Discurso durante a 19ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a Medida Provisória 144, de 2003, que institui um novo modelo para o setor elétrico brasileiro.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Considerações sobre a Medida Provisória 144, de 2003, que institui um novo modelo para o setor elétrico brasileiro.
Aparteantes
Demóstenes Torres.
Publicação
Publicação no DSF de 13/02/2004 - Página 4027
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • DEBATE, PROJETO DE LEI DE CONVERSÃO (PLV), ALTERAÇÃO, MODELO, SISTEMA ELETRICO, IMPORTANCIA, GARANTIA, CRESCIMENTO ECONOMICO, BUSCA, FINANCIAMENTO, DIVERSIFICAÇÃO, MATRIZ ENERGETICA, REGULAMENTAÇÃO, INVESTIMENTO, INICIATIVA PRIVADA, TARIFAS, CONCORRENCIA, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, CONFIANÇA, SEGURANÇA, MERCADO.
  • JUSTIFICAÇÃO, MELHORIA, DEFINIÇÃO, LEGISLAÇÃO, PARCERIA, SETOR PUBLICO, INICIATIVA PRIVADA, INVESTIMENTO, ENERGIA ELETRICA.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está tramitando nesta Casa, vinda da Câmara dos Deputados, a Medida Provisória nº 144 - transformada em projeto de lei de conversão -, que trata da implantação de um novo modelo para o setor elétrico brasileiro. Nesta Casa, foi designado o ilustre Senador Delcídio Amaral para relatar a matéria, que, sem dúvida nenhuma, é de extraordinária importância para o futuro do País. Do desenvolvimento do setor elétrico dependem o crescimento da nossa economia, a prosperidade econômica e a melhoria das condições de vida da sociedade brasileira.

Somos um País, Srªs e Srs. Senadores, dotado de grande potencial para produzir energia elétrica de praticamente todas as formas conhecidas. Todavia, ainda está presente em nossas memórias a cena recente dos racionamentos e apagões. As grandes avenidas das nossas cidades, iluminadas a vapor de mercúrio, apagaram suas luzes, as indústrias reduziram dramaticamente a produção, as residências restringiram o conforto a que estavam acostumadas. A energia tornou-se um bem escasso, adiando uma vez mais o progresso econômico do País.

Ficou evidente que não fora apenas a falta de chuvas que condenou nossas hidrelétricas a lançarem menos quilowatts na imensa rede nacional de linhas de transmissão. Era o modelo de financiamento do setor elétrico e a forma como este estava organizado que não respondia mais às necessidades do País. O Brasil se modernizara, não era o mesmo que assistira ao nascimento da Eletrobrás e ao aproveitamento dos nossos rios, fontes quase inesgotáveis de geração de energia elétrica.

O balanço energético brasileiro e a nossa matriz hidrelétrica dão sinais de que avançamos rumo à diversificação das fontes geradoras. Usinas nucleares foram colocadas em operação, boa parte do território nacional está cortado de gasodutos, e as usinas térmicas proliferam para dar suporte às regiões de maior consumo. São conhecidos e festejados os êxitos na engenharia brasileira na lavra do petróleo, tanto em terra como na plataforma continental.

Podemos proclamar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que alcançamos um estágio avançado e que o modelo que adotamos chegou ao seu fim. De fato, o estrangulamento a que fomos conduzidos, graças ao crescimento econômico nacional, carece de um novo modelo, capaz de decifrar incógnita e de abrir caminhos para a inserção do nosso País nas formas modernas de desenvolvimento. Não somos uma ilha isolada no mundo, mas uma grande Nação em busca do seu destino de grandeza, o qual incorpora o crescimento econômico, conduzido com instrumentos eficazes e voltado para a superação do atraso científico e da miséria social.

Acerta, pois, o Governo, quando reconhece a necessidade de reformular o modelo com que está organizado o setor elétrico. Em que pese a discussão que em torno da Medida Provisória nº 144 se estabeleceu, segundo a qual ela desafia restrições constitucionais, especialmente a que ressalta do art. 246 da Magna Carta, a medida atende a um anseio nacional.

É de fato imperativo dotar o setor elétrico de um conjunto de regras que permitam o investimento privado, a modicidade das tarifas de energia e a saudável concorrência entre os agentes que a compõem.

A energia elétrica constitui-se num investimento de longa maturação. Da pedra fundamental de uma usina até que ela acenda a primeira lâmpada ou mova no chão da fábrica a primeira máquina, demanda não apenas tempo, mas massivos investimentos em capital e recursos humanos. Há ainda as ações exigidas, sempre de difícil execução, para assegurar a proteção do meio ambiente, seja em razão da rígida localização das hidrelétricas, seja com relação à implantação de uma usina térmica, que também se reveste de restrições ambientais.

