Discurso durante a 16ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as denúncias da revista Época, do último final de semana, sobre a indicação do Sr. Rogério Buratti, ex-Secretário da prefeitura de Ribeirão Preto, para a consultoria da Gtech. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre as denúncias da revista Época, do último final de semana, sobre a indicação do Sr. Rogério Buratti, ex-Secretário da prefeitura de Ribeirão Preto, para a consultoria da Gtech. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2004 - Página 7018
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REITERAÇÃO, COMPROMISSO, ORADOR, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ANUNCIO, APRESENTAÇÃO, MANDADO DE SEGURANÇA, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), OPOSIÇÃO, IMPEDIMENTO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, BINGO, EX SERVIDOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • JUSTIFICAÇÃO, URGENCIA, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PEDRO SIMON, SENADOR, ALTERAÇÃO, INDICAÇÃO, MEMBROS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), GARANTIA, DIREITOS, MINORIA, LEGISLATIVO.
  • AUMENTO, DENUNCIA, TRAFICO DE INFLUENCIA, EX SERVIDOR, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há pouco, um jornalista me perguntava se, como integrante do Bloco de Oposição, eu não tinha medo de desgaste, por estar tratando, com tanta insistência, da CPI dos bingos e da CPI do Waldomiro.

Estranhei a pergunta do repórter, mas respondi-lhe com o sentimento do meu íntimo. Evidentemente, tratar de assunto de corrupção é desagradável, e não é disso que gosto de tratar nesta tribuna, mas V. Exª, que é um Senador do PMDB mais livre e independente, sabe que é dever da Oposição - e aqui vêm desincumbindo esse papel, com muita competência, os Senadores Alvaro Dias, Efraim Morais, Arthur Virgílio e tantos outros - fiscalizar, cobrar correção de procedimentos em nome do interesse público da sociedade.

Tenho procurado agir com parcimônia, sem excessos nem exageros. Nunca pedi aqui nem vou pedir, até que algum fato imponha esse pedido, demissão de ministro A nem B, nem José Dirceu nem Palocci. Agora, ninguém me vai tirar a prerrogativa nem a responsabilidade de cobrar fiscalização. Ninguém! E disse ao repórter: se não o fizer, posso ser, amanhã, responsabilizado pelo crime de omissão. Posso ser abordado nas ruas, hoje, diferente de como sou, para ser cumprimentado. Posso ser abordado nas ruas para ser agredido, pelo fato de ter sido integrante de uma Oposição omissa, que não tomou conta do interesse público.

Sr. Presidente, tinha feito uma jura comigo mesmo de que não voltaria mais a tratar de assunto de CPI, depois que a base aliada se manifestou e assumiu a responsabilidade de sepultar a CPI, assumindo publicamente a atitude de não indicar os membros que comporiam a CPI, que está criada, uma vez que já conta com mais do que 27 assinaturas.

Entendi que, a partir daí, com a posição tomada pelo PT, pela base aliada e pelo PMDB, não nos restava muita coisa senão duas atitudes: entrar com um mandado de segurança - o que faremos, nós do PFL - junto ao Supremo Tribunal Federal, e trabalhar pela urgência do projeto de lei que tramita na Casa, de autoria do Senador Pedro Simon e que confere poderes à Mesa Diretora do Senado Federal no sentido de fazer as indicações dos membros dos partidos para compor as CPIs cujos líderes não o fizerem. Essas são as duas únicas atitudes ou medidas pragmáticas que podem levar à efetivação de investigações por Comissão Parlamentar de Inquérito.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estava em meu Estado, em uma reunião social, sábado à tarde, com pessoas dos mais diferentes matizes políticos, simpatizantes de tantos partidos políticos, Senador Antero Paes de Barros, que me cumprimentavam, que me abordavam, que me diziam que eu deveria agir assim ou assado - largamente, muito mais cumprimentavam do que faziam observações negativas -, quando um repórter me telefonou e perguntou se eu estava sabendo das notícias da revista Época. Não estava sabendo. Ele então me relatou do novo protagonista desta novela (o caso Waldomiro Diniz, a GTech, a Caixa Econômica Federal, os bingos): o Sr. Rogério Buratti, Senadora Ideli Salvatti, de quem nunca ouvi falar. Nunca.

O Sr. Rogério Buratti, dizia o repórter, havia sido auxiliar ou assessor do Ministro Antônio Palocci e teria sido contratado pelo Sr. Waldomiro Diniz, ou o Sr. Waldomiro Diniz fazia a sugestão de contratação de consultoria do Sr. Rogério Buratti, a fim de que o contrato com a GTech fosse prorrogado na Caixa Econômica Federal. Conversas do ano de 2003.

Passei a limpo e vi que não era bem assim. O Sr. Buratti não é assessor do Ministro da Fazenda. O Sr. Buratti foi Secretário do Prefeito de Ribeirão Preto, Sr. Antônio Palocci. Foi demitido há anos pelo Sr. Antônio Palocci. Até aí, ótimo, eu não tinha muito mais o que mexer nesse assunto. Não gosto de mexer em assuntos de corrupção, mas o faço por obrigação. No entanto, o caso não é bem esse, Senador Mão Santa. Não é bem por aí, Sr. Presidente.

O Sr. Buratti foi demitido do cargo de Secretário e não foi jogado longe, como eu fazia com aqueles que traíam minha confiança quando fui Prefeito e Governador. O Sr. Buratti continuou próximo do PT, continuou a ser um enfant gâter, porque continuou a prestar assessorias, serviço de limpeza pública para várias prefeituras do PT.

E aí me ocorreu uma dúvida e uma pergunta: esse cidadão que foi muito próximo - porque para se escolher um secretário, você tem que depositar nesse cidadão confiança. Secretário é secretário, é pessoa de confiança. Você contrata e chama quem tem a sua confiança. Muito bem! Se esse homem perdeu a confiança, deveria ter sido posto longe do âmbito dos círculos do PT, mas não, ele ficou próximo, prestando serviços de consultoria a prefeituras do PT durante anos e anos. E aí me veio a pergunta, Sr. Presidente: por que o Sr. Waldomiro Diniz, encarapitado em um gabinete do Palácio do Planalto ao lado do Ministro José Dirceu e embaixo do Presidente Lula, vai chamar logo o Sr. Buratti para consultoria da GTech?

No meu Estado, existe uma forma popular de dizer que, quando as pessoas são muito íntimas, elas formam uma corda de caranguejo: um grudado no outro, um agarrado no outro. É isso que me preocupa, Senador Efraim Morais. É a corda de caranguejo que tenho medo de estar instalada neste Governo e que me traz a esta tribuna, para levantar esta questão e dizer que vamos trabalhar para que a investigação se complete. A corda de caranguejo para mim está colocada. Por que logo o Sr. Buratti foi chamado, convocado por Waldomiro Diniz? Podia ser qualquer um outro, mas foi logo ele. Essas pessoas de maus hábitos, maus princípios estão bordejando envolta das pessoas que têm prestígio junto ao Palácio do Planalto. Por quê? A resposta do porquê só pode ser dada por uma comissão parlamentar de inquérito, que vamos lutar para ver instalada, por mandado de segurança ou pela aprovação do projeto de lei do Senador Pedro Simon.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2004 - Página 7018