Discurso durante a 186ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apologia da história do PMDB, destacando a realização da convenção do Partido no Piauí, ontem, oportunidade em que foi eleito o Senador Alberto Silva para a sua presidência naquele Estado.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Apologia da história do PMDB, destacando a realização da convenção do Partido no Piauí, ontem, oportunidade em que foi eleito o Senador Alberto Silva para a sua presidência naquele Estado.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2003 - Página 41268
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), LUTA, DEFESA, DEMOCRACIA.
  • REGISTRO, ELEIÇÃO, ALBERTO SILVA, SENADOR, PRESIDENCIA, DIRETORIO ESTADUAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ESTADO DO PIAUI (PI).
  • INDICAÇÃO, ALBERTO SILVA, SENADOR, CARGO PUBLICO, MINISTRO DE ESTADO, EXPECTATIVA, CONTRIBUIÇÃO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que acompanham esta sessão pelo sistema de comunicação do Senado Federal, quis Deus estar presente nesta sessão o Senador que é um símbolo da história que vou relatar aqui, sobre a luta do Partido que enriquece a democracia neste momento de grande seriedade para a política brasileira, o Senador Pedro Simon.

Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, o meu professor de cirurgia Mariano de Andrade dizia e eu repito: “a ignorância é audaciosa”. Essa frase é muito oportuna para o atual momento da política brasileira. A ignorância é audaciosa, Senador Alvaro Dias.

Na história do mundo, buscamos um sistema de governo melhor. E o povo, sofrido, esmagado, decepcionado e injustiçado pelos regimes, vai às ruas e grita: liberdade, igualdade e fraternidade. Liberdade, Senadora Ideli Salvatti, foi esse o anseio dos povos das Américas, onde um homem, igual a Pedro Simon, advogado, sintetizou: “governo do povo, pelo povo e para o povo” - Abraham Lincoln. Lá no meu Piauí - quis Deus que tivesse um grande representante, o Deputado Júlio César -, havia um professor, Wall Ferraz, que combateu as ditaduras e oligarquias, foi três vezes Prefeito da capital e um dos artífices da minha eleição. Aliás, ele me convidou para ser seu vice e disse que eu seria o melhor. Mas ele tinha sido massacrado pelas forças oligárquicas e eu fui para aventura, convidei até o Júlio César para ser meu vice, mas ele é muito rico, empresário, foi cuidar das suas fazendas. E não acreditou, como São Tomé. Aí, Deus e o povo me tornaram Governador do Piauí. Eu tinha três prefeitos contra 145, para resumir o quadro.

Esse professor do Piauí dizia: “a cidade é o povo”. Olhe a sabedoria, Senador Pedro Simon! E eu passei a cantar no Piauí como reza, como crença, “o povo é o poder”. Estamos aqui para ensinar ao Brasil, como o Piauí sempre fez. Na história da Independência, fomos os primeiros. Na República, também, com David Caldas, o profeta, votando em Rui em todas as passagens. Afastando o comunismo, porque Luis Carlos Prestes queria tomar Teresina para mudar a história. Prendemos seu companheiro Juarez Távora. Como está no hino:

Piauí, terra querida,

filha do sol do Equador (...)

O primeiro que luta é o Piauí.

E estou aqui chegando, para ensinar neste momento histórico: liberdade!

Minas Gerais, terra do Senador Hélio Costa, que acabou de falar e saiu, Minas de tradição, que grandeza tem? Está na bandeira. E ganhei esta comenda: Libertas quae sera tamen. É a liberdade. E nós temos esse compromisso. A experiência é assim, de tropeço. Tivemos duas saídas dessa liberdade, uma no tempo de Getúlio Vargas. Quis Deus estar aqui Antonio Carlos Magalhães, que sabe mais da história do que nós, porque fez parte dela. Graciliano Ramos deixou descrita para o Brasil, em seu livro Memórias do Cárcere, a ditadura civil que ocorreu no País. Está ali, injusta, perversa, arbitrária, mesmo com a bondade de Getúlio Vargas, que era um gaúcho generoso. Mas ditadura é ditadura. Agora, vimos destrinchada a ditadura militar, por Elio Gaspari.

