Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da instalação da CPI do caso Waldomiro Diniz, questionando o posicionamento do PT sobre o assunto. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Defesa da instalação da CPI do caso Waldomiro Diniz, questionando o posicionamento do PT sobre o assunto. (como Líder)
Aparteantes
Almeida Lima, Arthur Virgílio, Jorge Bornhausen, Sergio Guerra.
Publicação
Publicação no DSF de 18/02/2004 - Página 4685
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, DEMORA, DECISÃO, GOVERNO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, EX SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na semana passada encontrava-me na Espanha, ao lado de companheiros de partido, participando da reunião anual da Internacional Demócrata de Centro Reformista. A entidade internacional reúne partidos democratas cristãos de centro de mais de cem países e é presidida, no plano internacional, pelo Primeiro Ministro da Espanha, José María Aznar, um ícone na condução de governo, com posições marcadamente de centro, defensor da livre iniciativa, defensor de causas sociais, de proteção aos excluídos, defensor de uma doutrina que o PFL esposa por inteiro.

Assisti à reeleição do Presidente Aznar para a Presidência da IDC e tive a alegria de ver o Presidente do meu Partido, que acompanhei nessa viagem, Senador Jorge Bornhausen, reeleito Primeiro Vice-Presidente dessa entidade internacional. A IDC fala para o mundo, é composta por mais ou menos cem partidos de países diferentes, verbaliza opiniões respeitadas de governos que vão bem, como Espanha, Portugal, Dinamarca, México - o PAM é o nosso coligado da república mexicana - e muitos países do mundo.

Pois muito bem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encontrava-me em Madri, participando dessa reunião, quando, na sexta-feira, chegaram notícias de que havia no Brasil ocorrido um fato político da maior gravidade. Havia sido divulgada por uma edição extraordinária ou antecipada de uma revista de circulação nacional, um semanário, gravações com reprodução de um vídeo que traduzia ou transmitia à opinião pública a conversa de um alto funcionário do Governo Federal, com gabinete no Palácio do Planalto, com um bicheiro, um homem de má fama, de conduta supostamente reprovável.

Mandaram-me por fax, Senadora Heloísa Helena, uma cópia de má qualidade da matéria, que li com dificuldade. Já me causou espécie a leitura dos termos em que o então alto funcionário do serviço público federal, à época Presidente da Loterj, no Rio de Janeiro, discutia com um meliante, suposto homem de má fama, assuntos que envolviam o interesse público.

Instado pela imprensa brasileira a respeito da idéia do Senador Antero Paes de Barros de instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, prudente, a distância, respondi que entendia o assunto que eu havia lido gravíssimo, mas que, de tão grave, esperava que o Governo fornecesse explicações convincentes.

Senador Geraldo Mesquita, causou-me espécie o que li na cópia de má qualidade que recebi. Mas era um assunto tão grave e tão rude que pensei não ser possível um governo que se diz guardião da ética não possuir respostas convincentes para encerrar o assunto. Portanto, eu me reservo o direito de aguardar com prudência e com responsabilidade - fazendo oposição com responsabilidade -, a manifestação do Governo para, aí sim, dizer se assino ou não o requerimento para a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito. Até porque o Governo dizia já haver tomado iniciativas, o que é sua obrigação.

Voltando ao Brasil, tive a oportunidade de me inteirar melhor dos fatos, de conhecer os detalhes do diálogo com mais profundidade. E pude perceber, Senador Arthur Virgílio, conversando com as pessoas, que o que eu havia lido na viagem da Espanha para o Brasil, com lente de aumento, causou impacto no sentimento da sociedade brasileira.

Não estamos, Senadores Arthur Virgílio, Antonio Carlos Magalhães e Efraim Morais, diante de um fato normal, mas sim de um fato que está merecendo as manchetes dos jornais do Brasil há vários dias. Mas, mais do que isso, o que li na viagem de Madri para o Brasil foi no jornal El País, sobre o qual o brasileiro se habituou a ouvir falar, porque é um jornal referido todo dia pelo Bom Dia Brasil, que lê as manchetes dos jornais mais importantes do mundo: The New York Times, Le Monde, Le Figaro, El País. O El País, na edição de domingo - viajei de domingo para segunda para o Brasil - dedicou a página 7 inteira ao assunto, numa matéria que o editor publica com o título “Lula destitui um alto funcionário brasileiro por um escândalo de corrupção. Ponto para o Presidente”. Esta foi a leitura que o editor fez da longa matéria feita pelo Sr. Juan Arias, do Rio de Janeiro para Madrid. Mas, em seguida, o editor escreve: “o PT recebeu dinheiro das apostas ilegais”. É a conclusão a que o jornal chega. Esse jornal tem circulação pela Europa toda.

