Discurso durante a 11ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação de S.Exa. com o anúncio de greve da polícia federal que deverá iniciar-se amanhã.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Preocupação de S.Exa. com o anúncio de greve da polícia federal que deverá iniciar-se amanhã.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2004 - Página 6169
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • ANUNCIO, GREVE, POLICIA FEDERAL, NECESSIDADE, ATENÇÃO, GOVERNO, MOTIVO, RESPONSABILIDADE, INSTITUIÇÃO PUBLICA, FISCALIZAÇÃO, FRONTEIRA, COMBATE, TRAFICO, DROGA, CONTRABANDO, CRIME ORGANIZADO, ADULTERAÇÃO, COMBUSTIVEL.
  • REIVINDICAÇÃO, POLICIA FEDERAL, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, REGISTRO, GRAVIDADE, VIOLENCIA.
  • SOLICITAÇÃO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), NEGOCIAÇÃO, GREVE.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, V. Exª sabe que quase hesitei; quase não venho para a tribuna. Está difícil falar no Senado! É natural. Todos querem ocupar a tribuna, estamos vivendo momentos de inquietação no País. Faz CPI; não faz CPI...

Não sei se, em cinco minutos, poderei abordar o tema violência, que tanto aflige o País. Mas, sinceramente, estou extremamente preocupado com o momento que vivemos. Estou dando continuidade aos assuntos que foram aqui suscitados. Vou abreviar meu discurso, atendo-me a apenas um aspecto.

A imprensa está noticiando que a Polícia Federal vai entrar em greve a partir de amanhã. Do meu ponto de vista, a questão merece, por parte do Governo Federal, toda a atenção, pois a Polícia Federal é uma instituição do mais alto conceito e seriedade; é uma instituição que tem sobre os ombros a responsabilidade pela fiscalização da fronteira do País e, neste aspecto, envolvo o meu Mato Grosso do Sul, que faz fronteira com o Paraguai, com a Bolívia. É a Polícia Federal que tem a responsabilidade de combater, mais do que outras instituições, o narcotráfico e o contrabando deste País, que têm assumido proporções gravíssimas e extraordinárias. É a Polícia Federal que está desbaratando a máfia dos combustíveis. É a Polícia Federal que vem reclamando, pasmem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há muito tempo, melhores meios para executar seu trabalho, que tem estado, às vezes, com os telefonemas ameaçados de não funcionar, que não tem gasolina para abastecer os carros e que, mesmo assim, realiza um trabalho sério no Brasil. Sem meios, sem recursos para trabalhar, ainda assim, para tudo se invoca a Polícia Federal, que parece vai entrar em greve amanhã.

Ocupo esta tribuna para fazer um apelo ao Governo Federal, ao Ministério da Justiça que está afeto à Polícia Federal, para que procure conversar com a Polícia Federal, porque essa Instituição tem razão, mas, se ela entrar em greve, vai prejudicar este País. A violência está demais. Aliás, essa violência está tão forte, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, que sabe o que está acontecendo? As mortes, os assassinatos estão banalizados. Ainda hoje, no meu Mato Grosso do Sul, na minha cidade que tem 80 mil habitantes...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Ramez Tebet, V. Exª me concede um aparte? A intenção é ajudar-lhe, inclusive.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Já vou conceder-lhe. Só um minutinho...

Na minha cidade, com 80 mil habitantes, foram assassinadas quatro pessoas no período da manhã: um casal, um motorista e um cirurgião dentista!

Senhores, o Brasil não pode viver nesta crise. O Governo Federal tem que entrar nisso e já para ajudar a Polícia Federal. Vamos dar meios à Polícia Federal. Vim aqui porque estou defendendo a Polícia Federal, porque sou de Mato Grosso do Sul e conheço - e qualquer brasileiro não precisa ser de Mato Grosso do Sul, não - qualquer brasileiro conhece o trabalho da Polícia Federal. E sabemos os prejuízos que serão causados se a Polícia Federal entrar em greve.

Tem V. Exª o aparte, Senador.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador, quero apenas pedir a V. Exª, por meio deste aparte, na realidade, para me dirigir ao Presidente da Mesa, ao nobre Senador Papaléo Paes, para que, com a sua sensibilidade e seu poder soberano de presidir esta Casa neste instante, acolha a gravidade do pronunciamento que o Senador, ex-Presidente desta Casa, faz neste instante e prorrogue por mais 15 ou 20 minutos, para que o Brasil inteiro tome conhecimento do grave alerta que o Senador tem a fazer a todos nós. É um apelo que faço a V. Exª. Tenho certeza de que a soberania da Presidência concederá a todos nós o direito de ouvir esse brilhante e querido Parlamentar que é o Senador Ramez Tebet.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes) - Informo que a Presidência está atenta. Logicamente, quando anunciei o Presidente Ramez Tebet foi observando o Regimento Interno. Claro que esta Presidência pode decidir pela prorrogação do Expediente, o que faremos por mais dez minutos, para que V. Exª possa concluir o seu pronunciamento.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, mas, antes, tenho de render meu preito a esse Senador meu amigo, Heráclito Fortes, pela sua sensibilidade. Eu não iria pedir para mim mesmo, Sr. Presidente, pois não gosto de fazer isso. Mas o Senador Heráclito Fortes o fez por mim, pelo que agradeço, pois estou falando para a Nação brasileira. Eu sei que é a humilde voz de um Senador de Mato Grosso do Sul, que luta na defesa dos interesses do seu Estado, sim, mas que tem os olhos voltados, neste momento, para a visão panorâmica da sua Pátria. E a visão panorâmica da minha Pátria é grave nesta hora, Sr. Presidente!

