Discurso durante a 13ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios ao sistema de comunicação do Senado. Quadro calamitoso do desemprego no País. Repúdio pela não liberação de verbas destinadas ao Piauí para o combate às enchentes.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Elogios ao sistema de comunicação do Senado. Quadro calamitoso do desemprego no País. Repúdio pela não liberação de verbas destinadas ao Piauí para o combate às enchentes.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2004 - Página 6590
Assunto
Outros > SENADO. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • ELOGIO, SERVIÇO DE COMUNICAÇÕES, SENADO, ESPECIFICAÇÃO, TELEVISÃO.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, DIARIO DO POVO, ESTADO DO PIAUI (PI), REPUDIO, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, LIBERAÇÃO, RECURSOS, ASSISTENCIA, POPULAÇÃO, VITIMA, INUNDAÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNO, LIBERAÇÃO, RECURSOS, COMBATE, INUNDAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, brasileiras e brasileiros aqui presentes, cidadãos que acompanham esta sessão pela Rádio Senado AM e FM e pela TV Senado e que vão acompanhá-la pelo jornal, o Senador Eduardo Siqueira Campos falava da audiência do sistema de televisão do Senado. É verdade o que ele disse, porque tenho recebido e-mails de todo o Brasil.

Outro dia, eu saia com a minha Adalgisa de uma igreja em Campos do Jordão e fui reconhecido por dezenas de pessoas. Mas por que, caro Senador Antonio Carlos Magalhães? Porque ela leva a verdade. Na mídia brasileira, a verdade está aqui.

Eu citaria só um fato que vale por dez mil palavras: no imbróglio, o Waldomiro é um São Nunca! Porque, caro Senador Antonio Carlos Magalhães, o Waldomiro baixou lá e ninguém sabe como! Ninguém é amigo dele, ninguém o conhecia, ninguém se aproximou dele, e ele apareceu. Portanto, parece uma propaganda de carro que passa na televisão em que São Nunca cai do céu!

Por isso mesmo, a Globo contratou o Senador Paulo Paim para levantar a audiência da programação. S. Exª está muito bonito, e a sua inserção mostra a sua sensibilidade e a do Senado. Foi uma lei boa e justa a que trata da defesa e do respeito aos idosos. Essa lei era necessária. Vimos que o próprio Ministro Berzoini desrespeitava os idosos. Portanto, ela veio no momento oportuno.

Quero dizer algo. E quis Deus que aqui estivesse o Senador Cristovam Buarque, a competência do PT. Professor Cristovam, aprendo muito com o povo. Senadora Heloísa Helena, o nosso Ulysses disse: “Ouçam a voz rouca das ruas”. Já vi que isso é importante, Senadora. Mas quero acrescentar algo. Creio que sou o mais fiel discípulo de Ulysses. É lógico que o Senador Pedro Simon está na frente, porque conviveu com ele, e é a bandeira e o símbolo do nosso MDB. Mas quero fazer uma pequena emenda, um aditivo, Senadora Heloísa Helena: ouçam a voz rouca das ruas e vejam os sobreviventes das ruas. É isso, Senador Papaléo Paes.

Senadora Heloísa Helena, sempre ouço a voz das ruas. Dizem que é mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade. A verdade está aqui, daí a audiência. O sistema de comunicação vale pela verdade.

O que eu queria dizer é que não ouçam apenas a voz das ruas, mas vejam os sobreviventes das ruas. Senadora Heloísa Helena, eu vi. Estou vendo, no Piauí - competente, inteligente, bravo, histórico -, decalques nos carros com o seguinte texto: “incomPeTente”. É o que estamos vendo.

Não adianta, Goebbels todo mundo já estudou. Esse negócio de dizer que há emprego no interior do País não é verdade. É mentira! O interior está vindo para os centros urbanos, porque lá não há emprego. Esta é a verdade. A verdade está aqui: 10 milhões de desempregados. A verdade é que o núcleo era apenas duro, não era competente. Daí os slogans que estão circulando nos carros. São 10 milhões de desempregados. O quadro de desemprego é calamitoso e tudo indica que ele não mudará já.