Esse fato me despertou a brasilidade. Referia-me ao impacto que eu percebia na sociedade em função da rudeza dos fatos denunciados. Quem lê o jornal Folha de S.Paulo de hoje vê a repercussão internacional do fato que está contido na fita de vídeo reproduzida pela revista Época, que indignou a sociedade brasileira e está revoltando o mundo, que pede explicações.

Registrem-se as manchetes de alguns jornais. Le Monde, o principal jornal da República Francesa: “Imagem de Lula sofre um golpe”. BBC, de Londres: “Assessor sacado após denúncias” - sacado significa destituído. The New York Times, o mais importante jornal americano, pelo menos de Nova York: “Fita da propina ameaça PT”. Financial Times: “Caso de propina afeta o governo”. The Washington Post, o principal jornal da capital americana: “Lula enfrenta o primeiro escândalo”. El País: “Petista demite funcionário” - não fala na segunda manchete que acabei de ler, atribuindo ao PT o recebimento de dinheiro ilegal de apostas. El Clarín, da vizinha Buenos Aires: “Um duro golpe no Governo Lula”.

Está aí a repercussão internacional do fato que, repito, causou impacto na sociedade brasileira e está causando inquietação aos investidores no plano internacional.

Venho à tribuna para declarar a minha posição pessoal. Quando aqui cheguei, instado por jornalistas, eu disse que aguardava 48 horas para que o Governo se manifestasse, para que os Ministros e as lideranças envolvidas se manifestassem com esclarecimentos convincentes.

Na entrevista que concedeu ontem, o Ministro José Dirceu me pareceu colocar a poeira debaixo do tapete. Disse que o assunto tinha ocorrido em 2002 e que era um assunto estanque. Hoje o PT se reúne e decide que não evoluirá para assinar o pedido de instauração da CPI do Sr. Waldomiro Diniz, a menos que se misturem, nessa mesma comissão, vários assuntos, casos pretéritos, já debatidos, assuntos sobre os quais já houve muito esclarecimento.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu aguardava, com expectativa favorável, esclarecimentos, porque o fato contido na fita é tão contundente, que eu esperava um desmentido cabal com fatos concretos. Como isso não aconteceu, venho declarar o meu sentimento. Não me julgo um homem radical. A vida inteira fui um moderado, procurei pautar minhas atitudes com equilíbrio. Dei a mim mesmo um prazo de 48 horas para me manifestar, esperando que o Governo tivesse explicações convincentes. Não houve explicação nenhuma, e o Governo assume a atitude de colocar uma cortina de fumaça, separando o fato que se impõe esclarecer de fatos pretéritos, como se quisesse misturar muitos fatos para esconder o principal.

Estamos diante de uma crise política, de um grave problema político, que inquieta a sociedade brasileira e causa inquietação ao mundo e aos investidores, de quem necessitamos.

A minha posição está tomada. Não tenho o direito de deixar de entender que o Poder Executivo, a quem cabe a responsabilidade de promover os esclarecimentos e tomar as atitudes, que já tomou, deve fazer a sua parte, mas estamos diante de uma crise política, e o Congresso tem a obrigação de se manifestar, não podendo se omitir diante da inquietação da sociedade brasileira.

Fui à rua hoje e encontrei pessoas que me cobraram uma posição. Pessoas que não sei quem são. Um, que deve ser advogado, porque estava com o emblema da OAB na lapela, me disse: “Eles, quando eram Oposição, por qualquer coisa queriam CPI; agora, com esse fato gravíssimo...”.

Senador César Borges, a pessoa que pediu 1% para si próprio e dinheiro para financiamento da campanha de Rosinha e de Benedita não era um pilantra, mas um funcionário público federal, com gabinete no Palácio do Planalto. É isto que causa indignação: trata-se de uma pessoa a quem se entregou a autoridade, a chancela e o direito de usar na lapela o emblema do Palácio do Planalto.

