Pronunciamento de Arthur Virgílio em 25/11/2003
Discurso durante a 170ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Críticas à elevação de impostos. Comentários às matérias: "Perspectiva de 'PIB zero' assusta o governo" e "Desemprego em SP deve bater recorde em 2003, prevê Dieese".
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
TRIBUTOS.
ECONOMIA NACIONAL.:
- Críticas à elevação de impostos. Comentários às matérias: "Perspectiva de 'PIB zero' assusta o governo" e "Desemprego em SP deve bater recorde em 2003, prevê Dieese".
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/11/2003 - Página 38898
- Assunto
- Outros > TRIBUTOS. ECONOMIA NACIONAL.
- Indexação
-
- COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, ATUAÇÃO, CONTRADIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, CORREÇÃO, ALIQUOTA, IMPOSTO DE RENDA, INJUSTIÇA, AGRAVAÇÃO, ONUS, CONTRIBUINTE, APREENSÃO, GOVERNO, CRESCIMENTO ECONOMICO, RISCOS, REDUÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), AUMENTO, DESEMPREGO.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Governo petista do Presidente Lula arma-se de unhas e dentes e prepara um contra-ataque na questão das alíquotas do Imposto de Renda, na tentativa de anular o desejo do relator Antônio Cambraia, contrário à manutenção do percentual de 27,5%, atualmente em vigor e que deveria expirar em 31 de dezembro próximo.
A armadilha petista vem em forma de um pretenso reajuste nas tabelas do imposto, há muito reclamado pela sociedade. Na verdade, o que quer o Governo do Presidente Lula é, uma vez mais, jogar a conta nas costas do contribuinte brasileiro.
Essas observações estão no editorial da edição de ontem de O Estado de S. Paulo, intitulado “O pobre financia o Governo”. Segundo o importante jornal, o que há, da parte do Governo petista são “falácias e desfaçatez na cediça lengalenga para elevar impostos.”
Lembra o editorialista que “o imposto de renda deveria funcionar em bases correntes, isto é, o contribuinte pessoa física ou autônomo paga mensalmente uma quantia e, ao fim de 12 meses, faz a declaração de ajuste, que deveria se aproximar da importância efetivamente devida. Não é o que ocorre.”
O editorial do Estadão conclui exatamente ao contrário do que sustenta o Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para quem o Governo beneficia mais os ricos com os gastos sociais. “Para sustentar esse argumento, usa e abusa de argumentos falaciosos.” A verdade é outra, com o que pensa fazer o governo, “o pobre não está financiando o rico. Ele está financiando o governo.”
Por oportuno, requeiro que o editorial de O Estado de S. Paulo seja parte integrante deste pronunciamento e, assim, passe a constar dos Anais do Senado da República. A seguir o editorial, em sua íntegra:
O pobre financia o governo
Falácias e desfaçatez na cediça
Lengalenga para elevar os impostos.
Há dias, quando foi divulgado o estudo
“Gasto Social do Governo Central:
2001-2002” feito pelo Ministério da Fazenda,
advertimos que, por baixo do angu da
distribuição de renda e da redução das desigualdades
sociais, havia o caroço do aumento do Imposto
de Renda da Pessoa Física. Está em discussão
o projeto de lei que pretende restabelecer,
a partir de 1.º de janeiro de 2004, a alíquota
máxima de 27,5%. Se o Congresso não aprovar
esse projeto, antes do recesso, a alíquota voltará
a ser de 25% e a União, Estados e municípios terão
uma significativa perda de receita, pois os
três níveis de governo dividem o tributo.
Ocorre que o relator do projeto na Câmara,
deputado Antonio Cambraia, do PSDB, não
concorda com a prorrogação da alíquota de
27,5% e, para complicar ainda mais as coisas,
decidiu propor uma correção de 22,8% nas tabelas
de isenção e de desconto do Imposto de Renda.
Uma das técnicas usadas pelo Fisco para aumentar
a arrecadação do imposto, sem aumentar
as alíquotas, é congelar aquelas tabelas, o
que faz a inflação trabalhar contra o contribuinte.
Desta vez, o deputado Cambraia se adiantou,
mesmo sabendo que o ministro da Fazenda,
Antônio Palocci, pensa fazer uma reforma
no Imposto de Renda, pois - como mostra o documento
do seu ministério sobre gastos sociais -
acredita que o tributo é socialmente
regressivo, ou seja, beneficia
mais quem ganha mais.
Com as coisas nesse pé, o governo
está preparando o contra-ataque
que, se der resultado, jogará
sobre as costas da classe
média a compensação pelo aumento
do limite de isenção do
Imposto de Renda, que seria feita
com a redução das possibilidades
de deduções hoje permitidas,
como o abatimento das despesas
com educação e saúde. A conta é simples.
Se o limite de isenção for aumentado de
10% a 15% - correspondentes à inflação -, o governo
deixará de arrecadar algo em torno de
R$ 800 milhões. Mas, se a dedução das despesas
com educação for cancelada, o governo ganha
cerca de R$ 560 milhões. Acrescentando-se
as despesas com saúde e os descontos com
dependentes, essa quantia mais que duplica.
Para justificar essas idéias que germinam
no Ministério da Fazenda e na Secretaria
da Receita Federal, o governo usa e abusa
de argumentos falaciosos. O primeiro deles
é que não pode perder receita e, portanto,
deve compensar qualquer ampliação de
limites de isenção do Imposto de Renda.
Ora, dado o vulto dos gastos
públicos, a maneira correta
de compensar perdas de receita,
de um lado, não é o aumento
da arrecadação, de outro lado,
mas sim cortar despesas -
e disso não se ouve falar.
Além disso, a fórmula aventada
pelo governo não compensa,
mas aumenta receitas.
A regressividade social do Imposto
de Renda, tal como apresentada
pelo governo, é outra falácia.
Argumentam os funcionários que um
contribuinte que tem filhos na escola pública e
usa serviços do SUS tem desvantagem em relação
a outro que paga escola privada e tem plano
de saúde, pois o segundo pode abater suas
despesas e o primeiro, não. Pois, na realidade,
ocorre o contrário. O primeiro paga impostos e
recebe serviços.O segundo paga os mesmos impostos,
mas não usa os serviços públicos por
considerá-los insatisfatórios ou insuficientes -
o que, de fato, são -, daí pagar novamente, desta
vez para prestadores privados de serviços,
com isso aliviando a carga sobre os serviços públicos.
As deduções compensam, insuficientemente,
o contribuinte que financia um serviço
público que não vai usar.
Há mais. O Imposto de Renda deveria funcionar
em bases correntes, isto é, o contribuinte
pessoa física ou autônomo paga mensalmente
uma quantia e ao fim de 12 meses
faz a declaração de ajuste, que deveria se
aproximar da importância efetivamente devida.
Não é o que ocorre. As tabelas do Fisco
fazem o contribuinte pagar, mensalmente,
mais do que o realmente devido. Meses depois,
devolve o
que arrecadou a
mais. O último
lote de devoluções
do ano-base
de 2002, por
exemplo, deverá
fazer restituições
a cerca de 2
milhões de contribuintes
até o final do mês, se os recursos
em caixa do governo permitirem, como salientou
o secretário da Receita Federal. Ou
seja, além de pagar o que deve, o contribuinte
torna-se um financiador compulsório das
despesas do governo. Este ano, de cerca de 8
milhões de declarações, a Receita já liberou
cerca de 4,2 milhões com direito a restituição.
Como se vê, o pobre não está financiando
o rico. Ele está financiando o governo.”
Era o que tinha a dizer.