Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre as declarações do Presidente do PL, partido aliado do governo, pedindo a demissão do Ministro da Fazenda Antônio Palocci. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comentários sobre as declarações do Presidente do PL, partido aliado do governo, pedindo a demissão do Ministro da Fazenda Antônio Palocci. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2004 - Página 7258
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO LIBERAL (PL), SOLENIDADE, POSSE, MINISTRO DE ESTADO, SOLICITAÇÃO, DEMISSÃO, ANTONIO PALOCCI, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), DESRESPEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, muitos pensam equivocadamente que nós, da Oposição, quando propomos CPIs, estamos com o propósito mesquinho e inconfessável de desestabilizar o Governo. Quanto a mim, pelo menos, a suspeita é totalmente improcedente.

O Governo precisa tomar cuidado com seus aliados. O que aconteceu ontem no Palácio do Planalto, quando da posse de um ministro, é inusitado. Tenho muito tempo de vida e nunca vi algo semelhante. O presidente de um partido aliado, na posse de um ministro do seu partido, declara à imprensa que o Presidente deve demitir o Ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Isso, Senador Mão Santa, é que é desejo de desestabilizar o Governo.

Além de deselegante e desrespeitoso com o Presidente da República ao intimar Sua Excelência a demitir um ministro, nomeando-o, lança lenha na fogueira. Com o País já tumultuado e com o Governo cheio de dificuldades, criadas por ele próprio, pede-se agora a demissão do Ministro da Fazenda.

Sr. Presidente, uma das poucas coisas que tem dado certo no Governo Lula, goste-se ou não - e, se gosta, é preciso levar em conta as circunstâncias -, é exatamente a política macroeconômica. A estabilidade macroeconômica é condição necessária, embora não suficiente, para o crescimento.

Se o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central forem demitidos neste momento por pressões políticas, só um irresponsável, um cego, não percebe que este País entrará numa fase de turbulência que o Governo não controlará. Eu acho que, se o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometesse a leviandade de, atendendo a aliados irresponsáveis, com uma canetada, demitir Antonio Palocci e Henrique Meirelles, este País entraria numa fase de turbulência e este Governo desabaria, Sr. Presidente e Srs. Senadores. Agora, o Presidente, de duas uma: ou alimenta isso e quer mesmo fritar Antonio Palocci ou então está perdendo autoridade. Ou então o Presidente está refém do fisiologismo do Congresso. Eu nunca imaginei que o Governo do PT ficasse refém do fisiologismo do Congresso, do que há de pior na política brasileira.

Do contrário, se o Presidente não estivesse nesta triste situação, o que faria, Senador Mão Santa? Ontem mesmo, naquele momento, diria ao Sr. Valdemar Costa Neto: o seu Partido e o senhor estão fora do Governo a partir deste momento. Aquilo foi um desrespeito ao Presidente. E tudo de que este Governo não precisa agora é uma campanha pedindo a cabeça do Ministro da Fazenda. Eu não gosto de juros altos, não gosto de corte de gastos. Mas não adianta discutir aqui se a Selic deveria estar em 16,5% ou em 15,5%. Isso é irrelevante, Sr. Presidente! Se entrar um novo presidente do Banco Central com ordem para baixar o juro abruptamente para zero, este País entra em convulsão. Taxa de juros é condição necessária, mas não suficiente. Tanto é assim que o Japão passou 10 anos, com taxa de juro zero, estagnado. Estagnado! Se o Presidente do Banco Central, por pressão desses irresponsáveis, baixasse as taxas de juros abruptamente, mesmo que o País não se desestabilizasse - e vai se desestabilizar - isso não seguraria um crescimento automático, como pensam esses aprendizes de feiticeiro.

Sr. Presidente, o que vi ontem me deixou muito preocupado: além de o próprio Partido do Presidente ter pedido mudanças na política econômica - e no momento em que o Presidente disse, logo depois, que não havia política de Palocci, mas que havia política do Presidente das República -, é preciso assumir. Deixem de covardia! Deixem de hipocrisia! Quem pedir a cabeça do Palocci, então, que peça a cabeça do Lula! Ou estamos assistindo a um grande teatro ou então o Presidente quer mesmo mudar a política e não tem coragem de demitir o Palocci.

Isso mostra o estado de bagunça que começa a tomar conta do País. Portanto, se depender do PDT, de sua Liderança nesta Casa, não serão pedidas as cabeças nem do Ministro da Fazenda nem do Presidente do Banco Central, porque nós não torcemos pelo pior. Mas, se o Presidente da República realmente se tornou refém do que há de pior na política deste País, vai se curvar a essas chantagens e vai cometer o desatino de fazer essas demissões, então, pobre deste País! E não será por culpa da Oposição.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2004 - Página 7258