Discurso durante a 16ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Agressão sofrida em pronunciamentos de líderes do governo, que atribuíram a S.Exa. leviandade nas palavras proferidas em discurso sobre o caso Waldomiro.

Autor
Almeida Lima (PDT - Partido Democrático Trabalhista/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Agressão sofrida em pronunciamentos de líderes do governo, que atribuíram a S.Exa. leviandade nas palavras proferidas em discurso sobre o caso Waldomiro.
Aparteantes
Alvaro Dias, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2004 - Página 7012
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • RESPOSTA, DISCURSO, LIDER, APOIO, GOVERNO FEDERAL, ACUSAÇÃO, ORADOR, FALTA, RESPONSABILIDADE, PRONUNCIAMENTO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, EX SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PROVOCAÇÃO, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL, COMENTARIO, OFENSA, IMPRENSA, CONTRADIÇÃO, AUSENCIA, COBRANÇA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, DESEQUILIBRIO, DOLAR, BOLSA DE VALORES, ANUNCIO, GOVERNO, MANUTENÇÃO, JUROS.
  • REPUDIO, TRATAMENTO, IMPRENSA, ORADOR, SEMELHANÇA, ACUSAÇÃO, CRIMINOSO, REITERAÇÃO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, COBRANÇA, ESCLARECIMENTOS, CORRUPÇÃO.

O SR. ALMEIDA LIMA (PDT - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como eu disse na semana passada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, o episódio do dia 2 de março, para mim, está longe de acabar. Para aqueles que não se recordam - embora isso seja impossível -, refiro-me ao pronunciamento que fiz desta tribuna, e que, na tarde de hoje, quero reafirmar. Hoje, portanto, voltarei a falar de um dos assuntos abordados naquela oportunidade, e o tempo me dará a oportunidade de tratar de todos os outros.

Admiti que cometi um erro, um equívoco, não de fundo, não de mérito, pois nada do que disse retiro, mas reafirmo. Não diria que foi por ter avaliado mal, mas por falta de avaliação, pelo meu destemor - quem me conhece sabe que sou assim.

Eu não imaginava, não passava pela minha cabeça que o Governo estabeleceria toda aquela articulação, e o meu propósito não eram as câmaras, pois jamais me insinuei para a Imprensa. O meu erro foi avisar no dia anterior, porque eu pretendia chamar a atenção da população brasileira. O fato, por si só, justificava, como justifica.

Mas, como disse, a reação machucou muito, nem tanto a mim, mas sobretudo aqueles que comigo convivem. Porém, a minha alma continua intacta. Ela foi ensinada, ao longo dos anos - e Sergipe me conhece -, a não temer certas atitudes e a não temer o poderio. E é por isso que continuarei no front, na linha de frente, não fugirei da linha que assumi.

Afinal de contas, não matei, não roubei, não corrompi, não contratei marginal, o bandido não saiu de meu gabinete. Se pegarem o decreto de nomeação de Waldomiro Diniz, verificarão que dele não consta minha assinatura. Waldomiro Diniz não saiu de meu gabinete do Senado Federal. Quem o contratou foi o Governo do Partido dos Trabalhadores, e ele tinha gabinete no Palácio do Planalto, não no Senado Federal.

