Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à devassa na vida pessoal do Senador Antero Paes de Barros. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Repúdio à devassa na vida pessoal do Senador Antero Paes de Barros. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2004 - Página 5584
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REPUDIO, CHANTAGEM, INVESTIGAÇÃO, VIDA, ANTERO PAES DE BARROS, SENADOR, AMEAÇA, FAMILIA.
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, EX SENADOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AUSENCIA, RESPOSTA, INTERPELAÇÃO, INQUERITO POLICIAL.
  • APRESENTAÇÃO, CONVOCAÇÃO, PEDRO MALAN, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), COMPARECIMENTO, SENADO, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCO DO ESTADO DO PARANA S/A (BANESTADO).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é mais do que grave a comunicação que faz à Nação, por intermédio da Casa, o Senador Antero Paes de Barros. Morte por carbonização é típica de esquadrão da morte; não é de credor, não é de desafeto comum. Isso precisa ser investigado para valer. Não estamos aqui para fazer acusações antecipadas, mas é bom que fique bem claro: iremos às últimas conseqüências na busca da verdade a respeito desse escabroso caso Waldomiro Diniz.

É bom repisar que, desta tribuna, eu já denunciara ameaças ao Senador Antero Paes de Barros e, mais ainda, que S. Exª estava sendo perseguido. E nenhuma providência foi tomada, talvez por imaginarem que pudesse ser o jogo medíocre de Oposição contra Governo. O Senador Antero Paes de Barros, neste momento, por meu intermédio, falando como Líder da Bancada do PSDB, fica com a sua vida nas mãos deste Governo, e é o que vamos dizer daqui a pouco ao Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. A vida do Senador e da sua família está nas mãos deste governo.

Temos consciência de que estão devassando a vida do Senador. Peço a quem quer que seja deste Governo que, por favor, devasse a vida dos outros 10 Senadores do PSDB, a começar pela minha própria vida. Por outro lado, que criemos no País a idéia de que é devassável, sim, a vida de qualquer homem público. Nenhum de nós deveria ter direito a sigilo bancário, fiscal ou qualquer que seja, a não ser da sua vida privada.

Denuncio como chantagem a investigação do Senador Antero Paes de Barros porque S. Exª levanta o escabroso caso Waldomiro Diniz, ele que pode e deve ser investigado, como eu posso e devo ser investigado, como qualquer outro Senador pode e deve ser investigado por quem quer que imagine que haja alguma dúvida sobre quem exerça a vida pública, mas não com a chantagem, não o West Side Story, não aquela história da gangue do lado leste não investigar o lado oeste de Nova Iorque em troca da proteção do lado contrário em relação à gangue adversária e à gangue rival. Não se trata de briga de gangue e, sim, de querermos, nós, a investigação até o final deste caso escabroso sobre o qual a Nação exige o pronunciamento efetivo e não diversionista de um governo que está perdendo a credibilidade na investigação que faz, porque sequer mexeu ainda nos papéis de Waldomiro Diniz no Palácio do Planalto.

Vejo nos jornais que falam em retaliar, convocando o ex-Ministro Pedro Malan para depor na CPI do Banestado. Pois muito bem: neste momento, estou pedindo ao Senador Antero Paes de Barros que, como Presidente da Comissão, faça S. Exª a convocação de Pedro Malan, para que, uma vez por todas, acabem com esse jogo de chantagem neste País.

Que venha depor Malan, ou quem eles queiram, mas não desistiremos enquanto não ficar bem esclarecido que conexão pode haver ou não entre Waldomiro Dias, a política brasileira, este Governo e os porões da contravenção.

Ainda, Sr. Presidente, pedi hoje ao Dr. Lacerda, Diretor-Geral da Polícia Federal que me enviasse e ao Líder Custódio de Mattos, também, do meu Partido na Câmara dos Deputados, a lista das perguntas não respondidas pelo Sr. Waldomiro Diniz.

O Sr. Waldomiro Diniz portou-se como um bandido. Ele deve ter iludido mesmo as pessoas de boa-fé do governo, porque o seu comportamento foi típico de um bandido: só fala em juízo; não tem honra a defender. Muito sorridente, parecia protegido. Muito seguro, para que quem, supostamente, estaria com a sua vida pessoal e profissional esfaceladas. Muito seguro de si, com risinho preso no canto da boca, como quem está beneficiado por algum pacto de ormertà*, que é o pacto ao qual o meu partido recusa-se a dele participar, que é o pacto da máfia: eu não falo de ti, tu falas de mim, e nós dois continuamos cometendo crime, um por um lado, outro por outro. Muito tranqüilo o Sr. Waldomiro Diniz.