Quantos Waldomiros, Senador Sérgio Cabral, ainda existem neste Governo?

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador José Agripino, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Aguarde um instante, que já lhe concederei um aparte, com o maior prazer, Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Almeida Lima (PDT - SE) - Senador José Agripino, da mesma forma, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Com o maior prazer, Senador Almeida Lima.

O Sr. Jorge Bornhausen (PFL - SC) - Eminente Líder, Senador José Agripino, eu gostaria também de ter tal oportunidade.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Com o maior prazer, Senador Jorge Bornhausen, Presidente do meu Partido.

Senador César Borges, dizem que o fato ocorreu em 2002. Em 2003 já se fala de tráfico de influência do funcionário com o emblema do Palácio do Planalto na lapela, agindo em nome de interesses escusos junto à Caixa Econômica Federal. Esse fato está esclarecido?

Há outro fato: o Sr. Waldomiro Diniz foi demitido ou pediu demissão?

            Tenho aqui o Diário Oficial da União do dia 13 de fevereiro de 2004, Seção 2, Atos do Poder Executivo:

SECRETARIA DE COORDENAÇÃO POLÍTICA

E ASSUNTOS INSTITUCIONAIS

DECRETO DE 13 DE FEVEREIRO DE 2004

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso XXV, da Constituição, resolve

EXONERAR, a pedido,

WALDOMIRO DINIZ DA SILVA (...)

Repito: “exonerar, a pedido”. O Governo não o demitiu.

Senador César Borges, esse cidadão foi demitido a pedido. Não consigo ficar em paz com minha consciência e não consigo olhar com tranqüilidade o cidadão na rua que me cobra providência como membro do Parlamento brasileiro, porque alguém que exerça função importante no Palácio do Planalto, com cargo de DAS, passa pelo crivo da Abin - Agência Brasileira de Investigação, que possui um dossiê sobre cada cidadão. E o Sr. Waldomiro Diniz tinha ficha que não era boa, que não recomendava a sua nomeação.

Então, como se justifica a sua nomeação? Há fatos da maior gravidade. O Sr. Waldomiro estava encarapitado no Palácio do Planalto; o PT conhecia seu comportamento, já sabia quem era. Ele é amigo do Ministro José Dirceu há dez anos.

Todos têm o direito de ter amigos bons e ruins, mas chega a hora, Senador Arthur Virgílio, de se descartarem os ruins. Não sei se dez anos de convivência foram suficientes para que o Ministro José Dirceu conhecesse em profundidade o Sr. Waldomiro Diniz, para descartá-lo como amigo ruim, não recomendado para permanecer prestando serviços ao seu Governo.

Essas são inquietações que me preocupam. Por essa razão, Sr. Senador Arthur Virgílio, assinarei, sim, o pedido para instauração de uma comissão parlamentar de inquérito como um serviço que prestarei ao meu País e à probidade no serviço público do Brasil.

Ouço, com muita atenção, o Senador Arthur Virgílio. 