Mas, referindo-me a apenas um episódio - os outros, teremos tempo para abordar em outro momento - , o Senador Aloizio Mercadante disse, naquele dia, neste plenário: “Vimos, hoje, que a Bolsa chegou a cair 3,5%, o risco País subiu, o dólar pressionou”. A Senadora Ideli Salvatti disse: “Inclusive, fez com que o mercado hoje ficasse refém dessa tal bomba que surgiria aqui na tribuna, com a oscilação da Bolsa, do dólar”. E, logo a seguir, complementou: “Custou caro, no ano de 2003, fazer a economia do nosso País voltar aos trilhos. Custou caro controlar os índices inflacionários, o risco Brasil e o dólar.” O Senador Renan Calheiros disse: “Hoje, a nossa economia, que não vai bem, amanheceu mais arruinada. O dólar aumentou, a bolsa caiu, e o País ficou aguardando uma denúncia.” O Senador Fernando Bezerra referiu-se a um pronunciamento, de certa forma, leviano - S. Exª me chamou de leviano -: “E vi no noticiário dos jornais de hoje - continuou S. Exª -, diante das declarações antecipadas do Senador Almeida Lima, que todos os índices que estabelecem parâmetros para o desempenho da economia haviam despencado. Havia crescido o risco Brasil; havia caído a cotação do C-Bonds; o dólar despencou. E isso, Sr. Presidente, foi um ato, no mínimo, impensado, para não repetir as palavras do Senador Renan Calheiros, que considerou um ato de irresponsabilidade.” Ao final, S. Exª disse: “Encerro, dizendo que o PTB traz seu repúdio às palavras - consideradas irresponsáveis - proferidas nesta Casa pelo Senador Almeida Lima.”

Nesse mesmo compasso, não foi diferente o que a imprensa brasileira fez. Penso que nenhum político deste País recebeu uma carga tão odienta de chacotas, de esculhambações, de apelidos - mesmo aqueles que esta Casa e a sociedade brasileira consideraram e provaram ser criminosos, ladrões, corruptos e que foram cassados a esse título.

Penso que, se o meu erro, que prejudicou a mim, foi ter antecipado, até pelo meu destemor, o erro do Governo foi não ter avaliado a dose, que não foi para um ser humano. Ela não foi nem cavalar. A dose contra este Senador não foi nem para leão ou para elefante de circo; foi para dinossauro. Erraram na dose. Mas tenham a certeza de que a ela será aplicado o efeito bumerangue.

O jornal O Globo afirmou que o discurso do Senador Almeida Lima deu ao País prejuízo de R$4 milhões. E foi além: fez gráficos... Disse inclusive que tal valor poderia ser gasto na economia brasileira em alimentos, em medicamentos, em casas para os mais carentes, como decorrência do prejuízo que causei pela queda da Bolsa. Segundo Aloizio Mercadante - mentindo, é bem verdade -, chegou a 3,5%, quando ela havia oscilado até 2,4%, mas fechando a menos de 1%. O Jornal Nacional, a mesma coisa... O Jornal da Noite, idem. Comentários de Alexandre Garcia... Enfim, não houve exceção nos telejornais e nos jornais de todo o País, inclusive nos portais on line. Seria cansativo trazê-los, um por um. Todos guardados, porque, ao longo deste mandato, eles serão lembrados, porque chegam exatamente ao grande e grave prejuízo que causei...

Srªs e Srs. Senadores, todas as matérias; mas no mesmo dia das matérias, dia 03 de março, coincidentemente, o jornal O Globo - pela mesma jornalista, que pouparei o nome -, em dois instantes, em duas matérias, uma me acusando, fazendo uso de todas as chacotas, adiante, sob manchete: “Palocci diz que tensão política do caso Waldomiro não abala economia”. Matéria esta do mesmo jornal, feita pela mesma jornalista. Foi o meu pronunciamento, ou o anúncio do pronunciamento que causou o prejuízo? Quando ela mesma transcreve matéria que diz: “Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, afirmou, ontem, que o escândalo, provocado pelo caso Waldomiro não tem efeito sobre a economia brasileira”. Mas eu não causei um prejuízo à economia brasileira?!

Pois bem, Sr. Presidente e Srªs e Srs. Senadores, nada melhor do que um dia após o outro.