Nós, brasileiros, não abrimos mão dessa conquista de aperfeiçoamento democrático, que é muito maior do que o entendimento do PT, que chegou ao Poder Executivo. Senador Pedro Simon, nós temos a ver com o PT. Afinal, o PT é um Partido da democracia. E a democracia começa com grito de liberdade, igualdade e fraternidade.

Antes disso, havia os filósofos. Os estudiosos da ciência buscam a verdade. Mas, se a verdade não é explicada e contada pela ciência, Senador Antonio Carlos Magalhães, os filósofos vão buscar. Pascal foi quem inventou a calculadora, filhote do computador. Descartes disse: “Penso, logo existo” e o mundo mudou com esse ensinamento filosófico.

É um direito intrínseco a liberdade de pensamento. Petrônio Portella, que passou por aqui - e passou bem - assim como todos os piauienses na história do Brasil, tinha uma linha de pensamento: só abdicava do pensamento quem não tinha mais o direito de existir.

Aqui, neste País, estão querendo retirar o direito de pensar, o direito à liberdade. Isso é contra os fundamentos da democracia. Temos que entender que o povo não entregou o País ao PT, Senador Antonio Carlos Magalhães. O Brasil entregou, pelo princípio democrático da divisão de poderes, estabelecido por Montesquieu, um Poder ao Presidente da República, em quem votei e levei muitas pessoas a votar.

Senador Alvaro Dias, o Brasil não tem essa crença no PT. Como somos como São Tomé, para crer precisamos ver resultados. Os Governos do PT, durante a história do Brasil, não nos levaram a essa crença. Estão aí os resultados, que nós conhecemos.

O Brasil entregou ao PT o Poder Executivo democraticamente. O povo é sábio, o povo é o poder. O povo dividiu. Aqui há apenas 11 Senadores do PT. Atentai bem: cabe a nós sustentar essa democracia, que é difícil mesmo. Na França, onde o povo começou com um grito de liberdade, igualdade e fraternidade também foi difícil governar. Foi preciso chegar um Napoleão, dar uma ajeitada no Código Civil - isso, 100 anos antes de nós.

A conquista é nossa. Atentai bem: aqui está o poder do povo. Aqui o povo mandou que dividíssemos o poder, mandou que controlássemos, que fizéssemos leis boas e justas.

Quis Deus que chegasse, nesse instante, o Líder desse Partido cuja história confunde-se com a história da democracia: o PMDB.

A nossa história, construída desde o libertas quae sera tamen, primeira palavra de liberdade nesses últimos anos, foi frustrada em 1964, com o regime militar. Evidentemente, buscaram criar dois partidos. Um, do governo, para efetivamente mandar; o outro para ser fiel à história democrática que vinha dos Estados Unidos, que possuíam apenas dois partidos. Esse partido começou a sonhar, a lutar, com o nascer da liberdade.

Ouvi nesta Casa, no primeiro dia, um discurso do Presidente José Sarney afirmando, Senador Papaléo Paes, que sem liberdade não há vida, mas sobrevida. O Partido que buscou essa liberdade foi o MDB. Quantas dificuldades!

E o nome? Vinte e quatro de março de 1966. Foi o Tancredo Neves, de novo com a sua inteligência, Senador Heráclito Fortes - ele venceu o Heráclito no nome. Venceu Heráclito não, porque Heráclito era símbolo de Ulysses, que era o amigo. Na hora da escolha do nome, ele disse que tinha de ter movimento e ação. De nada vale um planejamento que não se segue da ação. Ele se baseava no filósofo Spencer. Daí o nome Movimento Democrático. Esse nome foi uma vitória de Tancredo, que venceu os nomes sugeridos por Ulysses.

