Discurso durante a 14ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para o uso indevido de substâncias para aumentar a performance entre praticantes de esportes.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Alerta para o uso indevido de substâncias para aumentar a performance entre praticantes de esportes.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/2004 - Página 6780
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APREENSÃO, UTILIZAÇÃO, SUBSTANCIA, ALTERAÇÃO, CORPO HUMANO, RISCOS, SAUDE, AUSENCIA, CAMPANHA, ESCLARECIMENTOS, DIVULGAÇÃO, ESTUDO.
  • REGISTRO, DADOS, CONSUMO, SUBSTANCIA, SUPLEMENTAÇÃO, ALIMENTAÇÃO, ATLETAS, AUSENCIA, ACOMPANHAMENTO, MEDICO, NUTRICIONISTA, FACILIDADE, ACESSO, FALTA, FISCALIZAÇÃO, VENDA, ACADEMIA, ESPORTE, NECESSIDADE, ATENÇÃO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, ENSINO SUPERIOR, EDUCAÇÃO FISICA, ETICA, OPOSIÇÃO, LOBBY, COMERCIALIZAÇÃO.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a busca desenfreada de prestígio social e de adequação ao padrão de beleza veiculado pela mídia produz atitudes muitas vezes prejudiciais à saúde e ao bem-estar das pessoas. A obsessão por um corpo perfeito tem, freqüentemente, desfecho trágico: são conhecidos os casos de distúrbios alimentares como a anorexia e de doenças graves geradas pela ingestão de drogas e de suplementos alimentares sem a orientação profissional adequada.

Estranho comportamento esse, em que a construção de uma imagem de saúde e de beleza impõe, como preço, a adoção de métodos, sabidamente, pouco saudáveis. Estranho, mas, infelizmente, cada dia mais comum.

Enganam-se os que pensam serem fortuitos os casos em que o ideal de beleza leva à deterioração da saúde. Situações assim não estão restritas a universos profissionais específicos, como o mundo da moda ou o círculo dos atletas profissionais. Estamos, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, diante de uma verdadeira questão de saúde pública. O consumo indiscriminado de substâncias supostamente benéficas na busca de um corpo perfeito vem causando sérios problemas, principalmente entre nossos jovens, mais vulneráveis aos apelos da mídia.

O fenômeno assumiu proporções de epidemia entre os praticantes de musculação, lutas e outras atividades físicas. Esse fato tem despertado a atenção de diversos profissionais da saúde, como médicos, professores de educação física e nutricionistas. Diversos estudos sobre o tema têm sido divulgados em revistas especializadas, mas, infelizmente, pouca informação é levada ao universo de praticantes de atividades físicas. Os interesses comerciais têm-se sobreposto ao compromisso com a geração da saúde e do bem-estar dos praticantes de diversas modalidades esportivas.

Veja, Sr. Presidente, que não estamos falando aqui, necessariamente, de desportistas que buscam performance; não estamos nos referindo exclusivamente a atletas profissionais ou de competição. Digo isso porque, quando falamos do uso indevido de substâncias para aumentar a performance entre praticantes de esportes, nos vêm à mente imagens como a do corredor canadense Ben Johnson, até então um exemplo para toda uma geração.

Para além desses competidores e profissionais, há todo o universo daqueles que se dirigem às academias e aos clubes esportivos procurando apenas a preservação de sua saúde ou que pretendem entrar em forma perdendo alguns quilos. Especialmente vulneráveis são os jovens que, prematuramente, se vêem enfeitiçados pelo canto da sereia das academias de musculação e das drogas que, supostamente, lhes darão um corpo musculoso em poucos meses de atividade e sem maiores riscos para a saúde.

O consumo de suplementos alimentares, Srªs e Srs. Senadores, cresce assustadoramente entre os jovens no Brasil. Pesquisa recente, realizada na Escola Paulista de Medicina, mostra que aproximadamente 60% dos jovens freqüentadores em academias de ginástica consomem algum tipo de suplemento sem orientação médica ou nutricional.