No dia 11 último, 08 dias depois do episódio, diz a Folha de S.Paulo: “Meirelles defende juros. Bolsa cai 4%. E dólar sobe”. Está aqui. Na página interna diz: “Bolsa cai 4,43%”, com declaração de Meirelles. Eu não vi Mercadante chamar alguém de irresponsável. Não vi Fernando Bezerra chamar alguém de leviano. Não vi a Líder, Ideli Salvatti, de forma apoplética, acusar, aqui, alguém de leviano ou de irresponsável. Mas quero saber, Sr. Presidente, acho que é um direito que tenho: gostaria que a imprensa brasileira, até com a Assessoria do Governo, trouxesse novamente os gráficos e dissesse, Srªs e Srs. Senadores, de quanto foi o prejuízo. Porque, se provoquei um prejuízo da ordem de R$4 milhões, quando a Bolsa caiu, oscilou apenas 2,4%, fechando, negativamente, com menos de 1%, se uma operação matemática resolvesse o problema era só estabelecer a regra de três. Se 2,4% provoca um prejuízo de R$4 milhões, quanto provocará um prejuízo quando ela vier a cair 4,43%? Comigo, pelo anúncio de um pronunciamento, caiu, oscilou em 2,4%. Com o Sr. Meireles, que ninguém chamou de irresponsável, que ninguém, em crise de histeria, chamou de irresponsável, fez cair 4,43%! Muita injustiça, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. E vejam V. Exªs: sou um Senador da República que tem como função, sobretudo na Oposição, Senadores Ramez Tebet e Ney Suassuna, fazer oposição. A minha função é fazer a crítica e a denúncia, mas também propor, como tenho proposto. A função do Banco Central e de seu Presidente é zelar pela moeda, pelo seu valor de compra, pelas reservas nacionais!

Vão querer castrar o Congresso Nacional? Senador ou Deputado não vai poder fazer pronunciamento de denúncia, porque essa economia em frangalhos que aí se encontra não suporta! Mas o Presidente do Banco Central pode se antecipar e dizer em quanto devem estar os juros com a próxima reunião. Aquele que tem a obrigação de zelar pela moeda faz o que fez, e não vi ninguém ser tachado de leviano e de irresponsável!

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador José Jorge, V. Exª me concede um aparte?

O SR. ALMEIDA LIMA (PDT - SE) - Concedo um aparte a V. Exª, dizendo, primeiramente, que isso não vai acabar cedo; isso vai demorar muito! E vou fazer os senhores do Governo, que me agrediram, engolir palavra por palavra. Os senhores me agrediram, e de forma muito tirânica!

Penso que nunca se colocou a imprensa deste País de forma tão violenta contra um cidadão que foi Prefeito de uma capital, e não tem um processo sequer em Tribunal algum!

Fizeram comigo o mesmo que com aqueles que foram cassados, aqui e na outra Casa, como corruptos, como ladrões, como criminosos. Mas se pensam que virei à tribuna para dar explicações, não o farei. Ocupo-a a fim de cobrar explicações. Os senhores é que devem explicações ao País. Eu não vou me explicar. Não tenho o que fazer aqui no sentido de dar explicações. Exijo explicações e vou continuar a exigi-las, porque bandido eu não contratei, marginal não saiu de meu gabinete! Marginal, bandido que saiu de um gabinete do Palácio do Planalto e não do gabinete do Senador Almeida Lima, que vos fala neste instante.

Concedo o aparte ao nobre Senador Alvaro Dias, a quem, de antemão, agradeço pelas palavras que me encorajaram, proferidas, inclusive, no mesmo dia, no final da sessão, após as 18 horas e 30 minutos.

Ouço com prazer V. Exª.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Almeida Lima, certamente V. Exª admite que seu discurso não provém do sobrenatural. Ele é terreno. De outro lado, acredito que as autoridades governamentais também não imaginavam que V. Exª fosse produzir, daqui desta tribuna, um atentado semelhante ao do Bin Laden contra as torres gêmeas. V. Exª não iria arremessar um avião sobre o Palácio do Planalto. Certamente, eles não imaginavam que isso viesse a ocorrer. Conclusão: que modelo econômico frágil, Senador Almeida Lima! É um castelo construído de grãos de areia que sucumbe à primeira lufada do vento matinal. Como podem lideranças inteligentes do Governo atribuir a V. Exª responsabilidade pelos fracassos da política econômica, única e exclusivamente, porque cumpre seu dever de denunciar as mazelas do Governo? Melhor fariam se acabassem com o cinismo, Senador Almeida Lima.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Almeida Lima, V. Exª me permite um aparte?

