Pronunciamento de Renan Calheiros em 04/11/2003
Discurso durante a 155ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem de pesar pelo falecimento da escritora Rachel de Queiroz.
- Autor
- Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
- Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem de pesar pelo falecimento da escritora Rachel de Queiroz.
- Publicação
- Publicação no DSF de 05/11/2003 - Página 35190
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, RACHEL DE QUEIROZ, ESCRITOR, ESTADO DO CEARA (CE), PERSONAGEM ILUSTRE, LITERATURA BRASILEIRA, PIONEIRO, REPRESENTAÇÃO, MULHER, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), IMPORTANCIA, OBRA LITERARIA.
O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Sem apanhamento taquigráfico.) -
A MORTE DE RACHEL DE QUEIROZ
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Rachel de Queiroz dizia que tinha preguiça de escrever e que não relia os seus livros porque ficava encabulada. Achava que sua obra estava longe do seu ideal de perfeição. E justificava: “Porque você sabe que a gente tem um ideal da perfeição e que a gente não chega a ele, não chega a ele e fica danada da vida porque não chegou àquilo que você queria fazer...”.
A grande professora, escritora, jornalista, cronista, teatróloga e tradutora Rachel de Queiroz era uma mulher modesta e, por isso, tratava com desprezo a vaidade excessiva: “A pessoa que faz uma idéia muito grande de si mesma, desconfie dela. É bom ficar sempre com um pé atrás”. Rachel de Queiroz era assim, modesta, humilde, se recusava a cultuar sua personalidade e, por isso, viveu na simplicidade, fazendo questão de preservar suas raízes.
A passagem dessa cearense, nordestina, brasileira, na madrugada desta terça-feira, em sua casa no Rio de Janeiro, quase aos 93 anos, é uma enorme perda para a literatura, para o jornalismo e para a política. Enfim, perde toda a Nação uma de suas filhas mais ilustres.
Sua obra, desde o magnífico e atualíssimo O Quinze, escrito por uma Rachel ainda menina, nos idos de 1930, passando pelo Caminho das Pedras, de 1937, As Três Marias, de 1939, até Memorial de Maria Moura, no auge de sua forma literária, publicado há pouco mais de dez anos, revelou uma cronista de linguagem viva e enxuta, capaz de retratar o cotidiano com perfeita visão social.
Rachel expôs sempre sua preocupação com o sofrimento dos nordestinos mais humildes, mas traçou também com muita propriedade o perfil psicológico do coronelismo que caracterizou a personalidade dos homens da região.
Primeira escritora a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977, Rachel quebrava assim um tabu e abria caminhos para a valorização das mulheres na literatura, nas artes, enfim na cultura brasileira.
É impossível não concordar com as palavras da escritora Nélida Piñon, que conviveu com a escritora cearense na Academia Brasileira de Letras: “a Rachel tinha uma visão abrangente e cosmopolita do Brasil. Há seres que são dotados com conhecimento formal e também com conhecimento vindo através do convívio com a vida e com as pessoas. Rachel tinha essa sabedoria”, disse a colega.
O Presidente da Academia Brasileira de Letras, Alberto da Costa e Silva, também se referiu a ela com muita propriedade: “Inovadora, ela seria toda a vida, na crônica, na literatura, no jornalismo. Rachel foi a mulher mais importante que o Brasil teve no Século XX. Ela abriu espaço para a mulher na literatura brasileira”, afirmou.
Como já disse, perdemos todos, o Brasil, o Nordeste, o Ceará. Cala-se uma voz que ao seu modo, escrevendo em livros, para jornais, teatro e televisão, trabalhou pelo reconhecimento e pelo engrandecimento de um País tão grande territorialmente, tão complexo cultural, política e socialmente, de tanta diversidade cultural, de imensas potencialidades naturais, mas ainda muito injusto.
É a homenagem que tinha a prestar a esta grande mulher, a esta grande alma que agora, certamente, se juntará a outros imortais.
Era o que tinha a dizer.
Muito obrigado.