Senador Eduardo Siqueira Campos, esse Governo é fraco; esse Governo acabou com a universidade pública. Mas nós tivemos o privilégio de ter estudado lá no passado e de termos entendimento das coisas. Estuda-se para tudo. Até para jogar futebol se estuda. Como é então que não se vai estudar para governar, Senador Alvaro Dias? 

O Sr. Alvaro Dias (PDT - PR) - Senador Mão Santa, V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Concederei um aparte logo em seguida a V.Exª.

O que se sabe hoje é que se o PIB crescer 1%, serão criados 300 mil empregos. Isso já se sabe - o que é que estão fazendo os economistas que estudam o desenvolvimento? Um por cento de crescimento equivale a 300 mil empregos. Se a economia crescer 5%, 1,5 milhão e meio de empregos serão criados. E é justamente a juventude que se emprega. Ainda fica um déficit de 10 milhões. Portanto, o problema é que o Governo estabeleceu programas e metas, mas quer governar por slogan. Há o Fome Zero. Sei que há muita coisa zero: competência zero, avião zero quilômetro, carro zero quilômetro. Esta é a verdade. Um milhão e meio de jovens precisam de emprego, para um estoque de 10 milhões de desempregados.

Senador Antonio Carlos Magalhães, eu trouxe a esta Casa Carlos Lacerda - V. Exª deve ter sido Deputado na mesma época que ele. Idéias. Em relação a governar, Carlos Lacerda diz: “Governar é fácil, é fazer que façam”. Mas eu gostaria de repetir aqui as palavras dele - atentai bem, porque ele foi um respeitável parlamentar, um extraordinário governante da Guanabara: “Tenho, pois, o direito de dizer que não posso acreditar apenas em palavras, quando a função de quem governa é fazer, mais do que falar”. Deve haver esse entendimento, Senador Paulo Paim.

Não queremos nada ruim. Amamos este País, em que está o meu querido Piauí. Mas, do jeito que está, não vamos esconder a verdade, não há mídia que dê conta. O povo tinha medo de que a bandeira passasse a ser vermelha, que é uma bonita cor, principalmente porque sou cirurgião e ninguém viveu e conviveu mais com sangue do que eu.

A Srª Heloísa Helena (Sem Partido - AL) - É a cor do Espírito Santo!

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É a cor do Espírito Santo, mas, Senadora Heloísa Helena, foi só na listrinha branca que houve a mudança. Senador Antonio Carlos Magalhães, não colocaram a bandeira da cor da sua gravata; é só na tirinha branca que estão colocando “Desordem e Regresso”. Esta é a verdade.

O jornal Diário do Povo, que é um dos poucos jornais independentes do Brasil - ele é do Piauí, que expulsou os portugueses em guerra; do Piauí que não aceitou o interventor militar imposto por Getúlio Vargas; do Piauí que acabou com a Coluna Prestes; do Piauí que elegeu Rui Barbosa; do Piauí que trouxe o Senador Alberto Silva, o Senador Heráclito Fortes e eu para o Senado -, publicou a seguinte manchete: “Piauí ainda não recebeu verba para reconstrução”. 

São dois meses de conversa. Está aqui o jornal Diário do Povo, em que um jornalista muito competente, que está ao lado do Heráclito, que nos aperreia muito, o Luciano Coelho, escreve:

Dois meses depois da visita de Lula quase nada foi feito.

As famílias alojadas no ginásio de esportes Pato Preto, no bairro Mocambinho, zona Norte de Teresina, visitadas pelo Presidente Lula em janeiro, ainda têm um fio de esperança de verem atendidas as promessas feitas no discurso do presidente, acompanhado de vários ministros, do governador do Piauí, Wellington Dias (PT), e do prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB).

