectadores da TV Senado e os caros ouvintes da Rádio Senado FM e da Rádio Senado Ondas Curtas.

Aproveito a passagem desses estudantes para falar um pouco de Palmas, de Tocantins e, particularmente, do exercício duro que é a atividade daqueles que optam por ingressar na educação, seja na condição de professores, coordenadores, orientadores, diretores de escolas, diretores de instituições de ensino superior, em quaisquer níveis.

Sinto-me à vontade para falar, porque, embora afastado há muitos anos da condição de professor, guardo a minha carteira, que ainda é válida, expedida pelo MEC, após cursar o curso de Pedagogia.

À minha frente, está a Senadora Heloísa Helena, que também esteve na sala de aula por muitos anos e, costumeiramente, dirige-se aos professores, falando das suas dificuldades.

Meu caro Presidente, Senador Romeu Tuma, Srªs e Srs. Senadores, nesta semana, desta tribuna, abordei a realidade que separa os alunos que freqüentam as universidades públicas, mantidas pela União, e os alunos que freqüentam as faculdades privadas, os cursos particulares. Disse eu que, normalmente, são os filhos das classes mais abastadas que estudam na UnB, umas das melhores universidades públicas do País; na USP; na nova Unitins, recém-criada, após árdua luta da nossa Bancada perante o Governo Federal. Nas universidades públicas e gratuitas - é bom que seja assim -, estudam os filhos dos ricos.

Tomo como exemplo Brasília. É muito difícil passar no vestibular da UnB, entidade de ensino de excelente qualidade. Quando analisamos a publicidade dos cursos particulares, verificamos que quase todos os aprovados freqüentaram cursinho. Por exemplo, lemos no jornal que, dos vinte aprovados para certo curso, dezenove estudaram no Objetivo; das vinte e uma vagas para determinado curso, dezoito foram preenchidas pelos alunos de um cursinho particular. Não é preciso correr atrás das estatísticas, Sr. Presidente, para verificar que estão estudando gratuitamente nos melhores centros de ensino do País aqueles que poderiam pagar algo, ou seja, aqueles que têm pai e mãe empregados, de classe média alta, que podem pagar os melhores cursos para prepará-los para fazer o curso superior em universidades públicas e gratuitas.

O que eu disse, na semana passada, com relação a esse problema? Que não é preciso ir longe para verificar que são os pobres que chegam às escolas privadas do País inteiro, geralmente em curso noturno. Os alunos vão às faculdades de ônibus, pagam passagem a duras penas, sacrificam todo o resto da família, que muitas vezes deixa de dar estudo aos outros filhos, para que apenas um possa fazer o curso superior pago, sem bolsa, sem financiamento, sem nenhum tipo de apoio. É dura essa realidade.

Fiz algumas sugestões. Fui um crítico duro da utilização do BNDES para financiar obras de infra-estrutura fora do Brasil. Refiro-me às obras anunciadas pelo Presidente da República, com toda legitimidade, com toda autoridade, com o intuito nobre de levar o Brasil a liderar os países em desenvolvimento. Infelizmente, em suas viagens, Sua Excelência levou junto, na bagagem, o nosso BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Ora, se esse é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, no meu entendimento, é melhor que financie a infra-estrutura interna do País. E, se é um banco voltado para o social, como diz o próprio nome, por que não financiar a melhor de todas as infra-estruturas, que merece a atenção e o investimento do Poder Público, que é a educação? De que adianta financiarmos portos, ferrovias e hidrovias, se não tivermos o material humano e a qualificação, se não houver a possibilidade de a nossa juventude adquirir o maior bem com o qual sonham seus pais, que é o curso superior? Isso de nada adianta, Sr. Presidente.

Por isso, quis aproveitar a passagem dos estudantes de Pedagogia da nossa Ulbra por esta Casa hoje, na visita que fazem a Brasília, para convidar o Senado a refletir sobre o tema. Vários Senadores assim se pronunciaram e se pronunciam sobre a questão.

Poderia muito bem o BNDES guardar um pouco dos seus recursos para investir na formação dos nossos jovens. Repito a estatística: anualmente, quatrocentos mil jovens chegam ao mercado de trabalho em busca de oportunidade. Grande parte desses jovens chega ao mercado de trabalho sem a melhor das ferramentas: o ensino, a educação, a qualificação.

Falei ontem do importante projeto de inclusão digital da Cidade do Conhecimento, que está sendo implantado em Palmas, e do ensino a distância, entre outras coisas que estamos fazendo no Tocantins. Porém, ainda assim, falta muito. Não é pequena a nossa luta.

Ao lutar pelo ensino público e gratuito - um direito, uma conquista -, apoiado por esta Casa, que representa não só os Estados, mas também o povo brasileiro, na missão de representar os tocantinenses, eu gostaria de poder dizer que não nos esquecemos, porque sabemos e reconhecemos as dificuldades da sua luta diária, daqueles que, com muita dificuldade, estão pagando os altos custos da sua formação. Sonho com um Tocantins instruído, bem formado, com um Tocantins que possa participar do processo de desenvolvimento nacional, como vem participando, e ser motivo de orgulho, como Palmas o é, para o nosso País.

Fiquei feliz com a presença aqui dos formandos do curso de Pedagogia. Agradeço-lhes a visita e deixo aqui minha palavra de esperança de que esta Casa, junto com a Câmara dos Deputados e com o Governo Federal, que muitas esperanças trouxe para a população brasileira, possa continuar dando ao povo tocantinense um alento ainda maior do que aquelas bolsas que conseguimos com o Governo estadual. Isso ainda é muito pouco, perto do que precisam os nossos estudantes. A continuidade das bolsas é uma luta que mantenho. É preciso que a União volte seus olhos para o ensino privado e para os estudantes que estudam sem poder pagar.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2003 - Página 38156