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador José Agripino, V. Exª fazia falta, e o debate se enriquece com seu retorno. Fui Secretário-Geral da Presidência da República, e a minha missão era mais ou menos a mesma do Ministro José Dirceu. Eu, obviamente, como homem modesto, com as minhas limitações, e diante de um Presidente que não precisava tanto de mim assim, e o Ministro José Dirceu, com o peso que a própria contingência da falta de quadros lhe impõe, tem muito mais poder. O fato é que passava por mim o crivo das nomeações. Eu mandava os nomes para a Abin - o que não inventei, era uma praxe - e, se houvesse qualquer aviso no currículo da pessoa, qualquer nota desabonadora, uma indicação do Serviço de Proteção ao Crédito ou algum processo, ficávamos alerta, porque o serviço me parecia bastante eficiente. O Sr. Waldomiro Diniz foi nomeado, recebeu um DAS, depois de ter supostamente passado pelo crivo da Abin. Apesar da divergência da Abin, a alta administração do Palácio resolveu nomeá-lo de qualquer maneira, porque havia processos que deveriam ter servido de alerta. Se a convivência não bastou para o Ministro José Dirceu o conhecer, se não havia, por parte do Presidente Lula, bastantes informações a respeito do Sr. Waldomiro, era a hora de se alertar para o tipo de processo que existia contra ele. Depois, veio outro aviso: o jornalista Cláudio Humberto e a revista IstoÉ trouxeram o assunto da Gtech. O Senador Demóstenes Torres e eu fizemos requerimento de informações. Quem sabe, àquela altura, a demissão do Sr. Waldomiro não tivesse sido um ato saneador e absolutamente prévio do ponto de vista de o Governo se preparar, com antecedência, para os seus embates? Estamos vendo um espetáculo que, no mínimo, é de muita incompetência e que talvez tenha sido de corrupção praticada de dentro para fora do próprio Palácio, sendo de enorme gravidade. Volto a dizer: não é com escapismos que o Governo vai resolver o problema. Se o Governo quer investigar qualquer coisa do passado, que o faça e traga para eu assinar. Assino tudo em branco, confio neles. Se quiserem incluir minha renúncia, vai tudo junto. Não há problema algum. Quero que entendam como um gesto legítimo esse da Oposição de querer apreciar, via Congresso, por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, o escândalo que ganhou as páginas dos jornais e que, se não for bem trabalhado com coragem pelo Presidente Lula, marcará sua biografia e seu Governo de maneira indelével. Talvez nunca mais se livre do fato. Não gostaria de ver esse quadro tétrico se desenhando à minha frente. Por isso, deve-se encarar com normalidade, sem nenhuma adrenalina e maldade, o fato de o Congresso, aberto como está, com a democracia funcional que vivencia, querer cumprir com seu dever ao lado da Polícia Federal e do Ministério Público e investigar esse caso. V. Exª, em seu discurso, só trouxe mais dados, que com certeza serão analisados com muito respeito, com o respeito que V. Exª merece dos Senadores que ainda não apuseram suas assinaturas ao texto elaborado pelo Senador Antero de Barros. Muito obrigado, Sr. Senador.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Obrigado, Senador Arthur Virgílio. V. Exª conseguiu fazer uma síntese do meu pensamento, que vejo, com muita alegria, que também é o seu, até pelo que V. Exª terminou por concluir: o Congresso Nacional, nesse momento, não pode deixar de se manifestar. O Poder Executivo teve, sim, e está tendo a obrigação de tomar a sua iniciativa e de cumprir com o seu papel, por intermédio da Polícia Federal, dos órgãos de investigação e do Ministério Público. Mas essa é uma questão política grave, inédita, com repercussão enorme nos planos nacional e internacional, e o Congresso brasileiro não pode deixar de se manifestar. Agradeço a V. Exª a contribuição dos seus argumentos.

Concedo, com muito prazer, o aparte ao meu Presidente, Senador Jorge Bornhausen.

O Sr. Jorge Bornhausen (PFL - SC) - Eminente Líder Senador José Agripino, ouço com muita atenção o seu pronunciamento coerente, lógico, que mostra a realidade que vivemos hoje no Brasil e no Congresso Nacional. O PFL, em 2002, exatamente no dia 31 de outubro, por meio da sua Comissão Executiva, assumiu o compromisso de fazer uma Oposição responsável e fiscalizadora. Com a Liderança de V. Exª, essa Oposição tem sido feita com a maior responsabilidade. Quando lutamos contra aumento de impostos, mostramos as conseqüências que iriam ocorrer na economia. Quando procuramos mostrar os defeitos das reformas, apresentamos alternativas. De maneira alguma, fomos sectários ou radicais. Mas a hora é de cumprir não só com a responsabilidade, mas também com o dever da fiscalização, que é um dever da Oposição. O PFL não obriga; o PFL não impõe; o PFL não fecha questão. V. Exª mostra o caminho certo para o nosso Partido. Já tive a oportunidade de assinar o requerimento para instalação da CPI, porque o meu pensamento coincide com o lúcido e inteligente pensamento de V. Exª.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço ao meu Presidente, Senador Jorge Bornhausen, que comunga comigo nesse pensamento e que, principalmente, norteia a sua ação com a prática de uma política enérgica, mas fazendo uma Oposição com responsabilidade, vendo o interesse nacional.

