Discurso durante a 170ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à elevação de impostos. Comentários às matérias: "Perspectiva de 'PIB zero' assusta o governo" e "Desemprego em SP deve bater recorde em 2003, prevê Dieese".

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRIBUTOS. ECONOMIA NACIONAL.:
  • Críticas à elevação de impostos. Comentários às matérias: "Perspectiva de 'PIB zero' assusta o governo" e "Desemprego em SP deve bater recorde em 2003, prevê Dieese".
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2003 - Página 38898
Assunto
Outros > TRIBUTOS. ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, ATUAÇÃO, CONTRADIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, CORREÇÃO, ALIQUOTA, IMPOSTO DE RENDA, INJUSTIÇA, AGRAVAÇÃO, ONUS, CONTRIBUINTE, APREENSÃO, GOVERNO, CRESCIMENTO ECONOMICO, RISCOS, REDUÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), AUMENTO, DESEMPREGO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Governo petista do Presidente Lula arma-se de unhas e dentes e prepara um contra-ataque na questão das alíquotas do Imposto de Renda, na tentativa de anular o desejo do relator Antônio Cambraia, contrário à manutenção do percentual de 27,5%, atualmente em vigor e que deveria expirar em 31 de dezembro próximo.

A armadilha petista vem em forma de um pretenso reajuste nas tabelas do imposto, há muito reclamado pela sociedade. Na verdade, o que quer o Governo do Presidente Lula é, uma vez mais, jogar a conta nas costas do contribuinte brasileiro.

Essas observações estão no editorial da edição de ontem de O Estado de S. Paulo, intitulado “O pobre financia o Governo”. Segundo o importante jornal, o que há, da parte do Governo petista são “falácias e desfaçatez na cediça lengalenga para elevar impostos.”

Lembra o editorialista que “o imposto de renda deveria funcionar em bases correntes, isto é, o contribuinte pessoa física ou autônomo paga mensalmente uma quantia e, ao fim de 12 meses, faz a declaração de ajuste, que deveria se aproximar da importância efetivamente devida. Não é o que ocorre.”

O editorial do Estadão conclui exatamente ao contrário do que sustenta o Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para quem o Governo beneficia mais os ricos com os gastos sociais. “Para sustentar esse argumento, usa e abusa de argumentos falaciosos.” A verdade é outra, com o que pensa fazer o governo, “o pobre não está financiando o rico. Ele está financiando o governo.”

Por oportuno, requeiro que o editorial de O Estado de S. Paulo seja parte integrante deste pronunciamento e, assim, passe a constar dos Anais do Senado da República. A seguir o editorial, em sua íntegra:

            O pobre financia o governo

Falácias e desfaçatez na cediça

Lengalenga para elevar os impostos.

Há dias, quando foi divulgado o estudo

“Gasto Social do Governo Central:

2001-2002” feito pelo Ministério da Fazenda,

advertimos que, por baixo do angu da

distribuição de renda e da redução das desigualdades

sociais, havia o caroço do aumento do Imposto

de Renda da Pessoa Física. Está em discussão

o projeto de lei que pretende restabelecer,

a partir de 1.º de janeiro de 2004, a alíquota

máxima de 27,5%. Se o Congresso não aprovar

esse projeto, antes do recesso, a alíquota voltará

a ser de 25% e a União, Estados e municípios terão

uma significativa perda de receita, pois os

três níveis de governo dividem o tributo.

Ocorre que o relator do projeto na Câmara,

deputado Antonio Cambraia, do PSDB, não

concorda com a prorrogação da alíquota de

27,5% e, para complicar ainda mais as coisas,

decidiu propor uma correção de 22,8% nas tabelas

de isenção e de desconto do Imposto de Renda.

Uma das técnicas usadas pelo Fisco para aumentar

a arrecadação do imposto, sem aumentar

as alíquotas, é congelar aquelas tabelas, o

que faz a inflação trabalhar contra o contribuinte.

Desta vez, o deputado Cambraia se adiantou,

mesmo sabendo que o ministro da Fazenda,

Antônio Palocci, pensa fazer uma reforma

no Imposto de Renda, pois - como mostra o documento

do seu ministério sobre gastos sociais -

acredita que o tributo é socialmente

regressivo, ou seja, beneficia

mais quem ganha mais.

Com as coisas nesse pé, o governo

está preparando o contra-ataque

que, se der resultado, jogará

sobre as costas da classe

média a compensação pelo aumento

do limite de isenção do

Imposto de Renda, que seria feita

com a redução das possibilidades

de deduções hoje permitidas,

como o abatimento das despesas

com educação e saúde. A conta é simples.

Se o limite de isenção for aumentado de

10% a 15% - correspondentes à inflação -, o governo

deixará de arrecadar algo em torno de

R$ 800 milhões. Mas, se a dedução das despesas

com educação for cancelada, o governo ganha

cerca de R$ 560 milhões. Acrescentando-se

as despesas com saúde e os descontos com

dependentes, essa quantia mais que duplica.

Para justificar essas idéias que germinam

no Ministério da Fazenda e na Secretaria

da Receita Federal, o governo usa e abusa

de argumentos falaciosos. O primeiro deles

é que não pode perder receita e, portanto,

deve compensar qualquer ampliação de

limites de isenção do Imposto de Renda.

Ora, dado o vulto dos gastos

públicos, a maneira correta

de compensar perdas de receita,

de um lado, não é o aumento

da arrecadação, de outro lado,

mas sim cortar despesas -

e disso não se ouve falar.

Além disso, a fórmula aventada

pelo governo não compensa,

mas aumenta receitas.

A regressividade social do Imposto

de Renda, tal como apresentada

pelo governo, é outra falácia.

Argumentam os funcionários que um

contribuinte que tem filhos na escola pública e

usa serviços do SUS tem desvantagem em relação

a outro que paga escola privada e tem plano

de saúde, pois o segundo pode abater suas

despesas e o primeiro, não. Pois, na realidade,

ocorre o contrário. O primeiro paga impostos e

recebe serviços.O segundo paga os mesmos impostos,

mas não usa os serviços públicos por

considerá-los insatisfatórios ou insuficientes -

o que, de fato, são -, daí pagar novamente, desta

vez para prestadores privados de serviços,

com isso aliviando a carga sobre os serviços públicos.

As deduções compensam, insuficientemente,

o contribuinte que financia um serviço

público que não vai usar.

Há mais. O Imposto de Renda deveria funcionar

em bases correntes, isto é, o contribuinte

pessoa física ou autônomo paga mensalmente

uma quantia e ao fim de 12 meses

faz a declaração de ajuste, que deveria se

aproximar da importância efetivamente devida.

Não é o que ocorre. As tabelas do Fisco

fazem o contribuinte pagar, mensalmente,

mais do que o realmente devido. Meses depois,

devolve o

que arrecadou a

mais. O último

lote de devoluções

do ano-base

de 2002, por

exemplo, deverá

fazer restituições

a cerca de 2

milhões de contribuintes

até o final do mês, se os recursos

em caixa do governo permitirem, como salientou

o secretário da Receita Federal. Ou

seja, além de pagar o que deve, o contribuinte

torna-se um financiador compulsório das

despesas do governo. Este ano, de cerca de 8

milhões de declarações, a Receita já liberou

cerca de 4,2 milhões com direito a restituição.

Como se vê, o pobre não está financiando

o rico. Ele está financiando o governo.”

            Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2003 - Página 38898