Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários ao pronunciamento do Senador João Capiberibe. Registro de nota oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, em repúdio às declarações do presidente da República sobre a flexibilização da CLT. (como Líder)

Autor
Almeida Lima (PDT - Partido Democrático Trabalhista/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao pronunciamento do Senador João Capiberibe. Registro de nota oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, em repúdio às declarações do presidente da República sobre a flexibilização da CLT. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 19/02/2004 - Página 4815
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • PREVISÃO, DIFICULDADE, GOVERNO FEDERAL, MANUTENÇÃO, ESTABILIDADE, ECONOMIA, POLITICA, MOTIVO, ENCAMINHAMENTO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, PERDA, LEGITIMIDADE.
  • LEITURA, NOTA OFICIAL, SINDICATO, JORNALISTA, DISTRITO FEDERAL (DF), REPUDIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, FLEXIBILIDADE, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO (CLT), PREJUIZO, DIREITOS, TRABALHADOR.

O SR. ALMEIDA LIMA (PDT - SE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, embora não tenha o propósito de responder ao Senador João Capiberibe, impossível não dar uma palavra em atenção ao que S. Exª acaba de pronunciar. Com certeza, Senador, o Brasil, lamentavelmente, não viverá este momento de estabilidade a que V. Exª se refere, diante do encaminhamento das questões de governo pelo atual Governo Federal.

É lamentável o que vem acontecendo. O que estamos antevendo é a ruptura do Governo com toda a sociedade. E como a coisa anda e com o andar dessa carruagem, não podemos antever uma outra situação senão a de, estabelecida a ruptura, a insustentabilidade deste Governo. Como disse, cometeu um estelionato político ao pregar idéias contrárias ao neoliberalismo e, assumindo o Governo, está cumprindo o receituário do Fundo Monetário Internacional, caindo, como já disse, um dos esteios desse Partido e deste Governo.

Agora, e eu não poderia deixar de falar - embora não seja este o propósito neste instante - da questão Waldomiro, outro grande esteio que entra em derrocada neste Governo. E do jeito que a coisa anda, a ruptura, com todos os segmentos, se tornará inevitável.

Trago aqui uma nota oficial - e farei questão de lê-la na sua inteireza, pois acredito que o tempo e a bondade da Presidência irão permitir - emitida pela diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal. Diz a nota:

Reforma trabalhista de Lula ameaça trabalhadores

A Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal vem a público, com indignação e tristeza, repelir as declarações do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que, em entrevista coletiva, defendeu a flexibilização da legislação trabalhista e chegou a afirmar: “...excluído o direito de férias, tudo pode ser mudado”.

Tal posicionamento do ex-sindicalista, além de representar uma ruptura com as causas mais nobres dos trabalhadores na luta pela ampliação dos direitos trabalhistas frente à voracidade da acumulação do capital, é um grave motivo de terror para os trabalhadores brasileiros.

Os trabalhadores estão hoje sujeitos ao desemprego crônico e crescente; à precarização das relações de trabalho; à queda vertiginosa do poder de compra dos salários; ao descumprimento básico da legislação e à persistência de formas expressivas de trabalho escravo, agravada pelo corte orçamentário de 80% no valor destinado ao combate desse tipo de exploração.

Caso não sejam retificadas, as declarações de Lula - cujo governo, até o momento, reage com indiferença e paralisia conservadoras ante o drama de milhões de pais de família desempregados ou ameaçados de demissão - indicam que o tal Fórum Nacional do Trabalho, supostamente destinado a discutir o aperfeiçoamento das legislações trabalhista e sindical, é apenas uma farsa. Para o ex-sindicalista, as parcas conquistas da legislação trabalhista são, de antemão, passíveis de anulação.

Se efetivada na linha política agora publicamente sustentada pelo ex-metalúrgico, a reforma trabalhista o colocará em situação à direita de Getúlio Vargas, que criou a CLT, cabendo agora ao governo Lula, em sintonia com a filosofia “reformista” do FMI, a sórdida tarefa de eliminá-la, por meio da flexibilização e da desregulamentação, tarefa que Fernando Henrique Cardoso não foi capaz de cumprir em oito anos de governo.

A Diretoria do SJPDF conclama as Centrais Sindicais - especialmente a CUT, à qual o Sindicato é filiado - a convocar os trabalhadores para impedir esse grave crime que o governo Lula ameaça cometer contra um povo trabalhador e humilhado por um dos salários mínimos mais baixos do mundo e por verem seus filhos a caminho da prostituição ou da criminalidade como forma de sobrevivência.

Enquanto isso, a terra permanece ociosa; os usineiros têm suas dívidas perdoadas; os banqueiros vomitam dinheiro e felicidade, diante de um presidente que, a seguir nesta política, terminará por colocar-se entre os mais desastrosos de toda a História republicana.

A Diretoria. (Sic.)

Esta nota, veiculada no dia de hoje, trago a público pela sua importância, por se tratar de um segmento trabalhista deste País (os jornalistas), que, pela sua consciência e pelo trabalho que desenvolvem diariamente, têm condições de antever o futuro mais próximo do nosso País, a derrocada deste Governo e, por conseguinte, a da sociedade brasileira, que vive exatamente estrangulada diante de ações deste Governo, uma atrás da outra, uma após a outra, que só vêm no mesmo sentido: desestruturar a organização da sociedade brasileira, como hoje ela se encontra.

Flexibilização da CLT significa, em outras palavras, a anulação dos direitos trabalhistas de todos os trabalhadores deste País. Portanto, é um momento de apreensão contra o qual uma das categorias mais prestigiosas deste País, vinculada aos trabalhadores, procura se insurgir. E é preciso ter voz e eco no Parlamento nacional.

Por esta razão, Sr. Presidente, pedi a palavra, em nome da Liderança do meu Partido, o PDT, para tornar público para todo o País esta nota oficial que vem em repúdio às declarações do Presidente Lula de estabelecer a flexibilização da CLT. Isso significa a anulação dos direitos dos trabalhadores: Sua Excelência diz que, excluído o direito de férias, tudo pode ser mudado. É lamentável que este Governo e este Presidente pensem desta forma.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/02/2004 - Página 4815