O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pedi a palavra hoje, como Líder do PMDB, porque não poderia deixar de abordar dois assuntos de extrema importância neste momento.

O primeiro é o atentado na Espanha, que deixou mais de 200 mortos e 1.400 feridos, quando uma série de explosões simultâneas sacudiu Madri, deixando um rastro de sangue e horror pela capital. Foi o mais grave atentado terrorista à União Européia, e o dia já está sendo considerado como o mais sombrio da história recente do País.

Esse violento golpe do terrorismo na Europa abalou o mundo e deixou famílias de todos os credos estarrecidas e revoltadas, em meio a um cenário de horror dificílimo de descrever.

Ainda é incerta a autoria do atentado, mas se for mesmo a Al Qaeda, reabre-se, no dia 11 de março de 2004, na Espanha, a ferida funda cavada em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.

E, por extensão, o jogo político em todo o mundo fica turvado pela “guerra ao terrorismo”. Pior: qualquer um pode ser o próximo alvo, na absurda irracionalidade do terror. Madri não mais voltará a ser a mesma cidade, pois em sua memória ficará gravada a desmedida da barbárie.

O simbolismo é aqui revelador, pois mostra que os autores desses atentados estão desprovidos de qualquer veleidade social. Seu objetivo consiste, única e exclusivamente, na imposição de seu poder, de sua dominação e de seu credo.

Que o massacre da Espanha ajude a comunidade internacional a unir-se cada vez mais na luta para enfrentar, coletivamente, em escala global, a desumanidade e o desprezo pela vida que norteiam os movimentos terroristas.

Mas, Sr. Presidente, este é também um momento que coloca muitos pontos de interrogação na política internacional de combate ao terrorismo, que já provocou a invasão de dois países e deixou milhares de civis inocentes mortos.

O momento é de indignação, mas deve ser também de reflexão, porque eu - nunca é demais lembrar -, desta tribuna, já alertava, no ano passado, que uma guerra “...aumentará o ódio aos Estados Unidos, com conseqüências previsíveis sobre o conflito israelense-palestino, desencadeando novos atos de terror pelo mundo”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o outro assunto que me traz à tribuna é a Convenção do PMDB, que elegeu a nova direção nacional do Partido, neste domingo. Foi um momento histórico para todos nós, peemedebistas.

Carecíamos há muito de união interna, de integração, de comunhão de idéias. Mas depois da construção desse acordo interno, os tempos são outros no PMDB. O Partido voltou a ter uma direção partidária respeitada, forte e consciente de seu papel no momento em que vivemos.

A reeleição do Deputado Michel Temer - que continua fazendo jus ao cargo e aos novos desafios do Partido - para a Presidência do PMDB, em chapa única, como não se via há anos, é, sem dúvida, a maior prova disso.

Em clima de festa, mas também de apreensão em relação a alguns rumos de nossa economia, realizamos a convenção mais disciplinada e pacificada de todos os tempos. Foi, Sr. Presidente, como um gesto de saudosismo aos tempos áureos do Dr. Ulysses Guimarães.

Hoje, mais do que nunca, o importante é termos unidade e não, necessariamente, unanimidade. Afinal, qual o partido hoje que pode ser considerado monolítico, absolutamente coeso ou sem divergências?

No PMDB, sempre respeitamos as diferenças. Mas nossa prioridade agora deve ser a manutenção de nossa coesão interna, mesmo que em meio à diferença de opiniões em alguns temas pontuais, o que é absolutamente normal.

Por isso, fiz questão de somar meus esforços aos de outros segmentos, para concretizarmos um acordo interno que permitiu a reunificação do Partido por meio de uma chapa única, na convenção. Isso é o que todos queremos para o PMDB.

Esse, portanto, é um momento importantíssimo para o Partido. Pela primeira vez, em alguns anos, entramos numa convenção nacional com uma única chapa constituída e construída por consenso, pelo entendimento e pela negociação.

Nunca fugimos ao compromisso com o restabelecimento das franquias democráticas e nem com os projetos que buscassem mudar o País para melhor. Nunca estivemos, Sr. Presidente, como estorvo ao Brasil e às mudanças requeridas. Nunca nos opusemos por nos opor.

Mas não temos compromissos com grupos de interesse, nem com corporações de privilégios, nem com a impunidade, Sr. Presidente. A nossa diversidade nos dá o crédito de podermos lutar, de forma limpa e democrática, pela construção de soluções que não levem a rupturas, conflitos inconseqüentes e brigas por interesses banais.

O Partido está no Governo e continuará apoiando suas medidas sempre que necessário. Reafirmamos nosso compromisso com a governabilidade, com a retomada do crescimento econômico do País e com a geração de empregos e renda.

O ano de 2003, Sr. Presidente - já estou encerrando -, foi importante porque conseguimos debelar a escalada inflacionária. Mas agora precisamos, sem dúvida, flexionar a ortodoxia da economia, sem abandonar o rigor e a responsabilidade monetária.

É preciso, portanto, neste momento, impulsionarmos medidas que resgatem, no menor prazo possível, nossas hipotecas sociais e impulsionem o desenvolvimento do Brasil.

Como Líder, devo exprimir essa vontade majoritária da Bancada e viabilizar os entendimentos que permitam o apoio às mudanças necessárias, à reconstrução e à modernização do PMDB.

Portanto, essa é a nossa mensagem aos nossos. Esse é o nosso compromisso com o Brasil!

Muito obrigado, Sr. Presidente.