Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca da queda da popularidade do Presidente Lula. Necessidade de uma política de empregos mais eficaz.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE EMPREGO. DIVIDA EXTERNA.:
  • Comentários acerca da queda da popularidade do Presidente Lula. Necessidade de uma política de empregos mais eficaz.
Publicação
Publicação no DSF de 12/02/2004 - Página 3928
Assunto
Outros > POLITICA DE EMPREGO. DIVIDA EXTERNA.
Indexação
  • NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, PRIORIDADE, POLITICA DE EMPREGO.
  • COMENTARIO, REDUÇÃO, POPULARIDADE, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, GOVERNO BRASILEIRO, PAGAMENTO, DIVIDA EXTERNA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que assistem a esta sessão pelo sistema de comunicação do Senado Federal, lideranças do Piauí aqui presentes, serei breve.

Aguardei o findar desta sessão, para contestar as palavras de hoje do Vice-Líder do Governo, do meu Partido, professor Ney Suassuna, uma das nossas privilegiadas inteligências, que foi infeliz ao dizer, justificando o governo do PT, que governar é difícil. Ser bom ou mal, segundo Shakespeare, é uma interpretação. Se me mandarem fazer arroz ou feijão, será muito difícil, pois eu não sei. Governar é um ato antigo, iniciado em Atenas, com a civilização democrática. Governar vem do grego “navegar”. E Fernando Pessoa disse: “Navegar é preciso; viver não é preciso” Esse “preciso” significa precisão, competência para enfrentar as turbulências de uma navegação, a proeza mais difícil da época.

Retornemos aos dias de hoje. Carlos Lacerda disse que governar é fácil: é fazer com que se faça. Juscelino Kubitschek, médico e cirurgião como eu, disse que é cumprir metas, inspirado em Sêneca, o grego, o qual afirmou: “Enquanto o homem não souber para que porto quer ir, nenhum vento será o vento certo.” Átila, o rei dos Unos - não o nosso querido Deputado Federal Átila Lira, do PSDB -, disse que governar é premiar os bons e punir os maus.

Enfim, quero dizer que o Governo tem de se reencontrar. Como médico, afirmo que quis Deus que uma das maiores inteligências da ciência médica, Pinotti, fosse um grande líder, com perspectivas invejáveis na política de São Paulo e deste País. Senador Paulo Paim, nós, médicos, para aonde vamos, levamos a nossa formação profissional e fazemos o diagnóstico. O diagnóstico, Presidente Lula, está feito. E não é por meio da anamnese, dos exames físicos, laboratoriais, dos exames complementares. Na política, o que vale é a pesquisa, pois o diagnóstico está feito.

Darei a mais valorosa contribuição do PMDB que eu possa dar. Os outros, talvez, queiram outras coisas. Quero que encontrem o caminho, a verdade e a luz.

Qualquer pesquisa no Brasil diz que a principal doença deste País é o desemprego; depois, vêm a violência e a saúde pública. Governar é ter prioridades. Eu e o Pinotti temos prioridades a respeitar na realização de uma cirurgia. Se há uma apendicite aguda e um cálculo renal, há que se estabelecer uma prioridade, uma urgência. A nossa prioridade na política é o desemprego.

O núcleo do Governo Lula tem que ser mole, flexível, inteligente, encefálico, pois a dureza se quebra. Na cabeça, o que funciona é mole - sou professor de Anatomia e de Biologia.

Em uma homenagem ao Rio Grande do Sul de Pinheiro Machado, de Borges, de Alberto Pasqualini, de Getúlio Vargas, de João Goulart, de Pedro Simon, de Paulo Paim - em respeito à inteligência de V. Exª, que é o nosso Martin Luther King, pelos sonhos, lutas e conquistas dos mais fracos - trago o jornal Zero Hora.

Política de Emprego.

No primeiro ano do atual Governo Federal foram criados 645,43 mil postos de trabalho, 15,3% menos do que em 2002.

