A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma das características interessantes deste nosso mundo moderno da comunicação é a prática que se instalou de atribuir aos dias do calendário efemérides das mais variadas sobre os mais diversos temas da vida de nosso planeta. Desde temas de cunho religioso até os de cunho evidentemente comercial, nossa folhinha está repleta de comemorações.

Nos próximos dias 21 e 22 de março, comemoraremos o Dia Florestal Mundial e o Dia Mundial da Água. Seriam, pois, mais dois eventos passíveis de registro formal, não fossem os temas envolvidos tão candentes neste nosso planeta sob forte pressão do desgaste ambiental.

Apesar da superfície terrestre ser recoberta por vastíssimas camadas aquosas, dispomos de, proporcionalmente, pouca água apropriada para o consumo humano. E, além disso, a distribuição não é eqüitativa entre as diversas regiões planetárias. Temos imensas áreas com um mínimo de disponibilidade de água para consumo de populações inteiras. A África, em boa parte de seu território, vive com esse problema. Países como o Sudão são grandes desertos, secos e famintos.

Imbricado com o problema da desigualdade na distribuição da água, temos a não menos candente questão da preservação e uso sustentável das florestas mundiais. Muitos países, desérticos por natureza, carecem de cobertura vegetal que lhes dê sustentação adequada à vida. Outros, privilegiados com extensas e densas matas, as exploram à exaustão, comprometendo o clima planetário.

O Brasil, Sr. Presidente, é talvez o mais importante país do mundo implicado nas duas questões. Afortunadamente, não pela falta desses recursos, mas pela abundância de que desfruta. Abençoado pela natureza, detém as maiores reservas de água potável do mundo e a maior floresta tropical do planeta. Tal fortuna é, contudo, uma responsabilidade, também. Temos recursos, mas não podemos ser perdulários se quisermos desfrutar dessa abundância e, quiçá, utilizá-la para ajudar os menos afortunados que nós.

Sr. Presidente, o mundo não é mais uma vastidão que pode abrigar de modo irrestrito a humanidade numericamente crescente. Não temos mais a possibilidade que os antigos tiveram de usarmos os recursos de um dado local e migrarmos para outro enquanto a natureza recompõe espontaneamente o desgaste que promovemos. Isso foi uma prerrogativa dos antigos povos indígenas e nômades. Hoje, grandes populações se concentram de maneira permanente em locais onde pode ou não haver disponibilidade de vegetação e água para seu conforto e sobrevivência. Temos, então, que fazer com que os recursos disponíveis sejam utilizados in loco e possam, também, ser transferidos para atender comunidades distantes.

Assim, Srªs e Srs. Senadores, comemorar os dias mundiais florestal e da água é mais do que celebrar a existência dessas maravilhas naturais. É e deve ser um momento de reflexão sobre os destinos que queremos dar ao nosso planeta e à existência própria da humanidade nos séculos a vir.

As já batidas expressões de manejo sustentável dos recursos florestais e aqüíferos são genuínas palavras de ordem que devem ser introjetadas por todos, governantes e cidadãos, se quisermos construir algum futuro para nossos descendentes. Não se trata de um conservacionismo estático, fundado na intocabilidade dos recursos naturais, mas no uso sábio e construtivo dos bens naturais em favor do ser humano. Utilizar, mas renovar, poderia ser uma espécie de lema do uso de florestas e águas.

Sr. Presidente, o Brasil ainda tem florestas imensas. Elas são, contudo, muito menores do que foram há séculos passados. Estamos, ainda, num momento que nos permite projetarmos uma civilização saudável para nossos filhos, isso, se soubermos fazer as escolhas adequadas para nosso meio ambiente.

Os recursos hídricos representam um bem econômico de inestimável valor para um país em crescimento como o Brasil. Nossas florestas não são menos valiosas. Temos, pois, que zelar por um patrimônio que deve render para as futuras gerações os dividendos que antes geravam bens como o ouro ou o petróleo. Mas mais do que isso, a humanidade sem água para seu uso não existe. Assim sendo, mais do que valores econômicos, detemos valores vitais para nossa própria existência.

Sr. Presidente, mesmo com todas essas bênçãos do Todo-Poderoso, ainda assim, temos desigualdades internas, como a riqueza da Amazônia e a escassez do Nordeste. Aproveitemos, então, para repensar nossa política de manejo florestal e aqüífero de modo a propiciar o equilíbrio inter-regional no País. Essa pode ser uma justa comemoração dos dias florestal e da água.

Floresta amazônica, mata atlântica, cerrado, bacia amazônica, bacia do São Francisco, bacia do Paraná, todos esses são nomes de tesouros inestimáveis para o Brasil. Tenhamos, pois, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, a sabedoria de fazer deles o bom uso que nosso projeto de Brasil desenvolvido exige.

Extrair da flora amazônica os benefícios medicinais que contém é um direito nosso. Utilizar nosso rios para gerar energia e transportar nossa produção é também um direito nosso. Fazer isso de modo a preservar sua capacidade de nos manter ao longo do tempo é uma obrigação nossa para com os que nos sucederão, se quisermos que nossos filhos vivam de modo digno.

Que esse 21 de março, Dia Florestal Mundial, e o 22 de março, Dia Mundial da Água, nos motivem a uma jornada coletiva nacional e internacional em favor da preservação e uso renovável desses dois fundamentais recursos para nosso futuro.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.