Vejo que a Nação somente está discutindo escândalos, violência. Nada está sendo apurado. As mortes se sucedem. A cada dia, a cada hora, encontram-se brasileiros mortos, assassinados; a cada dia, a cada hora, a cada momento há um ato de corrupção a ser desvendado. Enquanto o Poder Legislativo está discutindo CPIs, as mortes e a violência estão sendo banalizadas.

Vejam o centro do Rio de Janeiro. Em Copacabana, na semana passada, vimos o que ocorreu: uma guerra de gangues.

Então, quando a Polícia Federal, instituição séria, instituição a que o País muito deve, fala em entrar em greve, tenho que vir a esta tribuna, Sr. Presidente, em nome das famílias brasileiras que estão atormentadas, em nome da tranqüilidade, em nome da segurança pública...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª permite um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - … para defender os interesses deste País. Penso que o assunto tem que ser tratado. Uma polícia tem que ter telefone para ser acionada, tem que ter gasolina para ir atrás de bandido. Não é possível ficarmos só falando em superávit primário de 4,25%...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª permite um aparte, Senador?

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - … falando dessas coisas e o Brasil passando necessidade, passando privações naquilo que é essencial, que o Estado tem responsabilidade de dar, que é tranqüilidade às nossas famílias.

Tem o aparte V. Exª, Senador.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Ramez Tebet, nós lamentamos: o Governo acabou. Não há ninguém do Governo aqui, nenhum representante do Governo para defender e levar seu apelo, que é real. Eu vou trazer um quadro. E graças à solicitação de prorrogação da sessão por um Senador piauiense, Senador Heráclito Fortes, e à sensibilidade do Presidente, V. Exª continua seu discurso. Ontem, à noite, eu vinha de minha cidade, no litoral, para Teresina, Senador Ramez Tebet. E há um posto da Polícia Rodoviária Federal em Piripiri. O guarda, muito distinto, muito preparado, estóico no seu exercício, à noite chovendo, me reconheceu e disse: “Senador, tenha cuidado porque na chuva há gado na pista. Antes tínhamos combustível para dar atenção, para afastar o gado da estrada, mas não há mais gasolina e não podemos prestar esse serviço”. É porque a Polícia está nesse estado que cresce a violência. Tínhamos medo de o PT mudar as cores da nossa bandeira para a cor vermelha, mas o Partido mudou apenas a inscrição na listra branca: em vez de Ordem e Progresso, agora é desordem e regresso.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Senador Mão Santa, não falo como Oposição ou como Governo. Estou falando de uma realidade nua e crua. O Brasil não suporta mais viver nesse clima de insegurança. Não se trata de uma fala do Senador Ramez Tebet, mas do clamor da Nação brasileira, de um povo que está pedindo proteção. Essa é a verdade.

É preciso que o Governo Federal converse com a Polícia Federal para acatar as reivindicações que não foram atendidas. Esse é o assunto que me traz à tribuna, e pretendo voltar.

Sr. Presidente Senador Papaléo Paes, V. Exª está presidindo a Casa com muita seriedade. Sei que há uma lista de inscrição e para assiná-la é preciso fazer fila. Como a toda hora os Líderes estão se pronunciando, às vezes o terceiro ou o quarto inscrito nem consegue falar. Espero que o pouco que falei seja suficiente. Falo em defesa do meu Estado de Mato Grosso do Sul, em defesa da Nação brasileira. O assunto é muito sério.

O jornal Correio Braziliense noticia: “Temporada de Greves”. A Polícia Federal entrará em greve amanhã e a Receita Federal, depois de amanhã. Onde vamos parar com tudo isso? Os bandidos ficarão agindo por aí?

Sr. Presidente, eu confio. Tomara que haja uma solução.

Deixo aqui minhas homenagens à Polícia Federal. Não sou porta-voz da Polícia Federal, mas reconheço os relevantes serviços que tem prestado ao nosso País, tanto que, quando se fala em caso grave, tentam substituir a ação de uma CPI pela da Polícia Federal. Se é assim, vamos proteger a Polícia Federal! É o apelo que faço desta tribuna.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2004 - Página 6169