Discurso durante a 180ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise do Estudo 99 do banco norte-americano Goldman Sachs que indica as quatro economias emergentes do mundo, Brasil, Rússia, Índia e China, que estarão em algumas décadas, ocupando o topo da economia mundial.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Análise do Estudo 99 do banco norte-americano Goldman Sachs que indica as quatro economias emergentes do mundo, Brasil, Rússia, Índia e China, que estarão em algumas décadas, ocupando o topo da economia mundial.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2003 - Página 40385
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, ESTUDO, BANCO ESTRANGEIRO, AVALIAÇÃO, ECONOMIA INTERNACIONAL, PREVISÃO, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, RUSSIA, INDIA, CHINA.
  • ANALISE, NECESSIDADE, AUMENTO, MANUTENÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, REDUÇÃO, DIVIDA PUBLICA, ABERTURA, COMERCIO EXTERIOR, INCENTIVO, POUPANÇA, MERCADO INTERNO, BUSCA, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o renomado banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs produz, periodicamente, estudos e prognósticos sobre a economia global. Em outubro deste ano, o banco concluiu mais uma dessas análises, com resultados surpreendentes e previsões, no mínimo, polêmicas.

Segundo o Estudo nº 99 do Goldman Sachs, as quatro principais economias emergentes do mundo - Brasil, Rússia, Índia e China - estarão, em algumas décadas, ocupando o topo da economia mundial, após desbancar medalhões como a Alemanha, a Inglaterra e a França.

O bloco formado pelas quatro nações emergentes - que o banco batizou de BRIC, a reunião das iniciais de cada um desses países - teria, já na década de 2040, um Produto Interno Bruto (PIB) superior ao PIB do G-6, grupo dos seis países mais ricos do mundo e que hoje se compõe de Estados Unidos, Japão, Alemanha, Inglaterra, França e Itália. Dos membros atuais, o G-6 de 2050 só preservaria os Estados Unidos e o Japão. Os demais já haveriam sido substituídos pelos membros do BRIC.

Em sua análise, o Goldman Sachs baseou-se em recentes projeções demográficas e num modelo de acumulação de capital e crescimento da produtividade. A partir desses dados, o banco estabeleceu os prováveis cenários econômicos globais até 2050, analisando, principalmente, três indicadores econômicos: as taxas de crescimento do PIB, a renda per capita e as movimentações de capital.

Os resultados, como já vimos, são surpreendentes. Tudo indica que a economia global, nas próximas décadas, sofrerá mudanças significativas. Segundo Dominic Wilson, um dos autores do estudo, haverá uma forte mudança no centro de gravidade econômica mundial.

Dos quatro países que compõem o BRIC, a China merece destaque. O surpreendente arranque de crescimento que o país vem sustentando há alguns anos, o gigantesco mercado consumidor interno e as abertas práticas comerciais são alguns dos elementos responsáveis pelas otimistas previsões do Goldman Sachs a respeito do maior país asiático.

O estudo do banco norte-americano prevê que, em pouco mais de dez anos, a China se tornará a segunda economia mundial. Em 2004, os chineses deixarão para trás os franceses. Em 2006, os ingleses serão ultrapassados. Em 2007, será a vez de os alemães ultrapassados. Por fim, em 2016, será a vez de os japoneses serem superados.

A Índia seguirá a China de perto na escalada das principais posições econômicas do mundo. De fato, as previsões são de que a economia indiana apresentará as maiores taxas de crescimento das próximas décadas, superando até mesmo os índices de seus vizinhos chineses.

Dos componentes do BRIC, o Brasil é o país com os indicadores de crescimento mais modestos. Em 2002, nosso PIB cresceu apenas 1,5%, ao passo que a economia russa cresceu 4,3%, o PIB indiano cresceu 4,9% e a economia chinesa cresceu impressionantes 8%.

Além disso, o Brasil possui características que ainda emperram o pleno desenvolvimento de seu potencial. As principais, segundo Dominic Wilson, são a elevada dívida brasileira, a baixa poupança interna e a tímida abertura comercial que neste Governo demonstra ser promissora. Somos superados, em todos esses quesitos, por nossos companheiros do BRIC.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no que nos diz respeito, o estudo do banco Goldman Sachs é extremamente auspicioso.

Embora seja a economia com as menores taxas de crescimento do BRIC, o Brasil tem tudo para estar entre as cinco maiores economias mundiais em 2050. Essa é a aposta do Goldman Sachs, que projetou, para nosso País, taxas de crescimento entre 2,7% e 4,2%.

É mister, contudo, que estejamos atentos às armadilhas e aos alertas intrinsecamente contidos em prognósticos dessa natureza.

É sabido que toda e qualquer predição carrega em si o risco da falibilidade. E a economia firmou-se, ao longo da história, como um ramo do conhecimento em que as previsões, muitas vezes, não são confiáveis, dado o imenso número de variáveis que influenciam o mais simples indicador econômico.

Com essa ressalva em mente, o próximo passo é buscar, nas entrelinhas do estudo em questão, os alertas que seus autores tentaram nos transmitir. O que está por trás dos bons prognósticos para o Brasil? Ao mesmo tempo em que comemoramos o resultado dos estudos do Goldman Sachs, precisamos também nos perguntar: que atitudes são necessárias para que as previsões do banco norte-americano se tornem realidade?

A primeira dessas atitudes é bastante óbvia: devemos sustentar taxas de crescimento razoáveis ao longo das próximas décadas. Como a expansão do PIB é um dos principais indicadores em que os analistas basearam suas previsões, um quadro de recessão certamente acabaria com nossas esperanças de figurar entre as grandes economias mundiais em 2050. Incrementar nossa taxa de crescimento e sustentá-la em patamares razoáveis, portanto, são pré-requisitos para que possamos acompanhar os demais países do BRIC.

Os três fatores que nos colocam na mais modesta das posições entre os componentes do BRIC também devem ser abordados com seriedade e energia. O elevado endividamento do País precisa ser reduzido; o comércio brasileiro precisa de mais abertura; e a poupança interna deve ser estimulada. As ações da equipe governamental devem pautar-se por essas preocupações e responder a essas demandas.

É reconfortante, nesse particular, observar que o Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tomado decisões que favorecem nossa permanência nos trilhos do desenvolvimento sustentável. Os exemplos mais evidentes são as reformas do Sistema Tributário Nacional e da Previdência Social, que a nosso ver deveriam atender às propostas de emendas que melhoram o texto encaminhado pelo Governo; a postura ativa que a diplomacia brasileira tem exibido nos foros de discussão da ALCA e em outras instâncias internacionais; a crescente racionalização dos gastos públicos, favorecida pela consolidação da Lei de Responsabilidade Fiscal; e a preocupação que o Governo do Presidente Lula tem demonstrado com a estabilidade macroeconômica do País.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, toda meta deve ter um propósito maior que a justifique. O crescimento de nosso Produto Interno Bruto não deve ser um fim em si mesmo, mas um meio para alcançarmos um objetivo mais nobre.

Para usar uma imagem bastante conhecida, de que adianta termos um bolo enorme, se as fatias desse bolo são distribuídas de forma desigual e injusta? Não faz o menor sentido lutar pelo crescimento da economia se não buscarmos, ao mesmo tempo, uma distribuição de renda mais racional no nosso País.

Que os auspiciosos prognósticos contidos no estudo do Goldman Sachs nos inspirem, portanto, a lutar pelo crescimento de nossa economia, sem que nos esqueçamos de que esse crescimento não é um fim em si, mas um meio para que alcancemos uma sociedade mais justa e mais fraterna.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2003 - Página 40385