Nesse momento, é obrigação parlamentar do Congresso exercer com moderação o papel de fiscalização de fatos que são escancarados, que merecem uma explicação porque, na minha opinião, Presidente Jorge Bornhausen, eles não estão contidos num compartimento estanque. “Cesteiro que faz um cesto faz um cento”. Se ele fez o que fez - e o declarou em 2002 -, se, com a sua folha corrida, foi contratado para trabalhar no Palácio do Planalto, se passou mais de um ano no Palácio do Planalto e se já são levantadas as primeiras suspeitas, é preciso que se investigue a sua ação, para que o interesse público seja preservado.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Essa é a nossa ação fiscalizadora em defesa do interesse público.

Concedo, com muito prazer, o aparte ao Senador Almeida Lima.

O Sr. Almeida Lima (PDT - SE) - Senador José Agripino, V. Exª afirmou há pouco que preferiu esperar quarenta e oito horas para ouvir uma explicação convincente do Governo a respeito do episódio. V. Exª concluiu dizendo que não ouviu essa explicação convincente. Tivemos oportunidade de ouvir o Governo dizer que o Waldomiro não era filiado ao PT. Estranhei. Como, com uma convivência de mais de dez anos, sendo apontado para diversos cargos pelo próprio Ministro José Dirceu, não se tinha filiado ao PT? Cheguei a afirmar que se tratava de disfarce exatamente para o fato de que, se viesse a cair, não teria a sua identidade vinculada ao Partido, porque, na verdade, estaria sendo escalado para praticar o serviço sujo. A outra explicação veio exatamente do fato de que ele foi exonerado imediatamente. V. Exª comprova o contrário, mostrando que a exoneração foi a pedido do próprio Waldomiro. Há ainda a alegação de que a Polícia Federal está investigando. Eu disse e repito: a Polícia Federal tem toda a honorabilidade, embora seja preciso que se registre que o jornal O Globo de hoje faz uma observação de que a busca e apreensão determinada pela Justiça à Polícia Federal para retirar do seu apartamento objetos e computadores só foi cumprida quarenta e oito horas depois, poucos instantes antes de o prazo ser concluído. Alegou-se que o pessoal que cumpriria a diligência estava em outras missões, embora essa seja de gravíssima importância e mesmo estando o prédio da Polícia Federal a 500 metros do local determinado. Por último, vem uma alegação preciosa: o fato ocorreu há dois anos, em 2002, quando ainda o Governo Lula não estava instalado. Mas é verdade também, pelas declarações e pelo filme publicado pela revista Época, que os recursos seriam destinados ao financiamento de campanha de duas candidaturas do Partido dos Trabalhadores - de Geraldo Magela, no Distrito Federal, e de Benedita da Silva, no Rio de Janeiro. Pergunto: as candidaturas de Geraldo Magela e de Benedita da Silva fizeram-se de forma dissociada da candidatura de Presidente da República? Ou a campanha de Governador é atrelada à de Presidente, sobretudo quando o Presidente, do ponto de vista popular, tem algo a oferecer em termos de votos às candidaturas estaduais?

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Almeida Lima (PDT - SE) - Ora, o dinheiro foi para a campanha de Benedita da Silva e, por via de conseqüência, para a campanha do Presidente Lula; veio para a campanha do Geraldo Magela e, por via de conseqüência, para a campanha do Presidente. Portanto, se se tentou fazer essa alegação para mostrar que não havia ainda vinculação com o Governo, foi pior. Na verdade, trata-se de uma demonstração de que poderão chegar à ilegitimidade da eleição do próprio Presidente. Digo com muita sinceridade: se o ato foi praticado em 2002, há basicamente mais de um ano ele estava no Governo, praticando uma série de atos na vida pública e política. Há um ditado, sobretudo conhecido no nosso Nordeste: “que quem faz um cesto, tendo cipó e tempo, faz um cento”. Ora, dizem que só assinam a CPI para investigar o fato do Waldomiro Diniz se ela for ampla, porque agora se está estabelecendo a culpa não nele e na corrupção que ele praticou, como se o fruto da corrupção fosse apenas o financiamento de campanhas eleitorais. Ou seja, estão buscando uma culpa e estão culpando as campanhas eleitorais. É como aquele cidadão que, ao chegar em casa, encontra a esposa cometendo adultério; diante do fato, acha que a culpa é exatamente do sofá e manda queimá-lo. É um caso bem parecido com esse fato. Diante de um acontecimento tão horroroso na vida política nacional, estão buscando a responsabilidade no processo eleitoral, quando temos que apurar os fatos por meio de uma CPI e não estabelecer uma outra discussão sobre financiamento de campanha pública. Não dá para colocar a culpa no sofá!

