Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à política de comércio exterior dos Estados Unidos.

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Críticas à política de comércio exterior dos Estados Unidos.
Publicação
Publicação no DSF de 20/02/2004 - Página 5058
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CRITICA, CONTRADIÇÃO, LIBERALISMO, EXCESSO, SUBSIDIOS, GOVERNO ESTRANGEIRO, PRIMEIRO MUNDO, EFEITO, ATRASO, DIFICULDADE, PRODUTOR RURAL, TERCEIRO MUNDO, AUMENTO, POBREZA, AMBITO INTERNACIONAL, ELOGIO, LUTA, BRASIL, COMBATE, PROTECIONISMO.
  • APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POLITICA EXTERNA, DEFESA, INTERESSE NACIONAL, COMERCIO EXTERIOR.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EDSON LOBÃO (PFL - MA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. é dever dos governos apoiar e estimular os que produzem, criando as condições para o desenvolvimento e o sucesso dos empreendimentos que resultem em bem-estar das nações. Afogada em tarifas exorbitantes, enredada em processos burocráticos ou asfixiada pela impossibilidade de crédito fácil a juros razoáveis, não há iniciativa que suporte a mão pesada do Estado.

Creio que não mereceu a devida repercussão o grave editorial do The New York Times - um dos principais jornais americanos -, publicado a 31 de dezembro passado, no qual são renovadas acerbas críticas à política de comércio exterior do seu país. Tal matéria jornalística foi elaborada após visitas, durante seis meses, de seus especialistas às mais diversas áreas agrícolas do mundo.

O jornal enfatiza aquilo que nós, brasileiros, já sabemos e sofremos na carne: os incríveis subsídios à agricultura doados não só pelo governo norte-americano, como igualmente pelos governos do Japão e os europeus, que estimulam os seus produtores à formação de estoques que, por sua vez, forçam para baixo os preços das commodities.

Registra o editorial:

O mais embaraçoso para um americano é dar-se conta de que a cultura por trás das políticas agrícolas do nosso país, com suas barreiras comerciais e os bilhões de dólares em subsídios, contribui poderosamente para o atraso e as dificuldades vividas pelos produtores rurais dos países pobres e em desenvolvimento...

Segundo o The New York Times, os países ricos aplicam por dia cerca de UM BILHÃO DE DÓLARES em subsídios aos seus produtores. Em função disso, recentemente os fazendeiros americanos conseguiram derrubar os preços do algodão, trigo, arroz e milho, entre outros produtos dos países em desenvolvimento, porque os preços baixos não cobrem sequer os custos da produção. Isto, ainda segundo o jornal, está provocando não apenas um aumento da pobreza mundial, mas gerando um justo ressentimento em relação aos países ricos.

É o próprio Banco Mundial que convalida o escândalo dos subsídios que distorcem o comércio, ao concluir que o fim dessas doações ampliaria a riqueza global em US$ 500 bilhões e tiraria 150 milhões de pessoas da pobreza até 2015.

Em trechos desse referido editorial, registra o The New York Times:

(...) a agricultura permanece como uma mancha hipócrita em nosso fervoroso credo no mercado livre...

O jornal nova-iorquino elogiou a iniciativa de Brasil, China e Índia em formar o G-20, para forçar a discussão do protecionismo agrícola dos ricos, e criticou a postura dos EUA nessas negociações, dizendo que a Casa Branca perdeu uma boa oportunidade de superar interesses mesquinhos dos agricultores americanos e avançar na abertura comercial.

A propósito, a coluna de Clóvis Rossi na Folha de S.Paulo, de 3 deste mês, narra que a embaixada do Brasil em Washington há anos faz um levantamento completo de todas as barreiras que os Estados Unidos impõem aos produtos brasileiros. O diplomata Régis Arslanian - hoje um dos principais negociadores brasileiros na Alca - passou quatro anos na embaixada em Washington, envolvido na elaboração dessa lista. E informa esse diplomata que, nesses quatro anos, os americanos concederam tirar da lista apenas o mamão papaia...

            Srªs e Srs. Senadores, é o caso de se indagar: e aí, como devem ficar nossas relações econômicas e diplomáticas com os nossos próprios algozes?...

A atuação do Presidente Lula da Silva, em relação ao governo norte-americano, tem sido interpretada como bastante audaciosa, e às vezes até batizada de ‘provocadora’, como se irresponsavelmente estivesse pegando pelo rabo o furioso leão...

No entanto, o nosso Presidente está dando apenas ênfase, com a sua formação de agressivo líder sindicalista, à indignação dos brasileiros que têm consciência do quanto estamos sendo explorados por governos de alto desenvolvimento, que se dizem “nossos amigos”.

E vê-se que o nosso Presidente tem conquistado o apoio de formadores de opinião como o The New York Times - e, por conseqüência, de grande parcela da opinião pública norte-americana -, que parece estimulá-lo a continuar pegando o leão pelo rabo...

Na verdade, a grande nação do Norte está dia a dia comprometendo, por pressão de alguns dos seus setores agrícolas, o antigo fervor do seu povo pelo mercado livre. Os EUA não podem exigir dos países em desenvolvimento a adoção de um ideal liberal que eles próprios só professam em tese, mas deixam de praticá-lo nos instantes em que parcelas dos seus produtores mostram-se incompetentes para enfrentar os pobres numa concorrência global em pé de igualdade.

Esses detalhes de política internacional, Sr. Presidente, são conhecidos, mas precisam ser repisados exaustivamente. Justificam, por outro lado, as atitudes com que nosso governo tem enfrentado os interesses definidos como ‘mesquinhos’ por grande parcela da sua própria população mais bem informada. Atitudes de reação, estas, que merecem o apoio da representação popular brasileira, independente da inclinação partidária ou ideológica dos que a compõem.

Era o que tinha a dizer.

Obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/02/2004 - Página 5058