O plano de reconstrução do Prefeito é enorme.

Ontem, vi desespero porque não foram aprovados os US$100 milhões de São Paulo - São Paulo que adoramos. Não perco aquela novela, Heloísa, Um Só Coração. Que grandeza! Quantos nordestinos! Os piauienses estiveram aqui em Brasília e lá, como todos nós nordestinos.

Senador Antonio Carlos Magalhães, eu queria aqueles meus sessentinha. Trindade, Deputada Federal do Piauí, brava como Heloísa Helena, é estrela do PT que foi para o céu. Eu pedi ao Tião Viana e ele, sensível, acompanhou-me. Mas o hospital está parado. Há um hospital, um ambulatório universitário, iniciado por Heráclito Fortes, Professor Wall Ferraz, Francisco Gerardo e Firmino Filho, que está todo pronto, mas esse não, porque dizem que o Prefeito é do PSDB. São essas as deficiências.

E os US$100 milhões? Estavam nervosos, apressados, quando bateram ali. Cadê o debate qualificado? O debate qualificado diz: Oh consciência, mande os sessentinha para o Piauí, que fez essa grandeza! Este Brasil só tem essa unidade porque expulsamos os portugueses. São os sessentinha. São o hospital e o ambulatório do Prefeito do PSDB. São US$100 milhões para São Paulo, porque é ano eleitoral, para ver se a prefeita do PT ganha. Acho que não. A CPI pode ser abafada, mas a voz e a coragem dos brasileiros são a CPI que os espera nas eleições. Essas, sim.

Antonio Carlos Magalhães, convido-o a ir para a minha cidade. Ô cidade inteligente de Parnaíba! Cidade de Dias da Silva, que financiou a guerra, de João Paulo Reis Velloso, dos avós de Heráclito, de Alberto Silva. Lá, Papaléo, o cemitério é da Igualdade. Toda vez que vou, Senadora Heloísa Helena, que sabedoria: Igualdade. Não é um nome bonito para um cemitério? Pois o único dia da igualdade que conheço é o da eleição, no qual não há aquele trator que anda por aqui, não dá para fazer negociações. E essa vai ser a CPI do povo, a CPI da verdade.

São essas as minhas palavras, uma solicitação para que liberem esses US$100 milhões, em homenagem ao aniversário, ao povo. Mas que se garantam aos outros Estados, ao Piauí, as suas reivindicações. 

Em homenagem a Antonio Carlos, volto a citar o baiano que diz que a salvação é a lei, é estar dentro da lei, com a lei: “Fiesp condena uso ‘indiscriminado’ de medidas provisórias”. Condenavam o Fernando Henrique Cardoso, mas já editaram mais do dobro. Como é ligeiro esse Governo. E é uma medida provisória que trava a pauta. Há até um nome: sobrestado. Aprendi isso, não sabia. A toda hora alguém diz: “Não podemos trabalhar, não há reunião de Comissão, porque está tudo sobrestado”. Senador Paulo Paim, o termo correto é este, sobrestado? Estão paradas as votações porque há uma medida provisória sobrestando. Governa-se com lei. Esta Casa é regiamente paga, simbolizando a luz do Poder Legislativo, para fazer leis boas, que possam melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, e não para precipitações, medidas provisórias, como a do bingo.

Senador Hélio Costa, vamos dar um exemplo. V. Exª representa a sabedoria de Minas, a prudência da nossa história: se um parente seu, um irmão seu tivesse ido a um banco, porque o dinheiro é caro, os juros são os mais caros, e as leis lhe permitissem montar um bingo, o que ele faria? Ele tiraria um empréstimo, assinaria carteira. E viria uma medida provisória irresponsável. Deve haver lei. Vamos amadurecer a lei justa e boa para o povo, a lei feita após audiências públicas, contando com a experiência de todos nós. Seu irmão tirou dinheiro no banco, se endividou - era legal - e, querendo tapar o sol com a peneira, o Governo comete a irresponsabilidade de editar medida provisória, enterrando as leis de Rui, as leis que Deus, numa inspiração, entregou a Moisés. Se Ele governou seu mundo com leis, nós temos que governar o nosso Brasil também com leis. Medida provisória não é lei, é uma excrescência, é um abuso, é uma precipitação, é uma enganação, é, sobretudo, uma obstrução nesta Casa.