Sr. Presidente, trata-se de investimentos para quem quer se comprometer com o futuro do País, pois demandam a segurança das leis e não podem dispensar a regularidade dos mercados. Não se trata de investimentos que possam ficar submissos à vontade discricionária do Ministro do dia ou das oscilações livres do mercado, isento de marcos regulatórios. As leis, numa economia estável e numa Nação politicamente sólida, têm o condão de gerar confiança e reduzir os riscos. Um país não pode atrair, Srªs e Srs. Senadores, investidores para atividades permanentes se as suas leis são provisórias. Não se é capaz de ampliar os negócios privados se o Estado ultrapassa os limites do seu poder de regular.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN) - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senador Garibaldi Alves, V. Exª faz um pronunciamento de profunda lucidez. Embora sendo membro da Bancada do Governo, Senador absolutamente respeitado, que com freqüência ocupa a tribuna para defender os atos governamentais, V. Exª faz agora um pronunciamento em favor do Brasil, como sempre fez, aliás. É óbvio que essa medida provisória referente ao setor elétrico está criando uma série de dificuldades para o Brasil, especialmente nesse ponto que V. Exª ataca. O fato de serem suprimidas as atribuições do Congresso Nacional, deixando-as ao alvedrio do Ministro de plantão no Ministério das Minas e Energia - hoje, a Ministra Dilma Rousseff -, é algo extremamente temerário. Isso é óbvio. Quem vai querer investir num País em que a norma está na cabeça do Ministro? Isso não existe. Quero crer que, daqui para terça-feira, prazo estabelecido e acordado para se votar essa medida provisória, vamos encontrar um caminho, mesmo porque, se não o fizermos, o Supremo Tribunal Federal vai fazê-lo. Não há qualquer regra que possa ficar implícita num País em que o mercado tem de ditar a norma, num País em que é preciso que haja um investimento sistemático da ordem de R$20 bilhões para que não haja novos apagões. É uma temeridade e uma infantilidade dos setores do Governo insistirem nessa demanda. V. Exª, com a característica que lhe é peculiar, faz um belíssimo pronunciamento em favor dessa Nação. Muito obrigado.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN) - Sou eu que agradeço a V. Exª, Senador Demóstenes Torres, pelo aparte, que se soma ao meu discurso enriquecendo-o.

Peço atenção justamente para o fato de que estamos numa encruzilhada e precisamos realmente mudar o modelo, fazer avançar a expansão energética, mas não podemos submeter essas necessidades apenas à decisão governamental. Temos que legislar, mudar o mercado, voltados para os destinos e os anseios da Nação brasileira. Não podemos ficar presos a um momento vivido. Temos que voltar os nossos olhos para o futuro. Daí por que agradeço a intervenção do Senador Demóstenes Torres.

Continuo salientando esses princípios para colocar em evidência uma regra a que não pode escapar a lei que pretende regulamentar o setor elétrico. Temos que conferir o máximo de segurança ao investidor privado, a fim de que ele não compareça, no futuro, perante o Governo, para justificar seus fracassos como consectário das constantes mudanças da regra do jogo, impostas pelo excessivo poder regulamentador do Estado.

A estabilidade das regras é tão importante quanto a estabilidade da moeda o é para a economia de um país. Dela não pode prescindir o Estado nem o ente privado; afinal, para realizar os investimentos necessários ao fornecimento de energia elétrica, o País, como disse o Senador Demóstenes, terá que despender cerca de R$20 bilhões a cada ano, dos quais, na melhor das hipóteses, o setor público conseguirá investir apenas R$9 bilhões. Dos R$20 bilhões, o setor público investirá apenas R$9 bilhões, cabendo o restante à iniciativa privada.

O suprimento de energia elétrica para atender ao crescimento médio da demanda será superior a 3 mil MW (megawatts). Para dar conta desse desafio sem desfigurar, Sr. Presidente, os programas em que o Governo está envolvido, entre eles a revolução educacional, a eliminação da fome e a melhoria da saúde do povo brasileiro, é imprescindível a parceria entre o setor público e a iniciativa privada.

Essa parceira, prevista na medida provisória a ser apreciada provavelmente na terça-feira por esta Casa, precisa ser melhor definida e sua eficácia dependerá do cenário criado pela lei reguladora. Não poderá ele ser restritivo, a ponto de inibir os investimentos, nem permissivo, a ponto de onerar com tarifas desmesuradas os consumidores industrias e residenciais por este País afora.

Conclamo, Sr. Presidente, o ilustre Relator, Senador Delcídio, e os membros desta Casa a um exame mais acurado dessa medida, que, sem deixar de ser meritória, está ensejando uma atitude transformadora que desperte mais confiança nos investidores, mais garantias aos diferentes agentes e expectativas mais condizentes com as aspirações dos consumidores de energia elétrica no nosso País. Quando todos se unem para questionar a medida provisória, diz a prudência que ao Governo, a quem ninguém poderá furtar o mérito da iniciativa, compete organizar as vontades, e à sociedade nacional, ávida por uma solução adequada, compete apresentar suas legítimas aspirações.

Negociar esse contencioso é o papel desta Casa, como disse há pouco o Senador Demóstenes, representada pelo Senador Delcídio Amaral, cuja experiência e conhecimento da matéria asseguram a todos nós, Senadores, que estamos caminhando para um desfecho do qual a Nação se beneficiará.

Por fim, digo aos Senadores e Senadoras que, neste momento, é imperiosa a necessidade de visualizarmos o interesse maior do consumidor brasileiro, seja ele da pequena ou grande indústria, das grandes lojas e magazines ou das pequenas residências. Importa nesta hora, Sr. Presidente, que se aprove um modelo para o setor elétrico que permita reduzir custos, ampliar investimentos, facilitar e tornar mais séria a concorrência, melhorando a oferta de energia e oferecendo ao consumidor a garantia de que esse setor caminha com equilíbrio e segurança, expressando, de forma nítida, clara, o anseio nacional.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/02/2004 - Página 4027