Discurso durante a 173ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da solenidade de edição, pela Casa da Moeda do Brasil, de uma medalha comemorativa dos sessenta anos de independência do Líbano, e da emissão, pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, de um selo postal alusivo às relações diplomáticas e culturais Brasil-Líbano, destacando aspectos da história da imigração de libaneses para o País.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro da solenidade de edição, pela Casa da Moeda do Brasil, de uma medalha comemorativa dos sessenta anos de independência do Líbano, e da emissão, pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, de um selo postal alusivo às relações diplomáticas e culturais Brasil-Líbano, destacando aspectos da história da imigração de libaneses para o País.
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2003 - Página 39559
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • IMPORTANCIA, SOLENIDADE, EDIÇÃO, CASA DA MOEDA DO BRASIL (CMB), MEDALHA, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, INDEPENDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO, EMISSÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), SELO POSTAL, REFERENCIA, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, RECONHECIMENTO, CONTRIBUIÇÃO, IMIGRAÇÃO, FORMAÇÃO, BRASIL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recentemente, participei em São Paulo de uma solenidade para comemorar a edição, pela Casa da Moeda do Brasil, de uma Medalha Comemorativa dos Sessenta Anos de Independência do Líbano, e da emissão, pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, de um Selo Postal alusivo às Relações Diplomáticas e Culturais Brasil-Líbano.

Foram dois eventos da maior relevância que serviram para reafirmar, ainda mais, os profundos laços de amizade que unem nossos dois países.

No pronunciamento que lá fiz, inicialmente, eu me referi à recente passagem do primeiro-ministro libanês, Rafik Hariri, pelo Brasil. Aqui ele nos fez um relato impressionante do processo de reerguimento do Líbano. Mostrou a imensa capacidade de recuperação do povo libanês, que, saído de uma terrível guerra civil, reconstruiu suas cidades, entre elas Beirute, conhecida como a Paris do Oriente.

Na sua passagem pelo Brasil, o primeiro-ministro libanês convidou os empresários brasileiros a investirem no seu país, porque existem lá, hoje, grandes possibilidades de negócios.

O primeiro-ministro nos falou do notável Fundo de Solidariedade que existe por lá e que permitiu a fantástica reconstrução daquele país, um fato que vem chamando a atenção do mundo inteiro.

O primeiro-ministro Hariri fez questão de nos lembrar que o imperador Dom Pedro II esteve no Líbano e que lá conclamou os libaneses a emigrarem para o Brasil. O convite do imperador brasileiro foi aceito por milhares de libaneses que vieram e aqui ficaram suas raízes.

Agora, com muitos anos de atraso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai viajar ao Líbano. Fico extremamente feliz com essa viagem, que será da maior importância para os dois países. Estou certo de que, depois dela, os empresários brasileiros vão investir maciçamente no Líbano.

Estamos, agora, acho eu, às vésperas de apertar ainda mais as já muito estreitas ligações entre os nossos dois povos.

De certa forma, a medalha e o selo que foram lançados pelos Correios e pela Casa da Moeda são mais um reconhecimento aos libaneses e a seus descendentes pela sua imensa contribuição que deram à formação da nossa pátria.

Nós, descendentes de libaneses, somos hoje milhões de cidadãos distribuídos por todos os Estados brasileiros, mesmo nas regiões mais remotas. Fala-se que somos entre seis e nove milhões, enquanto a população do Líbano é de três milhões e meio de habitantes.

Com muito trabalho e muita dedicação, nós também retribuímos a generosa acolhida que tivemos nesta terra maravilhosa.

Tenho certeza de que os descendentes de libaneses estão entre aqueles brasileiros que mais se empenham para que este país continue a ser um oásis de confraternização e de paz e de generosidade em um mundo em que os radicalismos se fazem cada vez mais fortes.

Nossos ancestrais chegaram aqui quando este era um país rural, com estradas precárias, comércio incipiente e modesta industrialização. Nossa primeira e grande contribuição foi no comércio.

Em seus burricos abarrotados de mercadorias, os mascates libaneses ajudaram a integrar este imenso país, porque iam atender o homem humilde no mais remoto interior.

