Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre o aniversário de morte do ambientalista Chico Mendes. (como Líder)

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. HOMENAGEM.:
  • Reflexão sobre o aniversário de morte do ambientalista Chico Mendes. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 23/12/2003 - Página 42744
Assunto
Outros > SENADO. HOMENAGEM.
Indexação
  • ELOGIO, SENADOR, ESFORÇO, VOTAÇÃO, MATERIA, ESPECIFICAÇÃO, ORÇAMENTO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, CHICO MENDES, SERINGUEIRO, ECOLOGISTA, VITIMA, HOMICIDIO, MOTIVO, LIDERANÇA, DEFESA, MEIO AMBIENTE, REGIÃO AMAZONICA, NECESSIDADE, CONTINUAÇÃO, LUTA, SOLIDARIEDADE, MOBILIZAÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC).

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, primeiramente parabenizo a todos os Senadores pela determinação no cumprimento de suas responsabilidades constitucionais e parlamentares, num dia em que estamos dando um passo decisivo a favor da sociedade brasileira, ao votar matérias relevantes.

A Comissão de Orçamento do Congresso Nacional está reunida discutindo em profundidade, e atravessará a noite, num amplo debate sobre o Orçamento Geral da União para o ano de 2004.

Aproveito ainda este momento para trazer à lembrança e à reflexão, que deve ser sempre alimentada por todos, o aniversário de morte do grande líder ambientalista Chico Mendes. Lembramos, hoje, à sociedade brasileira e à comunidade internacional os quinze anos de tristeza que carregamos em razão da perda de Chico Mendes, brutalmente vitimado pela violência, por armas e balas covardes, que o atingiram e levaram a expectativa de uma liderança regional que indicava um horizonte totalmente inovador.

Contamos, hoje, para nossa honra e alegria, no Estado do Acre, com a presença de Dom Moacyr Grechi, Arcebispo do Acre e Rondônia; Dom Tomás Balduino; e mais quatro bispos da Amazônia Ocidental, partilhando uma reflexão de fé e política sobre o significado da passagem de Chico Mendes no cenário nacional e internacional.

Chico Mendes era um homem que afirmava, na simplicidade, profundas convicções a favor de um mundo novo, de um novo horizonte moral dos tempos, em que pudéssemos conciliar o respeito às sociedades humanas, às sociedades vegetais, às sociedades animais e a capacidade de uma convivência à altura da dignidade de todos. Algo inovador.

Nessa reflexão, fazemos um paralelo cristão e imaginamos o que significou a simplicidade de Chico Mendes. Era um homem que usava as roupas mais humildes, tinha uma maneira de ser e conviver com as pessoas a mais humilde, a maneira de tratar a política a mais humilde, mas sempre amparado na tese da honradez, do caráter e da afirmação de uma personalidade que pudesse fazer com que todos acreditassem naquilo que deveria ser o caminho da Amazônia brasileira.

A Amazônia pode, efetivamente, se afirmar como um portal do Brasil, como um grande corredor de um novo país no terceiro milênio. Basta que saibamos conciliar a inteligente utilização dos recursos naturais com um desenvolvimento à altura do desafio da utilização da biotecnologia, do grande patrimônio genético que temos e de uma inserção por meio da presença da Ciência no cenário amazônico. Não podemos repetir erros de devastação, de irracionalidade praticados por outras civilizações, outros povos e outros países. Chico Mendes trouxe esse alerta.

O Apóstolo Paulo falou de maneira muito inteligente e muito envolvente no campo emocional sobre o nascimento de Cristo. Jesus nasceu em uma época em que se imaginava que o símbolo do poder estaria nos grandes exércitos, nos grandes palácios, nas armas, reunindo os povos, os tribunos, as pessoas que faziam parte da estrutura de poder. Mas Cristo nasceu exatamente em uma manjedoura, um ambiente humilde, de muita simplicidade, simbolizando a expectativa de que a generosidade, o afeto e o respeito poderiam constituir um cenário de vida totalmente novo para todas as civilizações.

Esse tipo de afirmação de fé e de um novo modelo de sociedade perdura há três mil anos, em uma construção permanente e inacabada. E Chico Mendes, para nós, simboliza muito isso.

Hoje, o Governador Jorge Viana, a Ministra Marina Silva e várias lideranças regionais estão presentes nesse belo e forte ato de solidariedade a Chico Mendes. O Governo do Estado inaugura hoje a chamada Praça dos Povos da Floresta, para a qual uma grande escultora internacional, que pertence à causa ambientalista mundial, fez uma escultura maravilhosa de Chico Mendes, mostrando-o exatamente como ele era. Ele junto a uma criança, esta com o olhar para o futuro, com a certeza de um horizonte novo para a sociedade, e Chico reflexivo, com um ar de lamento e reflexão profunda.

Penso que o Brasil não pode deixar de refletir sobre a passagem de Chico Mendes no cenário político e de fé. O Brasil deve refletir muito sobre a presença de todas as organizações não-governamentais que assumiram, sobretudo após a morte de Chico Mendes, a decisão de cuidar do Brasil, de cuidar da nossa sociedade, de pensar um novo plano civilizatório para todas as nações.

É um exemplo o ato de hoje, reunindo o Governador Jorge Viana, nossos arcebispos, bispos, padres e líderes sindicais, tentando reunir a fé e a política numa reflexão à altura do que representa a entrada do Brasil e do mundo no século XXI.

Deve ser razão para reflexão de toda a sociedade brasileira e de toda a sociedade planetária.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/12/2003 - Página 42744