Como o caboclo diz: cresceu para baixo, como rabo de cavalo. E diz o jornal Zero Hora, do bravo povo gaúcho, simbolizado pelo Senador Paulo Paim:

O desemprego é hoje a maior chaga social do País e deve ser enfrentado com determinação.

            Senador Eduardo Suplicy, já vi freio em muitas coisas - caminhão, ônibus, avião, carroça, jumento, até em homem, colocado por mulher -, mas em queda política, no Piauí, não conhecemos esse freio. A popularidade presidencial caiu 18,3% em um ano.

Quando falamos em liderança, devemos nos lembrar que o exemplo maior é Cristo. E Cristo discursou bonito: “Bem-aventurados os mansos, os humildes, os que têm fome”. Senador Romeu Tuma, seguimos Cristo porque Ele fez obras. Isso é o que está faltando ao PT. O Apóstolo Tiago disse: “A fé sem obras é morta.” Essa é a causa da queda que eu adverti. Essa é a minha grande colaboração.

Brasil é o quarto colocado em gastos com juros.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Farei uma breve reflexão, com a coragem da gente do Piauí, que, numa batalha sangrenta, expulsamos portugueses e garantimos este Brasil grande, a unidade.

O jornal Folha de S.Paulo de hoje estampa que o Brasil é o quarto colocado em gastos com juros. De mais de 300 países, somente Jamaica, Turquia e Líbano estão piores do que nós.

Em relação ao Produto Interno Bruto - PIB, que significa a soma de toda a riqueza que produzimos em um ano -, gastamos, em 2003, mais de 8% apenas com juros. Foram R$145,2 bilhões, valor mais alto já registrado em toda a história do País.

Outros países emergentes, como México, Argentina, Espanha, África do Sul, não gastam mais de 3 ou 4% do PIB.

E o pior? O pior é que, apesar desse pagamento fabuloso de R$145,2 bilhões de juros, a dívida brasileira cresceu. Dá para entender?

E V. Exªs têm idéia do que significam R$145,2 bilhões em um único ano? Eu, que sou médico como o Ministro Antonio Palocci, sei pouco de número, de matemática. Esse valor de R$145,2 bilhões está turvo para mim, como está turvo para o Ministro Antonio Palocci. Está aqui presente o Dr. Pinotti, o maior símbolo da medicina moderna. E o médico entende de quê? Pressão 12 por 8, pulso 70, glicose acima de 200 pode matar o indivíduo. Então somos de poucos números. Portanto, este valor de R$145,2 bilhões eu, como médico, tenho dificuldade de entender, assim como o Ministro Antonio Palocci.

Esta soma - aí é que é importante, Senador Paulo Paim, a contribuição do PMDB, do Piauí para colocar o Brasil no rumo - é simplesmente a soma de todas as riquezas geradas no ano de 2003 nos seguintes Estados: Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará...

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Fazendo soar a campainha.) - Senador Mão Santa, concedi a V. Exª 100% a mais do seu tempo previsto.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É a generosidade do Rio Grande do Sul e espero que do PT também, a que V. Exª pertence.

Pois bem, também do Amapá, Tocantins, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Todo o trabalho realizado nesses 13 Estados durante o ano de 2003 foi para pagar os juros aos banqueiros. Essa é a dificuldade.

E a solução não é difícil. Bem perto, na Argentina, eles estão pagando menos, porque o Presidente teve a coragem para enfrentar os poderosos, assim como Juscelino Kubitschek teve. Ele rompeu com o Fundo Monetário, assim como fez Getúlio Vargas.

Esse é o tamanho da riqueza que jogamos no lixo todos os anos. É possível uma situação dessa?

Senador Duciomar Costa, tudo o que se produziu em 13 Estados - inclusive o seu Pará - serviu para pagar juros. E o grande culpado dessa terrível situação é a nossa taxa de juros. Ao fixarmos a Selic em valores muito altos tomamos o veneno de sermos obrigados a jogar nossas riquezas no lixo.

Essa é a nossa contribuição para que a Presidência da República ataque objetivamente o maior de nossos males, que é o desemprego, a fim de que possamos fazer a riqueza e a felicidade do povo do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/02/2004 - Página 3928