Quero dar o aparte ao Senador do Paraná, Alvaro Dias. Há tempo, ainda, obedecendo ao grande Presidente, artista, hoje, da Globo, que está aumentando sua audiência.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. O estilo ímpar de V. Exª certamente pode ser discutido por alguns mas faz o gênero popular e coloca o dedo na ferida com muita competência. De passagem, V. Exª abordou a crise na universidade, o desmonte da universidade pública. E eu queria apenas aduzir ao seu discurso uma informação: no Paraná, um Governo que é sucursal do Governo Federal começa a desmontar a universidade pública, cancelando, não sei com que autoridade, quarenta e dois cursos das universidades estaduais. Quarenta e dois cursos foram repentinamente cancelados, com prejuízo para os estudantes que estavam já cursando a universidade e para aqueles que se preparavam para o vestibular na metade do ano. Há revolta nas universidades públicas do Paraná diante dessa irresponsabilidade governamental. Alegar inexistência de recursos é fácil. O Governo anuncia crescimento da receita do ICMS, no último quadrimestre, de mais de R$2 bilhões. No entanto, elimina serviços públicos fundamentais. Um Governo que não tem competência para oferecer oportunidade aos jovens de cursar a universidade não é digno de ser governo. Não entendo também como se possa afrontar a autonomia universitária dessa forma. Joga-se para o ar, irresponsavelmente, a autonomia da universidade. Aproveito o discurso de V. Exª, Senador Mão Santa, para fazer esse protesto, em nome de professores e universitários do Paraná.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Alvaro Dias, agradeço a V. Exª o aparte, que incorporo ao meu discurso. Concluindo, uso a inspiração de V. Exª.

Senador Jefferson Péres, fui prefeitinho, oportunidade em que visitei uma fábrica, na Alemanha, a Merck, de Darmstadt, que também funcionava em minha cidade. Lá, o meu intérprete, um homem muito rico, diretor da Merck, em todos os lugares que chegava me surpreendia, porque ele sempre se apresentava como Professor Basedow. Assim, tinha o trânsito facilitado, eram-lhe abertas todas as portas. Perguntei-lhe: “Basedow, o senhor não é diretor químico da Merck, de Darmstadt?”. Ele respondeu: “Sim. Mas me apresento como professor, porque aqui na Alemanha é o título mais honroso”. Então, é isso que quero dizer a V. Exª, Senador Alvaro Dias.

O Professor Basedow levou-me à Haydelberg, uma antiga cidade alemã. A Alemanha foi toda ela modernizada; sofreu duas guerras e foi reconstruída. Fiquei perplexo com a arquitetura antiga, Senador Jefferson Péres. Ele me disse que, mesmo a Alemanha tendo passado por duas guerras, o mundo respeitou a universidade e não a bombardeou. O saber é a semente. No entanto, aqui, o Governo do PT está fechando as nossas universidades.

Cito o Senador Antonio Carlos Magalhães, que fala muito no Senhor do Bonfim, e a Senadora Heloísa Helena, para lhes dizer que Francisco é o nome do cristão que mais se aproximou de Cristo. Dizem que Deus é brasileiro. Eu tinha a crença de que Deus era mesmo brasileiro. Mas, Senador Paulo Paim, Deus não colocou aqui vulcão, terremoto, maremoto ou geada, mas colocou esses momentos de PT. Então, digo que Ele não é brasileiro.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2004 - Página 6590