Discurso durante a 170ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso dos 70 anos de existência do Sindicato dos Bancários do Pará e Amapá.

Autor
Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso dos 70 anos de existência do Sindicato dos Bancários do Pará e Amapá.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2003 - Página 38897
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, SINDICATO, BANCARIO, ESTADO DO PARA (PA), ESTADO DO AMAPA (AP), HISTORIA, CRIAÇÃO, EVOLUÇÃO, ATUAÇÃO, INDEPENDENCIA, AUTONOMIA, ENTIDADE, LUTA, DEMOCRACIA, PAIS, MELHORIA, SALARIO, CONDIÇÕES DE TRABALHO, CATEGORIA PROFISSIONAL.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com muita alegria que saúdo a passagem dos 70 anos de existência do Sindicato dos Bancários do Pará e Amapá, ocorrida no dia 24/11, ao qual com muito orgulho sou filiada e dentro dele construí grande parte da minha trajetória política.

Ao longo dos seus 70 anos de existência, a história do Sindicato dos Bancários confunde-se com a história do próprio Brasil, a partir da formação da teia do capitalismo contemporâneo. Produto da conjuntura política dos anos 30, o sindicalismo bancário surgiu e se firmou fomentando lutas históricas, concessões, conflitos e resistência ao longo das décadas.

A entidade sindical é a mais antiga da Amazônia, na área financeira, e uma das mais antigas do país, perdendo apenas para sindicatos como o de São Paulo, o maior e mais antigo do Brasil, com 80 anos de existência.

Em 1945, numa das primeiras greves nacionais dos bancários no país, o sindicato já unificava o antigo Banco da Borracha - hoje Banco da Amazônia - e o Banco do Brasil no movimento. Nesta greve a maior reivindicação era um salário base para categoria e esta greve colocou em cheque a estrutura sindical montada pelo governo Vargas no início dos anos trinta.

Foi com a união da categoria junto com outros sindicatos que fundaram o Comando Geral dos Trabalhadores, que nos anos sessenta lutaram pelas reformas de Base e durante o período da ditadura militar tiveram vários de seus dirigentes presos e torturados. No meu Estado, o Pará, havia um militante do PCB, Raimundo Jinkins, que era diretor do sindicato dos bancários e que foi demitido, preso e torturado pelos governos militares. Minhas lembranças sempre levam a ter uma referência neste velho comunista que sabia enfrentar a ditadura e que nos anos oitenta ainda estava na luta pela democratização do país.

O movimento sindical teve influência no processo que levou a democratização e hoje temos um presidente construído nestas lutas. O sindicato dos Bancários do Pará foi um espaço de exercício da democracia sindical e quando a oposição bancária, da qual eu fazia parte, tomou o sindicato, este veio a reforçar a CUT e junto com outros sindicatos no Brasil construímos um movimento sindical independente, autônomo e de luta.

Hoje, os bancários no Pará e Amapá somam mais de seis mil trabalhadores (mais de 60% sindicalizados), empregados em 16 bancos públicos privados, totalizando cerca de 400 agências e postos de atendimento bancário nos dois Estados.

São 70 anos de vida, 70 anos de lutas. O sindicato hoje avança na busca por recomposição de salários e em resolver problemas crônicos da categoria bancária, como melhores condições de trabalho e saúde, além da segurança. Para se ter uma idéia do problema, em 2002 foram registrados 25 assaltos em postos e agências bancárias da capital e do interior do Estado. Até o dia 14/11 último esse número já chegava a 29 ocorrências, ultrapassando as ocorrências do ano passado.

De acordo com as Comunicações de Acidente de Trabalho (CATs) registradas no setor de Saúde do Sindicato nos anos de 2002 e 2003, 166 trabalhadores bancários foram atingidos por ocorrências relacionadas ao trabalho, como Lesões por Esforço Repetitivo (LERs), assaltos, seqüestros e acidentes típicos do ambiente laboral.

Depois de oito anos de uma política neoliberal que arrochou salários e minou o poder de compra da categoria, bancários de todo o país uniram-se numa mobilização histórica e conseguiram unificar a campanha salarial nos bancos públicos e privados. Todos lembram que nesse período praticamente não houve recuperação das perdas. Nos demais anos as negociações esbarravam na intransigência dos dirigentes dos bancos, que não aceitavam nada além de zero por cento.

A campanha salarial de 2003 entrou para a história do movimento sindical brasileiro, mostrando que a categoria está unida e disposta a mudar sua realidade. Assentamos os alicerces que possibilitarão a unificação dos trabalhadores bancários na busca pela qualidade de vida e igualdade de direitos. Rompemos o isolamento e demos uma lição de cidadania. O ano de 2004 promete.

Com o acordo deste ano se pôs fim a esse muro que dividia a categoria em dois tipos de trabalhadores.

É preciso reconhecer o decisivo trabalho de organização das lideranças sindicais, que foram firmes e souberam mobilizar e manter os bancários unidos até a conquista do acordo.

A postura democrática do Governo Lula, mesmo com todas as dificuldades de um ano voltado para o ajuste fiscal, foi no sentido de reconhecer o direito dos trabalhadores e os dirigentes dos bancos que garantiram o mesmo referencial já conquistado pelos que trabalham nos bancos privados, sem necessidade de reprimir e humilhar ninguém, como era praxe até então.

Desejo que as conquistas de outubro sirvam de estímulo a todos os bancários que devem se empenhar para que essas instituições financeiras possam cumprir o seu verdadeiro papel, que é de obter lucros reais, se afastando cada vez mais da artificialidade provocada pela elevada taxa de juros, já que afinal o que a sociedade espera dos bancos é o financiamento da atividade produtiva, que resulta em benefício para toda a sociedade.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2003 - Página 38897