Como registram os historiadores, os libaneses e seus descendentes foram os imigrantes que mais rapidamente se integraram à nova pátria. A primeira geração nascida na terra logo ganhou espaço na cultura, nas artes, nas profissões liberais, na política. A nossa integração foi imediata e perfeita.

É inegável que, entre as jovens nações, o Brasil ocupa um lugar de destaque porque foi aqui que o caldeamento das mais diversas etnias se deu num clima de perfeita harmonia.

Aqui não há intolerância étnica, política ou religiosa, como se vê nos mais diversos cantos do planeta. Este é, sem dúvida, o maior mérito do Brasil, a maior qualidade do seu povo.

Com o avanço dos meios de transporte, o mundo ficou bem menor. Hoje em dia é relativamente fácil e barato viajar para qualquer canto da terra. Mas quando vinham para o Brasil, nas primeiras décadas o início do século passado, os imigrantes tinham de enfrentar cerca de vinte dias no mar, em embarcações precárias.

Hoje, é possível falar por telefone com praticamente todos os lugares da Terra. Mas, há setenta ou oitenta anos, os imigrantes tinham de deixar para trás seus familiares, sonhando por anos e anos com um reencontro que muitas vezes jamais iria se realizar.

O objetivo da maioria dos imigrantes, ao deixar o Líbano, era voltar depois à terra natal. No entanto, a verdade é que bem poucos tornaram a cruzar o oceano na viagem de retorno. A imensa maioria ficou na nova terra e por aqui constituiu sua família.

Muitas vezes fugidos da intolerância religiosa, os libaneses encontraram aqui uma cultura centrada na cordialidade. Tentando achar uma vida melhor, aqui puderam crescer junto com um país que avançava num ritmo vertiginoso.

Num artigo intitulado Líbano: jovem país de 6.000 anos, o escritor Mansour Challita diz “Nascido num território exíguo, mas animado das ambições mais vastas, o libanês sempre procurou estender as fronteiras da sua pátria aos confins da terra”.

A imigração libanesa para o Brasil, que começou de modo lento e gradual, nas últimas décadas do século dezenove, acelerou-se a partir de 1900. Em especial a partir de 1909, quando os otomanos passaram a recrutar para o serviço militar também os cidadãos católicos, fato que levou muitos libaneses maronitas à decisão de tentar a sorte na América.

É bem verdade que muitos desses imigrantes quase nada sabiam da nova terra. Muitos desconheciam a existência da América do Sul e da América do Norte. Conheciam apenas o Eldorado, a terra prometida pelos relatos românticos, onde correria leite e mel.

Sabe-se hoje que a grande maioria dos imigrantes não pensava em fixar-se na nova pátria. Queriam retornar ao Líbano. Mas sabe-se hoje também que muitos dos que regressaram ao Líbano acabaram por voltar ao Brasil.

Logo formou-se no Brasil uma imensa rede de relações familiares e interpessoais no interior da colônia libanesa, que estendia-se das principais capitais do país em direção ao interior.

Aquele que se radicava numa cidade maior logo colocava um parente ou um conterrâneo para trabalhar em cidades menores da vizinhança.

E assim os mascates foram seguindo pelas antigas estradas de mineradores e de tropeiros, como novos bandeirantes. Varavam as principais estradas do Brasil: Rio, São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul, Nordeste, Centro-Oeste, Amazônia. Todo o Brasil foi minuciosamente esquadrinhado por eles.

E, assim, hoje podemos comemorar esta imigração vitoriosa.

Antes de encerrar este pronunciamento, eu gostaria de agradecer ao brilhante trabalho da senhora Lody Brais, que comandou a comissão que organizou, no Brasil, as comemorações dos sessenta anos de independência do Líbano. A senhora Lody Brais tem se destacado na comunidade líbano-brasileira como uma das pessoas mais empenhadas em aproximar as duas nações e seus povos. Dona Lody tem organizado quase todas as visitas das grandes personalidades libanesas ao Brasil, em que se destaca a vinda do ex-presidente Amin Gemayel, em 1997.

Por fim, quero desejar paz e prosperidade para o Líbano que soube se reerguer dos escombros de uma terrível guerra. Queremos desejar paz e prosperidade também para que o nosso Brasil possa vencer a injustiça social.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2003 - Página 39559