Na única pergunta que esse cidadão respondeu, Sr. Presidente, ele mentiu. Disse que era funcionário público e não o é. Ele é ex-funcionário público, que saiu no plano de demissão voluntária da Caixa Econômica Federal no Governo Collor, respondeu a uma pergunta e nela mentiu. Quero saber o teor das outras perguntas e quero transformá-las em minhas, quero transformá-las em indagações do PSDB, quero transformá-las em perguntas da nação, porque não é possível que aqui fiquemos cultivando falsas verdades.

Ontem, transformaram o Senador Almeida Lima num quadro do deboche nacional: apelidos para cá, apelidos para acolá. Tudo que S. Exª fez foi não dizer algo tão grave quanto alguns pareciam temer. E pergunto: se ficaram aliviados, o que temiam que fosse dito pelo Senador Almeida Lima? Tenho absoluta convicção de que não há nenhuma implicação minha neste caso Waldomiro Diniz. Então, se me disserem que alguém vai falar alguma coisa a meu respeito, não me dou ao trabalho sequer de interromper a minha refeição. Por que ficaram aliviados? O que ele poderia ter dito? Ainda por cima, e vou dizer de novo a uma figura que prezo do ponto de vista público - o Ministro Márcio Thomaz Bastos - é fundamental que S. Exª trate a coisa pública com mais compostura. Não basta ser o grande advogado que é; não basta ser o bom brasileiro que sempre foi. S. Exª diz nos jornais que o dia de ontem foi dez. O que é dez? As perguntas feitas para responder o que a nação indaga na sua consciência indignada? As perguntas não respondidas significam dez para o homem encarregado de zelar pela Justiça do meu país? Diz S. Exª: o dia de ontem foi dez.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já concluo, Sr. Presidente, o dia de ontem foi dez. E eu pergunto: é, então, de abrirmos mão de uma CPI, deixando a investigação nas mãos de pessoas que entendem que o dia é dez quando não se faz a verdadeira investigação?!

Sr. Presidente, já nos ameaçaram e não recuamos. Já acenaram com uma CPI com 500 cabeças e não demos para trás. Agora falam no Malan. Então, quem convocará o Malan serei eu, por meio do Senador Antero Paes de Barros, e o Pedro Malan virá depor aqui para, de uma vez por todas, deixar bem claro que se trata de um homem limpo em relação à CC-5, à C-24, à C-69, a qualquer número que se queira imputar à sua carreira pública.

O Ministro Pedro Malan virá convocado por mim, e não vamos abrir mão de continuar coletando assinaturas. Registramos, com júbilo, a assinatura do Senador Sérgio Cabral. Imaginamos que o Senador Marcelo Crivella deva estar para assinar, em função de tudo que sua Igreja providenciou em relação a esse episódio lamentável. Parece-me que essa CPI é até uma salvaguarda para o Governo. Volto a afirmar o compromisso de ontem: votamos todas as matérias da tal agenda positiva, mas não admitimos que não seja considerada como da agenda positiva algo essencial como dar respostas à indagação que a Nação faz a respeito da perspectiva ética deste Governo.

Não é não investigando a mesa do Sr. Waldomiro que se dará credibilidade à comissão de investigação do Governo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Portanto, Sr. Presidente, certamente, após ouvir o Líder Aloizio Mercadante, dirigir-me-ei, juntamente com o Senador Antero Paes de Barros, a um encontro com o Ministro Márcio Thomaz Bastos* e a outro com o Diretor-Geral da Polícia Federal. E aqui continuaremos. Imaginar que qualquer coisa cala o PSDB é um engano ledo, um engano crasso, um equívoco palmar.

Não estamos aqui imputando culpas apressadas a ninguém. Estranhamos certas coincidências, mas deixamos bem claro que muitos de nós do PSDB tivemos uma trajetória de oposição à ditadura militar e sabemos o que é isso. Aqui, quanto mais baterem em nós, mais verão disposição de luta, mais verão uma vontade inquebrantável, mais verão a vontade absolutamente invencível e imbatível de resistir, porque a democracia que ajudamos, juntamente com o Presidente Lula, a construir neste País não será arranhada por ninguém, não será desmontada por quem quer que seja. Ela será preservada e salvaguardada juntamente com a vida do Senador Antero Paes de Barros e de sua família, que neste momento entrego nas mãos do Ministro da Justiça, Dr. Márcio Thomaz Bastos, e do Presidente da República, Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/03/2004 - Página 5584