Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa do pronunciamento do Senador Almeida Lima na sessão de ontem. Necessidade da abertura da CPI do Senhor Waldomiro Diniz.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Defesa do pronunciamento do Senador Almeida Lima na sessão de ontem. Necessidade da abertura da CPI do Senhor Waldomiro Diniz.
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2004 - Página 5588
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, PRONUNCIAMENTO, ALMEIDA LIMA, SENADOR.
  • REITERAÇÃO, NECESSIDADE, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, EX SERVIDOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em nenhum momento me dirigi ao Líder Mercadante imaginando que o discurso dele, de ontem, estivesse com a cara do alívio. Não. Percebi S. Exª indignado, tanto quanto eu fiquei por ter o Governo demitido o Sr. Waldomiro a pedido - isso consta do Diário Oficial -, na contrapartida do que fez com o Senador Cristovam Buarque, demitido por telefone, como se o Waldomiro fosse Cristovam e o Cristovam fosse Waldomiro. Houve uma inversão de valores muito grave nesse episódio.

 Em relação ao pronunciamento do Líder, os jornais de hoje registram, sim, o Ministro José Dirceu aliviado porque supostamente a carga não teria sido impactante.

Eu repito a pergunta e o faço agora pelo ensejo que me dá o Líder Mercadante: se está aliviado é porque esperava que carga? Se está aliviado é porque esperava o quê? Que dissesse o quê?

O Ministro Márcio Thomaz Bastos diz: o dia de hoje foi dez. Dez na escala de quanto, de zero a mil ou de zero a dez? Dez com estrelinha, como dizia a minha professora Romélia no curso primário? Dez por quê? Por que Waldomiro não respondeu? Porque não respondendo, Waldomiro deixou de incriminar alguém? Se deixou de incriminar alguém, quem foi? Estou pedindo as perguntas à Polícia Federal, para lê-las da tribuna e fazer delas minhas perguntas, da Liderança do PSDB.

Houve alívio sim, e jogaram contra o Senador Almeida Lima todas as culpas do mundo. S. Exª, se não mantiver personalidade alta, acaba renunciando ao seu mandato. De repente, me parece que S. Exª é culpado de todos os males acumulados por este País de Cabral para cá. S. Exª foi bombástico? Foi. S. Exª talvez devesse ter consultado a nós, outros líderes da Oposição? Sem dúvida. Telefonei ao Senador Jefferson Péres e perguntei-lhe se houve precipitação, porque S. Exª não conversou antes com o Senador Almeida Lima. Sem dúvida, houve. Mas não vi no Código Penal nada que penalizasse o bombástico, o precipitado. O Código Penal trata do corrupto, do bandido, do contraventor. O Código Penal trata do corrupto passivo e do corrupto ativo. E, de repente, quase que me convenço de que quem pegou o dinheiro com o bicheiro foi o Senador Almeida Lima. Quase que me convenço de que quem depositou confiança no Dr. Waldomiro foi o Senador Almeida Lima. Quase me convenço de que defender o Senador Almeida Lima - e não estou defendendo - seria um sacrilégio. Ou seja, de repente desabariam contra mim todas as vozes da indignação deste Senado. Não acredito que vá desabar nenhuma voz contra mim, nem agora nem hora nenhuma.

Mas o fato é que houve alívio sim, não de S. Exª. Presenciei o discurso indignado que S. Exª fez, mas houve alívio do Governo, sim. S. Exª diz: apuração dura, doa a quem doer!

Pois eu tenho, seguramente, dois momentos que revelam que a apuração não está sendo dura e, até agora, não está doendo em ninguém, nem em Waldomiro, que estava sorridente ontem diante das câmeras de televisão. Não está doendo coisa alguma! Com 48 horas para entrarem na casa dele, fizeram o cumprimento do mandado judicial apenas com 46 horas, faltavam duas para escoar o prazo. Teve mais do que tempo de mexer nos documentos. Não digo que o tenha feito.

Agora, sabemos pelos jornais que os seus documentos estão lacrados por pessoas do Palácio do Planalto. Então, não está havendo uma apuração dura, aos olhos da Oposição.

S. Exª diz que reconhece os direitos e até o dever da Oposição de fazer oposição dura, pois é esse dever que estou cumprindo agora, exigindo a apuração dura, doa a quem doer, e de fato querendo marcar, até para que eu possa manter o respeito que eu quero manter pelo Governo do Presidente Lula, a idéia de que, se alguém quer investigar a vida de quem quer que seja - e eu ofereço a minha como a primeira a merecer ser investigada, em lugar até da do Senador Antero Paes de Barros, em cuja honra eu confio, como confio na minha própria honra - que não paire dúvida de que alguém está investigando o Antero porque o Antero está investigando fulano.

Que nós mostremos que esse Congresso merece ser representante altivo do povo brasileiro e não um Congresso que faça o pacto da omertà.

Portanto, gostaria muito de que estivéssemos tratando de outros assuntos: a crise econômica, denúncia de corrupção no Serpro, outros nomes que vão surgindo. A Folha de S.Paulo tem insistentemente discutido pormenores da atuação pública do tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Não temos tido tempo de discutir nada nesta Casa. Só tratamos de Waldomiro Diniz. Por quê? Porque o Governo está deixando esse cadáver insepulto. O Governo pensa que, com futuras atitudes diversionistas, vai fazer com que a Nação esqueça o passado.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Senador Arthur Virgílio, faço um apelo a V. Exª. Já concedi nove minutos ao Senador Aloizio Mercadante e nove minutos a V. Exª, e ainda há uma série de oradores para debater.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, ultrapassei o tempo, mas vejo pelo painel que estou no vermelho em apenas 17 segundos. Estou devendo muito menos que o Waldomiro Diniz à Nação - bem menos.

Encerro, Sr. Presidente. Não vou demorar.

Respondo ao Líder, dizendo que o que queremos é mesmo isso. Não estamos fazendo nenhum julgamento precipitado. Mas queremos investigação séria e mais dura do que a que está sendo feita. Por isso, insistimos que o caminho, nesse caso, é o previsto na Constituição e no Regimento Interno com relação ao recurso à Comissão Parlamentar de Inquérito, que não vai matar governo algum, segundo o Ministro Antonio Palocci, que confia nas instituições sólidas de um País sóbrio e de um País maduro como o Brasil. Estou com o Ministro Antonio Palocci: a economia não está sofrendo e nem vai sofrer. Ela está sofrendo pelos erros e pela incompetência do próprio Governo, mas não vai sofrer devido à investigação. Ao contrário, temos de preservar a economia de eventuais influências de figuras como o Waldomiro Diniz, porventura enquistadas neste ou em qualquer outro Governo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Volto a dizer que agradeço muito à Casa a consideração que demonstra pela figura do Líder Aloizio Mercadante e de Pedro Malan. Não podemos ficar nesse jogo de “gato e rato”, porque ninguém nesta Casa é gato e muito menos poderia ser rato. Ninguém vai convocar o Ministro Pedro Malan para depor nesta Casa. Eu convocarei o Ministro Pedro Malan quando quiserem. Ninguém vai convocar o Ministro Pedro Malan para depor nesta Casa. Se alguém quiser ou tiver de fazê-lo, serei eu, Líder do Partido do Presidente Fernando Henrique Cardoso de quem Pedro Malan foi Ministro por oito anos.

Portanto, é bom saberem que nos podem matar de outra coisa, mas não de medo, não nos empurrando para a omissão, não nos empurrando para o recuo, não nos empurrando para a covardia.

Muito obrigado, Sr. Presidente. Era o que tinha a dizer.


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