Poder-se-ia pensar que esses suplementos seriam, como o próprio nome diz, apenas nutrientes a mais, ingeridos na forma de cápsulas, tabletes ou pós a serem diluídos em água. Assim, seriam inofensivos e, na pior das hipóteses, estariam lesando o bolso do consumidor por serem produtos inócuos. Ledo engano. Trata-se de algo muito mais grave.

Os especialistas alertam para o fato de que os aparentemente inofensivos suplementos alimentares são, na verdade, muito perigosos. Entre os produtos mais consumidos estão os hiperproteicos e aminoácidos, queimadores de gordura, hipercalóricos e pró-hormônios. Todos esses apresentam sérios riscos, quando usados sem orientação especializada.

Na realidade, as pesquisas demonstram que esses produtos são consumidos, na quase totalidade dos casos, desnecessariamente. Estudos científicos mostram que o uso de suplementos protéicos acima das necessidades diárias não determina ganho de massa muscular, nem promove aumento do desempenho. Está determinado, também, que uma alimentação adequada é suficiente para a melhoria da saúde, da composição corporal e ao aprimoramento do desempenho de atletas, inclusive daqueles de nível profissional.

Vejamos, Sr. Presidente, por exemplo, o caso de uma das drogas da moda nas academias, a efedrina. Essa droga, que dilata os brônquios facilitando a entrada do ar, é indicada pelos médicos apenas como auxiliar no tratamento de doenças respiratórias. No entanto, tornou-se verdadeira coqueluche nas academias em virtude de seus supostos efeitos na aceleração da queima de calorias. Seu consumo sem orientação médica pode causar arritmia cardíaca, acidentes vasculares e diversos outros problemas. Muitos dos suplementos vendidos no Brasil contêm efedrina, sendo que nem todos indicam devidamente no rótulo a presença da droga na fórmula.

Vejam, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, o risco a que a população está submetida. A efedrina, embora proibida no Brasil, pode ser facilmente adquirida em lojas especializadas, pela Internet e até mesmo em algumas academias.

Outro caso gravíssimo é o dos pró-hormônios. Essas substâncias estimulam a produção da testosterona pelo organismo. Assim, na prática, o usuário está ingerindo anabolizantes sem saber. Os riscos para a saúde são enormes, podendo causar ginecomastia, que é o crescimento das mamas no homem, a virilização da mulher e muitos outros males. Estudo realizado pelo Comitê Olímpico Internacional e divulgado pela Revista Brasileira de Medicina do Esporte, demonstra que, de 634 suplementos analisados, oriundos de 13 países, 15% contêm pró-hormônios não declarados nos rótulos.

Vê-se, portanto, Sr. Presidente, que não há suplemento alimentar inofensivo, e que as fronteiras entre esses e os esteróides anabólicos são muito tênues. Além disso, os estudos têm demonstrado, também, que os usuários de suplementos tornam-se dispostos a utilizar anabolizantes para acelerar os efeitos dos exercícios físicos que praticam. Esses medicamentos, como todos sabemos, são, a um só tempo, os mais agressivos à saúde e os mais sedutores para os jovens, por produzirem, em semanas, o efeito estético que se obteria em anos de exercícios regulares e alimentação saudável. O custo, no entanto, é altíssimo.

Muitas dessas substâncias, por não serem definidas como medicamentos, têm venda liberada no Brasil. Aquelas que a legislação já proíbe, por sua vez, podem ser facilmente adquiridas no mercado negro. Em alguns casos, nos próprios ambientes de prática de exercícios físicos.

É necessário aprimorar os mecanismos de fiscalização. A Anvisa, apesar dos esforços empenhados, não possui estrutura suficiente para realizar as inspeções e, efetivamente, inibir a venda desses produtos. Além disso, sabemos que a proibição, por si só, não resolverá o problema. É preciso, também, intensificar as campanhas de esclarecimento junto ao público jovem, com a colaboração das vigilâncias sanitárias estaduais e os conselhos profissionais da área de educação física. É fundamental, ainda, que sejam enfatizados os riscos desses produtos à saúde durante os cursos superiores de educação física. Afinal, ali são forjados os profissionais que estarão presentes nas escolas, academias e clubes esportivos e, além disso, terão a responsabilidade de orientar os jovens quanto à importância da prática de atividades físicas para a preservação da saúde e da qualidade de vida.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/2004 - Página 6780