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador Almeida Lima, V. Exª me enseja a fazer dois comentários rápidos. Primeiro, quanto à necessidade de se apurar a legitimidade ou a ilegitimidade das doações referidas na fita de vídeo. Pede-se dinheiro para a campanha, mas todo mundo sabe que qualquer dinheiro de campanha tem de estar registrado no Tribunal Regional Eleitoral.

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Duarte) - Senador José Agripino, peço a V. Exª que conclua o seu pronunciamento. O tempo destinado a V. Exª já foi ultrapassado.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já concluo, Sr. Presidente.

Antes de tudo, esse ponto tem que ser esclarecido. Segundo, há informações de que o Governo conhecia, desde 2003, as denúncias que vieram a público na revista Época. Sabia, e o cidadão continuou no Palácio do Planalto encarapitado, fazendo o que bem entendesse. Isso tem que ser explicado, Sr. Senador.

Senador Sérgio Guerra, ouço V. Exª com a brevidade que o Presidente já solicitará.

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Senador José Agripino, serei breve, primeiro para reconhecer o que outros já manifestaram antes de mim. A palavra prudente, segura e firme - como é a sua vida pública, que nós do Nordeste, e também os brasileiros, conhecemos - de V. Exª tem-nos feito falta esses dias. Esse acontecimento foi sintetizado com muita clareza no seu pronunciamento de hoje. Ouvi com atenção quando V. Exª chamou a atenção de todos nós para a vontade das ruas. Nos últimos anos, várias CPIs foram realizadas. Umas, com bons resultados; outras se esvaziaram, mas, de uma ou de outra forma, a CPI foi o instrumento pelo qual a opinião do povo, o contraditório que estava nas ruas, foi organizada no Congresso. Desta vez, as ruas já se manifestaram de forma surpreendentemente ativa. Estive em meu Estado neste fim de semana, andei em Brasília ontem e hoje, e constatei que há uma enorme discussão em torno dessa questão. Primeiro, porque ela atinge, desta vez, o PT - e já atingiu a tantos sem muita cerimônia e sem muito cuidado -; segundo, porque é o PT que agora se coloca na oposição do esclarecimento dos fatos. A desculpa de sempre, aquela que foi utilizada por muitos, é a seguinte: “ora, vamos investigar tudo” - pretexto apenas para não se investigar nada. Fato concreto é que não há nenhuma razão para evitar que a investigação ocorra. O fato político desse instante, no qual os brasileiros devem prestar atenção, é a oposição do PT e do Governo. Há que se organize, no Senado, essa apuração. Não é uma prova, mas um indício de que o Governo Lula, não apenas na área econômica, não apenas com seus compromissos históricos com o povo, que foram alterados no governo, mas também no seu compromisso ético, não é agora coerente com o seu discurso de antes. Precisamos ser firmes quanto à nossa posição. Não haverá exploração, agressão, nenhuma condenação prévia, mas uma investigação segura. E aqueles que se colocam contra a investigação que tenham a coragem de vir aqui e dizer que não a desejam porque temem prejuízos.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador Sérgio Guerra, V. Exª, como sempre, é conciso, perfeito, brilhante na análise e nas conclusões.

A sociedade brasileira está indignada, percebo isso claramente, e o mundo está de olho no novo Governo do Brasil. Não tenho nenhuma dúvida de que estamos diante de uma questão política, que não é partidária, mas política; o que não me impede de vir aqui, como Líder do PFL, manifestar minha posição pessoal.

Penso que o Governo deve explicações à sociedade. O Brasil deve explicações ao mundo e a seus investidores. Agora, o Congresso precisa se manifestar. E, Sr. Presidente, não será pela falta da minha assinatura que isso deixará de acontecer.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/02/2004 - Página 4685