Mas eu quero lhe dizer que estive presente no mais importante momento da história que nasce do povo. Senador Mozarildo, V. Exª conhece o Rio de Janeiro e o Maracanãzinho. Havia aqueles concursos musicais de J. Silvestre. Deus me propiciou o momento mais importante do renascer da democracia. Eu estava lá, convidado por médicas, na finalíssima do concurso musical de J. Silvestre. Eu não sou bom entendedor de música, a Senadora Ideli Salvatti é uma grande conhecedora de música, até nos brindou com sua voz cantando algumas canções; outro grande talento musical é o nosso Senador Eduardo Suplicy, que está vivendo um suplício, mas já cantou aqui. Senador Heráclito, eu estava lá quando vi Tom Jobim. Sonho! Eu não tenho grande aptidão musical. Fiquei ouvindo. Aí surgiu um homem, com uma cadeira de madeira, diante daquela bela orquestra sinfônica com mais de 40 músicos, ele, com uma cadeira de pau e um violão disse: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber; quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Aí nasceu Caminhando, que fez caminhar os primeiros passos do povo brasileiro em busca da democracia. Aí nós cantávamos.

Na primeira eleição na ditadura, nos dois grandes Estados livres, os Governos eram simpáticos a Juscelino Kubitschek. O pai disse aqui tudinho. Cassado pelo PMDB, naquela cadeira de Minas Gerais, onde está Hélio Costa, Chagas Freitas e o Senador de Minas. Depois da eleição de Negrão de Lima, de Chagas Freitas e outros mineiros ligados a Juscelino, o Governo militar proibiu as eleições diretas. E vivemos em busca dessa liberdade.

Foi justamente nos anos 70 que - quando digo o povo é o poder - o povo manda para cá 16 Senadores eleitos de uma só vez, em vinte e poucos Estados. Naquele tempo, não haviam sido criados os Estados do Amapá, de V. Exª, Senador Papaléo Paes, do Acre, de Roraima, de Tocantins e do Mato Grosso do Sul. Sebastião Nery descreve tão bem as 16 derrotas que abalaram o Brasil. O regime ditatorial ficou e mandou para cá a forma mágica dos biônicos para compensar e manter o regime ditatorial. Mas o PMDB avança, sobretudo quando um homem da Arena, doente, com câncer - Deus lhe dá coragem -, sai do Partido do Governo e entra no MDB: é o Menestrel das Alagoas, que sensibilizou o País pela volta da democracia. Todos se lembram de Ulysses, o anticandidato, como uma oportunidade de levar ao País a mensagem da liberdade, do povo ter o direito de escolher os governantes, da anistia. É essa história do PMDB.

Nos minutos finais, queria dizer que essa história continua. Ontem, um dia dos mais importantes na nossa história, quando o PMDB, vindo de MDB...

E justamente aqui, quando mandaram mudar o nome por um artigo institucional, o AI-5, um Senador do Piauí, Marcos Freire, tinha uma faixa: “Estamos com João”. João era o Presidente Figueiredo. E as galerias abertas, como abrimos na votação da 67, que tanta desgraça já trouxe, e vamos melhorá-la. Marcos Freire olhava e dizia na ditadura: “Estamos com João”. Não o João do Planalto, não o João das estrebarias oficiais; mas o João que mora nas palafitas dos amazonas, os joãos dos mocambos do Nordeste, o João dos cortiços de São Paulo e das favelas do Rio de Janeiro, o João desempregado que ainda hoje está aí a proliferar. Esse é o PFL que ainda ontem fez uma convenção garantindo que a democracia vai continuar, garantindo que o nome liberdade, igualdade e fraternidade vai continuar, que a bandeira de Minas: libertas quae sera tamen continuará. E, nós no Piauí, tivemos o privilégio de eleger o nosso “Presidente” Alberto Silva, Senador. Eu sou seu companheiro de chapa.

