Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Compra, pelo BNDES, de participação acionária na Companhia Vale do Rio Doce.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Compra, pelo BNDES, de participação acionária na Companhia Vale do Rio Doce.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/2003 - Página 38275
Assunto
Outros > POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • APOIO, OPERAÇÃO FINANCEIRA, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), AQUISIÇÃO, AÇÕES, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), OBJETIVO, PRESERVAÇÃO, INTERESSE, BRASIL, MERCADO INTERNACIONAL, SIDERURGIA, MINERAÇÃO, DETALHAMENTO, NEGOCIAÇÃO.
  • ELOGIO, GESTÃO, CARLOS LESSA, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), RECUPERAÇÃO, BANCO DE DESENVOLVIMENTO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje à tribuna para abordar um assunto sobre o qual já fiz ontem um pequeno comentário, em aparte ao Senador Saturnino Braga.

Trata-se da compra pelo BNDES de uma importante participação estratégica no capital da Companhia Vale do Rio Doce. Surgiram críticas e dúvidas com relação ao negócio, sua oportunidade e preço. Nesse quadro, busquei informações e esclarecimentos no BNDES e perante técnicos especializados.

E cheguei à conclusão de que a operação promovida pelo banco foi oportuna, atende aos objetivos do BNDES e representa movimentação importante que preserva os interesses estratégicos e soberanos do Brasil no mercado internacional de mineração e, principalmente, siderurgia.

Assim, observamos o seguinte com relação ao negócio, preço e posição estratégica do BNDES no setor:

1. O negócio:

O BNDES comprou DEZ POR CENTO do capital votante da VALEPAR, holding que controla a Vale do Rio Doce, por UM BILHÃO E QUINHENTOS MIL REAIS.

Essa participação equivale a DOIS VÍRGULA OITO POR CENTO do capital social da companhia e, somando com a posição que o banco já detinha, o BNDES será titular de SETE VÍRGULA OITO POR CENTO do capital da Vale.

O pacote de ações foi comprado do clube de investimentos criado pelos empregados da Vale, o InvestVale. Os demais acionistas são: Fundos de Pensão, liderados pela Previ (Banco do Brasil), mais o Bradesco, que é o principal acionista, o banco Opportunity e a japonesa Mitsui.

2. Preço:

O preço pago por ação foi de QUARENTA E SEIS VIRGULA CINQUENTA E SETE dólares, incluindo um ágio de TRÊS E MEIO POR CENTO sobre a cotação de mercado.

Preço esse que não pode ser considerado alto, se comparado com as estimativas de consultorias especializadas internacionais.

A empresa norte-americana Bear Steams calcula que cada ação da Vale pode alcançar hoje o preço de CINQUENTA E CINCO dólares.

Para o alemão Deustche Bank e a norte-americana Morgan Stanley, chegaria a CINQUENTA E TRÊS dólares.

Além disso, as ações da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) têm forte valorização no mercado. Desde o leilão de privatização da empresa, em 1997, quando lance vencedor embutia um ágio de SETENTA E SETE POR CENTO. 

E, três anos depois, o Bradesco e o Fundo Previ pagaram um preço médio por ação superior a CENTO E DEZ POR CENTO da cotação de mercado. 

Ainda para efeito de comparação: em agosto passado, o preço de cada ação, em negócio oferecido pela japonesa Mitsui ao Bradesco incorporava um ágio de VINTE E SEIS POR CENTO.

Portanto, um ágio de apenas TRÊS E MEIO POR CENTO está perfeitamente dentro da normalidade de operações dessa natureza e representou um excelente negócio para o país.

3. .Posição Estratégica:

Com a aquisição, o BNDES passa a deter uma participação estratégica de NOVE E MEIO POR CENTO no bloco de controle da Vale.

Obteve direito a mais duas cadeiras no Conselho, ampliando sua influência dentro do bloco de controle da empresa.

