Discurso durante a 11ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Arrocho tributário que acomete a classe média brasileira, criticando a reforma tributária do Governo Lula.

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRIBUTOS.:
  • Arrocho tributário que acomete a classe média brasileira, criticando a reforma tributária do Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2004 - Página 6179
Assunto
Outros > TRIBUTOS.
Indexação
  • PROXIMIDADE, PERIODO, APRESENTAÇÃO, DECLARAÇÃO DE RENDIMENTO, ANALISE, PESQUISA, SITUAÇÃO, CLASSE MEDIA, SUPERIORIDADE, PAGAMENTO, IMPOSTO DE RENDA, MOTIVO, AUSENCIA, CORREÇÃO, TABELA, AUMENTO, ARRECADAÇÃO, RECEITA FEDERAL, TRANSFERENCIA, RECURSOS, SOCIEDADE CIVIL, ESTADO, INEFICACIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, EDUCAÇÃO, SAUDE, SEGURANÇA PUBLICA, TRANSPORTE.
  • CRITICA, REFORMA TRIBUTARIA, PREJUIZO, TRABALHADOR, EMPRESA, FRUSTRAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, FALTA, POLITICA SOCIAL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, ELEIÇÃO MUNICIPAL.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, às vésperas de mais um ajuste anual de contas com a Receita Federal, momento em que as famílias se preparam para preencher a declaração do Imposto de Renda, um estudo da consultoria Ernst & Young espelha a ferocidade do arrocho tributário a que a classe média brasileira vem sendo submetida ao longo da última década.

A pesquisa simulou as situações de quatro famílias, cada uma com um contribuinte e dois dependentes, fazendo frente a despesas médicas e com educação, em diferentes faixas de rendimentos anuais. Para simplificar a discussão, vou-me fixar em apenas uma dessas hipotéticas famílias, aquela que me parece mais representativa do numeroso segmento de classe média baixa: a família “B”, com receita tributável anual de R$ 34.148,17. Em todos os casos, porém, o estudo considerou que os salários, desde 1995, foram reajustados em janeiro pela variação do IPCA do ano anterior, o que equivale a um acúmulo de 100,64% em nove anos. (Observo, entre parênteses, que a simulação se limitou a empregados do setor privado, pois que, em sua esmagadora maioria, os servidores públicos atravessaram o octênio Fernando Henrique Cardoso sem um único reajuste que recompusesse minimamente o poder de compra dos salários.)

Vejam agora, Srªs e os Srs. Senadores, o estrago causado pela não-correção da tabela do IR por anos a fio no orçamento das famílias de classe média com rendimentos mais baixos.

De 1995 a 2001, o trabalhador com uma renda anual, hoje, de R$ 34 mil e que preencheu a declaração completa viu sua carga tributária descrever a seguinte escalada: 1,39%; 1,47%; 2,50%; 3,02%; 3,07%; 3,93%; e 4,44%. Em 2002, um ligeiro alívio de inspiração eleitoral fez a carga baixar para 3,63%. Mas, já ano seguinte, ela retomou sua trajetória altista, atingindo 4,66%!

Em valores absolutos, Sr. Presidente, a mordida do Leão nos ganhos desse trabalhador, que teve seu salário reajustado desde o Plano Real, passou de R$ 236,25 para R$ 1.591,13 no ano passado.

Em 1997, quem ganhava, digamos, R$ 36 mil por ano, após deduções relativas a três dependentes e gastos com saúde, ainda tinha direito a uma restituição de R$ 720,00. Hoje, em razão do longo congelamento da tabela do IR, esse mesmo contribuinte deve desembolsar R$ 640,00 de imposto, fora o que já ficou retido na fonte.

Enquanto isso, a arrecadação da Receita Federal não parou de crescer. A não-correção da tabela ampliou o contingente de contribuintes pessoas físicas, fazendo com que aqueles taxados na alíquota mais baixa (de 15%), logo após o plano real, passassem a ser tributados pela mais alta (de 27,5%), agora.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a sangria da classe média prosseguiu e se agravou com a mudança de governo. Graças ao novo congelamento da tabela do IR, à extensão da cobrança do ISS a uma ampla gama de setores e ao aumento de mais de 150% da Cofins, a gula do Leão suga mais e mais recursos da sociedade, bombeando-os para dentro de um organismo estatal obeso e apoplético, que fracassa no provisão de serviços fundamentais à cidadania e ao setor produtivo (educação, saúde, segurança pública, estradas).

A reforma tributária do governo Lula resume-se a uma queda de braço entre os três níveis de governo (União, estados, municípios) pela apropriação do maior naco possível da carga tributária, enquanto trabalhadores e empresários assistem indefesos à formação dessa frente ampla contra o seu bolso.

Sr. Presidente, a classe média brasileira começa a despertar indignada para a destinação que o governo Lula está dando ao seu suado dinheiro.

Uma parte é esbanjada em generosa e pouco criteriosa distribuição de cargos públicos a “companheiros” petistas nas administrações diretas e indireta.

Outra parte está sendo gasta na ampliação dos beneficiários do programa Bolsa-Família, herdeiro do falecido Fome Zero. Ninguém, em sã consciência, pode-se opor ao auxílio emergencial a famílias situadas abaixo da linha de miséria. O que provoca perplexidade e indignação é o foco exclusivo do governo na distribuição de esmolas como eixo de sua política pública, sem a devida atenção à genuína prioridade de promover o crescimento econômico sustentado, utilizando os meios adequados para combater as causas da miséria, o que inclui a democratização das oportunidades de planejamento familiar aos mais pobres e a difusão dos mecanismos de microcrédito e assistência técnica e gerencial a milhões de microempreendedores e trabalhadores por conta própria.

E como se não bastassem as suspeitas de manipulação eleitoreira desses benefícios para a conquista dos redutos de miséria rural e urbana de forma a expandir o número de prefeituras controladas pelo PT no pleito municipal deste ano, agora cresce a desconfiança de que a ampliação do Bolsa-Família seria motivada também pela urgência palaciana em desviar as atenções gerais do escândalo envolvendo ex-auxiliar graduado do ministro José Dirceu, o que paralisou o processo decisório do governo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a classe média pode, deve e exige participar de um projeto de desenvolvimento que, sem abrir mão do rigoroso controle das contas públicas e da estabilidade monetária, crie o ambiente de confiança necessário à retomada dos investimentos, da produção e do consumo.

O que a classe média brasileira não suportará por muito mais tempo é ser sangrada em seu dinheiro, em suas energias e nas suas esperanças por um governo sem projeto, sem horizontes, sem rumo, cuja finalidade parece esgotar-se na conservação do próprio poder.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2004 - Página 6179