Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo "Mais à direita", do jornalista Otavio Frias Filho, publicado no jornal Folha de S.Paulo, edição de 26 de fevereiro último.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao artigo "Mais à direita", do jornalista Otavio Frias Filho, publicado no jornal Folha de S.Paulo, edição de 26 de fevereiro último.
Publicação
Publicação no DSF de 03/03/2004 - Página 5540
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DESCUMPRIMENTO, GOVERNO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, ESPECIFICAÇÃO, FALTA, ETICA, TENTATIVA, IMPEDIMENTO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, EX SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Sem apanhamento taquigráfico.) -

EFEITO BUMERANGUE

Sr Presidente, Srªs e Srs Senadores, ocupo hoje esta tribuna para registrar o artigo intitulado “Mais à direita”, de autoria do jornalista Otávio Frias Filho, publicado no jornal Folha de S.Paulo, edição de 26 de fevereiro do corrente.

A matéria destaca o “estelionato eleitoral” praticado pelo governo Lula, que deixou de cumprir praticamente todas as promessas feitas durante a campanha eleitoral. Agora, com o episódio Waldomiro Diniz, até o compromisso com a moralidade parece ter sido quebrado.

Sr. Presidente, requeiro que o artigo citado seja dado como lido para que fique integrando este pronunciamento.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO AZEREDO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Folha de S. Paulo - SP

26/02/2004

Mais à direita

Otavio Frias Filho

O PT ainda não sabia acobertar escândalos. Passou quase duas décadas fazendo o contrário, ou seja, insuflando crises para desgastar os adversários então no governo. É o que explica as trapalhadas da turma de Lula quando surpreendida pelo caso Waldomiro. Mesmo um partido que se mostra tão lépido quando se trata de mudar para pior demorou alguns dias para aprender o jeito.

A tentativa de chantagear os demais partidos -esse era o sentido da abortada manobra para criar a CPI das CPIs- teve efeito bumerangue. O governo percebeu que a partir de agora não está mais em posição de chantagear, mas de ser chantageado. Velhas raposas do Congresso, recuperadas do ostracismo pelo próprio Lula, abortaram a investigação desconfortável. Ganharam ainda mais força junto ao governo "popular".

Pretendeu-se organizar manifestações de apoio ao ministro José Dirceu. Em boa hora essa idéia também foi abandonada. Menos pelo fato de que manifestações assim são próprias de regimes de partido único, quando a massa manipulável é colocada nas ruas para exibir seu amor ao governo, do que pelo receio de que os comícios também deflagrassem um efeito bumerangue e o ministro terminasse vaiado pelos que deveriam aplaudi-lo.

O governo Lula prometeu mudar a política econômica -isso era mentira. Prometeu melhorar o desempenho do poder público na área social -isso era enrolação. Prometeu inibir a especulação financeira e fomentar a produção -era uma farsa. Agora, cai a última máscara, quando todo mundo constata que até mesmo o compromisso com a moralidade administrativa não era para valer.

No novo ideário petista, os princípios republicanos passam a ter valor instrumental. Se um adversário é leniente com falcatruas, ele é tachado de corrupto e deve ser punido. Se idêntica conduta é identificada no governo do PT, praticada por pessoa que um leitor chamou de "braço direito do braço direito", quem deve ser desqualificado são a imprensa, o Ministério Público e os adversários do partido. Tamanha desfaçatez é apresentada como argumento intelectual...

O governo parece ter perdido o último dique protetor da sua popularidade. Se não aparecerem os chamados fatos novos, a crise deve minguar -deixando, porém, uma marca permanente na imagem da administração petista, que nunca mais será a mesma. As próximas pesquisas de opinião revelarão o tamanho da fratura no prestígio de Lula e cia.

A população em geral demora mais tempo para absorver o que está cada vez mais claro aos olhos da classe média leitora de jornais, o eixo de gravidade da política no Brasil. Trata-se de um governo que praticou estelionato eleitoral, que abjurou de princípios, que se lançou às benesses do poder com a voracidade canhestra de quem nunca comeu melaço.

O saldo mais provável desta crise será um quadro em que o governo ficará mais fraco, os "coronéis" ficarão fortalecidos no Congresso e o ministro José Dirceu ficará vagando como alma penada. O Planalto tenderá a depender mais das fontes de apoio incrustadas no mercado e nos grandes grupos econômicos. O governo como um todo irá ainda mais para a direita.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/03/2004 - Página 5540