Quero dizer o seguinte, Senador Renan Calheiros: Eu ouvi e ouço o povo, a base, o meu Partido, na convenção que era uma homenagem do povo do Piauí, a gratidão a Alberto Silva, que iniciou a sua política em 1948, e S. Exª simboliza justamente o que Shakespeare dizia: “Sabedoria é a somação de competência e experiência”. Eu vim trazer ao Presidente Renan Calheiros, ao Líder Renan, ao Presidente Michael Temer e ao Presidente Alberto Silva...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Concedo o aparte a V. Exª. Quero, aqui, manifestar que o Senador Heráclito Fortes foi um dos mais bravos líderes do PMDB. A vida de V. Exª foi revivida nos palcos da nossa sede, quando falaram que o maior discurso de sua vida foi quando V. Exª sofreu uma agressão em uma dessas campanhas que o PMDB daria a liberdade a este País.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Nobre Senador Mão Santa, é com muito prazer que aparteio V. Exª, depois de acompanhar essa aula de história recente do nosso País, com a qual V. Exª brinda todos nós. Mas eu não poderia deixar de aparteá-lo, pois V. Exª toca no coração. V. Exª falou sobre a convenção do meu querido PMDB, como disse V. Exª, Partido no qual vivi os melhores anos da minha carreira, onde comecei, exatamente, ao lado de Alberto Silva - que ontem foi reconduzido à Presidência para mais um período, tendo V. Exª como Vice-Presidente. Lamentavelmente, como é de praxe, de costume, não pude ontem comparecer à Convenção. Sabe muito bem V. Exª que era meu desejo e sabe também a gratidão que tenho pelo PMDB do Piauí, pela maneira como ele me tratou, como militante, em episódios recentes, como no caso do último pleito, em que obtive uma votação expressiva oriunda do PMDB. Portanto, aproveito para me congratular com o Senador Alberto Silva, reeleito Presidente; com V. Exª, Vice-Presidente, e com todos aqueles que compõem o Diretório do PMDB, resultado da eleição de ontem. Parabenizo, portanto, os peemedebistas piauienses e mando aqui o meu abraço carinhoso, afetivo e, acima de tudo, agradecido.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu quero dizer que V. Exª foi lembrado na convenção da assembléia, quando o Senador Alberto Silva era candidato a Senador, com um discurso tão influenciado por V. Exª, que a solenidade terminou com uma briga física. V. Exª foi um grande soldado do nosso MDB.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Em 1978, quando queriam tirar de S. Exª o direito de ser candidato ao Senado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, Eduardo Siqueira Campos, trago a voz do povo do Piauí ao Líder do PMDB, Senador Renan Calheiros - Senador Arthur Virgílio, ceda-me o Líder do nosso Partido por trinta segundos.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Uma vez que está sendo buscado o PMDB para ser a luz, que V. Exª se inspire no Apóstolo Tiago que disse que a “fé sem obra já nasce morta”. Esse Governo está precisando realizar obras. O Senador Alberto Silva é o maior realizador e empreendedor do nosso Partido. S. Exª foi duas vezes Prefeito da minha Cidade - foi melhor que eu; governou o Estado por duas vezes - melhor que eu; foi da EBTU e foi extraordinário; e foi do Pólo Nordeste.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Então, Senador Renan Calheiros, quero trazer aqui o apelo do Piauí no sentido de, para dar grandeza a este Governo, incluir o nome do Senador Alberto Silva para Ministro. Digo a V. Exª que isso será obediente à tradição do Piauí de ter grandes Ministros.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos)(Fazendo soar a campainha.) - A minha insistência em advertir V. Exª é apenas a advertência daqueles que estão inscritos para comunicações inadiáveis e que querem fazer uso do tempo. V. Exª sabe que a sessão de hoje é deliberativa. Portanto, a Mesa compreende, mas solicita a colaboração de V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço. Eu só queria um minuto para - como Juscelino ofereceu 50 anos em 5 -, em um minuto, oferecer uma luz para o PT ter uma pessoa que realize, que faça obra.

Eu vi todo o nosso Partido aclamar o Senador Alberto Silva como próximo Ministro nessa coligação, como uma esperança do progresso. Aqui está. Lembrem-se! Eu vi, minha gente, Petrônio conversando com Tancredo Neves. Se Deus quisesse, teria sido Petrônio o candidato da Arena e Tancredo, do PP, seria o seu vice, para ser o primeiro civil.

Então, essa é a passagem do Piauí no Governo. João Paulo Reis Veloso, que durante 15 anos foi a luz da ditadura, ao trazer o progresso no governo revolucionário. Novamente, o Piauí quer participar do governo, trazendo o respeitável Alberto Silva, que traduz aquilo que Shakespeare diz: competência e experiência. É um respeito àquele que, vamos dizer, está com a idade de maior experiência nesta Casa. Essas são as nossas palavras ao Brasil, dando tranqüilidade de que o PMDB é responsável pela liberdade da nossa democracia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2003 - Página 41268