O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr^as e Srs. Senadores, ontem, ao ouvir aqui um discurso muito polêmico do Senador Almeida Lima, lembrei-me de algo que ocorreu comigo há cerca de 15 dias. Fui a um hospital visitar um amigo muito doente. Ao chegar lá, disseram-me que meu amigo tinha tido uma melhora inesperada, saído da UTI e já estava no quarto. A família estava muito feliz, achando que ele estava em fase de recuperação, uma vez que era paciente terminal. Eu também fiquei feliz ao ver que havia esperança no ar. No entanto, três dias depois, aquele meu amigo voltou para a UTI e faleceu.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no Nordeste, particularmente em Pernambuco, situação como essa é chamada de visita da morte. Há uma melhora dos doentes terminais, ninguém sabe por que razão, talvez por um milagre, pouco antes de falecerem.

Foi a mesma sensação que tive ontem, Senador Tourinho, ao ver a alegria estampada no rosto dos líderes governistas aqui nesta Casa, após o discurso do Senador Almeida Lima. Considero a alegria dos líderes governistas ontem, aqui no Senado, uma espécie de visita da morte. Uma alegria passageira, porque, na realidade, a cada dia, a cada momento, avolumam-se razões para a instalação de uma CPI, independentemente do discurso do Senador Almeida Lima, que não tinha essa importância que se quis dar, mesmo diante dos ataques sofridos por ele. S. Exª fez uma denúncia que, se não foi tão grande, de qualquer maneira trouxe um elemento novo à questão.

Fatos novos surgem todos os dias, como, por exemplo, a pesquisa feita pela Folha de S. Paulo, revelando que 81% da população defende a CPI e 80% defende o afastamento do Ministro José Dirceu. Então, só essa pesquisa já seria razão suficiente para a realização de CPI.

Outro fato grave, muito mais sério que o discurso do Senador Almeida Lima, foi o depoimento do Sr. Waldomiro Diniz ontem na Polícia Federal. O Sr. Waldomiro Diniz recusou-se a responder 68 perguntas da Polícia Federal. Ora, essa é uma justificativa a mais para que se crie uma CPI. A Polícia Federal foi desmoralizada com essa recusa, que servirá de exemplo a qualquer um que for àquele órgão depor. Qualquer um poderá dizer que só falará em juízo. Quem está por trás do Dr. Waldomiro Diniz permitindo que ele vá à Polícia Federal e a desmoralize? Só pode ser o Governo, que, por baixo dos panos, está dando o suporte à atitude do Sr. Waldomiro Diniz.

Sr. Presidente, há ainda um outro fato. Foi nomeado Presidente da Cobra, empresa estatal que cuida de informática, um diretor da Gtech, a mesma empresa que presta serviços à Caixa Econômica Federal. E o Sr. Waldomiro Diniz foi o intermediário para a renovação do contrato da Gtech com a Caixa.

Então, existem dezenas de razões para que essa CPI seja instalada, para que o Ministro José Dirceu seja afastado, pelo menos até o fim das investigações. Não foi apenas o que o Senador Almeida Lima quis dizer ontem aqui, mas que efetivamente não disse. Há outras razões, e são essas que devem fazer com que haja a CPI. Para mim, repito, a alegria que causou na base governista o discurso do Senador Almeida Lima é a visita da morte; uma alegria que vai durar dois ou três dias. Vamos ter que terminar esse assunto com a demissão do Ministro José Dirceu e a criação de uma CPI.

Há hoje 350 mil pessoas desempregados de forma irresponsável e inconseqüente, porque havia um grupo lá na Casa Civil responsável pela legalização dos bingos. Então, em 24 horas o Governo muda de opinião, sai da legalização do bingo e desemprega 350 mil pessoas. Não ofereceram a elas nem uma cesta básica. O Ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, não se manifestou sobre essas 350 mil pessoas desempregadas, não se dispôs a distribuir uma cesta básica ou um copo de leite aos filhos desses desempregados.

Há nesta Casa projetos de Senadores do PT legalizando o jogo, legalizando as máquinas caça-níqueis, legalizando o bingo, mas, de uma hora para outra, em 24 horas, o Governo muda de opinião. Foi uma atitude inconseqüente, uma atitude irresponsável, que pôs na rua 350 mil pessoas, num País onde existem 10 milhões de desempregados.

Muito obrigado, Sr. Presidente.