O SR. ALMEIDA LIMA (PDT - SE) - Concedo o aparte ao Senador Mão Santa e, da mesma forma, faço o agradecimento pelas palavras que V. Exª dirigiu a mim em solidariedade.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Almeida Lima, aprendi, no Nordeste, a Canção do Tamoio: “A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar.” V. Exª é um forte e um bravo. Quero dizer que me sinto enriquecido pelo privilégio de ter encontrado, na companhia de V. Exª, o saber, o amor ao Direito, à Justiça e à ética. Talvez o melhor jornalista político deste País, o de melhor cultura contemporânea, Sebastião Nery, que escreveu vários livros, relata, em Grandes Pecados da Imprensa, o massacre que sofreu Rui Barbosa, que foi contra o governo da época, que foi abolicionista, que era contra o Imperador; depois contra os militares que queriam se perpetuar. Rui Barbosa exigiu respeito à lei, que V. Exª representa como amante do Direito. Ele mostra quantas humilhações sofreu Juscelino Kubitschek para construir Brasília; quanto sofrimento a mídia causou a Alcenir Guerra, reconhecido e reeleito prefeito de sua cidade. E, ontem, vi o último a ser citado no livro, o grande líder e Senador Orestes Quércia, ser consagrado na convenção de seu Partido. Então, sem dúvida alguma, no seu próximo livro, Sebastião Nery terá de colocar não somente o nome dos quatro injustiçados da mídia brasileira, mas o do quinto, V. Exª, que ressurge. Aprendi, e isso é um conceito fundamental, que a imagem vem de dentro para fora. V. Exª tem uma imagem excelente na sua família, excelente no seu Estado e aqui nesta Casa, cuja presença enriquece.

O SR. ALMEIDA LIMA (PDT - SE) - Agradeço, Senador Mão Santa, pelas suas palavras e do Senador Alvaro Dias.

Concluo dizendo, complementarmente, que aquele pronunciamento provocou uma outra reação, desta vez dos Deputados Beto Albuquerque, do Rio Grande do Sul, e Lindberg Farias, do Rio de Janeiro, aquele que, no episódio do Collor, era estudante e pintava o rosto de verde e amarelo, que se colocava no lado oposto ao que hoje se encontra o Senador Renan Calheiros, que defendia Collor. Hoje, estão juntos, todos. A imprensa informou que fizeram requerimentos ou algo nesse sentido, para pedir explicações e informações, para saber quem havia ganho na bolsa com a oscilação daquele dia.

Penso que eles estão certos e que não deveriam fazer apenas um pedido de informação, mas requerer uma CPI. E se esta for comum, mista, tragam-me o requerimento que o assinarei. Agora, para manter a estatura moral num nível alto, tragam-no, mas com a assinatura também, se é que têm coragem para fazê-lo, para a CPI dos Bingos e para a que procura investigar o Sr. Waldomiro Diniz.

Será que as declarações foram feitas em defesa do País ou do não esclarecimento da corrupção que estamos vendo, todo dia, sendo empurrada para debaixo do tapete?

Portanto, Sr. Presidente, eu gostaria que as mesmas Lideranças do Governo que se pronunciaram - os Senadores Fernando Bezerra, Aloizio Mercadante, Renan Calheiros e a Senadora Ideli Salvatti -, desta vez informassem a mim e ao País quem foi o responsável e, ao mesmo tempo, irresponsável pela queda do movimento de negócios da Bolsa de Valores em 4,43%? E qual o prejuízo causado ao País?

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não sou homem de ameaças, mas, se imaginaram que me deixariam cabisbaixo, erraram na avaliação. Tenho certeza de que ninguém do meu Estado e muito menos os meus adversários de Sergipe imaginaram isso, porque me conhecem. Se pensaram que eu, ao retornar à tribuna, daria explicações, erraram, pois venho cobrá-las. Se pensaram que eu viria aqui derramar lágrimas, não vim, mas farei ainda muita gente chorar nesse episódio.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2004 - Página 7012