Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à condução da política externa brasileira. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à condução da política externa brasileira. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/2003 - Página 41956
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DISCORDANCIA, ANALISE, DISCURSO, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR, ASSUNTO, POLITICA EXTERNA, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), EXCESSO, VALORIZAÇÃO, POSIÇÃO, BRASIL, AMBITO, POLITICA INTERNACIONAL.
  • QUESTIONAMENTO, DADOS, SUPERIORIDADE, EXPORTAÇÃO, REDUÇÃO, RISCOS, BRASIL, MERCADO INTERNACIONAL, COMPARAÇÃO, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador) - Sr. Presidente, é bom que fechemos o ano como começamos: com um debate altaneiro e franco entre Governo e Oposição nesta Casa.

O Líder Aloizio Mercadante vai à tribuna, no legítimo direito de defender o Governo de críticas feitas pelo Líder de um dos partidos de Oposição. Mas comete S. Exª equívocos conceituais, quando fala da soberania da política externa de hoje, que reputo ineficaz e contraproducente do ponto de vista econômico.Ele se esquece de Roberto de Pompeu de Toledo*, brilhante jornalista brasileiro, para quem é tão submissa a atitude de quem não faz uma viagem com medo dos Estados Unidos, quanto a atitude, também colonizada, daquele que faz uma viagem ineficaz só para mostrar que, supostamente, não teria medo dos Estados Unidos.

            E aí eu concordo com o Líder, não na dosagem, talvez não na exegese. Diz o Líder que é preciso que o Brasil trabalhe de acordo com o seu tamanho. E é precisamente essa uma das críticas que faço à política externa do Presidente Lula: ela superestima o Brasil, ela imagina um peso político não correspondente ao peso político verdadeiro deste País. Ela pensa que o Brasil é Rússia, é Índia ou China, e o Brasil não é Rússia, não é Índia, não é China. Não é Equador, não é Bahain, mas não é Índia, não é China, não é Rússia. É bom que o Presidente comece a pisar o chão duro da realidade e abandone a leveza etérea da fantasia.

Trocar princípios por produtos. Eu não peço que o Presidente troque princípios, seu Governo já tem trocado princípios demasiadamente. Agora, que produtos? Não foi visitar precisamente os dois Estados mais ricos e mais prósperos do Oriente Médio: Arábia Saudita e Israel. E existe uma frase antológica do Presidente. Ele diz assim: “Israel deve abandonar Golan imediatamente”. Consta, Senadora Heloísa Helena, Senador Jefferson Péres, que, até hoje, o Primeiro-Ministro israelense não dorme, com medo da ameaça feita pelo Presidente Lula.

Diz o Senador Mercadante: “Recorde em exportações”. Convido S. Exª a atualizar qualquer mês, do meio do ano passado para este, para vermos qual é o resultado, envolvendo, portanto, a participação nisso do Governo passado. E mais ainda: esse recorde, é bom que se diga, foi batido também porque há uma brutal compressão sobre a capacidade de consumo do brasileiro.

Diz o Senador Aloizio Mercadante: “Risco abaixo de 500”. Risco abaixo de 500 foi rotina no governo do Presidente Fernando Henrique, que chegou a ter 329, em determinado ano, de um dos seus oito anos de Governo.

Isso é muito pouco. O Brasil tem quase 50% a mais da média do risco dos países emergentes, ou seja, não dá para fazer mais esse joguinho estatístico, nem para taparmos o sol com a peneira.

Mercado árabe: o Presidente passa nove dias, numa hora crucial para o País, não visita os mercados mais afluentes do mundo árabe e faz uma espécie de turnê em que, entre outras coisas, constava o agradecimento - não sei a que título - ao ditador sanguinário Muammar Khadafi, da Líbia.

Fala o Governo em altivez, e já ouvi mais de mil vezes que o Presidente Bush telefonou para o Presidente Lula, o que é uma rotina de chefe de Estado. Quando se olha este fato com olhar provinciano, parece assim: “Puxa, estão vendo a importância do homem? Bush telefonou para ele”.

E aí o Senador Aloizio Mercadante - esse, talvez, é o reparo que faço com mais ênfase a sua fala - comparou o segundo Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu final, no final do primeiro ano do segundo Governo, com o primeiro ano deste Governo do Presidente Lula. S. Exª diz: “Quinze por cento de ‘bom’ e ‘ótimo’, vamos lembrar, ao fim daquela brutal crise cambial de 1999 - foi até uma marca muito boa. Mas a verdade é que, ao fim do primeiro ano do primeiro Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, Sua Excelência tinha uma aceitação bem superior - 44% - a essa que qualquer instituto registra para o Presidente Lula.

E mais ainda: desejo, de novo, Boas Festas ao Líder Aloizio Mercadante, Boas Festas ao Partido dos Trabalhadores, Boas Festas ao Presidente Lula e muita energia no Ano Novo, para que possam começar a realizar os sonhos e as promessas que fizeram para o povo brasileiro. E digo: do jeito que as coisas estão indo, não sei se vamos poder comparar o final do primeiro ano do segundo mandato do Presidente Fernando Henrique com algo parecido do Presidente Lula, porque ou ele resolve a equação administrativa, ou ficará nos seus quatro anos e dificilmente obterá a reeleição, com tantas promessas quebradas e com tanta ineficiência à vista de todos nós.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/12/2003 - Página 41956