Pode, agora, decidir não apenas nas questões de mineração, mas, principalmente, na área de siderurgia. Internacionalmente, há uma expressiva movimentação nesse setor, com grandes empresas e países procurando se posicionar no mercado de forma competitiva. Daí, o interesse estratégico a médio e longo do BNDES, que poderá beneficiar a consolidação do setor siderúrgico nacional.

Na hipótese de vendas futuras dentro do bloco de controle da Vale do Rio Doce, envolvendo ou ameaçando a manutenção do controle da companhia por grupos nacionais, o BNDES, por força de acordo de acionistas, terá direito de preferência na aquisição.

4. Críticas

O BNDES vem sendo criticado por setores ligados a bancos e empresas de consultoria financeira estrangeiros, cujos interesses parecem contrariados.

Também no governo surgiram vozes discordantes, não tanto com relação ao negócio em si, mas com o efeito que por ventura tal operação pudesse vir a ter sobre s humores dos investidores externos.

Críticas e frases surgiram na imprensa atribuídas ao presidente da República, ainda não desmentidas.

Chama a atenção que o governo não venha em socorro do BNDES e de seu presidente, o professor e economista Carlos Lessa.

Afinal, ele vem traduzindo com perfeição a agenda do novo governo: inclusão social, com ampliação das operações de microcrédito; recuperação e ampliação da infra-estrutura; modernização e ampliação da estrutura produtiva, com oferta recorde de crédito para máquinas e equipamentos agrícolas; e promoção da exportação. É destacada a prioridade para ações de cunho social e que privilegiem a integração regional latino-americana.

Era de se esperar melhor tratamento ao presidente do banco e condutor dessa estratégia. Mas, o que se percebe, é um bombardeio de críticas desde o dia da sua posse.

Esquecem seus detratores do estado em que se encontrava o BNDES quando a atual administração assumiu. Pejorativamente denominado banco-hospital, socorria empresários falidos, premiando empreendimentos inviáveis e socializando os prejuízos.

O caso do frigorífico de Chapecó é emblemático.

Ao longo dos anos de 1995 a 2000, o grupo Chapecó, já em situação falimentar, realizou nove operações de crédito ou semelhantes junto ao BNDES. Dessas, quatro na gestão Luiz Carlos Mendonça de Barros.

O BNDES enterrou no frigorífico cerca de QUINHENTOS milhões de reais e, talvez, seja necessário ‘esquecer’ a dívida e realizar novo aporte para viabilizar o empreendimento, tendo em vista o problema social criado na região.

Assim, era o BNDES.

Hoje, surge quase um novo banco, considerando as reformas administrativas que consumiram dois meses, com enxugamento da diretoria e fim do desperdício.

Acredito no BNDES e em seu presidente. Vamos deixá-los trabalhar, na certeza de que o interesse do Brasil e dos brasileiros estará, agora, sim, em primeiro lugar.

5. Algumas palavras sobre Carlos Lessa. Conheço o Lessa. Graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e com doutorado na Unicamp, Lessa lecionou e trabalhou em diversas instituições e países.

Tem uma biblioteca com 20 mil volumes, uma das mais completas do país sobre história do Brasil. Escreveu 12 livros e, um deles, “Introdução à Economia - uma abordagem estruturalista”, em parceria com Antonio Barros de Castro, já está na 49a edição, sendo adotado em centros de estudos econômicos nacionais e estrangeiros.

Foi reitor da UFRJ, onde mantém sua cadeira de professor titular de economia do Instituto de Economia; e, diretor do Instituto de Filosofia da Unicamp. Já integrou os quadros do BNDES como diretor da área social, entre 1985 e 1989.

Mas, além desse perfil técnico invejável e de um sólido conhecimento na área em que atua, Lessa também possui outras qualidades. Sempre esteve ligado a nós, na resistência democrática, integrando o MDB de Ulysses. Conosco partilhou do sonho de um Brasil desenvolvido e justo socialmente, um país democrático e soberano.

Era o que tinha a dizer.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/2003 - Página 38275